Os dados de crédito do Banco Central de abril/24 indicam um mês de aceleração no ritmo de crescimento anual do crédito, registrando uma expansão de +8,7% a/a e +0,3% m/m frente a 8,5% a/a no mês de março.
Acreditamos que com a queda da inadimplência e o ciclo de redução da taxa de juros, o crescimento de crédito deve voltar a acelerar, mesmo que de forma gradual, muito por conta da Selic ainda alta e por conta do comprometimento de renda das famílias que continua alta, apesar da melhora. O endividamento das famílias na comparação anual melhorou -0,6pp a/a, o que deve contribuir ao longo do ano para a tese de aceleração gradual do crédito.
Ainda, no dia de hoje (27), a pesquisa da Febraban de Economia Bancária e Expectativas revisou as projeções para o crescimento do crédito em 2024 para 9,3% (+0,5pp em relação à última estimativa), reafirmando nossas expectativas de aceleração do ritmo de crescimento da carteira do Sistema Financeiro Nacional.
Nesse contexto, as concessões de crédito apresentaram um robusto crescimento de +24% a/a neste mês, indicando que os bancos estão com mais apetite a risco e que o saldo da carteira de crédito deve crescer nos próximos meses.
A inadimplência chegou a 3,25% em abr/24. Apesar de ficar relativamente estável na comparação mensal (3,21% em mar/24), apresentou retração anual de -0,2pp, guiada pelo segmento de Pessoa Física (PF), que tem compensado os aumentos do índice no segmento de Pessoa Jurídica (PJ). Vale ressaltar que a inadimplência tem apresentado uma queda gradual desde mai/23 quando chegou a 3,54%.
Os spreads de crédito também apresentaram retração no mês, e provavelmente deverão continuar a cair na medida que a taxa de juros caia e a inadimplência em patamares mais saudáveis.
Por fim, as instituições financeiras públicas, excluindo o BNDES, continuam a aumentar sua participação de mercado.
Crédito: Abril mostra aceleração
O saldo total de crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$ 5,9 trilhões em abril de 2024, registrando um aumento de 0,3% em relação ao mês anterior e expansão de +8,7% na comparação anual. Desde out/23, vemos que o crescimento da carteira de crédito tem apresentado uma expansão próxima de +8% a/a, ficando próximo da pesquisa de expectativas da FEBRABAN para a carteira de crédito de 2024 que estava em 8,4% em jan/24. Hoje (27) as estimativas da FEBRABAN para a carteira de crédito foram revisadas para +9,3% a/a.
No mês, observamos uma redução de -0,7% m/m no saldo de crédito para empresas (pessoas jurídicas), atingindo um total de R$ 2,25 trilhões. O crédito para as pessoas físicas registrou um aumento de 0,9% m/m, atingindo R$ 3,64 trilhões. O crédito destinado a empresas e pessoa física registraram alta de +5,3% a/a e +10,9% a/a, respectivamente.
Crédito livre atingiu R$ 3,4 trilhões em abr/24, apresentando estabilidade m/m e alta de +6,2% a/a. O crédito destinado para as empresas chegou a R$ 1,4 trilhões (-1,2% m/m e +2,7% a/a), impactado no mês pela redução das modalidades de Desconto de Duplicatas (-11,2% m/m) e cartão de crédito (-12,9% m/m) após a alta sazonal do trimestre anterior. Em sentido oposto, o crédito livre do segmento pessoa física expandiu +0,8% m/m e +8,9% a/a, impulsionado pelas altas das carteiras de Cheque Especial (+2,7% m/m), Cartão de Crédito para Financiamento (+0,9% m/m) e Consignado Pessoal para Aposentados e Pensionistas (+0,7% m/m).
Crédito direcionado atingiu o montante de R$ 2,5 trilhões (+0,7% m/m e +12,4% a/a), reflexo da expansão ocorrida no segmento de pessoas físicas (+0,9% m/m e +13,4% a/a), mas que acabou sendo levemente compensado pelo segmento de pessoas jurídica, que apresentou uma evolução inferior a pessoa física, com estabilidade m/m e expansão de +10,4% a/a.
Inadimplência: Leve aumento puxado por Empresas
A inadimplência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) permaneceu relativamente estável na comparação mensal, ficando em 3,25% em abr/24 vs 3,21% em mar/24, mas com redução de -0,2pp a/a. Observamos que o índice de inadimplência vem gradualmente reduzindo desde mai/23, quando atingiu 3,5%. Essa redução está sendo guiada pelo segmento de pessoa física, que atingiu 3,6% (estável m/m e -0,6pp a/a). Por outro lado, a inadimplência do segmento de pessoa jurídica apresentou aumento de +0,1pp m/m e +0,3pp a/a, chegando a 2,6%.
No crédito livre, a inadimplência aumentou em +0,1pp no mês e retraiu -0,1pp no ano, chegando a 4,6%. A inadimplência do crédito livre de pessoa física ficou em 5,5% (-0,1pp m/m e -0,7pp a/a). Já a inadimplência de crédito livre de empresas chegou a 3,3% (+0,1pp m/m e +0,6pp a/a).
No crédito direcionado, a inadimplência pessoa física ficou em 1,5% (estável m/m e -0,2pp a/a). Em empresas, a inadimplência atingiu 1,4%, ficando estável m/m e leve contração de -0,2pp a/a.
Cartão de crédito: A inadimplência para pessoa física no cartão de crédito total com recursos livres, que inclui a modalidade do parcelado sem juros, ficou em 7,39% (+0,2pp m/m e -1,38pp a/a). A inadimplência no cartão de crédito rotativo sofreu uma leve alta na comparação mensal (+1,26pp m/m e +0,83pp a/a), chegando a 52,91%, patamar ainda bem elevado. A inadimplência no cartão de crédito parcelado segue mais controlada apresentando estabilidade m/m e aumento de +1,98pp a/a, chegando em 10,11%.
Aquisição de automóveis: O crédito destinado para aquisição de veículos para pessoa física apresentou taxa de inadimplência de 4,79% (estável m/m e -0,71 pp a/a).
Crédito pessoal não consignado: A inadimplência do crédito pessoal não consignado apresentou retração de -0,07pp m/m e -1,79pp a/a, com um total de 5,93%.
Cheque especial: A inadimplência do segmento pessoa física ficou em 11,59%, retração de -0,45pp m/m e -1,04pp a/a.
Cobertura: No mês de abril, os bancos apresentaram redução de -2,5pp m/m no índice de cobertura (saldo de provisões para fazer frente aos créditos em atraso), mas com um aumento de +1,6pp a/a, chegando a 187,7%.
Comprometimento/Endividamento de renda: Ainda em patamares elevados
O endividamento das famílias ficou em 48,0% em mar/24, ainda em patamares elevados, apresentando um leve aumento de +0,2pp m/m e queda de -0,6pp a/a. O comprometimento de renda ainda se encontra em níveis elevados em 25,6%, apresentando uma piora de +0,8pp m/m, mas com melhora de -1,1pp a/a.
Spread: Devem continuar a cair
A taxa média de juros das novas concessões em mar/24 atingiu 28,0% a.a., redução de -0,2pp m/m e -3,8pp a/a. Já o spread bancário também caiu para 19,2% (-0,2pp m/m e -2,3pp a/a). O spread bancário no segmento de pessoas físicas teve uma redução de -0,4pp m/m e -3,5pp a/a, ficando em 24,3%. Já o segmento de empresas apresentou aumento de +0,1 pp m/m, mas com redução de -0,6pp a/a, chegando a 8,9%.
Market Share de Crédito: Instituições públicas ganham share
Em abr/24, as instituições financeiras privadas perderam seu market share em -0,2 pp na comparação mensal e anual, chegando a 42,6% de participação de mercado.
As instituições financeiras públicas (ex-BNDES) ganharam participação de mercado no mês (+0,2pp) e no ano (+0,7 pp), alcançando 35,2% de market share.
Concessão de Crédito: Forte expansão anual
Concessões de crédito atingiram o total de R$ 616,4b, uma piora marginal de -1,1% m/m, mas com um forte crescimento de +24,4% a/a. As concessões livres diminuíram -0,5% m/m, mas avançaram em +23,5% a/a. Nas concessões livres, o segmento de empresas foi destaque negativo, com retração de -6,6% m/m e +28,0% a/a. Já o segmento de pessoas físicas expandiu +4,3% m/m e +20,5% a/a. Por fim, o crédito direcionado apresentou um recuo de -6,7% m/m, mas expansão de +33,3% a/a, com destaque positivo para o segmento de pessoas físicas que evoluiu +1,4% m/m e +35,0% a/a, puxado pelo financiamento imobiliário (+5,3% m/m e +30,3% a/a) e microcrédito (+14,7% m/m e +33,7% a/a). Do lado negativo, o segmento de empresas contraiu -21,2% m/m, mas expandiu +29,5% a/a, impactado pelos recursos do BNDES (-25,2% m/m e +96,5% a/a) e crédito rural (-46% m/m e estável a/a).
Duration: o prazo médio de duração de crédito livre apresentou aumento mensal e anual no segmento pessoa física (+0,5% m/m e +0,3% a/a), atingindo 60,6 meses. No segmento de empresas, registrou uma expansão de +0,8% m/m e +8,9% a/a, chegando a 29,0 meses. Por fim, o prazo do crédito direcionado para pessoas físicas recuou -0,5% m/m, mas aumentou +1,3% a/a, atingindo 270,7 meses. Já para o segmento empresas, houve uma forte retração no duration mensal (-21,8%) e anual (-33,4%) para 84,5 meses.