Em agosto de 2024, os dados de crédito não foram tão exuberantes. A trajetória de queda mensal da inadimplência sofreu uma interrupção, puxada principalmente por leve aumento da inadimplência no crédito direcionado. Esse movimento resultou em uma desaceleração no crescimento de crédito desse segmento, que passou de +12,8% ao ano em julho para +11,4% em agosto, impactando diretamente o crescimento do crédito total. O crédito total desacelerou de +10,7% ao ano em julho para +10,1% em agosto.
Com o ciclo de alta dos juros iniciado em setembro, mesmo que se estenda por apenas alguns meses, acreditamos que a trajetória de melhora na inadimplência e no crescimento do crédito possa ser interrompida. O ambiente macroeconômico mais restritivo deverá manter a pressão sobre o custo do crédito, impactando o ritmo das concessões e comprometendo a qualidade das carteiras no sistema financeiro.
O principal fator por trás do aumento da inadimplência no crédito com recursos direcionados foi o segmento de pessoa física, em particular o crédito Rural, que apresentou variação de +0,3pp m/m e +1,2pp a/a, totalizando 2,16%. Acreditamos que bancos com uma elevada participação de crédito rural em seu portfólio, como o Banco do Brasil, tendem a ser os mais impactados por esse movimento.
Ainda do lado negativo, a inadimplência para pessoa física no cartão de crédito total aumentou +0,17pp m/m para 7,52%. A inadimplência no cartão de crédito rotativo sofreu uma elevação de +0,57pp m/m, chegando a 55,35%, patamar ainda bem elevado. A inadimplência no cartão de crédito parcelado também piorou +0,3pp m/m, chegando em 11,48%.
O endividamento das famílias permaneceu em um patamar elevado no mês, alcançando 47,9% (+0,2pp m/m e -0,2pp a/a), o que deve continuar a impor desafios ao crescimento do crédito. Além disso, o comprometimento de renda também aumentou no período (+0,4pp m/m e -0,9pp a/a), totalizando 26,6%. Esses indicadores sugerem que a expansão do crédito não deverá ocorrer de forma acelerada.
Os spreads de crédito seguiram a tendência de queda apresentando retração no mês, e provavelmente deverão continuar a cair na medida que a taxa de juros caia e a esteja inadimplência em patamares mais saudáveis.
Por fim, as instituições financeiras públicas, excluindo o BNDES, mantiveram a sua participação de mercado de crédito.
Crédito: Crescimento de dois dígitos continua mas desacelerando na margem
O saldo total de crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$ 6,1 trilhões em agosto de 2024, registrando um aumento de +0,9% em relação ao mês anterior e de +10,1% na comparação anual, refletindo uma leve desaceleração em relação ao crescimento do mês anterior (+10,7%).
No mês, observamos uma expansão de +0,7% m/m no saldo de crédito para empresas (pessoas jurídicas), atingindo um total de R$ 2,33 trilhões. O crédito para as pessoas físicas registrou um aumento de +1,0% m/m, ficando em R$ 3,78 trilhões. O crédito destinado a empresas e pessoa física registraram alta de +8,1% a/a e +11,5% a/a, respectivamente.
Crédito livre atingiu R$ 3,56 trilhões em ago/24, apresentando uma expansão de +0,7% m/m e de +9,3% a/a. O crédito livre destinado para as empresas chegou a R$ 1,49 trilhões (+0,6% m/m e +7,4% a/a). O mês foi impactado positivamente pelo crescimento das carteiras Desconto de Duplicatas (+1,3% m/m), Cartão de Crédito (+4,8% m/m) e Financiamento de Importações (+8,3% m/m). Já o crédito livre do segmento pessoa física expandiu +0,8% m/m e +10,7% a/a, ficando em R$ 2,0 trilhões, impulsionado pelas altas das carteiras de Financiamento de Veículos (+1,9% m/m), Crédito pessoal ex-consignado (+1,8% m/m) e Consignado Pessoal (+0,8% m/m)
Crédito direcionado atingiu o montante de R$ 2,55 trilhões (+1,0% m/m e +11,4% a/a), reflexo da expansão ocorrida no segmento de pessoas físicas (+1,1% m/m e +12,4% a/a), totalizando R$ 1,71trilhões, e pelo segmento de pessoas jurídica, que apresentou uma evolução de +0,8% m/m e de +9,3% a/a, ficando em R$ 845,6b.
Inadimplência: Fim da sequência de quedas m/m. Crédito direcionado é o vilão
Em agosto de 2024, a inadimplência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) atingiu 3,23%, registrando um leve aumento de +0,05pp em relação ao mês anterior, mas uma queda de -0,3pp na comparação anual. Esse resultado interrompeu a sequência de quedas mensais sucessivas observadas desde maio de 2024, quando o índice havia alcançado 3,26%.
A inadimplência do segmento de Pessoa física apresentou uma pequena alta de +0,05pp m/m, mas retraiu -0,2pp a/a, totalizando 3,8%, assim como o segmento de pessoa jurídica, que apresentou elevação de +0,03pp m/m e queda de -0,3pp a/a, chegando a 2,4%
No crédito livre, a inadimplência se manteve estável m/m e retraiu -0,5pp no ano, chegando a 4,4%. A inadimplência do crédito livre de pessoa física ficou em 5,5% (estável m/m e -0,5pp a/a). A inadimplência de crédito livre de empresas chegou a 3,0% (estável m/m e 0,4pp a/a).
Já no crédito direcionado, a inadimplência aumentou +0,11pp m/m e retraiu -0,04pp a/a, alcançou 1,52%. A inadimplência pessoa física de crédito direcionado ficou em 1,6% (+0,12pp m/m e +0,04pp a/a). Em empresas a inadimplência também apresentou aumento, atingindo 1,3% (+0,03pp m/m e –0,2 pp a/a).
Cartão de crédito: A inadimplência para pessoa física no cartão de crédito total com recursos livres, que inclui a modalidade do parcelado sem juros, ficou em 7,52% (+0,17pp m/m e –0,91pp a/a). Já a inadimplência no cartão de crédito rotativo sofreu uma elevação na comparação mensal (+0,57pp m/m e +5,94pp a/a), chegando a 55,35%, patamar ainda bem elevado. Já a inadimplência no cartão de crédito parcelado apresentou expansão (+0,3pp m/m e +1,02pp a/a), chegando em 11,48%.
Aquisição de automóveis: O crédito destinado para aquisição de veículos para pessoa física apresentou leve queda da taxa de inadimplência na comparação mensal, ficando em 4,56% (-0,06pp m/m e -0,83pp pp a/a).
Crédito pessoal não consignado: A inadimplência do crédito pessoal não consignado apresentou aumento de +0,1pp m/m e retração de -1,15pp a/a, com um total de 5,93%.
Cheque especial: A inadimplência do segmento pessoa física ficou em 11,75%, redução de -0,43pp m/m e –0,54pp a/a.
Cobertura: No mês de agosto, os bancos apresentaram uma redução de -6,0pp m/m e aumento de +0,8pp a/a no índice de cobertura (saldo de provisões para fazer frente aos créditos em atraso), chegando a 182,7%.
Comprometimento/Endividamento de renda: Ainda em patamares elevados
O endividamento das famílias ficou em 47,9% em jul/24, ainda em níveis elevados, apresentando uma piora de +0,2pp m/m, mas com melhora de -0,2pp a/a. O comprometimento de renda também permaneceu em patamares altos no mês, chegando a 26,6%, revelando uma piora de +0,4pp m/m, porém recuando -0,9 pp a/a.
Spread: Menor m/m e a/a
A taxa média de juros das novas concessões em ago/24 atingiu 27,7% a.a., redução de -0,1pp m/m e –2,7pp a/a. Já o spread bancário também caiu para 18,5% (-0,1pp m/m e -2,6pp a/a). No segmento de pessoas físicas, o spread também apresentou uma redução (-0,1pp m/m e -3,6pp a/a) ficando em 23,5%, assim como o do segmento de empresas (-0,1pp m/m e –1,2pp a/a), chegando a 8,2%.
Market Share de Crédito: Instituições financeiras mantém share em agosto
Em ago/24, as instituições financeiras privadas mantiveram estabilidade no market share na comparação mensal, mas com expansão na comparação anual (+0,7pp a/a), chegando a 43,1% de participação de mercado.
As instituições financeiras públicas (ex-BNDES) mantiveram sua participação de mercado no mês, mas perderam no ano (-0,1 pp), totalizando 35,0% de market share.
Concessão de Crédito: Crescendo m/m e a/a
Concessões de crédito atingiram o total de R$ 675,7b, (+1,3% m/m e +10,9% a/a). As concessões livres apresentaram retração de -1,1% m/m, mas expandiram +15,3% a/a, ficando em R$ 595,1b. O destaque positivo do mês veio do segmento de Pessoa Jurídica (PJ), que apresentou aumento de +1,2% m/m e +22,8% a/a, totalizando R$ 256,3b. Já o segmento de Pessoa Física (PF) apresentou retração de –2,7% m/m, mas aumento de +10,2% a/a, fechando em R$ 338,8b. Por fim, as concessões direcionadas tiveram uma forte expansão de +23,8% m/m, mas recuou de -13,4% a/a, totalizando R$ 80,6b, com destaque positivo para o segmento de Pessoas Jurídica (R$ 28,2b) que evoluiu +48,4% m/m e caiu -12,7% a/a, favorecido no mês pelo Crédito Rural (+146,6% m/m) e pelos Recursos do BNDES (+71,5% m/m). O segmento de Pessoa Física apresentou expansão na comparação mensal (+13,6% m/m), mas retração no ano (-13,7% a/a) ficando em R$ 52,4b, beneficiado no mês pelos Recursos do BNDES (+178,2% m/m).
Duration: o prazo médio de duração de crédito livre apresentou retração mensal e anual no segmento Pessoa Física (-0,4% m/m e -0,3% a/a), atingindo 61,2 meses. No segmento de Empresas, registrou uma expansão de +1,3% m/m e +11,8% a/a, chegando a 31,2 meses. Por fim, o prazo do crédito direcionado para Pessoas Físicas aumentou +0,4% m/m e +3,4% a/a, atingindo 273,4 meses. O segmento de Empresas também apresentou expansão no duration, com aumentos de +0,3% m/m e +4,4% a/a, chegando a 94,2 meses.