Diante de um ambiente mais desafiador para distribuidores e vendedores de carne bovina nos EUA, as empresas JBS e Marfrig devem ter seus resultados impactados negativamente. Ambos frigoríficos tem grande parte de sua receita nos EUA, principalmente a Marfrig, que possui menos diversificação geográfica do que a JBS, e ainda trabalha quase que exclusivamente apenas com carne bovina. Apesar de uma esperada queda sequencial, enxergamos esse acontecimento como natural no setor, e o mercado já está esperando que isso ocorra. Portanto, seguimos com as nossas respectivas recomendações de COMPRAR para a JBS, e de MANTER para a Marfrig.
Nos últimos 2 anos, vimos as empresas focadas em carne bovina nos EUA reportar vendas e margens de recordes históricos, por conta da alta disponibilidade de gado no país, além do poder de compra elevado do consumidor americano, impulsionado pelos pacotes de estímulo distribuidos pelo governo. Como estamos tratando de um setor cíclico, é evidente que veríamos uma virada nessa dinâmica, e isso já começou a ocorrer no 2T22. Com a alta inflação e uma menor disponibilidade de gado, o poder de compra do consumidor diminuiu, e os preços do animal subiram, aumentando os custos para os frigoríficos. Esse virada de ciclo será refletida nos resultados das empresas.
JBS
Por conta de sua diversificação geográfica e de produtos (a JBS possui operações em carne bovina, carne suína, carne de frango, processados, entre outros), a maior empresa de proteínas do mundo deve ter seus números relativamente menos impactados pelo cenário mais desafiador no setor de carnes nos EUA. De toda forma, o frigorífico ainda possui mais de 50% de sua operação no mercado americano, sendo cerca de 70% em carne bovina. Acreditamos que isso será refletido no seu EBITDA no trimestre, levando a uma queda de -23% a/a para o indicador, chegando a R$ 9 bilhões e também significando uma queda de 0,9 p.p. na margem EBITDA. A pressão nos custos também terá impacto no lucro, onde enxergamos que a empresa sofrerá uma queda de -29% em relação ao 2T21, e de -40% na comparação com o trimestre anterior, resultando em um bottom-line de R$ 3,1 bilhões. Vale mencionar que, apesar da esperada retração nos EUA, as divisões da JBS no Brasil e aquelas focadas em frangos e suínos devem ter uma boa performance, o que segurou o resultado de uma queda ainda mais severa. Acreditamos que a Seara, por exemplo, irá surpreender positivamente e será o principal driver de rentabilidade da companhia no trimestre, a tendência de queda nos preços dos grãos e melhor demanda no Brasil devem agregar positivamente para a subdivisão da JBS, embora que tenha menor relevância nas operações totais da empresa (cerca de 15%).
Marfrig
Para a Marfrig, enxergamos um cenário ainda mais desafiador, pois o frigorífico têm seu maior foco no mercado americano de carne bovina: cerca de 75% de suas operações. Apesar de acreditarmos que a receita ficará estável em R$ 21,5 bilhões, o EBITDA deve cair em -46% a/a, atingindo R$ 2,1 bilhões no trimestre e representando uma queda de margem EBITDA de -9,2 p.p. em relação ao mesmo trimestre do ano passado, chegando em 9,9%. Apesar da queda significativa, vale lembrar que a base de comparação é um tanto quanto injusta, dado que o 2T21 representou o melhor trimestre disparado da história da empresa, por conta do cenário extremamente benéfico que mencionamos acima, e traduziu em número que são anormais no setor (19% de margem EBITDA é muito fora do comum para o setor, mesmo em um trimestre excelente em termos de vendas e oferta). Além disso, o preço da ação da Marfrig vem sofrendo no ano, e a sua compra de 33% de participação da BRF pode ter um impacto positivo no resultado financeiro da companhia. Com isso dito, seguimos mais conservadores com a companhia. Pensamos que ela já sofreu e está bem precificada, mas também enxergamos poucos catalisadores para impulsionar o preço da ação no prazo de 1 ano.