A JBS irá divulgar seus resultados do 2T25 no dia 13 de agosto, após o fechamento de mercado. Em termos de margem operacional, projetamos um trimestre marcado por uma melhora sequencial em algumas unidades de negócio, ligada principalmente a sazonalidade, mas ainda assim, esperamos uma retração na comparação anual. A companhia deve reportar Receita líquida consolidada de R$117,2b Genial Est. (+2,7% t/t; +16,5% a/a), refletindo desempenho satisfatório nas operações da PPC, Australia e Brasil. O EBITDA ajustado deve somar R$9,2b Genial Est. (+2,9% t/t; -7,0% a/a), com margem de 7,8% (flat t/t; -2,0p.p. a/a), indicando retração gradual anual – como já havíamos antecipado em diversos relatórios –, mas ainda em patamar saudável vs. média histórica. Apenas a PPC deve igualar sua performance de margem a/a, enquanto todas as demais unidades de negócio devem ter margens em processo de suavização. No bottom line, projetamos um Lucro líquido de R$3,0b Genial Est. (+4,4% t/t; +77,9% a/a), com manutenção de margem em 2,6% (flat t/t; +0,9p.p. a/a).
Gripe aviária no Brasil, tarifas e ciclo do gado nos EUA são os destaques negativos.
Além disso, projetamos que o desempenho consolidado da JBS no 2T25 continue marcado por dinâmicas heterogêneas entre as divisões. Em Beef North America, o cenário permanece estruturalmente desafiador: mesmo com preços firmes no varejo (carne moída a US$13,5/kg; +1,2% t/t e cortes premium a US$11,5/lb; +1,6% t/t), a escalada do preço do gado (+14–21% a/a), associada ao menor rebanho desde 1951 (~86,7 milhões de cabeças), deve seguir comprimindo spreads. Estimamos EBITDA de -R$750m (-27,7% t/t) e margem de -2,0% (-0,4p.p. t/t; reversão para o negativo a/a), sinalizando que a rentabilidade da operação deve permanecer sob forte pressão. Na unidade USA Pork, a disputa comercial entre EUA vs. China deve ter limitado o escoamento de carne suína de miúdos, forçando redirecionamento a canais de menor valor agregado. Com isso, esperamos e EBITDA de R$1,0b (-26,8% t/t; -15,5% a/a), com margem de 8,8% (-3,0p.p. t/t; -1,7p.p. a/a), evidenciando perda de rentabilidade. O resultado em Seara deve refletir a padronização pós-pico sazonal vis a vis a suspensão temporária de exportações (China e UE) por casos de gripe aviária, que devem reduzir volumes de vendas e preços domésticos, levando a uma contração de EBITDA para R$2,0b (-21,2% t/t; -3,0% a/a) e margem de 16,5% (-3,3p.p. t/t; -0,9p.p. a/a).
PPC com estabilidade de margem, Australia e Brasil com aumento de top line.
A PPC segue como vetor de relevância do grupo, já tendo divulgado seu resultado anteriormente, reportando EBITDA de US$687m (+8,8% vs. Genial Est.; +5% a/a) e margem de 14,4% (+2,5p.p. t/t; flat a/a), com destaques para EUA (EBITDA de US$483m; +9% a/a) e México (EBITDA de US$92m; +5% a/a). Na divisão da JBS Austrália, a Receita líquida deve atingir R$10,5b (+10,5% t/t; +21,5% a/a), refletindo exportações recordes (EUA +37% a/a; China +62% a/a), ainda que a alta nos custos de gado e cordeiro (+3% t/t; +15% a/a) provavelmente irá frear os ganhos mais expressivos de rentabilidade. Estimamos EBITDA de R$1,0b (+10,4% t/t; -12,2% a/a), com margem de 9,9% (flat t/t; -3,8p.p. a/a).
Por fim, a unidade JBS Brasil está apontada em nosso modelo com Receita líquida de R$20,1b (+8,6% t/t; +29,4% a/a), apoiada por consumo doméstico mais firme devido a liberação de gastos das famílias após tipicamente o orçamento ficar mais restrito nos 1Ts com pagamento de impostos e material escolar. Ainda assim, do lado de custos, o preço da arroba do boi ainda inibirá retomada de margem, uma vez que se situou em ~R$315/arroba (-1,3% t/t), com queda muito tênue e uma alta expressiva a/a. Avaliamos que isso deve seguir limitando a rentabilidade da divisão para além da recomposição natural em virtude da sazonalidade, com margem projetada em 6,0% (+1,9p.p. t/t; -1,6p.p. a/a).

Principais Destaques:
(i) Beef North America: EBITDA ajustado de -R$750m Genial Est. (-27,7% t/t), com margem de -2,0% (-0,4p.p. t/t; -2,2p.p. a/a), pressionada por custo recorde do gado (fed/feeder cattle +14–21% a/a), menor rebanho desde 1951 (~86,7 mi cabeças) e compressão do spread boi–cutout; (ii) USA Pork: EBITDA ajustado de R$1,0b Genial Est. (-26,8% t/t; -15,5% a/a), com margem de 8,8% (-3,0p.p. t/t; -1,7p.p. a/a), refletindo preços mais baixos e custos estáveis de ração; (iii) PPC: EBITDA ajustado de US$687m (+8,8% vs. Genial Est.; +1,4% t/t; +44,5% a/a) e margem de 14,4% (-0,1p.p. t/t; +3,5p.p. a/a). Contribuição estimada ao consolidado de US$432m no EBITDA da JBS (USGAAP); (iv) JBS Austrália: EBITDA ajustado de R$1,0b Genial Est. (+10,4% t/t; -12,2% a/a), com margem de 9,9% (flat t/t; -3,8p.p. a/a), limitada por custo de gado e cordeiro em alta (+3% t/t; +15% a/a); (v) Seara: EBITDA ajustado de R$2,0b Genial Est. (-21,2% t/t; -3,0% a/a), com margem de 16,5% (-3,3p.p. t/t; -0,9p.p. a/a); (vi) JBS Brasil: EBITDA ajustado de R$1,2b Genial Est. (+57,6% t/t; +2,2% a/a), com margem de 6,0% (+1,9p.p. t/t; -1,6p.p. a/a), ainda comprimida frente ao 2T24 pelo ciclo do gado; (vii) Mantemos visão cautelosa no curto prazo, dado que projetamos compressão de margens a/a em praticamente todas as unidades de negócio em 25E vs. 24A; apesar de vetores positivos, como a valorização do USD/BRL (+8,5% a/a) e a robusta alta da arroba no Brasil (+39% a/a), o efeito das tarifas de +50% impostas pelos EUA sobre produtos brasileiros — com impacto esperado no 3T25 — e a mudança de ciclo do gado limitam um ganho mais expressivo; reiteramos que o principal driver de valor no curto prazo segue sendo a potencial reprecificação derivada da dupla listagem (NYSE + B3), que, combinada à estrutura dual-class, ao acesso a capitais globais e ao pagamento imediato de R$1,00/ação em dividendos, pode gerar rerating relevante; Mantemos nossa recomendação de COMPRAR, diante de um Target Price 12M de R$109,00 para as BDRs-B3 e U$20,00 para JBS-NYSE, implicando em um upside de +40%.
JBSS32 2T25 Prévia: No detalhe!
Beef North America: Margens devem seguir pressionadas, sem alívio à vista.
Para a divisão Beef North America projetamos uma Receita líquida de R$38,3b Genial Est. (+1,9% t/t; +22,4% a/a), impulsionada principalmente por preços mais elevados no mercado doméstico, em especial no varejo. A atual fase de ciclo, com oferta de gado doméstica bem apertada, deve suportar níveis de cut out um pouco maiores: a carne moída superou US$13,5/kg (+1,2% t/t), enquanto a média de cortes premium alcançaram ~US$11,5/lb (+1,6% t/t). Avaliamos que a demanda por carne bovina nos EUA permaneceu em ascensão, com o gasto das famílias atingindo US$35,5 per capita em abril (+9% a/a), o que deve reforçar a resiliência do consumo mesmo diante de níveis recordes de preços.
Por outro lado, de acordo com dados da USDA, os preços de fed e feeder cattle – atingiram níveis recordes, com alta de +14–21% a/a, reflexo direto da base de rebanho dos EUA no menor nível desde 1951 (~86,7 milhões cabeças) em virtude da (i) continuidade da retenção de fêmeas reprodutoras; dos (ii) efeitos persistentes da seca prolongada e dos (iii) altos custos de ração. A contínua compressão do spread entre o custo do boi e o cutout deve contribuir para a expansão do prejuízo operacional — movimento amplamente observado em toda a indústria americana – Tyson Foods, por exemplo.
Embora a companhia tenha buscado mitigar parcialmente essa pressão por meio de iniciativas internas como ganho de eficiência de carcaça, readequação de portfólio e maior aproveitamento industrial das plantas, tais medidas ainda se mostram insuficientes frente à deterioração de margem. Diante desse contexto, projetamos EBITDA ajustado negativo de -R$750m Genial Est. (-27,7% t/t), com margem de -2,0% (-0,4p.p. t/t; reversão para o negativo a/a), em mais um trimestre marcado por rentabilidade comprimida.
USA Pork: Queda de margem por redirecionamento de miúdos.
Na unidade de negócios USA Pork nosso modelo aponta para uma Receita líquida de R$11,3b Genial Est. (-3,6% t/t; flat a/a), com retração sequencial e estabilidade em base anual. Nesse contexto, vale destacar o impacto específico da guerra comercial entre EUA e China sobre os embarques de miúdos suínos — subproduto cuja demanda é praticamente restrita ao mercado chinês. Com a dificuldade de exportação, a companhia tem redirecionado parte desses volumes à indústria de pet food e ração animal, o que implica preços significativamente menores e, consequentemente, compressão de margem operacional. Diante dessa retração esperada de preços, projetamos um EBITDA ajustado de R$1,0b Genial Est. (-26,8% t/t; -15,5% a/a), com margem de 8,8% (-3,0p.p. t/t; -1,7p.p. a/a).
PPC: Sustentação de altas margens; alta remuneração ao acionista.
A Pilgrim’s Pride (PPC), subsidiária de frango da JBS focada principalmente no mercado norte-americano, já divulgou seu resultado do 2T25 no dia 7 Ago. Observamos que a companhia voltou a entregar um trimestre excepcional. Após ajustes de US$58m em provisões de litígios, a PPC reportou Receita líquida de US$4,8b (+2,5% vs. Genial Est.) e EBITDA ajustado de US$687m (+8,8% vs. Genial Est.), com margem de 14,4% (+2,5p.p t/t; flat a/a) – 2° maior da história da companhia e atingindo o maior patamar dos últimos 8 anos. O Lucro líquido somou US$356m (ou US$406m após ajustes), flat vs. Genial Est.
Como destaques, pontuamos: (i) Spreads de frango em máximas históricas nos EUA, impulsionados pela forte valorização do peito de frango para além de outros itens, sustentando EBITDA local de US$483m (+9% a/a) e margem de 17,1%. Já o (ii) México também foi destaque, com o 2° melhor trimestre da história, atingindo EBITDA de US$92m e margem de 16,3%, apoiado por crescimento de volumes (+5% a/a) e maior diversificação de marcas no mix de vendas. Na (ii) Europa a companhia atingiu EBITDA de US$112m (+16% a/a) e margem de 8,2%, beneficiada por ganhos de eficiência, mix de produtos mais rentável e fortalecimento das relações comerciais com clientes estratégicos.
Além da operação sólida, a PPC fechou o trimestre com alavancagem baixa, em 1x Dívida Líq./EBITDA, mesmo após desembolsar US$1,5b em dividendos nos últimos 6M. A companhia ainda anunciou dividendo adicional de +US$500m, elevando seu dividend yield 25E a 18%. Como a JBS detém 80% da PPC, o recebimento do fluxo de dividendos dentro do FCF da holding reforça a visibilidade para o compromisso de retornar entre US$0,8-1,2b 25E aos acionistas. Contudo, apesar dos fortes resultados da PPC, análogo à tendência da Seara no Brasil, o momentum da companhia parece estar em trajetória de declínio vs. pico 3T24, com spreads de frango nos EUA, por exemplo, começando a ceder levemente, reforçando nossa projeção prévia de deterioração gradual de margens 25E vs. 2024.
JBS Austrália: retomada consistente com margens voltando ao histórico.
Olhando para a divisão da Austrália, nossa expectativa de Receita líquida fica em R$10,5b Genial Est. (+10,5% t/t; +21,5% a/a), refletindo o forte avanço das exportações de carne bovina no período, especialmente para EUA, Japão, Coreia do Sul e China. Acreditamos que o cenário externo seguiu favorável à Austrália, considerando que é uma região que historicamente despacha uma quantidade significativa de carne para os EUA e ainda assim ficou com 10% de tarifa, o menor valor presente na lista anunciada pela administração Trump no Liberation Day (2 de Abr.). Entre Abr-Jun, os embarques australianos atingiram volumes recordes, com 135Kt em junho — maior marca mensal da série histórica — totalizando mais de 702Kt no 1S25.
Dessa forma, os dados que coletamos de mercado continuam apontando a Austrália como um importante fornecedor para os EUA, considerando a atual fase do ciclo do gado na américa do norte e preços bastante esticados. Por isso, tanto a rentabilidade quanto a demanda dos embarques australianos para os EUA continuam saudáveis, inclusive acelerando +37% a/a. Já Canadá (+40% a/a) e China (+62% a/a) também figuram entre as regiões que as plantas de abate da Austrália estão embarcando mais, com destaque para o grainfed beef, que acumulou alta de +41% a/a até maio.
Contudo, salientamos o revés advindo do avanço de custos elevados de aquisição do gado e cordeiro (que estão em ascensão desde o 3T24) — e apresentam uma alta de +3% t/t e +15% a/a segundo a MLA. Nos parece que a pressão dos custos do gado deve limitar a recuperação mais robusta da unidade, mesmo diante da expectativa depositada no retorno integral das operações de salmão após contratempos nas fazendas aquáticas, que reduziram drasticamente o volume de vendas no 2S24. Dessa forma, estimamos EBITDA ajustado de R$1,0b Genial Est. (+10,4% t/t; -12,2% a/a), com margem de 9,9% (flat t/t; -3,8p.p. a/a).
Seara: Gripe aviária deve limitar top line e margens.
Neste trimestre, certamente os números da Seara mostrarão algum nível de interferência da gripe aviária. Projetamos Receita líquida de R$11,9b Genial Est. (-5,5% t/t; +2,4% a/a), refletindo a esperada padronização pós-pico sazonal típicos de 1Ts, mas também o impacto pontual da gripe aviária, que levou à suspensão temporária das exportações para China e União Europeia, entre outros mercados. Avaliamos que essas restrições, iniciadas em junho, afetaram o desempenho de forma moderada, com possibilidade de algum efeito residual em julho. Ainda assim, o impacto tende a ser limitado, dado o redirecionamento de volumes via plantas com habilitação ativa, em dinâmica semelhante à observada durante o episódio da doença de Newcastle ano passado.
No mercado doméstico, o redirecionamento de frango in natura deve acabar por deflacionar os preços no curto prazo – segundo nosso levantamento, em junho os preços no atacado recuaram -2,2% m/m por efeitos da gripe aviária, e a contração no varejo foi próximo de -5% m/m. Contudo, como ~50% da receita da Seara vem do mercado doméstico — e, nesse canal, o mix de vendas é majoritariamente focado em produtos preparados e processados —, o efeito tende a ser marginal quando comparado ao impacto observado em companhias mais expostas ao in natura.
Por outro lado, o milho apresentou recuo de -7,4% t/t, o que deve contribuir para aliviar parte da pressão sobre a estrutura de gastos da operação, apesar da volatilidade nos mercados após o anúncio das tarifas pela administração Trump. Ainda assim, projetamos um EBITDA de R$2,0b Genial Est. (-21,2% t/t; -3,0% a/a), com margem de 16,5% (-3,3p.p. t/t; -0,9p.p. a/a) — nível ainda sólido e compatível com o novo patamar da Seara pós-inflação de custos.
JBS Brasil: receita cresce, mas arroba ainda limita expansão de margem.
Para as operações brasileiras projetamos uma Receita líquida de R$20,1b Genial Est. (+8,6% t/t; +29,4% a/a), refletindo o maior dinamismo da demanda por carne bovina no mercado doméstico, favorecida pelo fim do período sazonalmente mais fraco de consumo observado no início do ano. Com a dissipação dos efeitos de restrição orçamentária do 1T — com o a renda das famílias sendo direcionada para despesas com impostos e material escolar —, o 2T costuma registrar recuperação no consumo de proteínas de maior valor agregado, como é o caso da carne vermelha. Adicionalmente, a escalada nos preços no varejo nacional deve sustentar o avanço do top line: a média de cortes presente na cesta do IPCA acumulou alta de +22,2% a/a nos últimos 12M, com destaque opções populares como patinho (+24,1% a/a) e acém (+25,2% a/a).
Do lado da oferta, a cotação da arroba recuou -1,3% t/t, mas ainda permanece em patamar elevado, na faixa de R$315/arroba. Isso deve seguir limitando uma expansão mais expressiva de margem, dado que o custo de aquisição do gado representa ~85% do COGS/t da operação. Assim, mesmo com uma leve melhora sequencial no custo, a estrutura ainda permanece pressionada pelo ciclo do gado, que segue em patamar desafiador de preços e disponibilidade. Nesse contexto, estimamos EBITDA de R$1,2b Genial Est. (+57,6% t/t; +2,2% a/a), com margem de 6,0% (+1,9p.p. t/t; -1,6p.p. a/a), refletindo o avanço relevante na rentabilidade sequencial, quando a base de comparação era mais deprimida por fatores sazonais. Ainda assim, a margem segue comprimida frente ao observado no 2T24, evidenciando que, apesar da melhora sequencial, o momento atual do ciclo ainda impõe desafios, principalmente para o 2S25.
Nossa visão e recomendação
Pós dupla listagem: Por que a reprecificação ainda não ocorreu?
Embora a tese de reprecificação da JBS com base na convergência de múltiplos globais siga intacta — com potencial teórico de valorização de +30% vs. EV/EBITDA atual de 5,0x — avaliamos que o mercado ainda não precificou esse rerating de forma plena. A cotação implícita de JBSS3 via os recibos JBSS32 (BDRs) listados na B3 indica um valor de R$38,74, o que representa uma queda de -6,2% vs. fechamento do dia da AGE (23 de Mai.) — justamente quando os acionistas minoritários aprovaram a estrutura de dupla listagem. Esse descolamento reforça a tese de que a reprecificação ainda está em curso e esbarra em um fenômeno técnico de realocação de fluxo.
Na prática, acreditamos que a transição de listagem primária da B3 para a NYSE gera uma ruptura na composição dos acionistas institucionais, sobretudo no que se refere a fundos passivos. Com a saída da companhia dos principais índices brasileiros (como o Ibovespa ou o IBrX), muitos ETFs e fundos de índice locais passam a desinvestir sistematicamente, aumentando o fluxo vendedor da ação no curto prazo. Em contrapartida, os fundos passivos dos EUA — como os replicadores do Russell 1000 e, futuramente, do S&P 500 — ainda não montaram posições compradas, uma vez que a elegibilidade da companhia a esses índices depende de fatores como histórico de liquidez, free float e tempo de listagem. A próxima janela para entrada nos índices será apenas em 2026.
Esse intervalo entre a saída dos fundos brasileiros e a entrada dos veículos globais cria um delay no fluxo comprador, postergando a esperada compressão do gap de múltiplos vs. peers. Adicionalmente, o próprio modelo de ações dual-class adotado na listagem pode ter gerado certo desconforto entre fundos ativos, sobretudo os mais alinhados a práticas rígidas de governança corporativa, argumento reforçado pela Institutional Shareholder Services (ISS) na época prévia a assembleia de acionistas. Entretanto, avaliamos que esse desconforto tende a ser diluído na medida em que o ganho potencial de valorização supera, no curto prazo, o custo de governança percebido.
A espera é técnica, não estrutural.
Dado esse contexto, interpretamos que a não materialização do rerating imediato não reflete uma rejeição à tese de reprecificação via múltiplos, mas sim um desalinhamento temporal entre a mudança estrutural da listagem e a mecânica de rebalanceamento dos fundos institucionais globais. A partir da confirmação da listagem na NYSE (já ocorrida em junho), esperamos que: (i) fundos passivos com foco nos EUA comecem a adicionar JBS gradualmente, conforme critérios de elegibilidade sejam cumpridos (como liquidez e histórico de negociação); e (ii) fundos ativos reavaliem a posição com base em valuation ainda atrativo e possibilidade de valorização vs. peers;
Com isso, para nós, o cenário base de reprecificação da ação permanece crível: há espaço para convergência de múltiplos, mas o timing é influenciado por fatores técnicos e regulatórios. O mercado parece estar em uma fase de transição de mãos, em que investidores locais reduzem ou eliminam posições, enquanto os globais ainda não movimentaram fluxo comprador suficiente.
Tarifas EUA X Brasil: Impacto simbólico, mas com efeitos indiretos relevantes.
A imposição de tarifas de 50% pelos EUA sobre a carne bovina brasileira acendeu alertas no mercado, mas o impacto direto para a JBS Brasil, em termos absolutos, tende a ser limitado. No acumulado do 1S25, os embarques totais para os EUA somaram ~185Kt — volume que, embora represente parcela relevante do comércio bilateral, equivale a cerca de um mês de produção da companhia no Brasil. Dentro do contexto do grupo JBS, essas exportações correspondem a apenas ~1% da receita consolidada, o que torna o efeito quantitativamente não material.
Contudo, a preocupação não se restringe ao volume em si, mas à ambiguidade regulatória da medida. Ainda não está claro se as tarifas incidem (i) apenas sobre produtos produzidos a partir de 1º de Ago. ou se (ii) também afetam cargas já embarcadas ou em trânsito. A sobreposição com cotas anteriores — de 10% ou 26%, conforme interpretações — agrava o cenário de incerteza, dificultando o planejamento logístico e comercial da indústria. Além disso, se (iii) mais frigoríficos redirecionarem oferta para o mercado doméstico ao invés de exportar, o efeito poderia levar a uma queda dos preços cut out para o consumo interno no Brasil. Mesmo que as companhias sejam obrigadas a suavizar preços no mercado doméstico, acreditamos que o processo de inversão de ciclo do gado no Brasil já está em andamento, com um número maior de retenção de fêmeas esperado para o 2S25, deverá auxiliar na compressão ainda maior das margens das operações domésticas.
Apesar disso, a leitura da companhia é de que, mesmo que o tarifário torne economicamente inviável parte das exportações aos EUA, o impacto será mitigado por um processo coordenado de redirecionamento de cargas. A solidez da demanda global por proteína — em especial em países asiáticos e árabes — continua a oferecer alternativas comerciais viáveis, com potencial de preservar volumes.
Brasil: Virada de ciclo mais tênue do que antecipada, mas os preços vão subir no 2S25.
Antecipamos a virada de ciclo do gado no Brasil desde o 3T24 — com o preço da arroba do boi subindo +50% em 5M (Jul-Nov) — o que nos fez rebaixar a companhia para Neutro. Entretanto, por eventos que não conseguíamos mapear na época, a transição de ciclo está ocorrendo de forma gradual e mais equilibrada do que o previsto anteriormente. Apesar da previsão de redução no volume de abate do mercado total em -5% a/a 25E, acreditamos que a disponibilidade ainda é suficiente para sustentar a operação em ramp-up das novas plantas MSA. O preço do boi para abate deve se deslocar para a faixa de R$340–350/arroba no 2S25 – hoje negociando em ~R$300/arroba em decorrência pontual dos efeitos provenientes da imposição tarifária de 50% dos EUA sobre os produtos brasileiros.
A essa altura, esperávamos uma curva mais próxima de R$320/arroba, mostrando que o catalizador para redução do preço do gado — depois de ter chegado no pico R$352/arroba em Nov. — foi de fato a imposição das tarifas da administração Trump, o que gerou incerteza sobre os embarques futuros e desacelerou de forma abrupta as exportações para o mercado norte americano. Salientamos que os EUA representam um destino relevante dos embarques brasileiros de carne, sendo o segundo mais representativo (12% do total exportado). As incertezas geradas pelas tarifas por sua vez arrefeceram o sequenciamento de abates e acabou dilatando a oferta de gado, causando quedas de preço. O movimento levou grandes frigoríficos a suspender compras, realocar destinos e, em alguns casos, colocar plantas em férias coletivas. No mercado doméstico, a combinação de oferta mais elevada de animais confinados e alongamento das escalas de abate (que hoje superam 9 dias úteis em média), vem permitindo que os frigoríficos renegociem para baixo os preços pagos ao produtor. Nesse momento, ainda estamos vendo um nível considerável de abate de fêmeas reprodutivas, que por sua vez, apresentarem menor rendimento de carcaça. Porém, o jogo deve virar.
No 1T25 o abate de fêmeas configurou ponto recorde, atingindo 47% do rebanho total. Entretanto, avaliamos que essa tendência tende a migrar no 2S25, com o percentual de fêmeas abatidas arrefecendo para 43% Genial Est. (vs. 45% no 2S24), e passando a apresentar uma queda mais acentuada a partir de 26E, dado a retirada para procriação, visando garantir a reposição de bezerros. Com menos fêmeas na escala de abate nos próximos meses, a oferta disponível para os frigoríficos irá encolher e o preço da arroba tenderá a esticar novamente. Então, embora a virada de ciclo de fato está mais lenta, ainda assim, ela é estrutural e faz parte da natureza do negócio. As tarifas podem ter freado o ritmo de alta, mas a virada do ciclo do gado brasileiro se torna evidente diante da combinação de fatores estruturais que limitam a oferta de animais para abate e pressionam custos ao longo da cadeia.
Suavização de margens, à espera da reprecificação.
Continuamos a não enxergar catalizadores significativos do ponto de vista fundamentalista, justificada pela esperada compressão de margens para 25E vs. 24A em quase todas as unidades de negócio – justificado pela deterioração da conjuntura de gastos, spreads, gripe aviária e tarifas e seus efeitos indiretos. Acreditamos que esse relatório de prévias reforça isso, ao passo que esperamos um comportamento contracionista ou na melhor das hipóteses, de estabilidade na margem a/a, em todas as unidades da companhia, mesmo com, por exemplo, (i) grandes distorções da taxa de câmbio USD/BRL vs. 2T24 – com viés impulsionador do resultado a/a via justificada pela intensa valorização USD vs. BRL (+8,5% a/a) –, apesar da (ii) robustaalta a/a do preço do arroba no Brasil (+39% a/a) – mesmo com o efeito pontual detrator da pressão advinda pelo efeito indireto da imposição tarifária de +50% dos EUA sobre produtos brasileiros.
Ratificamos, dessa forma, mais uma vez que o driver claro de valor para os próximos meses continua a ser o eventual efeito derivado da reprecificação advinda da dupla listagem (NYSE com ação e B3 com BDRs), mesmo que exista um delay inerente ao ato para que isso se torne crível (explicado anteriormente neste relatório), ao combinar uma (i) estrutura dual-class de ações; (ii) acesso a capitais globais (fundos passivos e listagem em índices, como o Russell 1000 e S&P 500); (iii) e um dividendo extraordinário imediato (R$1,00/ação), a companhia deve se posicionar para um rerating de valuation, reduzindo o gap de negociação vs. peers.
Mantemos nossa recomendação de COMPRAR, diante de um Target Price 12M de R$109,00 para as BDRs-B3 e U$20,00 para JBS-NYSE, implicando em um upside de +40%. Vale ressaltar, contudo, que apesar do alto potencial de valorização implícito para a companhia, nosso valuation é atribuido tanto ao (a) nosso modelo pelo DCF, quanto ao (b) ganho de valor que enxergamos pela reprecificação via múltiplo – que ainda não se demonstrou concretizado, como era de se esperar neste curtíssimo horizonte de tempo.