A JBS vai reportar o seu resultado do 2T24 no dia 13 de agosto, após o fechamento de mercado e, neste relatório, iremos apresentar as nossas expectativas para os números da companhia. Projetamos um trimestre com uma rentabilidade sequencialmente maior, adjunto de uma expansão da margem EBITDA consolidada para 8,2% (+0,96p.p. t/t; +3,17p.p. a/a). Do lado positivo, esperamos ver dinâmicas favoráveis na maior parte dos segmentos da companhia, principalmente PPC, Seara e USA Pork e Friboi. Porém, do lado negativo, ainda vemos um cenário muito desafiador para a JBS Beef North America, com o ciclo gado desfavorável pressionando fortemente as margens.
Principais Destaques:
(i) Cenário ainda desafiador para Beef North America; (ii) Aguardamos margens sólidas em JBS USA Pork; (iii) PPC, que já divulgou seu resultado, apresentou melhora consistente; (iv) JBS Australia se beneficiando de aumento de importação americana; (v) JBS Brasil: USD/BRL forte com ciclo positivo do gado é margem na veia; (vi) Conclusão da dupla listagem ao final do ano; (vii) Relatório USDA de outubro: dissecamos o conteúdo e apuramos nossas conclusões. A priori, há um aumento na produção de carne bovina nos EUA em curso e isso sugere que o mercado doméstico pode se tornar ainda mais competitivo, pressionando as margens da JBS USA Beef. O ciclo negativo do gado deverá permanecer até final de 2026, podendo chegar ao início de 2027. Se essa previsão se concretizar, aumentam as chances de um descasamento na virada do ciclo entre os EUA e o Brasil; (viii) No entanto, como esse descasamento está previsto para ocorrer mais adiante, a curto prazo, a JBS consegue, ainda, desfrutar do atual cenário consolidando bons resultados operacionais; (ix) Para o curto prazo, vemos o cenário muito favorável para a JBS, em decorrência do case mais diversificado que temos sob cobertura, seja por região geográfica ou por proteínas diferentes. Assim sendo, negociando um EV/EBITDA 25E de 5,7x (vs. histórico de 6,2x), reiteramos nossa recomendação de COMPRA, e subimos o nosso Target-Price 12M para R$40,00 (vs. R$35,00 anteriormente), refletindo em um uspide de +19,44%.
Valuation e recomendação. O cenário para o segmento JBS USA Beef permanece sob pressão no 2T24, com a JBS enfrentando dificuldades devido ao ciclo desfavorável do gado e uma demanda abaixo do esperado durante o início do trimestre, que deveria sofrer impulsionamento pela entrada do barbecue season. Apesar das iniciativas da companhia, como o programa White Bone e os esforços nas reduções de custos, a margem EBITDA para esse segmento deve continuar baixa, próxima ao breakeven, com uma projeção de apenas 0,2% Genial Est., representando um EBITDA nominal de R$45m Genial Est. (vs. -R$49m no 1T24 e +R$433m no 2T23). A migração dos consumidores norte-americanos para proteínas mais baratas, como frango e porco (o chamado trade down), na busca por fugirem da inflação e da atividade mais baixa na economia, também adiciona um fator de complexidade sobre o desempenho do segmento de Beef, mantendo o ambiente desafiador, com números que devem permanecer apáticos por mais algum tempo.
No Brasil, o cenário é mais favorável para a JBS, com o ciclo do gado positivo e a alta da taxa de câmbio USD/BRL impulsionando as margens, especialmente na divisão Friboi, que tem 50% de sua produção voltada para exportação. A retomada das exportações para a China e a habilitação de novas plantas contribuíram para uma expectativa de aumento nas margens EBITDA, que devem se situar entre mid e high single digits, com projeção de R$811m Genial Est. (+26,1% t/t; +20,0% a/a). A (i) diversificação das operações através de proteínas diferentes, (ii) especialmente através da Seara com o momentum do frango e o (iii) cenário apreciativo da taxa FX são fatores que devem mitigar os desafios enfrentados em outros segmentos (couros e lojas Swift), sustentando um desempenho sólido no 2T24.
Segundo a nossa análise sobre o relatório do USDA de agosto (órgão dos EUA responsável por pesquisas agropecuárias), divulgado ontem, entendemos que o ciclo negativo do gado nos EUA possa se estender até final de 2026, potencialmente prolongando-se até 2027, o que implica em um desafio duradouro para a JBS USA Beef. Em contrapartida, a queda nos preços dos grãos (soja e milho) deve continuar beneficiando as margens dos segmentos da PPC, JBS USA Pork e de exportações da Seara (com risco reduzido da doença Newcastle), todas divisões que já demonstram desde o trimestre passado, boas margens. A JBS Brasil, por outro lado, continua a aproveitar o ciclo pecuário positivo no Brasil, mas a previsão de descasamento entre os ciclos de gado nos EUA e no Brasil no futuro (por volta de 2026) pode criar um ambiente desafiador para a companhia no longo prazo.
No entanto, como esse descasamento está previsto para ocorrer mais adiante, a curto prazo, a JBS consegue, ainda, desfrutar do atual cenário consolidando bons resultados operacionais. Como sabemos que a cobertura do setor de frigoríficos possui o teor de commodities, e que, geralmente, investidores ligados a teses essencialmente cíclicas olham muito mais para o curto prazo, vemos o cenário muito favorável para a JBS, em decorrência do case mais diversificado que temos sob cobertura, seja por região geográfica ou por proteínas diferentes. Assim sendo, negociando um EV/EBITDA 25E de 5,7x (vs. histórico de 6,2x), reiteramos nossa recomendação de COMPRA, e subimos o nosso Target-Price 12M para R$40,00 (vs. R$35,00 anteriormente), refletindo em um uspide de +19,44%.
JBSS3 Prévia 2T24
No 2T24, estimamos uma receita líquida total de R$98,1b Genial Est (+10,1% t/t; +9,8% a/a). Projetamos um EBITDA de R$8,0b Genial Est., com avanço de +24,7% t/t e +79,4% a/a, representando uma expansão de +3,17p.p. a/a na margem EBITDA, a qual deve atingir, assim, 8,2%. Por fim, para o lucro líquido, estimamos em nosso modelo a marca de R$2,2b Genial Est, refletindo uma expansão de +0,25p.p t/t na margem líquida (2,3% vs. 2,0% no 1T).
Cenário ainda desafiador para Beef na América do Norte.
O cenário para JBS USA Beef continua árduo para os frigoríficos. Embora os 2Ts normalmente se beneficie da sazonalidade positiva do barbecue season, a demanda no início do 2T24 (abril e maio) ficou aquém das expectativas, com alguma recuperação apenas em junho. A perspectiva de uma melhora na margem EBITDA é limitada devido à continuidade do ciclo do gado desfavorável, que ainda não apresentou sinais de alívio significativo de um trimestre para o outro. Portanto, esperamos que a margem EBITDA permaneça em low single digit ou até mesmo próxima ao breakeven, sem grandes avanços em relação ao 1T24. Estamos estimando margem de 0,2% e EBITDA nominal de R$45m Genial Est. (vs. -R$49m no 1T24 e +R$433m no 2T23).
O que está sendo feito para atenuar?
É importante destacar as iniciativas que a JBS tem realizado, como o programa White Bone e redução de custos, que pode oferecer algum suporte à rentabilidade. Ainda assim, a combinação de uma demanda sazonal não tão robusta quanto o esperado e o ciclo apertado sugerem que os resultados para o 2T24 devam ficar flat, com um equilíbrio entre os fatores positivos e negativos. Além disso, estamos testemunhando o trade down de proteínas, isto é, uma migração da demanda nos EUA para proteínas mais baratas, como frango e porco, o que pode afetar ainda mais o desempenho do segmento de Beef no curto prazo. Em resumo, o cenário continua refletindo números sem expressão, com uma expectativa de desempenho estável e sem grandes surpresas no 2T24. Por outro lado, entendemos que a grande vantagem competitiva da tese de investimentos na JBS é a diversificação, tanto de proteínas quanto de geografias. Dessa forma, o trade down é benéfico para o resultado consolidado pois demais divisões de negócio como a PPC e a USA Pork se beneficiam.
Esperamos margens sólidas em JBS USA Pork, com expansão de EBITDA.
Esperamos que a JBS USA Pork mantenha margens sólidas no 2T24, com EBITDA chegando a 10%. A demanda por carne suína deve continuar favorecida pelo trade down, com consumidores optando por proteínas mais acessíveis, o que deve sustentar as margens no trimestre em patamares satisfatórios. Além disso, o barbecue season traz um impulso sazonal positivo para a demanda, e a queda nos preços dos grãos continua a beneficiar o segmento. Assim, a JBS USA Pork deve apresentar um desempenho robusto e impulsionando, com EBITDA de R$1,0b Genial Est. (+66,9% t/t; +165,3% a/a).
PPC, que já divulgou seu resultado, apresentou melhora consistente.
A Pilgrim’s Pride Corporation (PPC), subsidiária para comercialização de carne de frango da JBS focada na América do Norte, reportou resultados sólidos no 2T24, com vendas líquidas de US$4,6b, representando um aumento de +5,8% a/a. A companhia registrou um lucro operacional de US$440,8m e um lucro líquido de US$326,5m, impulsionados por margens operacionais aprimoradas e eficiências de produção. A divisão dos EUA se destacou com melhorias na eficiência operacional e menores custos de insumos, enquanto a Europa apresentou crescimento significativo no EBITDA ajustado, refletindo uma otimização na relação com clientes-chave. Projetamos, daqui em diante, uma expansão sequencial de margens para o segmento, viabilizada por (i) uma oferta global mais equilibrada; (ii) uma demanda aquecida e (iii) preço dos grãos (soja e milho) em baixa beneficiando a PPC do lado de custos. Assim, devemos ver a operação entregando uma margem EBITDA de high single digit e, potencialmente, de low double digits.
JBS Australia pegando carona no aumento de importação americana.
Para o 2T24, esperamos que a JBS Australia continue apresentando um bom desempenho, com margem EBITDA mantendo-se em níveis elevados, impulsionada por um ciclo pecuário favorável e uma demanda internacional sólida. Observamos que a importação de carne bovina dos EUA vinda da Austrália aumentou significativamente, o que fortalece a operação. Além disso, a companhia está investindo em uma iniciativa que visa transferir mão-de-obra qualificada do Brasil para a Austrália, o que pode elevar a eficiência e agregar valor aos cortes, embora esse processo seja gradual devido às barreiras linguísticas. Para o 2T24, calculamos EBITDA em R$842m Genial Est. (+37,1% t/t; +18,5% a/a).
JBS Brasil: USD/BRL forte com ciclo positivo é margem na veia.
Esperamos que a JBS Brasil continue se beneficiando do ciclo do gado positivo, o que fomentará os alicerces da margem EBITDA da divisão Friboi. Além disso, a JBS Brasil é composta 80% pela Friboi que está exposta 50% a exportações. Com o movimento de forte apreciação da taxa de câmbio USD/BRL durante o 2T24 e a retomada das exportações para a China, após a habilitação de 10 novas plantas, o segmento deve ver um incremento nas margens, que historicamente crescem entre +200-300bps do 1T para o 2T. Além disso, estamos testemunhando uma leve recuperação do setor automobilístico, o que favorece maior demanda maior por couro, um dos side business da divisão do Brasil que estava, até então, retirando margem da boa performance da Friboi.
Dessa forma, esperamos que a margem EBITDA da JBS Brasil continue em mid single digit, com potencial de atingir high single digit, caso a demanda chinesa por carne bovina supere as expectativas. Por enquanto, estamos trabalhando com a premissa de redução no nível dos embarques a/a para a China o 2S24. A diversificação da operação e o ambiente favorável na composição da taxa de câmbio USD/BRL devem ajudar a mitigar os desafios nos segmentos menos rentáveis (couros e lojas Swift), sustentando um desempenho sólido no 2T24. Projetamos EBITDA de R$811m Genial Est. (+26,1% t/t; +20,0% a/a).
Seara: Não é um voo de galinha.
Para o 2T24, a Seara deve continuar apresentando um desempenho sólido, beneficiada por um cenário muito positivo para o segmento de frango, tanto para consumo doméstico quanto direcionado para o mercado de exportações. Com custos de grãos mais baixos e uma forte demanda, bem como a normalização global da oferta de aves, o spread é bastante robusto e continua a ganhar tração de forma sequencial. A margem EBITDA deve se manter forte, refletindo o bom momentum. Nosso modelo aponta para EBITDA em R$1,4b Genial Est. (+19,1% t/t; +238,2% a/a).
Nossa visão e recomendação
Conclusão da dupla listagem ao final do ano.
Prevemos que o processo de dupla listagem das ações da JBS só será finalizado no final do ano, provavelmente ao término do 2S24. Apesar de a companhia estar enfrentando processos nos EUA relacionados a alegações de greenwashing, o que enxergamos mais como um ruído do que como um problema substancial, esses casos podem gerar questionamentos adicionais pela Securities Exchange Commission (SEC), possivelmente atrasando a listagem das ações nos EUA. Por outro lado, em conversas que tivemos com a companhia, a versão deles dos fatos é de que o trâmite é bastante burocrático e é um processo de réplica/tréplica nos envios de documentações para a SEC, até que não haja nenhum comentário adicional. Recentemente, a companhia emitiu o relatório do tipo 20-F, bem como F-4, o que pode ser visto como um progresso em direção ao objetivo de autorização da SEC para a listagem primária das ações na NYSE.
USDA de agosto: Trade down de proteínas se intensifica.
O relatório do USDA (órgão dos EUA responsável por pesquisas agropecuárias), divulgado ontem, dia 12 de agosto, aponta tendências que podem impactar as operações da JBS de maneira mista nos próximos trimestres. A continuidade da queda nos custos dos grãos deve beneficiar as margens da PPC, JBS USA Pork e de exportações da Seara (com risco reduzido da doença Newcastle), mantendo a competitividade desses segmentos ao longo do ano. No entanto, a previsão de aumento na produção de carne bovina nos EUA sugere que o mercado doméstico pode se tornar ainda mais competitivo, pressionando as margens da JBS USA Beef, que terá de enfrentar esse desafio com eficiência operacional para preservar a rentabilidade.
Por outro lado, a forte demanda projetada para o mercado de frango, tanto interna quanto nas exportações, indica que a Seara continuará em uma posição vantajosa, aproveitando o bom momento do mercado de aves. Esses fatores devem se refletir em uma continuidade de resultados sólidos para Seara e JBS USA Pork, enquanto JBS USA Beef pode enfrentar um ambiente mais desafiador, exigindo ajustes estratégicos para mitigar os impactos da maior oferta no mercado americano.
Risco de descasamento dos ciclos em 26/27.
A perspectiva de mercado atual indica uma possível extensão do ciclo negativo de gado nos EUA até 2026, podendo se prolongar até o início de 2027. Se essa previsão se concretizar, aumentam as chances de um descasamento na virada do ciclo entre os EUA e o Brasil, o que poderia prejudicar as estratégias de empresas como JBS (em maior grau) e Minerva (em menor grau).
Atualmente, o ciclo do gado no Brasil está positivo, mas acreditamos que ele reverta para negativo antes que o ciclo nos EUA mude de negativo para positivo. Em outras palavras, existe uma forte possibilidade de que as janelas temporais dos ciclos se desencontrem, resultando em ambos os países enfrentando ciclos negativos simultaneamente. Se isso ocorrer, os preços globais da carne bovina poderão ficar sob pressão devido à redução na oferta de gado, especialmente de fêmeas, o que impacta a reprodução e a oferta futura de bezerros.
No entanto, como esse descasamento está previsto para ocorrer mais adiante, a curto prazo, a JBS consegue, ainda, desfrutar do atual cenário consolidando bons resultados operacionais. Como sabemos que a cobertura do setor de frigoríficos possui o teor de commodities, e que, geralmente, investidores ligados a teses essencialmente cíclicas olham muito mais para o curto prazo, vemos o cenário muito favorável para a JBS, em decorrência do case mais diversificado que temos sob cobertura, seja por região geográfica ou por proteínas diferentes. Assim sendo, negociando um EV/EBITDA 25E de 5,7x (vs. histórico de 6,2x), reiteramos nossa recomendação de COMPRA, e subimos o nosso Target-Price 12M para R$40,00 (vs. R$35,00 anteriormente), refletindo em um uspide de +19,44%.