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    Publicado em 14 de Novembro às 01:15:08

    JBS (JBSS32) I Resultado 3T25: Entrando em dieta

    JBS divulgou seus resultados do 3T25 ontem, dia 13/Nov., após fechamento do mercado. À priori, o resultado apresentou números consolidados levemente melhores do que o esperado, diante de uma Receita líquida de US$22,6b (+4,8% vs. Genial Est.), avançando +7,6% t/t e +13,4% a/a. O EBITDA somou US$1,8b (+5,5% vs. Genial Est.), subindo +4,6% t/t, embora recuando -14,8% a/a, resultando em margem de 8,1% (flat vs. Genial Est.), com tênue compressão sequencial (-0,2p.p t/t) e deterioração significativa na base anual (-2,7p.p a/a).

    Avaliamos que o recuo da margem consolidada ocorreu como reflexo da suavização dos ciclos de rentabilidade nas principais proteínas, marcada por deterioração mais acentuada na dinâmica de custos, em função de (i) pressões biológicas —restrições genéticas e escalada da mortalidade em aves por um inverno rigoroso no Brasil— e (ii) ciclos do gado com preços em ascensão a/a nas principais geografias— Brasil (+27% a/a) , EUA (+21% a/a) e Australia (+34% a/a).  

    Já o Lucro líquido ficou em US$581m (+5,9% vs. Genial Est.), avançando +10% t/t, mas desacelerando -16% a/a. O bottom line foi entregue um pouco abaixo do consenso, mas já estávamos mais bearish. Dessa forma, a companhia teve uma rentabilidade operacional que acabou mais do que compensando dinâmica de juros, que tramitaram no P&L acima do que nós esperávamos (+9,5% vs. Est.).

    A despeito de nossa prospecção, acreditamos que a sustentação da margem consolidada em linha com o patamar esperado decorreu, principalmente da boa performance na JBS Brasil, que entregou EBITDA de US$307m, configurando margem de 7,4% (+1,4p.p. vs. Est.; +1,0p.p. t/t; -4,2p.p. a/a), impulsionada por exportações mais fortes que o previsto, melhor captura de preço embarcado e leve redução sequencial do custo do gado. Também observamos contribuição melhor do que a esperada da Beef North America— embora ainda imerso em um ambiente desafiador — com EBITDA de -US$42m, equivalente a uma margem de -0,6% (+0,9p.p.Est.; +2,8p.p. t/t; -2,4p.p. a/a), vindo significativamente menos negativa que o estimado, beneficiada pelo cut-out em máximas históricas e melhor alinhamento entre mix e demanda no varejo norte-americano.

    Em contrapartida, os destaques negativos ficaram em USA Pork, que registrou EBITDA de US$218m, com compressão significativa de margem, chegando a 9,8% (-2,4p.p. vs. Est.; -2,5p.p. t/t; -2,3p.p. a/a), penalizada por custos acima do projetado, preços mais fracos em subprodutos e deterioração do mix exportador pelas restrições comerciais EUA-China. Já Seara também mostrou um desempenho bem aquém frente ao que esperávamos, com EBITDA de US$323m, e margem decaindo para 13,7% (-1,7p.p. vs. Est.; -4,4p.p. t/t; -7,3p.p. a/a), afetada pelo mix menos rentável sem China como destino de exportações, sazonalidade biológica adversa e sobreoferta temporária no mercado doméstico. Por fim, JBS Austrália apresentou EBITDA de US$249m (-14% t/t; +43% a/a) e margem de 11,4% (-1,1p.p. vs. Est.; -3,4p.p. t/t; +1,6p.p. a/a), sofrendo impacto direto da forte escalada do custo do gado (+15% t/t), que limitou a preservação de spreads apesar da demanda firme nos mercados de exportação.

    Principais Destaques:

    (i) Seara: EBITDA de US$323m (-5% vs. Genial Est.; -18% t/t; -30% a/a), com margem de 13,7% (-1,7p.p. vs. Est.), contraindo -4,4p.p. t/t e -7,3p.p. a/a, pressionada por mix menos rentável sem China, custos acima do esperado (soja, efeitos biológicos etc.), apesar do forte volume exportado; (ii) JBS Brasil: EBITDA de US$307m (+35% vs. Est.; +34% t/t; -19% a/a), com margem de 7,4% (+1,4p.p. vs. Est.), expandindo +1,0p.p. t/t, mas recuando -4,2p.p. a/a, sustentada por exportações mais fortes e leve alívio no custo do gado, embora ainda em patamar historicamente elevado; (iii) Beef North America: EBITDA de -US$42m (+58% vs. Est.; +82% t/t; vs. US$117m a/a), com margem de -0,6% (+0,9p.p. vs. Est.), expandindo +2,8p.p. t/t, porém recuando -2,4p.p. a/a, refletindo spreads ainda negativos, mas menos comprimidos que o estimado graças ao cut-out elevado; (iv) JBS Austrália: EBITDA de US$249m (+1% vs. Est.; -14% t/t; +43% a/a), com margem de 11,4% (-1,1p.p. vs. Est.), contraindo -3,4p.p. t/t e expandindo +1,6p.p. a/a, pressionada pelo forte aumento do custo do gado, parcialmente compensado por preços firmes e recuperação do salmão; (v) USA Pork: EBITDA de US$218m (-16% vs. Est.; -14% t/t; -12% a/a), com margem de 9,8% (-2,4p.p. vs. Est.), contraindo -2,5p.p. t/t e -2,3p.p. a/a, pressionada por custos operacionais mais altos, subprodutos mais fracos e restrições comerciais com a China; (vi) PPC: EBITDA de US$770m (+1% vs. Est.; -6% t/t; -1% a/a), com margem de 16,2% (+0,1p.p. vs. Est.), contraindo -1,0p.p. t/t e -0,7p.p. a/a, pressionada por custos maiores, SG&A mais elevado e início da correção dos preços nos EUA; (vii) FCF de US$383m (-10% vs. Est.; vs. -US$55m t/t; -62% a/a), pressionado por FCO de US$1,3b (-8% vs. Est.; -29% a/a) e CAPEX de US$657m (+16% vs. Est.; +55% a/a), mesmo com redução relevante das despesas de juros; (viii) Alavancagemem 2,4x Dívida Líq./EBITDA (flat vs. Est.; +0,1x t/t), pressionada pelo EBITDA LTM mais fraco (-14,8% a/a) e pelo FCF levemente abaixo da expectativa, parcialmente compensada pelo EBITDA trimestral acima da Est.; (ix) Mantivemos nossa recomendação de COMPRAR, com Target Price 12M de R$85,00 BDRs-B3 e US$16,00 JBS-NYSE, implicando em um upside de +21,7%, sustentada pelo hedge natural oriundo da diversificação de portfólio e geográfica e na tese de rerating de médio prazo, que, embora mais lenta que o previsto, permanece como vetor de criação de valor.

    JBSS32 Resultado 3T25: No detalhe!

    Seara: Margem abaixo do esperado, apesar do pico histórico de exportações.

    Avaliamos que a divisão entregou um trimestre operacionalmente forte em volumes e receita, mas com rentabilidade abaixo da nossa projeção. A Receita líquida atingiu US$2,4b (+7% vs. Genial Est.), subindo +9% t/t e +8% a/a, acima da nossa estimativa, refletindo execução comercial robusta e o maior volume de exportações da história da Seara, após o impacto da gripe aviária no 2T25. A retomada do fluxo exportador foi viabilizada pela diversificação de mercados e redirecionamento do volume. A estratégia mitigou os efeitos dos bloqueios temporários impostos por destinos relevantes como China (que ficou suspensa) e União Europeia — que voltou a autorizar as exortações brasileiras apenas no meio do trimestre—, permitindo a companhia gradualmente levantar os volumes e manter a taxa de utilização das plantas em níveis robustos.

    Já o EBITDA totalizou US$323m (-5% vs. Genial Est.), recuando -18% t/t e -30% a/a, com margem atingindo 13,7% (-1,7p.p. vs. Est.), contraindo -4,4p.p. t/t e -7,3p.p. a/a. O desgaste de margem refletiu um mix de exportações menos rentável sem a China como destino — partes do frango como peito, asa e pé são vendidas na China com um prêmio, e o redirecionamento gera um preço médio mais baixo—, além de custos efetivos que não desaceleraram na magnitude projetada, apesar do alívio do preço do milho (-15% t/t).

    Efeitos sazonais do inverno, maior mortalidade, pior conversão biológica e a elevação do custo da soja (+3% t/t) pressionaram o COGS/kg, enquanto a sobreoferta temporária no mercado doméstico limitou repasses e reduziu o preço realizado no mercado brasileiro. Ou seja, mesmo com o recorde de exportações e a forte demanda doméstica, o trimestre reforça o processo de aterrissagem de margens previsto.

    JBS Brasil: Margem sobe sequencialmente; exportações fortes.

    A unidade apresentou desempenho superior ao projetado, sustentado por volumes mais altos e firme demanda internacional. A Receita líquida foi reportada em US$4,2b (+10% vs. Genial Est.), acelerando +16% t/t e +28% a/a, acima da nossa estimativa, refletindo avanço significativo das exportações — tanto em volumes quanto em preços em USD —, além de maior dinamismo comercial no mercado doméstico, apoiado por preços mais altos e fortalecimento da marca Friboi.

    Observamos um EBITDA de US$307m (+35% vs. Genial Est.), avançando +34% t/t, ainda que recuando -19% a/a, com margem de 7,4% (+1,4p.p. vs. Est.), expandindo +1,0p.p. t/t e contraindo -4,2p.p. a/a. Entendemos que a surpresa positiva decorreu do ritmo mais acelerado das exportações, que gerou um mix marginalmente mais rentável, aumentando a captura de preço embarcada.

    Além disso, o trimestre foi beneficiado por um leve alívio sequencial no custo do gado para R$305/arroba (-3% t/t), embora ainda esteja em patamares muito elevados (+27% a/a). Esse recuo marginal t/t, aliado à maior escala de abates e à diversificação geográfica dos embarques, ajudou a sustentar a expansão de margem na base sequencial, mesmo com o ciclo do gado ainda em fase de reversão levando ao aperto de margem na base anual.

    Beef North America: Margem negativa, mas menos pressionada que o esperado.

    Embora os números ainda demonstrem um cenário desafiador, percebemos uma descompressão de margem um pouco mais intensa do que o aguardado. A Receita líquida atingiu US$7,2b (+3% vs. Genial Est.), subindo +7% t/t e +15% a/a, refletindo (i) demanda doméstica resiliente e (ii) preços historicamente elevados no varejo norte-americano, com o cut-out em máximas históricas. Entretanto, o EBITDA ainda ficou no vermelho em -US$42m (+58% vs. Genial Est.), melhorando 82% t/t mas revertendo o resultado positivo do 3T24 (US$117m), enquanto a margem atingiu -0,6% (+0,9p.p. vs. Est.), expandindo +2,8p.p. t/t e contraindo -2,4p.p. a/a.

    Apesar de que não podemos dizer que o resultado foi satisfatório, o spread da operação foi menos comprimido que o estimado, refletindo maior captura de preço no cut-out e melhor alinhamento entre mix e demanda. Ainda assim, entendemos que a divisão segue marcada pelo ciclo extremamente restrito do gado nos EUA, com o rebanho no menor nível desde 1951 e o preço do boi vivo atingindo US$232,5/cwt (+4% t/t; +21% a/a), agravado, ainda, pela limitação das importações de gado do México, que continua pressionando a rentabilidade da indústria, que segue no negativo.

    JBS Austrália: Elevação expressiva do custo do gado.

    Observamos a receita acima da nossa projeção, mas com rentabilidade inferior ao esperado, refletindo a forte escalada do custo do gado. A Receita líquida foi apresentada em US$2,2b (+11% vs. Genial Est.), subindo +11% t/t e +23% a/a, sustentada por preços mais altos e demanda firme nos principais destinos de exportação— EUA, Japão, Coreia do Sul e China.

    Por outro lado, o EBITDA foi marcado em US$249m (+1% vs. Genial Est.), desacelerando -14% t/t, embora tenha apresentado elevação de +43% a/a, enquanto a margem atingiu 11,4% (-1,1p.p. vs. Est.), comprimindo -3,4p.p. t/t, mas expandindo +1,6p.p. a/a. Acreditamos que a leve surpresa positiva no EBITDA nominal refletiu volumes e preços fortes, mas o spread acabou sendo apertado por custos mais altos do que o estimado no movimento sequencial. Já na base anual, a melhora de resultado reflete a recuperação do negócio de salmão, após adversidades no 2S24 nas fazendas aquáticas.

    Entendemos que o principal vetor da pressão no trimestre veio do aumento expressivo do custo do gado, que atingiu US$79c/Kg lwt (+15% t/t; +34% a/a), impulsionado por oferta restrita, competição acirrada nos leilões e retenção de fêmeas por parte dos produtores. Esse cenário limitou a capacidade de preservação de margem, mesmo com preços de exportação turbinados e boa execução comercial.

    USA Pork: Demanda firme sustenta receita, mas custo impacta margem.

    A operação apresentou receita acima da projeção, sustentada pelo trade down de proteínas no mercado doméstico e abertura para elevação de preços, mas com a pior rentabilidade dos últimos 12M. A Receita líquida ficou em US$2,2b (+4% vs. Genial Est.), crescendo +8% t/t e +9% a/a, configurando volumes em ascensão, em vitude de demanda proeminente por carne suína diante de preços recordes da carne bovina nos EUA, que segue estimulando a migração do consumo para proteínas mais acessíveis.

    O EBITDA, por sua vez, totalizou US$218m (-16% vs. Genial Est.), recuando de forma mais intensa do que o esperado em -14% t/t e -12% a/a, enquanto a margem atingiu 9,8% (-2,4p.p. vs. Est.), contraindo -2,5p.p. t/t e -2,3p.p. a/a. Entendemos que o resultado bem abaixo do esperado decorreu de (i) custos acima do projetado e de (ii) um mix menos rentável no mercado externo, ainda impactado por restrições comerciais com a China (guerra comercial com os EUA) que limitaram a captura integral de margem no fluxo exportador.

    Entendemos que, embora a demanda doméstica siga resiliente — apoiada pela migração de consumidores para proteínas mais baratas no varejo —, a pressão sobre margens veio de preços mais fracos em subprodutos e miúdos, além de custos operacionais mais altos. A operação avançou na expansão do portfólio de maior valor agregado, incluindo o fortalecimento da linha de produtos preparados e aquisições de capacidade em Iowa (IA), mas esses efeitos ainda não foram suficientes para compensar integralmente os fatores de compressão.

    PPC: Receita estável e margens em acomodação moderada.

    A Pilgrim’s Pride (PPC) reportou um trimestre em linha com as expectativas, já com sinais claros de acomodação de margens. A Receita líquida atingiu US$4,8b (flat vs. Genial Est.), permanecendo estável t/t e crescendo +4% a/a, refletindo a resiliência do mercado norte-americano, com volumes ainda saudáveis nos canais de varejo e foodservice e preços ainda em patamar historicamente elevado, apesar da correção gradual no fim do trimestre.

    Já o EBITDA ficou em US$770m (+1% vs. Genial Est.), recuando -6% t/t e -1% a/a, enquanto a margem atingiu 16,2% (+0,1p.p. vs. Est.), contraindo -1,0p.p. t/t e -0,7p.p. a/a. Entendemos que o período foi marcado por pressão de custos em insumos e maior SG&A — influenciado por provisões legais e despesas adicionais —, além de um início de correção suave nos preços do peito de frango nos EUA.

    Regionalmente, o desempenho foi misto: nos EUA, a rentabilidade caiu sequencialmente com a correção de preços, parcialmente compensada por eficiência operacional; no México, margens recuaram devido a custos mais altos; e na Europa houve leve piora de mix e volumes. Ainda assim, a demanda global por frango permaneceu sólida, com expansão relevante em produtos preparados e maior aprofundamento de parcerias estratégicas (Key Customers).

    Nossa visão e recomendação

    FCF reverte queima sequencial, alavancagem em linha.

    FCF reportado indicou geração de US$383m (-10% vs. Genial Est.), revertendo a queima de -US$55m do 2T25, mas comprimindo -62% a/a, ficando levemente abaixo da nossa prospecção, como resultado de um (i) FCO de US$1,3b (-8% vs. Genial Est.; -29% a/a), refletindo consumo de capital de giro (WC) elevado devido ao aumento dos estoques, refletindo tanto a inflação dos custos dos insumos quanto a dinâmica operacional de negócios globais; e de um (ii) dispêndio de CAPEX de US$657m (+16% vs. Genial Est.; +55% a/a), vinculado a expansão da capacidade produtiva. Fatores estes que mais do que compensaram (iii) retração do gasto com despesas de juros, que atingiu US$282m (-30% vs. Genial Est.; -35% a/a).

    Já com relação ao índice de alavancagem, em USD, encerrou o trimestre em 2,4x Dívida Líq./EBITDA (flat vs. Genial Est.), leve alta de +0,1x t/t refletindo um EBITDA comprimindo -14,8% a/a, afetando a base LTM. Em relação a nossa estimativa, ocorreu um efeito compensatório entre (i) FCF ligeiramente abaixo (+10% vs. Est.); e (ii) EBITDA um pouco acima (+5,5% vs. Est.).

    A despeito do plano de recompra específico para BDRs de emissão própria e de ações ordinárias Classe A na NYSE — esse de até US$400m—, a companhia reportou recompra no valor de US$363m (~2,5% do market cap), corroborando aceleração em vigência dos programas, considerando que possuem período máximo de 18M, contados a partir de 18/Ago.

    Efeito da investigação antitruste nos EUA deve ser imaterial.

    A nova investigação antitruste anunciada pela administração Trump em 10 de Nov. contra frigoríficos norte-americanos — incluindo a Beef North America (do grupo JBS) e National Beef (do grupo MBRF) — reacendeu o debate sobre concentração de mercado e formação de preços da carne bovina nos EUA. O Departamento de Justiça (DOJ) emitiu um comunicado dizendo que vai apurar possíveis práticas de coordenação de preços e limitação de oferta, em linha com o Sherman Antitrust Act. No primeiro momento, o anúncio pode elevar a percepção de risco regulatório.   

    Entretanto, em nosso entendimento, o risco material de sanções deve ser considerado baixo, uma vez que os fundamentos econômicos atuais, com destaque para (i) rebanho bovino no menor nível em 75 anos; (ii) custos recordes do gado à US$235/cwt (+23% a/a); e (iii) spreads comprimidos à 1,64 (-3% a/a), derivam do desequilíbrio de oferta e demanda, e não manipulação de preços. Altamente regulado pelo USDA e com apresentação de margens em território negativo há >1 ano, o episódio deve, portanto, pode até gerar volatilidade de curto prazo nas ações de JBS e MBRF, mas não vemos como material a possibilidade de alterar a conjuntura regulatória do setor.

    Brasil: Virada de ciclo mais tênue, mas os preços já estão em ascensão.

    A transição de ciclo vem ocorrendo de forma mais gradual do que o previsto em decorrência pontual dos efeitos provenientes da imposição de sobretaxa de +50% dos EUA (1/Set) sobre os produtos brasileiros que, naquele momento, elevaram a incerteza quanto à eventuais redirecionamentos de embarques, reduzindo o ímpeto de abates dos frigoríficos de modo temporário e ajudando a guia o preço do boi gordo para baixo – R$305/arroba no 3T25 (-3% t/t). Dessa forma, sob essa nova conjuntura, acreditamos que o preço do boi para abate deve se deslocar para a faixa de R$320–330/arroba no 4T25E vs. R$340-350/arroba anterior (hoje negociando em ~R$323/arroba).

    A essa altura, esperávamos uma curva mais próxima de R$340/arroba, mostrando que o catalizador para redução do preço do gado — depois de ter chegado no pico R$352/arroba em Nov. — foi de fato a imposição das tarifas da administração Trump, o que gerou incerteza sobre os embarques futuros e desacelerou de forma abrupta as exportações para o mercado norte americano. Salientamos que os EUA representavam um destino relevante dos embarques brasileiros de carne, sendo o segundo mais representativo (12% do total exportado no 1S25). As incertezas geradas pelas tarifas por sua vez arrefeceram o sequenciamento de abates e acabou dilatando a oferta de gado, causando quedas de preço.

    O movimento levou grandes frigoríficos a suspender compras e realocar destinos, com México e China absorvendo uma parcela relevante dos embarques que iriam para os EUA. No mercado doméstico, a combinação de oferta mais elevada de gado em confinamento e alongamento das escalas de abate (que hoje superam 9 dias úteis em média), permitiram que os frigoríficos renegociassem para baixo os preços pagos ao produtor. Entretanto, a situação já está se invertendo, uma vez que os embarques ficaram acomodados em outras regiões, e o abates voltaram a subir para 2,7 milhões de cabeças em Out. (+5,5% vs. Ago.).

    Brasil: Seguimos projetando maior retenção de fêmeas.

    No 2T25, ainda víamos um nível considerável de abate de fêmeas reprodutivas, atingindo 45% do rebanho total, que por sua vez, apresentarem menor rendimento de carcaça. Porém, como presumido anteriormente, o jogo virou. No 3T25 o abate de fêmeas configurou o piso de 2025 até então, atingindo 38% do rebanho total (-7p.p. t/t), arrefecendo em um ritmo maior que o previsto de 43% Est. Antiga, o que deve contribuir ainda mais para nossa esperança de queda ainda mais acentuada a partir de 26E, dado a retirada para procriação, visando garantir a reposição de bezerros no médio prazo.  Com menos fêmeas na escala de abate nos próximos meses, a oferta disponível para os frigoríficos tenderá a encolher e o preço da arroba tenderá a esticar novamente. O que justifica a nossa estimativa que os preços poderão alcançar R$330/arroba até o final de 25E.

    Então, embora a virada de ciclo de fato tenha ficado um pouco mais lenta, ainda assim, ela é estrutural e faz parte da natureza do negócio. As tarifas podem ter freado o ritmo de alta no 3T25, mas a virada do ciclo do gado brasileiro se torna evidente diante da combinação de fatores estruturais que limitam a oferta de gado para abate e pressionam custos ao longo da cadeia.

    A espera é técnica, não estrutural.

    Na prática, acreditamos que a transição de listagem primária da B3 para a NYSE gera uma ruptura na composição dos acionistas institucionais, sobretudo no que se refere a fundos passivos. Com a saída da companhia dos principais índices brasileiros (como o Ibovespa ou o IBrX), muitos ETFs e fundos de índice locais passam a desinvestir sistematicamente, aumentando o fluxo vendedor da ação após a dupla listagem ter entrado em vigor.  Esse efeito durou alguns meses. Em contrapartida, os fundos passivos dos EUA — como os replicadores do Russell 1000 e, futuramente, do S&P 500 — ainda não montaram posições compradas, uma vez que a elegibilidade da companhia a esses índices depende de fatores como histórico de liquidez, free float e tempo de listagem. A próxima janela para entrada nos índices será apenas em 2026/27.

    Dado esse contexto, interpretamos que a não materialização do rerating imediato não reflete uma rejeição à tese de reprecificação via múltiplos, mas sim um desalinhamento temporal entre a mudança estrutural da listagem e a mecânica de rebalanceamento dos fundos globais. A partir da confirmação da listagem na NYSE (ocorrida em Jun.), esperamos que: (i) fundos passivos com foco nos EUA comecem a adicionar JBS gradualmente, conforme critérios de elegibilidade sejam cumpridos (como liquidez e histórico de negociação); e (ii) fundos ativos reavaliem a posição com base em valuation ainda atrativo e possibilidade de valorização vs. peers.

    Com isso, para nós, o cenário de reprecificação da ação permanece crível: há espaço para convergência de múltiplos, mas timing é influenciado por fatores técnicos e regulatórios. O mercado parece estar em uma fase de transição de mãos, em que investidores locais reduzem ou eliminam posições após a considerável alta das ações entre Jul-Ago, exatamente conforme prevíamos, enquanto os fundos globais parecem ainda não terem movimentado fluxo comprador suficiente.

    Entrando em dieta.

    Assim como presumido, o 3T25 reiterou a tendência de compressão gradual da margem, já observada desde o início do ano, refletindo o processo de atenuação dos ciclos de rentabilidade das diferentes proteínas nas principais geografias, um movimento que, figurativamente, reflete uma operação “entrando em dieta”. Com margem de 8,1% (flat vs. Est.; -0,2p.p. t/t; -2,7p.p. a/a), seguimos sem identificar catalizadores relevantes do ponto de vista fundamentalista. USA Pork mostrou (i) custos acima do projetado, (ii) preços mais fracos em subprodutos e (iii) deterioração do mix exportador pelas restrições comerciais EUA-China; Seara foi afetada pelo (iv) mix menos rentável sem China como destino de exportações, (v) sazonalidade biológica adversa e (vi) sobreoferta temporária de frango no mercado doméstico. Já a JBS Austrália sofreu (vii) impacto direto da forte escalada do custo do gado (+15% t/t), que limitou a preservação de spreads apesar da demanda firme nos mercados de exportação.

    Ademais, do ponto de vista do efeito derivado do rerating pela dupla listagem (NYSE com ação primária e B3 com BDRs), principal driver da nossa tese, vem ocorrendo em ritmo inferior ao prospectado. Apesar da listagem ter ampliado a base de investidores potencial vis-à-vis o acesso a índices globais (Russell 1000 e S&P 500), a absorção por fundos (sejam eles passivos ou ativos) vem ocorrendo em menor ritmo que o antecipado, com a companhia ainda negociando a um múltiplo de ~4,2x EV/EBITDA, implicando em um desconto de -50%vs. pares internacionais (incluindo a Tyson Foods).

    Diante do que foi posto, embora os ciclos estejam arrefecendo, ainda vemos a possibilidade de no médio prazo as ações terem mais fluxo comparador para fechar o gap com os pares. Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR, com Target Price 12M de R$85,00 para as BDRs-B3 e US$16,00 para JBS-NYSE, implicando em um upside de +21,7%.

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