No dia 11 de novembro, terça-feira, após o fechamento do mercado, a Localiza divulgará seus resultados referentes ao 3T24 e nossas expectativas são positivas. O cenário sugere uma retomada à normalidade após o 2T24, que foi marcado principalmente pelo ajuste na depreciação de veículos (valor residual da frota). Para este trimestre, acreditamos que a companhia deve continuar o movimento de expansão das tarifas no RAC, acelerando os volumes de compra e vendas de veículos, à medida que a empresa intensifica a renovação de sua frota. A mudança no mix de veículos também deve contribuir positivamente para a expansão das margens operacionais.
No RAC, esperamos que o movimento de expansão de tarifas se intensifique, assim como mostram os dados de IPCA de aluguel de carros no período. Esse aumento, aliado à mudança no mix da frota deve contribuir para uma expansão do yield dos carros da divisão, favorecendo a expansão das margens operacionais. Em relação à depreciação, esperamos que a Localiza reporte valores abaixo do limite inferior do guidance de R$ 6,7 mil por carro.
No GTF, esperamos que a implantação dos 25 mil carros adquiridos no trimestre anterior contribua positivamente para o aumento dos volumes operacionais. Além disso, o movimento de repasse de preços e a integração de novos contratos devem garantir uma elevação na diária média. Como resultado, projetamos uma receita líquida crescente, com expansão de margem (níveis próximos aos observados no 1T24), apesar do alto volume de veículos em preparação.
Em seminovos, esperamos um volume maior de carros vendidos do que o forte número observado no 2T24. A Localiza deve aproveitar a melhoria do mercado automotivo e, consequentemente, da demanda por carros usados, para intensificar a renovação de sua frota. Vemos margens estáveis.
Aos atuais níveis de preço, no nosso pior cenário, enxergamos Localiza negociando a um valuation de 14,9x P/L para 2025, abaixo da média histórica de 20x. Mantemos nossa recomendação de MANTER com preço-alvo de R$ 60,00.
Mudança no cenário traz um tom mais otimista para Localiza
Desde a última divulgação de resultados da Localiza no 2T24, o cenário mudou significativamente, especialmente para o setor automotivo. Diversos fatores, como a conjuntura econômica, aumento da competição, aumento do volume de concessão de crédito e o apetite do consumidor por carros, contribuíram para um ambiente favorável às locadoras neste 3T24.
Tanto o volume de vendas de veículos novos quanto o de concessões de crédito apresentaram uma aceleração no período, mesmo diante de uma taxa de juros alta. No 3T24, observamos uma aceleração nas vendas de automóveis no varejo, com expansão nominal e percentual na comparação com o mesmo trimestre do ano passado. A maior demanda por carros zero km no varejo também indica uma melhoria no mercado de seminovos.
Quando olhamos para as vendas diretas, o forte crescimento nominal (+9,4% a/a e +7,6%t/t) também nos indica uma aceleração das compras de veículos por parte das locadoras. Embora no relativo, tenhamos observado mais vendas no varejo, durante o trimestre, a dinâmica entre julho e setembro mostrou um crescimento expressivo na proporção de vendas no atacado. Em julho, 43,4% dos carros foram vendidos no atacado; em agosto, essa parcela subiu para 45,1%, e em setembro, chegou a 47,8%. Esse aumento sugere que a Localiza intensificou seu volume de compras de veículos, reforçando nossa tese de melhora no mercado, algo comum nesta época do ano. Normalmente, há uma aceleração nas compras em preparação para a alta temporada no fim do ano. Combinando o fato de que a Localiza é a maior compradora de carros no Brasil com sua estratégia declarada de intensificação na renovação da frota, há fortes indícios de que o número de carros comprados no 3T24 deverá ser significativamente maior.
Além disso, como indicamos em nossa última atualização do Genial Index de Depreciação, a pressão sobre a depreciação parece ter diminuído. O impulso inicial gerado pela competição agressiva parece estar perdendo força, e agora o mercado entra em um ponto de normalização, onde as montadoras não precisam mais oferecer tantos descontos para manter os volumes de venda. Como, na nossa visão, o principal fator que intensifica a desvalorização dos carros usados é a perspectiva de que o carro zero km começará a cair de preço, a redução da competição sinaliza uma perspectiva de preços mais estáveis para os seminovos. Esse movimento tem sido capturado pelo nosso Genial Index de Depreciação, onde vemos uma estabilização na depreciação dos veículos usados nos últimos meses em torno de 6,5% ao ano, o que contrasta com as fortes quedas registradas em 2023 e no 1S24.
Outro ponto relevante é o IPCA de aluguel de carros, que mostra um forte repasse de preços pelas locadoras, acelerando no 3T24. O primeiro semestre já havia sido marcado por aumentos expressivos de preços e tarifas, e essa tendência permanece no terceiro trimestre de 2024.
Quanto ao mix de veículos, a exposição da Localiza ao segmento de SUVs, embora significativa, parece ter aumentado em relação ao 2T24, quando o ajuste na depreciação foi o principal destaque. É possível que esse aumento reflita justamente a aceleração do giro da frota e não a frota circulante. Se for esse o cenário, temos uma sinalização mais positivo em comparação ao de três meses atrás.
Consolidado: voltando aos trilhos
Para o 3T24, projetamos um desempenho positivo para a Localiza, com recuperação nas margens operacionais e crescimento em receita e EBITDA na comparação trimestre a trimestre. Usualmente, em preparação para a alta temporada no final do ano, observamos um alto volume de compras de veículos no terceiro trimestre para as locadoras. Esperamos que isso ocorra novamente, à medida que a empresa intensifica a renovação de sua frota.
É importante ressaltar que, na comparação com o 2T24, as margens do 3T24 estarão beneficiadas pela ausência dos custos extraordinários gerados pelo desastre no Rio Grande do Sul e ajustes de valor recuperável. Além disso, nas comparações ano contra ano também há distorção, levando em conta as mudanças na alocação dos custos de preparação de veículos, implementada no 4T23.
A partir do 4T23, a Localiza passou a alocar os custos de preparação de veículos para desativação da frota diretamente nas divisões de aluguel, anteriormente centralizá-los na divisão de seminovos. Essa mudança impacta negativamente as margens do RAC e do GTF, ao mesmo tempo em que melhora a margem de Seminovos, criando uma base de comparação distorcida em relação ao 3T23.
Na figura consolidada, projetamos uma receita líquida de R$ 9,64 bilhões para o 3T24 (+31,6% a/a e +6,5% t/t), com EBITDA de R$ 3,24 bilhões (+21,2% a/a e +38,0% t/t), resultando em uma margem EBITDA de 33,6% (-2,9pp a/a e +7,7pp t/t). Esperamos que a Localiza volte a apresentar lucro líquido no 3T24, chegando a R$ 787 milhões (+18,4% a/a e n.m. t/t).
RAC: ajustando tarifa e acelerando na renovação da frota
Na divisão de Aluguel de Carros, esperamos um trimestre de recuperação com crescimento de receita, impulsionado pela alta demanda e pela expansão das tarifas. Do ponto de vista operacional, a mudança no mix de veículos e o rejuvenescimento da frota, devem contribuir positivamente para a expansão das margens operacionais.
Com relação à frota total da divisão, projetamos um leve crescimento de 1,5% t/t, totalizando 327 mil veículos (+3,8% a/a), com adição líquida de 4,8 mil veículos. No que se refere ao aumento de tarifa, projetamos uma diária média de R$ 140,4 (+17,6% a/a e +4,3% t/t), reflexo de um mercado resiliente em termos de demanda e mais suscetível ao repasse de preços. Já a rentabilidade deve apresentar uma melhora no trimestre, com EBITDA projetado de R$ 1,63 bilhão (+22,2% a/a e +32,3% t/t) e uma margem EBITDA de 64,2% (-0,5pp a/a e +10,1pp t/t).
Com a nova alocação dos custos de preparação de veículos a partir do 4T23, as margens do RAC no 3T24 não são diretamente comparáveis com as do 3T23, uma vez que esses custos anteriormente eram alocados na divisão de Seminovos. Ou seja, a retração de 0,5pp na comparação anual na verdade deveria ser uma expansão pelo menos +2,5pp.
Projetamos uma depreciação média anualizada por carro de R$ 6,52 mil, menor que o limite inferior do guidance de R$ 6,7 mil por carro para o 3T24. Essa pode ser uma surpresa positiva do trimestre, segundo nossa Genial Index de depreciação os preços de veículos estão mais estáveis nos últimos três meses, o que sinaliza uma depreciação média mensal abaixo do projetado pela empresa no trimestre passado.
GTF: novos contratos e expansão de receita
No segmento de Gestão e Terceirização de Frotas, a expectativa para o trimestre é positiva, com crescimento mais moderado de receita em comparação ao segmento RAC. A entrada de novos contratos, ajustados à nova realidade de preços do setor, tem apoiado o aumento da diária média, refletindo o repasse de preços conforme o IPCA do período. Essa expansão da diária média ocorre em um ritmo mais lento, principalmente devido a menor taxa de renovação da frota em decorrência do ciclo mais longo do segmento. Por outro lado, o alto volume de compra de carro pode pressionar a margem EBITDA na comparação anual.
Nossas estimativas apontam para uma frota no final do período de 319,8 mil veículos (+10,0% a/a e +4,0% t/t). Com relação à precificação, esperamos uma diária média de R$ 93,6 (+11,0% a/a e +1,1% t/t). Por fim, projetamos uma receita líquida de R$ 2,19 bilhões (+26,5% a/a e +7,3% t/t) e EBITDA de R$ 1,50 bilhão (+17,7% a/a e +26,6% t/t), resultando em uma margem EBITDA de 68,6% (-5,1pp a/a e +10,4pp t/t). A depreciação média anualizada por carro está projetada em R$ 7,40 mil, um aumento de 20,7% a/a.
Assim como no RAC, o GTF foi impactado pela recente mudança na alocação dos custos de preparação de veículos. Esses custos, antes centralizados na divisão de Seminovos, foram redistribuídos para as divisões de aluguel, gerando uma distorção nas comparações ano contra ano. Dessa forma, a queda observada de 5,1 pontos percentuais na margem EBITDA do GTF, quando comparada ao ano anterior, não reflete completamente a realidade operacional. Excluindo o impacto da mudança de alocação, a queda real na margem EBITDA seria próxima a 1pp, o que representa uma perspectiva mais favorável para o desempenho do GTF no período.
Seminovos: volta da demanda deve impulsionar as vendas
Para a unidade de seminovos, projetamos o terceiro trimestre de 2024 com fortes volumes de vendas, impulsionados pela maior concessão de crédito para a aquisição de automóveis. Com a estabilização dos preços dos usados, não esperamos grandes variações nas margens ajustadas do segmento.
Esperamos a venda de 73,8 mil veículos (+29,6% a/a e +6,5% t/t) com um preço médio de venda de R$ 66,7 mil (+13,2% a/a e +3,6% t/t). Esse aumento de preço reflete um efeito de mix de venda de automóveis, o que não necessariamente melhora as margens do segmento. Projetamos uma receita líquida de R$ 4,91 bilhões (+39,2% a/a e +4,1% t/t) e EBITDA de R$ 112 milhões (+31,5% a/a e n.m. t/t), com margem EBITDA de 2,3% (-0,1pp a/a e n.m. t/t).
Um curto prazo mais limpo, mas nuvens carregadas podem se formar à frente
Diante de um ambiente mais favorável para aquisição e revenda de veículos, o cenário de curto prazo nos parece mais limpo. Apesar dos juros elevados, o mercado automotivo brasileiro tem mostrado uma recuperação no 2S24, sustentada por condições de crédito mais acessíveis e pela estabilização das taxas de inadimplência e implementação do novo Marco Legal das Garantias. Esse processo facilitou a recuperação de veículos financiados, reduzindo o risco para os credores e incentivando um aumento nas concessões de crédito.
Além disso, as medidas governamentais de aumento nas tarifas de importação contribuíram para reduzir a competitividade de veículos chineses no mercado local, permitindo que as montadoras brasileiras reajustassem suas estratégias de preço. Esse novo equilíbrio de mercado tem levado à estabilização dos preços dos veículos seminovos, conforme capturado pelo Genial Index de Depreciação, e indica que o setor pode estar entrando em um período de normalização. Aliado a isso, os novos centros de preparação de carros usados, devem ajudar a atenuar a pressão sobre a divisão de Seminovos.
Por outro lado, o resultado das eleições americanas gera alguns receios quanto a sequência dessa calmaria, em nossa visão, a reeleição de Trump nos EUA traz um risco para o mercado automotivo brasileiro. Considerando uma provável postura mais protecionista em relação às importações americanas, se o governo dos EUA adotar políticas comerciais mais restritivas para a China, as montadoras chinesas podem intensificar sua presença em mercados alternativos, como o Brasil, para escoar o excesso de produção. Esse movimento aumentaria a competição local, e poderia forçar as montadoras instaladas no Brasil a reduzirem preços ou oferecerem condições mais atrativas para o consumidor.
Esse potencial “guerra de preços” teria um efeito deflacionário no mercado, pressionando os preços dos veículos novos para baixo e acelerando a depreciação dos seminovos e usados.
Ainda assim, nos níveis atuais de preço, enxergamos Localiza negociando a um valuation de 14,9x de P/L para 2025, bem abaixo de sua média histórica de 20x.