A Localiza reportou dados em linha com as nossas expectativas. Embora os dados pareçam ruins, julgamos como neutros. Já era esperado que o trimestre fosse marcado por alguns efeitos não recorrentes importantes, comunicados pela empresa ao longo do 2T23. Esses efeitos acabaram penalizando as últimas linhas dos resultado Companhia.
Do lado positivo, destacamos: I) O bom desempenho do RAC, que apesar do período de baixa sazonalidade e dos volumes mais fracos, apresentou maior patamar de tarifa frente ao trimestre anterior e com melhora na rentabilidade. II) Volume de compra acima do esperado. Diferentemente de seus concorrentes, a Localiza conseguiu adquirir cerca de 23 mil carros com desconto entre o final de junho e o início de julho.
Do lado negativo, I) assim como havíamos adiantado em nossas prévias, os impactos do programa de incentivo do governo geraram perdas superiores a R$630 milhões, em decorrência da remarcação do estoque de seminovos. Desse valor, ~R$153 milhões foram acrescidos ao custo dos Seminovos vendidos, como “Ajuste a Valor Recuperável de Ativos”, implicando em queda forte da margem bruta de seminovos e ~R$478 milhões foram acrescidos à depreciação de carros. II) Além disso, a margem EBITDA no GTF, foi pior que as nossas expectativas, (- 6,7p.p t/t e +0,3p.p a/a). Sabíamos que no 1T23, a margem da divisão havia sido positivamente impulsionada por efeitos não recorrentes que somaram 6,5p.p. Porém, nossa expectativa de nova melhora era baseada na redução do tempo de preparação dos carros divulgada após o processo de unificação das operações da Unidas. III) Depreciação média anualizada por carro em patamares elevados e crescendo (R$ 6.578 no RAC e R$ 5.661 no GTF).
Esperando a melhor oportunidade: Nos meses de definição do pacote de estímulos do governo, as montadoras aceleraram a produção. Com a demanda ainda limitada pelo cenário de juro elevado, houve aumento do nível de estoque. Esse movimento auxiliou na retomada dos preços do carros aos valores pré-incentivo e agora coloca a Localiza numa posição muito confortável. Somando os mais de R$ 4,5 bilhões em caixa ao desespero das montadoras de reduzir esse estoque, poderemos observar a Localiza conseguindo descontos na compra ainda maiores que os usuais, o que ajuda a reduzir o Capex de renovação. Ainda que sem efeito nos resultados, os recursos captados no follow-on (R$4,5 bilhões), contribuíram para a redução da alavancagem, que finalizou o 2T23 em 2,78x dívida líquida/EBITDA.
RAC
Em termos de frota, o segmento apresentou ligeira diminuição se comparado ao trimestre anterior, principalmente devido a um volume de vendas ainda elevado. Em termos de compra, apesar do ritmo mais lento no início do trimestre devido à espera por descontos, ainda assim vemos bons volumes, que por sua vez se intensificaram no final do mês de junho. Ao final do período a frota no RAC atingiu o número de 307 mil (-4,7% a/a e -2,4% t/t).
Já a tarifa média diária do segmento finalizou o trimestre em R$ 119,3 acima dos R$ 116,5 esperados por nós. Nos mostrando que o cenário tem sido favorável ao seu repasse de tarifas, o que fortalece nossa visão otimista com o setor de locação. Lembramos que estamos falando de um período com a sazonalidade jogando contra e ainda assim tivemos aumento no preço das diárias.
Com isso, o segmento reportou uma receita líquida de R$ 1,96 bilhão (+9,9% a/a e -0,1% t/t), enquanto seu EBITDA foi de R$ 1,26 bilhão (+30,1% a/a -2,5% t/t), resultando em uma margem EBITDA de 64,5%.
GTF
Já o segmento de Gestão e Terceirização de Frotas apresentou crescimento de 4,4% em sua frota se comparado ao primeiro trimestre do ano e 32,4% se compararmos com o mesmo período do ano passado, totalizando 280,6 mil veículos no final do 2T23.
Quando olhamos para as tarifas, vemos uma continuidade da tendência observada nos últimos trimestres, onde a divisão segue reportando aumentos marginais, principalmente devido à reprecificação e entrada de novos contratos. Com isso, a diária média foi de R$ 81,6 (+22,6% a/a e +5,4% t/t).
A divisão de GTF divulgou uma receita líquida de R$ 1,6 bilhão no 2T23 (+58,1% a/a e +9,9% t/t), com um EBITDA de R$ 1,12 bilhão (+71,9% a/a e +0,4% t/t), implicando em uma margem EBITDA de 69,5%.
Algumas despesas pontuais relacionadas à fusão e os maiores custos de manutenção, mobilização, expansão internacional, telemetria e oficinas, impactaram o EBITDA em outros R$9,2 milhões. Excluindo esses efeitos, a margem EBITDA teria sido de 72,2% em linha com nossa estimativa de 72,6%.
Seminovos
Por fim, tivemos o segmento de seminovos sendo o grande detrator dos resultados, principalmente devido aos efeitos decorrentes de medida provisória, que por sua vez impactaram em R$ 153,3 milhões o EBITDA e R$ 478,1 milhões o EBIT, somando assim R$ 631,4 milhões de despesas não recorrentes no trimestre.
Ao todo, foram vendidos 52,7 mil veículos a um preço médio de R$ 57,93 mil, levemente abaixo de nossas estimativas. Segundo a companhia, boa parte dos veículos vendidos foram leves, tão como foram priorizados aqueles com maior quilometragem e motorização 1.0.
Sendo assim, a divisão apresentou uma receita líquida de R$ 3,28 bilhões (+43,4% a/a e -3,6% t/t).
Análise Quantitativa
A receita líquida reportada no 2T23 foi de R$ 6,85 bilhões, uma aumento de 0,3% em relação ao trimestre passado e de 34,6% em relação ao mesmo período no ano anterior, ficando em linha com as nossas estimativas e 5,3% abaixo do consenso do mercado.
O EBITDA também ficou em linha com nossas expectativas, mas 11,6% abaixo das estimativas do mercado, totalizando R$ 2,35 bilhões e subindo 21,7% a/a e caindo 10,6% t/t.
Por fim, a companhia reportou um prejuízo líquido de R$ 89 milhões devido aos efeitos da medida de descontos. Desconsiderando tais impactos, o lucro líquido do trimestre ficou 19,7% abaixo em relação ao 1T23 e 6,3% maior quando comparado ao 2T22, somando R$ 419 milhões, ficando em linha com nossas estimativas e 15,3% abaixo do consenso do mercado.