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    Publicado em 23 de Fevereiro às 05:10:13

    Mercado Livre (MELI34) | Prévias 4T22: Uma andorinha só não faz verão

    🚨 NOVO! Você pode conferir o relatório completo em formato PDF, basta clicar no link abaixo.

    O Mercado Livre (MELI34-B3) irá divulgar seus resultados do 4T22 no dia 23/02, após o fechamento de mercado da bolsa Nasdaq-EUA, onde a Companhia tem seu capital aberto. Reunimos os principais pontos de destaque e uma análise prévia do 4T22 bem como do que esperar para 2023.

    Principais Updates da Tese de Investimento

    • Crescimento de GMV com Black Friday acima dos pares. Enquanto os players brasileiros de ecommerce não tiveram uma performance tão boa diante de uma Copa do Mundo na melhor época do ano para as varejistas, o Mercado Livre surfou bem essa onda. A capilaridade trazida pelo canal 3P, deu fôlego ao crescimento acima dos pares;
    • Esperamos um leve aumento no E-Commerce Take Rate no 4T22, com a subida nas taxas de juros, porém sem saída de sellers. O repasse que vinha sendo segurado pela Companhia, tem começado a galgar leves aumentos. Em contrapartida, não esperamos saídas de sellers, nem diminuição de volumes, dado a excelência do Mercado Livre em sua oferta de serviços;
    • Resiliência no TPV traz o Brasil como destaque. Vemos possibilidade de um leve ganho de share na unidade de adquirência além de três acontecimentos explorados no relatório que auxiliariam uma maior volumetria ao longo de 2023;
    • No Mercado Crédito, inadimplência deve ser monitorada. Com um cenário menos favorável a disponibilidade de crédito, devemos ver um aumento no envelhecimento das parcelas em atraso (efeito Aging). Esperamos um crescimento mais tímido t/t na carteira de crédito.
    • Consequências da Americanas são positivas para o Mercado Livre, porém efeitos apenas para 2023. Não esperamos um grande aumento no número de sellers, dado o overlap, ainda assim trazemos cinco destaques sobre o tema no relatório;
    • COGS crescente no 4T22: custo de pessoal aumentando, diesel amenizando o impacto. Em um cenário com diversos layoffs para empresas de tecnologia, o Mercado Livre ainda não anunciou nenhum corte em seu quadro de funcionários, pelo contrário, fizeram um movimento de contratações ao longo de 2022. Por outro lado, acreditamos que um brent em queda no t/t, aliviará o custo de logística devido à redução no preço de óleo diesel;
    • Aumentamos o Preço-alvo. Realizamos ajustes no modelo implicando em um novo target potencial 23E. Nossa recomendação é de COMPRA, e subimos o Preço-alvo 23E MELI (Nasdaq) para US$1.397,40 vs. US$1.175,60 em nossa recomendação anterior, com upside de +24,96% e implicando um Preço-alvo de R$60,06 para o BDR MELI34 (B3) e um upside de +23,65%.

    Prévia do 4T22

    E-commerce: 4T22 com Black Friday histórica e boas perspectivas para 2023

    GMV total puxado por dinâmica positiva na Black Friday, acima dos pares. Nossa expectativa é que o Mercado Livre reporte um sólido desempenho no 4T22 na vertical de e-commerce, apresentando crescimento mesmo em um cenário desafiador para o consumo, demonstrando o poder de execução da Companhia.  Estamos estimando um GMV consolidado de US$9,7b Est. Genial (+12,7% t/t; +22,1% a/a).

    Para o Brasil, estimamos um crescimento do GMV em moeda local de +18,5% a/a (+10,5% t/t), totalizando R$22,7b. Esse crescimento deve ser puxado pela sazonalidade positiva do 4º trimestre, com eventos como Copa do Mundo, Natal e Black Friday impulsionando as vendas. Vale destacar aqui o desempenho do Mercado Livre na Black Friday, quando a Companhia teve uma alta de 10% nas vendas em comparação com o mesmo dia promocional em 2021, enquanto o desempenho geral do e-commerce brasileiro recuou -23% na mesma comparação, segundo dados da NielsenIQ/Ebit.

    O resultado foi ainda mais positivo durante o final de semana do evento, registrando 30% de aumento de vendas em relação ao ano passado. Esse desempenho evidencia a capacidade de execução do Mercado Livre acima de seus pares nacionais, possibilitando uma boa performance enquanto outras empresas do setor sofrem com um cenário macroeconômico adverso para o consumo.

    Já para a Argentina, estimamos um crescimento do GMV em moeda local de +87,0% a/a (+22,5% t/t). Essa aceleração deve vir motivada, majoritariamente, em virtude da alta inflação enfrentada pelo país, que fechou o ano de 2022 com uma taxa de 94,8% a/a. Em relação ao México, esperamos uma aceleração do GMV em moeda local de +19,6% a/a (+29,3% t/t), em linha com o ritmo de crescimento realizado nos últimos períodos.

    Taxa de juros deve acelerar levemente o Take Rate no 4T22. Conforme comentamos em nosso Relatório de Início de Cobertura, desde o começo do ciclo de alta da taxa de juros no Brasil em março de 2021, vimos as varejistas tradicionais aumentando o Take Rate cobrado em seu marketplace, numa tentativa de compensar o aumento das despesas financeiras e um maior custo de antecipação de recebíveis para os sellers resultantes de um patamar de juros mais elevado.

    Segundo o management do Mercado Livre, pensando na sua competitividade e na preservação da sua relação com os sellers da sua plataforma, a Companhia não realizou o repasse completo desses aumentos em seu Take Rate. A estratégia adotada foi a realização de alguns pequenos ajustes parciais ao longo da escalada dos juros, a fim de evitar aumentos consecutivos e de maior magnitude. Com base nessa dinâmica e conversas com o management, esperamos um leve aumento de 0,54p.p t/t (0,54p.p a/a) no Take Rate consolidado de e-commerce, estimado em ~17,5%.

    Prêmio do Take-rate no Brasil deve ser mantido estável t/t. Em nossa visão, esse aumento no Take Rate não deve afetar o volume de vendas na plataforma. Acreditamos que os sellers estejam dispostos a pagar esse prêmio no Take Rate em relação a outros marketplaces, dado que o Mercado Livre oferece soluções logísticas superiores aos seus pares, reduzindo custos para os sellers. Além disso, nossa visão é que a Companhia se tornou “top of mind” para consumidores em termos de e-commerce, de modo que os sellers preferem pagar um valor maior do que deixar de ofertar seus produtos no marketplace.

    Frente a essa dinâmica de aumento de GMV acompanhado por um maior Take Rate, estimamos uma receita líquida consolidada de e-commerce de US$1,7b Est. Genial (+16,3% t/t; +25,5% a/a).

    Consequências da Americanas para 2023

    A grande varejista brasileira Americanas anunciou no dia 11/01/23, através de um Fato Relevante (FR), a descoberta de inconsistências contábeis no seu balanço (com o potencial teor de fraude) na ordem de R$20b. Poucas semanas após o ocorrido, a empresa, que era até então uma das maiores plataformas de e-commerce do Brasil, entrou com um pedido de Recuperação Judicial.

    O caso impôs dúvidas no mercado sobre a capacidade de quitação da varejista brasileira em relação as suas obrigações, além da própria continuidade da operação.

    Em nossa análise, dado que o Mercado Livre concorre diretamente com o marketplace da Americanas no Brasil, existem algumas dinâmicas que podem ocorrer como consequência das novas circunstâncias neste mercado, podendo impactar a operação da Companhia no país. Citamos como potenciais impactos para o Mercado Livre:

    Baixo aumento de sellers vindos da plataforma da Americanas. Após as notícias, vimos sellers aumentando drasticamente seus preços na plataforma da Americanas como tentativa de evitar vendas neste marketplace, com receio de não receber o repasse da Americanas caso as vendas fossem concluídas.

    Em nossa visão, não acreditamos que haverá um aumento muito representativo de sellers. Grande parte dos sellers que ofertavam seus produtos na plataforma da Americanas também o fazem pelo Mercado Livre, considerando que há um considerável overlap de bases.

    Como acreditamos que o maior número de conversão por Seller ocorre dentro do marketplace do Mercado Livre, devido a maior amplitude de tráfego, usuários recorrentes e marketshare, não enxergamos motivos para haver um reflexo representativo no número de Sellers mediante a interrupção do fornecimento pela plataforma da Americanas, pois a grande maioria desses sellers já faziam parte do marketplace do Mercado Livre.

    Aumento de acessos no site/app. Mercado Livre e Americanas tem uma sobreposição relevante de tráfego, cerca de 79,5% do público que acessa o site da varejista brasileira também visita a plataforma do Mercado Livre. Assim, com maior sobreposição de público entre players como Magalu, Via e Amazon, a atual situação da varejista brasileira deve gerar uma migração de usuários para o marketplace da Companhia.

    Para nós, essa dinâmica deve ser observada ao longo dos próximos meses, a medida em que a confiança dos clientes em relação a Americanas vem diminuindo, impulsionando-os, por outro lado, a navegar nas plataformas concorrentes. Vemos esse efeito possivelmente tomando mais corpo a partir do 2T22, uma vez que 1/3 do 1T23 ainda foi afetado por muita especulação após o FR ser divulgado no dia 11/01/23.

    Ganho de GMV 3P. O GMV 3P da Americanas acumulado nos 9M22 foi o maior entre os players nacionais (Via e Magalu), que são fortes nas vendas 1P. Dado que hoje cerca de 95% do GMV total do Mercado Livre vem de vendas 3P, sendo líder neste formato no país, a conjuntura adversa enfrentada pela varejista brasileira poderia fazer com que parte de suas vendas dessa operação específica sejam convertidas para o Mercado Livre.

    Nossa visão é de que o Mercado Livre será o player que mais deve se beneficiar no aumento bruto de GMV, uma vez que é, com uma vantagem bem ampla, o atual líder de market-share 3P no Brasil, com um GMV atual quase ~3x maior que o Magazine Luiza, o segundo player que deve acelerar GMV 3P mediante a essa situação com a Americanas.

    Oportunidade de crescimento do 1P. Dadas as dúvidas sobre a capacidade de pagamento da Americanas, acreditamos que seus fornecedores da operação 1P poderão procurar reduzir sua exposição à empresa.

    Sendo o Mercado Livre um forte player no setor de e-commerce, acreditamos que a Companhia poderá se aproveitar dessa nova circunstância e negociar com indústria contratos maiores em virtude da despriorização da Americanas, e aumentar a penetração do 1P na sua operação, algo que ela já buscava fazer independentemente do ocorrido.

    No cenário em que a Americanas reduza sua operação, ou até mesmo deixe de operar, seus fornecedores deverão passar a buscar outros compradores para suprir o volume que antes era negociado com a empresa. Nesse caso, dado que o Mercado Livre vem investindo no aumento da operação 1P, vemos isso como positivo para a evolução desse canal. Porém, ainda acreditamos que a maior parte do GMV 1P seria convertido para Via e Magalu, grandes players nessa operação.

    Leve ganho de marketshare. A medida em que a Americanas perde espaço no setor, acreditamos que alguma parte desse share deva ser absorvido pelo Mercado Livre, por ser uma grande referência no setor. Ainda assim, apesar de elencarmos o Mercado Livre como o player que mais adicionaria GMV bruto, o percentual relativo ao tamanho atual é menor do que acreditamos que o Magazine Luiza ganharia.

    Dito isso, nosso entendimento é de que o Magazine Luiza seria mais vitorioso no market-share pois ainda tem mais espaço para crescimento em termos relativos, já o Mercado Livre seria o grande ganhador em termos absolutos, com uma adição no market-share em menor escala visto o seu tamanho atual, porém, um GMV bruto muito maior que o Magazine Luiza, o que traria ainda mais receita pra vertical de e-commerce de uma empresa que já está bem acima dos pares.

    Acreditamos que ainda não seja possível afirmar com confiança todos os impactos do processo de RJ da Americanas para o mercado brasileiro de e-commerce. Porém, em nossa visão, o caso enfraquece o posicionamento competitivo da empresa frente aos seus concorrentes, criando oportunidades de ganho de mercado para empresas como Mercado Livre, Via e Magazine Luiza.

    Após as notícias sobre a Americanas, vimos uma grande aceleração das ações do Mercado Livre (MELI/ Nasdaq), tendo apreciado +17,95% em 30 dias, após o anúncio do FR da Americanas. Acreditamos que essa precificação em um horizonte curto de tempo evidência a força da Companhia frente aos seus pares pela expectativa do mercado quanto aos potenciais ganhos dadas as novas circunstâncias do setor.

    Vale ressaltar que aqui citamos alguns impactos referentes apenas a operação de marketplace, sem considerar os impactos sobre lojas físicas, uma vez que o Mercado Livre não atua neste formato.

    Operacional da Fintech

    Acreditamos em mais uma forte expansão do TPV total. Com um volume total transacionado consolidado em US$35b Est. Genial (+8,93% t/t; +44,5% a/a). Em nossa projeção, boa parte desse crescimento virá do transacional correspondido por fora da plataforma (OFF- Platform), que detêm ~72% do TPV Total, crescendo +56,7% a/a, enquanto o ON- Platform ampliou +20,5% na mesma base comparativa.

    TPV Digital Account com tendência de seguir ganhando relevância. Calculamos um TPV Digital Account em US$12,3b Est. Genial (+15,9% t/t; +74,1% a/a), com destaques para o Brasil e o México, que crescem acima de 80% e 110% a/a Est. Genial respectivamente, enquanto Argentina sobe em um menor ritmo, de ~40% a/a Est. Genial, pelo ambiente macroeconômico do país.

    Temos em nossa tese que o TPV de contas digitais deve seguir crescendo mais que o TPV de adquirência até se estabilizar em um crescimento de ~10% entre 2027-2031E, por conta do alto poder de cross-sell observado entre a base de clientes do e-commerce que também utilizam os serviços de wallet do Mercado Pago (penetração atual de ~47%).

    Contudo, apesar do forte crescimento do TPV Digital Account (~33% a/a de média entre 2023-2026E), o volume do TPV Acquiring ainda permanece sendo o que traz maior participação no todo, contribuindo para 2/3 do TPV total.

    TPV Acquiring deve vir resiliente. Projetamos um TPV Acquiring para o trimestre de US$22,7b Est. Genial (+5,49% t/t; +32,4% a/a), sendo impulsionado, principalmente, pelo mercado brasileiro. Apesar da alta concorrência instaurada no negócio de adquirência no Brasil, vemos que o país é responsável por ~49% desse volume, devendo reportar um TPV Acquiring de US$11,2b Est. Genial (+7,7% t/t; +35,2% a/a).

    O mercado da Argentina deve apresentar um TPV Acquiring de US$5,9b Est. Genial (-7% t/t ; +8,2% a/a), com uma retração high single digit t/t devido à desvalorização da paridade cambial entre USD/AR$ em um cenário macro extremamente desafiador para a Argentina. Já o México, segundo nossos cálculos, o número ficaria em US$4,7b Est. Genial (+33,2% t/t; +69% a/a), puxando um crescimento maior que no Brasil em virtude do contínuo movimento de expansão de crédito visto no país, onde uma parcela relevante da população segue desbancarizada.  

     Leve desaceleração t/t no Fintech Take Rate. Projetamos que a Companhia entregará um indicador de 3,8% Est. Genial (-0,02 p.p t/t; +0,63p.p a/a). A leve desaceleração t/t deve ocorrer em virtude de uma suave contração no MDRs de Merchants, chegando a um Take Rate de 0,90% Est. Genial vs. 0,94% 3T22.

    Ao dividir nossas expectativas da vertical de Fintech do Mercado Livre em dois, separamos os subgrupos da Fintech da seguinte forma:

    i) Mercado Pago, que concentra as receitas de processamento de volume de transações (Transactional Fees) e de antecipação de recebíveis aos sellers e merchants (Net Financing Fees) e;

    ii) Mercado Crédito, que reflete o business de concessão de crédito (Credit Revenues), compostos pelas receitas de crédito para capital de giro de sellers e merchants (Cash Advances), crédito pessoal (Consumer Credit) e, específico ao Brasil, o crédito rotativo do cartão (Revolving Credit Card).

    Mercado Pago: Brasil sustenta número sólido, México puxa crescimento

    Temos a expectativa que o Mercado Pago reporte uma receita total de US$ 724m Est. Genial, crescendo 53% na comparação anual e 7,2% vs. 3T22, considerando o incremento de receita na categoria de “Outros”, que entendemos como Insurtech Fees, vendas de MPoS e outras taxas.

    Ao falarmos do transacional, a dinâmica do trimestre é particular ao business de adquirência, isto é, majoritariamente ao TPV Acquiring. Como comentado acima, projetamos um crescimento de +32,4% a/a no consolidado, tendo o Brasil como força motriz.

    O ano de 2022 teve algumas situações que corroboraram com o incremento de TPV para a unidade de adquirência brasileira, como: (a) forte competição no setor de emissores de cartão de crédito (e.g. bancos e fintechs), aumentando o volume e disponibilidade de crédito, tão logo, quantidades de transações; (b) um aumento de preços derivados de uma inflação alta ao longo do ano e (c) consumo das famílias amparados por um menor nível de desemprego junto do pacote de distribuição de renda (Auxílio Brasil).

    Ainda para o 4T22, podemos observar o efeito da sazonalidade positiva para o comércio e consumo, mesmo diante de um evento “não-recorrente”, que foi a Copa do Mundo, desviando a atenção de vendas.

    Ainda considerando um forte cenário competitivo no segmento de adquirência no Brasil, temos observado o Mercado Pago ganhando market share ao longo dos trimestres, saindo de 2,9% no 1T19 para 6,7% no 3T22 e, com nossa projeção, ~7% Est. Genial no 4T22.

    No México, o crescimento mais relevante deve vir por conta do aumento da penetração no consolidado, chegando a 20% vs. 16% no 4T21. Para nós, esse ganho de participação provém do mercado mexicano ainda ter a baixa penetração de crédito (população desbancarizada) e da gradual maturação que o uso de cartões de crédito e débito trazem como reflexo do aumento da bancarização ao longo dos anos, com isso sendo refletido no país que mais crescerá percentualmente o TPV nos próximos 5 anos, segundo nossas estimativas.

    Há de se considerar que o Mercado Livre já é líder na Argentina e dado o arcabouço macroeconômico encontrado no país, esperamos um leve incremento anual de +8 a/a%.

    Temos como a principal receita do Mercado Pago, o Transactional Fees, sendo ele distribuído em receitas com o MDR (Merchant Discount Rate) e a taxa do intercambio bancário pagas pelas Contas Digitais e pelo Cartão de Crédito.

    Projetamos a receita de processamento de volumes de transações de US$409m Est. Genial (+4,9% t/t ; +43,9% a/a), com o faturamento de MDR dos pontos de vendas móveis (MPoS), alcançando US$314m Est. Genial (+39,4% a/a) e as receitas de Interchange (Wallet + Credit Card) em US$95m Est. Genial (+93,8% a/a).

    Já a outra linha de receita da unidade do Mercado Pago, vem do adiantamento de recebíveis dos Merchants e Sellers, correspondido pelo Net Financing Fees. Conforme dito em nossa Iniciação de Cobertura, para essa linha, projetamos um % suscetível ao adiantamento, para cada país, do TPV Acquiring. Projetamos uma receita de Net Financing Fees de US$229m Est. Genial (+11,4% t/t; +79,7% a/a;).

    Mercado Crédito: desacelerando no curto prazo

    Esperamos que a carteira de crédito total atinja US$2,9b Est. Genial (+4,5% t/t; +71,0% a/a). O portfólio de crédito da operação brasileira segue como o país que mais deve contribuir para a formação da carteira, avançando +78% a/a em nossas projeções, representando 44% do total.

    Apesar disso, acreditamos que o crescimento trimestral seja mais ameno, com ~4,5% Est. Genial, diante do atual contexto de crédito encontrados nos países onde o Mercado Livre atua.

    O Brasil, principal mercado da Companhia, tem passado por um ambiente mais restrito de crédito. Os fatores que impulsionaram o TPV no ano, como maior oferta de cartões veio como uma faca de dois gumes. Isto é, do lado positivo observamos nos anos mais recentes o crescimento das Fintechs em virtude da democratização do crédito, através da flexibilização do Banco Central e do Open Banking.

    Porém, os novos entrantes no mercado de crédito, tentando atingir um mercado inexplorado pelos grandes bancos privados (Itaú, Bradesco e Santander), atingiram clientes com score de crédito baixo, e maior risco de inadimplência. Até o 2T22, o efeito na inadimplência não preocupava, porém, no 3T22 vimos a Companhia já em ritmo de desaceleração na concessão de crédito em virtude do efeito de Aging das parcelas em atraso.

    Inadimplência aumentando. Mediante aos indicadores econômicos em estado de deterioração, passamos a observar uma maior seleção de consumo na cesta das famílias, deixando-a mais restrita e, impactando diretamente a escalada da inadimplência para instituições financeiras, sejam elas Fintechs ou até mesmo grandes bancos privados, que não escaparam desse movimento.

    Esse impacto nas famílias pode ser mensurado quando observamos a escalada da taxa básica de juros, saindo de 7,75% no começo do 4T21 para os 13,75% atuais (+6 p.p.), provocando o encarecimento do crédito. Também notamos a inadimplência subir, de acordo com os dados fechados de 2022 do CNC (Confederação Nacional do Comércio), ~78% das famílias no país contraíram algum tipo de empréstimo, sendo que a proporção de famílias com dívidas atrasadas foi a maior em 12 anos.

    E o cenário não muda para os outros dois países, como Argentina e o México, que também passam por um cenário macro desafiador, resguardando as individualidades de cada país, com juros subindo e aumento de inadimplência. Há se de considerar que o mercado de crédito na Argentina é muito pouco explorado (e deve permanecer assim), dado o atual patamar inflacionário do país e o alto custo de crédito (LELIQ 75%).

    É necessário esclarecer que o business de crédito tem uma maturação média, ou seja, aquele empréstimo concedido há cerca de um ano atrás, para um perfil com score mais arriscado se comparado a um grande banco privado, pode ainda compor o portfólio hoje das Fintechs. Com piora das variáveis macroeconômicas, nossa análise é que as Fintechs, incluindo o Mercado Livre, vão sofrer com maior atraso no pagamento, ocasionado o envelhecimento das parcelas (efeito Aging), acarretando um maior índice de inadimplência.

    O Mercado Crédito acelerou o crescimento de sua carteira durante o ano de 2021 e no 1S22, saindo de US$576m no 1T21 para US$2,7b no 2T22. Essa expansão provocará o Aging, fazendo com que a inadimplência acima de 90 dias aumente no 4T22. Esperamos ver esse movimento ainda ocorra ao longo de 2023, o que não vemos como positivo, mas ainda assim entendemos que faz parte do ciclo natural do crédito.

    A partir de agora, devemos deixar de ver crescimento duplo dígito t/t. Com o desenrolar da situação na virada do semestre (2S22), a Companhia foi adotando um tom mais cauteloso em relação a disponibilidade de crédito, restringindo sua oferta. Esse posicionamento do Mercado Crédito, em nossa visão, foi acertado, visto que trará um impacto positivo no médio prazo em relação à um score de crédito mais saudável na constituição da carteira.

    Ao passo que esperamos um crescimento mais tímido da carteira de crédito vs. 3T22, de forma que projetamos uma receita de Consumer Credit de US$473m (+8,2% t/t), Cash Advances US$78m (+8,8% t/t) e, por último, Revolving Credit Card ficou em US$44m (+34% t/t). Por fim, chegamos em uma receita do Mercado Crédito de US$595m Est. Genial (+9,8% t/t; +104,2% a/a).

    COGS será influenciado por folha de pagamentos. Diferente do que estamos observando em outras grandes empresas do setor de tecnologia, o Mercado Livre fez rodadas de contratações ao longo de 2022, aumentando o peso sobre sua folha de pagamentos. Outra dinâmica a ser enfatizada é a aceleração da inflação levando a reajustes no custo de pessoal e, consequentemente pressionando o COGS da Companhia.

    Por outro lado, estes efeitos devem ser parcialmente recompensados por uma redução no custo de logística. Isso porque, observamos uma retração do preço do Barril de Petróleo tipo Brent ao longo do 4T22, em de -20,17% t/t, implicando, segundo nossos cálculos, em uma retração de ~-12% t/t no preço do óleo diesel.

    Esperamos que este efeito amenize, parcialmente, o efeito negativo do aumento da folha de pagamentos sobre o COGS, porém, ainda acreditamos que o COGS virá crescente, totalizando um valor de US$1,54b Est. Genial (+23,9% t/t).

    Leve pressão de margens bruta t/t. Estamos projetando um lucro bruto de US$1,43b (-0,65% t/t; +55,87% a/a), de modo que devemos observar uma margem bruta com uma leve pressão em comparação com os últimos trimestres, no patamar de 48,27% (-5,51p.p. t/t; +7,11p.p. a/a), afetada pelas dinâmicas citadas de contratações e inflação nos países de operação presentes no COGS do trimestre.

    SG&A deve acelerar menos que receita. Quanto às despesas operacionais (SG&A), nossas projeções indicam um valor de US$1,14b Est. Genial (+10,3% t/t; +39,9% a/a), apresentando um aumento de menor magnitude que a aceleração da receita líquida. Esperamos que com o aumento do volume de vendas, as despesas de vendas e marketing bem como as despesas Gerais e Adm. continuem reduzindo sua representatividade em relação a receita, de modo que estimamos diluições na magnitude de (-8,37bps t/t ; 356bps a/a)  e (-6,6bps t/t; +128bps a/a), respectivamente.

    Por outro lado, ainda devemos observar uma aceleração das despesas com pesquisa e desenvolvimento (P&D), aumentando sua representatividade da receita em +185bps a/a, à medida em que o Mercado Livre continua investindo em inovações para suas diferentes linhas de negócios.

    Inadimplência ainda é sinal de alerta. A PDD também deve pesar no resultado operacional neste 4T22, a medida em que a Companhia entende que poderá enfrentar maiores níveis de inadimplência como consequência do forte crescimento da carteira de crédito até o 2T22, ao mesmo tempo em que a as receitas de crédito aumentam sua representatividade da receita consolidada. Estamos estimando um aumento de +236bps a/a da representatividade dessa linha em relação a receita, chegando ao patamar de US$305m Est. Genial (+5,8% t/t; +85,9% a/a).

    Esses efeitos negativos devem contrabalançar parcialmente a maior eficiência conquistada nas despesas de SG&A. Porém, com um crescimento da receita líquida maior que a aceleração das despesas, ainda esperamos ver uma sólida performance operacional, impulsionada também por um ganho de margem bruta. Estimamos um aumento de +5,37bps a/a na margem EBITDA, no patamar de 9,6% (-4,98p.p t/t; +5,37p.p a/a).

    Lucro líquido deve crescer forte a/a, mas base é fraca. Esperamos um bom desempenho operacional, seja em e-commerce, como na Fintech, de forma que nossas projeções apontam para um lucro líquido de US$76m Est. Genial (-27,2% t/t; +292,4% a/a). A aceleração a/a é impulsionada por uma base comparativa fraca.

    Nossa Visão e Recomendação

    Com base em mudanças de premissas em nosso modelo de valuation para o Mercado Livre, revisamos nossas estimativas em relação às verticais de e-commerce e de Fintech.

    Do lado de (i) e-commerce, incorporamos novas expectativas para a evolução do GMV, mais otimistas que antes frente a situação da Americanas. Já no que diz respeito a (ii) Fintech, fizemos alterações das expectativas de crescimento das operações de crédito da Companhia, frente a um cenário mais desafiador de curto prazo com juros mais altos.

    Uma andorinha só não faz verão. Acreditamos que os resultados do 4T22 sejam mais uma demonstração da forte capacidade de execução e resiliência do Mercado Livre, mesmo diante de um cenário de desaceleração na carteira de crédito, que passará a crescer t/t em um ritimo menor, em virtude de um cenário macro mais deteriorado. Ainda assim, uma andorinha só não faz verão… Esperamos uma sólida performance operacional, com desempenho positivo mesmo em um cenário desafiador tanto para o consumo como para a concessão de crédito.

    Em nossa visão, o Mercado Livre deve continuar se posicionando acima de seus pares, com a complementaridade dos seus serviços auxiliando a Companhia a se adaptar às condições de mercado atuais, demonstrando a força do seu ecossistema.

    Acreditamos que o sucesso da execução do Mercado Livre, entregas rápidas, elevado sortimento de produtos e soluções de pagamento inovadoras fazem com que o Mercado Livre seja top of mind para os consumidores. Para nós, seus diferenciais devem continuar impulsionando o desempenho operacional, de modo que reiteramos a Companhia como nossa Top Pick no setor de Tecnologia.

    Nossa recomendação é de COMPRA, e em virtude das revisões que fizemos em nosso modelo, subimos o Preço Alvo 23E MELI (Nasdaq) para US$1.397,40 vs. US$1.175,60 em nossa recomendação anterior, com upside de +24,96% e implicando um Preço Alvo 23E de R$60,06 para o BDR MELI34 (B3) e um upside de +23,65%.

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