O Magazine Luiza e a Via (ex Via Varejo) divulgaram seus resultados do 4º trimestre ao mercado após o fechamento do pregão desta quinta-feira (9/fev). Dada a sazonalidade do negócio, a Via e o Magalu apresentaram um trimestre de forte geração de caixa, contribuindo para redução de suas alavancagens financeira. Contudo, ambas as companhias divulgaram dois respectivos fatos relevantes que podem trazer ruído para as ações nessa sexta-feira.
Diante de uma Selic a 13,75% e um crédito corporativo mais restrito, após o evento Americanas, o ano de 2023 será pautado em controle de caixa. Rentabilidade acima de crescimento!
Dado o cenário macroeconômico desafiador e caráter discricionário das teses, reiteramos a recomendação de MANTER para as ações da VIIA3 e MGLU3, com preços-alvos em R$ 3,00 e R$ 5,00, respectivamente.
Via (VIIA3)
Em uma visão sequencial, a Via consolidou uma importante recuperação nesse trimestre, com um grande impacto positivo de um ‘efeito não recorrente’: a renovação da parceria com o Bradesco por mais 15 anos (R$ 350m em bônus de assinatura mais R$ 1,4b em comissão).
No todo, avaliamos o resultado como positivo. Diante de uma maior margem operacional, otimização das linhas de capital de giro (R$ 1,2b) e renovação do acordo com o Bradesco, a companhia apresentou uma forte geração de caixa operacional de R$ 3,4b, fundamental para reduzir sua alavancagem financeira para 2,4x (visão IFRS 16, inc. arrendamento e exc. recebíveis).
Em visão FCFE anual, houve uma geração de caixa livre de R$ 238m em 2022, revertendo o consumo de R$ 1,2 em 2021, impulsionada por reversões de provisões e otimização da linha de estoques.
Destaque positivo também para o dispêndio de caixa em causas trabalhistas, se consolidando 20% abaixo da banda inferior do guidance apresentado em nov/21. Outro ponto que nos chamou a atenção foi o plano de monetização de créditos tributários em ritmo acelerado, monetizando R$ 2,2b ante expectativa de R$ 1,8b em 2022. Para 2023, a expectativa é reconhecer um montante de R$ 2,5b.
O primeiro elefante. Após a divulgação do resultado, a Via anunciou a renúncia do Helisson Brigido Andrade Lemos, VP de Inovação Digital da companhia. Executivo da varejista desde 2019, Helisson foi uma peça-chave para o desenvolvimento do marketplace da empresa.
Lojas físicas
A Via reportou um GMV Bruto de lojas físicas 3,6% acima de nossas expectativas, a R$ 6,8b (+16,0% a/a; +20,5% t/t). Como comentamos em nossa prévia de resultados, o fluxo de pessoas nas lojas ainda se mantém abaixo do patamar pré-pandemia, contudo, o repasse de inflação nos produtos e as maiores conversões de compras ajudaram a expansão ano contra ano.
O crescimento sequencial reportado no canal teve sua maior contribuição vindo das novas aberturas de lojas realizadas no último ano. Em 2022, a companhia abriu 63 novas lojas, finalizando o período com um parque de 1.133 lojas espalhadas pelo território nacional. Há de se considerar que as aberturas são um pilar essencial para incremento da operação 3P, onde elas funcionam como hubs logísticos, pontos de drop-off para sellers e entregas do last mille.
Em relação à dinâmica de crescimento nas Vendas nas Mesmas Lojas, nossa estimativa de inflexão da queda se materializou e nos surpreendeu. Projetávamos um SSS de 3,3% a/a, enquanto a Via registrou um indicador de 11,4% a/a.
Digital
Dados operacionais em constante crescimento. A Via alcançou aproximadamente 151 mil vendedores (5,6% t/t) e ultrapassou a marca de 64 milhões de SKUs (+10,6% t/t) em seu marketplace.
Ganho de market share. Segundo os dados do Compre & Confie, a varejista ganhou +10 bps a/a de participação de mercado, atingindo 12,8% do mercado on-line brasileiro.
Como já sinalizado em nossa prévia, o GMV 1P on-line da Via desacelerou um pouco menos do que o apresentado no 3º trimestre. A linha veio em linha com a nossa estimativa (+0,9% Est. Genial), a R$ 4,0b (-6,0% a/a; +15,6% t/t), ainda impactado por um cenário desafiador para concessão de crédito.
A concessão de crédito é fundamental para o setor de e-commerce, especialmente para itens duráveis, tais como móveis, eletrodomésticos e eletrônicos, que possuem um valor médio mais elevado.
Atento aos sinais! O GMV 3P ficou +5,2% acima de nossa expectativa, a R$ 1,7b (-0,1% a/a; +47,6% t/t). Após cair mais de 40% no 3T22, a Via mostrou uma importante recomposição do canal de marketplace no 4T22. Apesar de ainda se manter na parte baixa da J-Curve (ilustrado no Gráfico 1), acreditamos que a performance deste trimestre é um importante sinalizador do que esperar desse canal em 2023.
Gráfico 1: J-Curve.
Vale destacar que, assim como 2022, neste ano a Via mantém a prioridade de rentabilizar o canal de marketplace, ao invés de crescer a qualquer custo, como aconteceu em 2020 e em parte de 2021. O foco em aumento da penetração de pedidos de cauda longa também segue 2023. No 4T22, a varejista apresentou um crescimento de quase 80% no número de pedidos de cauda, beneficiado pelas categorias alimentar e de moda.
Consolidando o canal digital, a nossa estimativa ficou bem em linha ao reportado pela varejista. O GMV de e-commerce ficou 2,1% acima do esperado, a R$ 5,7b (-4,3% a/a; +23,6% t/t).
Consolidando o GMV e Receita da Via
Top line em linha ao estimado. Consolidando os números, a Via reportou um GMV Bruto Total 2,9% acima de nossa estimativa, a R$ 12,5b (+5,7% a/a; +21,9% t/t). Impulsionada por uma maior receita de serviços pela retomada de fluxo às lojas físicas, a Receita Líquida Consolidada veio 2,2% acima de nossas expectativas, reportada em R$ 8,8b (+8,8% a/a; +26,2% t/t).
Custos e Lucro Bruto
O lucro bruto reportado veio 6,3% acima de nossas estimativas, em R$ 2,8b (+17,0% a/a; +28,8% t/t). Conforme comentamos em nossa prévia, a companhia apresentou uma melhora na rentabilidade bruta, dada a maior penetração das lojas físicas na receita consolidada, que possuí maior margem por ofertar serviços.
Utilizando de uma eficiência tecnológica, mapeando demanda por SKU e localiadde, a Via fez um bom trabalho em relação aos estoques e margens nesse trimestre. A companhia conseguiu reduzir o prazo médio dessa linha para um patamar abaixo de 100 dias, sem prejuízos à margem bruta (demarcação de preços) e sem apresentar rupturas.
A margem bruta veio 119 bps acima da nossa estimativa, reportada em 31,3% (+219bps a/a; +62 bps t/t). Adicionalmente, a rentabilidade foi impulsionada por um maior nível de take-rate 3P em comparação com o ano passado, reportado em 11,0% vs. 7,7% no 4T21.
Despesas operacionais e EBITDA
Depois de uma dinâmica positiva para margem bruta, as despesas operacionais pressionaram mais do que o esperado. Com uma maior abertura de lojas nos últimos 12 meses e uma menor alavancagem operacional, a Via reportou um SG&A de R$ 2,2 (+23,4% a/a; +7,4% Est. Genial).
Ao incluir itens não recorrentes, referente ao ajuste nas provisões trabalhistas legados, o SG&A apresentado foi de R$ 2,1b (+23,8% a/a). Com isso, o EBITDA Aj. da companhia ficou 2,8% abaixo de nossa projeção, a R$ 629m (-1,9% a/a; +61,3% t/t).
Resultado financeiro e Lucro líquido
Considerando no 4T22 uma taxa Selic 1,7x superior ao mesmo período de 2021, a Via apresentou um aumento de 43,5% a/a das despesas com dívidas e um crescimento de +106,3% a/a de juros do CDCI, pressionando o resultado financeiro da companhia. Assim, a Via reportou um resultado financeiro líquido 1,8% acima das nossas estimativas, reportado em -R$ 641m (+46,3% a/a; +6,7% t/t).
A alíquota afetiva veio acima de nossa estimativa, beneficiado por um valor R$ 71 m relativo à subvenção de ICMS e R$ 21 m referente a exclusão da Selic do IRPJ/CSLL (indébito tributário).
Somando todos esses efeitos discutidos até aqui, a Via consolidou um prejuízo líquido maior do que o estimado, porém menor do que o apresentado no 3T22. A linha foi negativa em R$ 163m (+30,3% Est. Genial).
Magazine Luiza (MGLU3)
Assim como a Via, o Magalu reportou uma importante recuperação sequencial nesse trimestre, afastando o risco de liquidez que se alastrou no varejo ao longo dos últimos meses. Em nossa visão, avaliamos o resultado do 4T22 também como positivo, apresentando um prejuízo líquido muito menor do que o nosso estimado.
Diante de uma maior margem operacional e otimização das linhas de capital de giro, principalmente em relação ao giro de estoques, que melhorou de 117 dias para 87 dias, a companhia apresentou uma geração de caixa operacional de R$ 2,2b, reduzindo sua alavancagem financeira para 3,8x (visão IFRS 16, inc. arrendamento e exc. recebíveis). Em visão FCFE anual, houve uma geração de caixa livre de R$ 1,6b em 2022.
O segundo elefante. Uma denúncia anônima pode trazer ruído para as ações de MGLU3 nessa sexta-feira. Após a divulgação do resultado, em fato relevante, o Magazine Luiza comunicou que recebeu uma denúncia anônima de suposta irregularidade em operação de bonificação com certos distribuidores e fornecedores (envolvendo 3,5% do valor total de compra de mercadorias em 2022).
Lojas físicas
O Magazine Luiza reportou um GMV Bruto de lojas físicas 1,4% acima de nossas projeções, a R$ 5,0b (+14,7% a/a; 30% t/t). O crescimento do GMV veio, em grande parte, de lojas maduras. O Same Store Sales foi de 13,3% a/a (+460 bps Est. Genial).
Para uma loja do Magalu atingir plena capacidade, é esperado um prazo médio de cerca de 4 anos. Atualmente, a companhia possui cerca de 37% de seu parque de lojas (1.339) nesse ramp-up de maturação, fruto da forte expansão realizada no ano de 2021, sendo assim, a maior contribuinte para o crescimento do GMV do canal.
Podemos observar que, diferente da Via, a companhia buscou a otimização do portfólio em 2022, com fechamentos da modalidade de quiosques e cerca de 15 aberturas de lojas no ano.
Digital
Ninguém para esse SuperApp. O Magalu alcançou a marca de 260 mil vendedores (10,2% t/t) e ultrapassou a marca de 91 milhões de SKUs (+12,3% t/t) em seu marketplace. A Caravana Magalu tem contribuído positivamente para o forte crescimento de sellers, trimestre após trimestre. Mostrando um digital mais madura, o crescimento é duas vezes maior que o apresentado pela Via.
Magalu também ganhou market share. Segundo os dados consolidados pela Neotrust, enquanto o mercado digital brasileiro caiu 5,8% a/a no 4T22, a varejista cresceu 15,9% a/a no mesmo período, reflexo de uma estratégia comercial assertiva durante o período de Copa do Mundo e Black Friday e, também, de um “coelho pronto para ser retirado da cartola”.
Conforme explicamos em nossa prévia de resultados, o Magalu começou a consolidar as vendas da KaBuM! aos seus resultados em 2022. Esse “efeito inorgânico” criou uma base de GMV 1P mais robusta no ano, com uma maior facilidade em bater a sua base de 2021.
O GMV 1P on-line do Magalu veio bem em linha ao esperado, a R$ 8,3b (+18,4% a/a; +34,6% t/t; 0,1% Est. Genial).
Colhendo os frutos de um marketplace mais maduro. O GMV 3P ficou -4,2% abaixo de nossa expectativa, a R$ 4,6b (+11,6% a/a; +30,0% t/t). As categorias de Moda (Zattini) e Esportes (Netshoes) foram os destaques do 3P, crescendo as vendas em 25% a/a e 34% a/a, respectivamente.
Consolidando o canal digital, a nossa estimativa ficou em linha ao reportado pela varejista. O GMV de e-commerce veio -1,5% abaixo do esperado, a R$ 12,9b (+15,9% a/a; +25,7% t/t).
Consolidando o GMV e Receita do Magalu
Com um crescimento de duplo dígito nas vendas de todos os canais, o Magalu reportou uma receita bruta 1,8% acima de nossas estimativas, em R$ 13,5b (+17,8% a/a; +25,9% t/t).
Impulsionada pelo retorno de fluxo às lojas físicas e por uma maior receita de serviços resultante de um maior Take-Rate do marketplace, a companhia apresentou uma receita líquida 3,5% acima de nossas estimativas, reportada em R$ 11,2b (+18,8% a/a; +26,8% t/t).
Custos e Lucro Bruto
O Magalu reportou um lucro bruto 7,2% acima de nossas estimativas, em R$ 3,1b (+30,6% a/a; 26,1% t/t), implicando em uma margem bruta de 27,8% (+250bps a/a; -14bps t/t).
Conforme nossas expectativas, houve uma melhora relevante na rentabilidade bruta na comparação anual (+250bps a/a; +96bps Est. Genial), principalmente devido a maior penetração das vendas do marketplace. As vendas 3P naturalmente giram a uma margem maior, e, aliadas a um maior nível de comissionamento, impulsionaram a receita de serviços, elevando a rentabilidade consolidada da companhia.
Na comparação trimestral, observamos uma leve pressão na margem, efeito de um maior nível de atividades promocionais, dada a sazonalidade do 4° trimestre.
Despesas operacionais e EBITDA
Como já comentado, em 2022 o Magalu foi em uma direção oposta ao da Via, enxugando o seu parque de lojas. Uma correção perfeitamente natural para a saúde financeira do setor de varejo. A diminuição em suas despesas fixas somada a otimização de despesas variáveis (marketing e logística) somada a maior alavancagem operacional do período fez com que o SG&A do Magalu ficasse em R$ 2,4b nesse trimestre (-4,4% a/a), apresentando uma diluição importante na visão anual.
Com o carrego positivo na margem bruta e com o efeito de diluição de despesas, a companhia reportou uma forte recomposição de lucro operacional (dinâmica já comentada em nossa prévia). O EBITDA ficou 1,4% acima de nossa estimativa, a R$ 642m (+169,4% a/a; +25,4% t/t), com uma margem EBITDA de 5,8% (+321 bps a/a; -10 bps Est. Genial).
Resultado financeiro e Lucro líquido
Considerando o aumento da taxa de juros, com uma Selic chegando a 13,75% no 4T22 vs. 6,25% no 4T21, o Magalu reportou um aumento de 166,3% a/a nas despesas relativas a juros e empréstimos sobre financiamentos, além de um aumento de 51,0% a/a no pagamento de juros de arrendamento.
Com um custo da dívida pressionado pelo cenário macroeconômico, o resultado financeiro líquido veio 9,3% acima de nossas estimativas, reportado em -R$ 568,8m (+129,3% a/a; +2,3% t/t).
Diante de uma maior recuperação da linha de Imposto de Renda e Contribuição Social, beneficiado por uma maior reconhecimento de subvenção de investimentos (relativo ao ICMS), o prejuízo líquido do Magalu veio melhor do que a nossa expectativa (-55,4% Est. Genial).
A companhia apresentou um prejuízo líquido de R$ 36m, revertendo o lucro líquido de R$ 90m no mesmo período de 2021, com uma margem líquida de 0,3% (-131 bps a/a).