Magazine Luiza irá reportar as cifras referentes ao 1º trimestre de 2024 nessa quinta-feira (09/mai). Diferente do momento vivido pela sua principal concorrente nacional, Magazine Luiza deve apresentar mais um trimestre de forte recomposição de margem operacional e, também, um bottom line positivo.
Diante da menor oferta de crédito pelas financeiras, entendemos que o cenário econômico ainda não é favorável ao consumo de itens do 1P – e acreditamos que isso deve impedir maiores ganhos com diluição de despesas no trimestre.
Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), a proporção de brasileiros endividados subiu ao longo do 1º trimestre de 2024, alcançando 78,1% até o final de março. Vale destacar que a inadimplência tem crescido especialmente entre as famílias de renda mais baixa (renda familiar mensal de até 3 salários-mínimos).
Contudo, mesmo diante do desafio em crescer o topline durante essa ressaca de crédito, avaliamos que o Magazine Luiza tem sido bastante vocal em dizer que não desejam crescer a qualquer custo – uma mentalidade que ficou para trás, junto com a Selic em 2,0%/ano.
Com o foco em aumentar lucratividade dos negócios, acreditamos que, mais uma vez, o destaque do trimestre deve ficar por conta da margem EBITDA e lucros sequencialmente positivos.
Apesar de, em um primeiro momento, a ação nos sugerir um bom ponto de entrada, negociando a 27,0x P/E 2024E (anteriormente em 67,0x) – reflexo do sell-off vivido pelo varejo discricionário ao longo dos últimos meses –, acreditamos que o fluxo de mercado ainda não deve vir para o setor enquanto os investidores não desenharem o direcionamento monetário do Federal Reserve e Banco Central ao longo dos próximos meses.
Por ora, mesmo com um upside relevante (risco e retorno alto), reiteramos a recomendação NEUTRA em MGLU3, com preço-alvo 12M em R$ 2,60. Confira agora a nossa expectativa quanto ao 1º trimestre de Magazine Luiza.
Figura 1: Análise de sensibilidade do preço-alvo 12m para MGLU3 (Ke vs. g).
Principais destaques do trimestre
- Com diminuição da competição, as lojas físicas devem voltar a ser o canal de maior crescimento no trimestre;
- Marketplace deve encontrar uma base comparativa difícil de crescer em duplo dígito;
- Ganho em margem bruta deve ser o suficiente para levar Magazine Luiza a um lucro de R$ 19 milhões, revertendo o prejuízo do mesmo período em 2023.
Enquanto o GMV de Lojas físicas acelera …
Com a Americanas (AMER3) em recuperação judicial e o Grupo Casas Bahia (BHIA3) em processo de equalização de dívidas e despesas, acreditamos que Magalu tem em mãos uma “tempestade perfeita” para abocar ainda mais market share em lojas físicas ao longo dos próximos trimestres.
Ainda que a redução da área de vendas jogue contra o crescimento de receita neste trimestre – dado o fechamento de ~23 lojas não rentáveis ao longo desse 1º trimestre −, acreditamos que o cenário competitivo consegue mais do que neutralizar esse impacto, com Magalu se aproveitando do crescimento de fluxo às lojas e maiores conversões em vendas.
Mesmo sem grandes originações de créditos pela Luizacred (carteira estimada de R$ 19,8 bilhões, -2,0% t/t), projetamos que o GMV de Lojas Físicas atinja R$ 4,6 bilhões (+9,0% a/a), com um Same Store Sales acima da média vista em 2019 (+9,1% a/a Est. Genial vs. +7,6% média consolidada de 2019).
… o GMV do Digital deve desacelerar
Diante de um cenário enfraquecido para as vendas do 1P on-line (que possuem ticket de consumo elevado) e com uma base comparativa de crescimento forte para o 3P, dado o crescimento de quase 20% na época em que a Americanas decretou Recuperação Judicial, entendemos o GMV total de e-commerce deve ficar praticamente neutro a/a.
Com um crédito mais escasso e sem grande apetite para compras on-line, acreditamos que o GMV 1P deva continuar recuando a/a, porém em níveis menores do que o visto no 4º trimestre (-4,0% a/a Est. Genial para 1T24 vs. -7,8% a/a Cons. 4T23 pelo Magalu).
O número deve vir bem em linha ao recuo observado pela Neotrust, onde estima-se que as vendas on-line caíram 3,6% a/a no 1T24, mas bem menor do que o esperado para o Grupo Casas Bahia (-24,1% a/a Est. Genial para GMV 1P).
Acreditamos que a curva de crescimento do marketplace deve perder um pouco de inclinação nesse trimestre – algo completamente natural dado os consecutivos crescimentos de duplo dígito do canal nos últimos trimestres. Projetamos que o canal atinja um GMV de R$ 4,7 bilhões (+8,1% a/a), com um Take-rate próximo de 15,0%.
Ao juntarmos todas as peças, o faturamento deve subir levemente
Com o canal físico e marketplace ganhando mais espaço no mix de vendas, enquanto 1P ainda desacelera, projetamos que Magazine Luiza atinja uma receita líquida de R$ 9,2 bilhões (+1,8% a/a).
Rentabilidade deve ser o destaque do trimestre, novamente
Com a maior penetração de vendas em lojas físicas, acreditamos que a margem deve ganhar um impulso adicional nesse trimestre. Projetamos um lucro bruto de R$ 2,8 bilhões (+11,8% a/a) e uma margem bruta de 30,0% (+270 bps a/a).
Vale lembrar que nesse trimestre, a companhia realiza a Liquidação Fantástica, que costuma impulsionar as vendas em lojas físicas em troca de maiores descontos. Contudo, acreditamos que a dinâmica desse ano deve ser um pouco diferente, com um menor investimentos em preços.
Apesar do marketplace perder a inclinação de crescimento, saindo de um duplo dígito para um dígito único alto, entendemos que ela deve continuar a impulsionar a rentabilidade do grupo, dado a estrutura de custo da operação.
EBITDA crescendo 45%? É possível?
Acreditamos que o menor crescimento de faturamento deve barrar a diluição de despesas operacionais nesse trimestre. Com isso, o carrego positivo de 270bps vindo de margem bruta não deve ser integralmente levado ao lucro operacional.
Projetamos um EBITDA aj. de R$ 651 milhões (+45,3%) e uma margem EBITDA de 7,1% (+210bps a/a). Vale lembrar que a base comparativa do 1º semestre de 2023 é mais fácil de ser batida, dado o nível de rentabilidade média do período (~5,0%).
Mais um lucro líquido
Mesmo diante de uma alta alavancagem financeira (3,8x DL/EBITDA aj. – visão inc. arrendamento e exc. recebíveis), a redução da taxa de juros (e consequentemente custo de capital) deve ajudar a aliviar as pontas para a última linha do Magazine Luiza.
Projetamos um lucro líquido de R$ 19 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 309 milhões no mesmo período de 2023.
Tabela 1: Expectativa Genial para Magazine Luiza no 1T24 (R$ milhões; IFRS 16).