Mesmo sendo um trimestre sazonalmente mais fraco para locação, onde predominam as vendas de carros, esperamos que a volta da demanda de voos corporativos se reflita em aumento nos volumes de aluguéis de carros em aeroportos. Além disso, com os preços das passagens aéreas em patamares elevados, nossa expectativa é que o turismo de proximidade tenha ganhado força ao longo do trimestre, o que em tese, refletiria em bons volumes no RAC e manutenção de tarifa em patamares elevados. Com o segmento de locação mais forte é natural que a taxa de renovação de frota fique abaixo da taxa histórica no período.
Vale reforçar, que o setor vive a expectativa de queda do preço dos seminovos, o que de fato já vem sendo observado no segmento de veículos leves, o que deve comprimir as margens brutas de seminovos ao longo dos próximos resultados.
Reforçamos que na nossa visão a crise de semicondutores deve persistir até 2023, portanto, o limitante de crescimento para o setor de locação de leves seguirá sendo a oferta de automóveis. É importante ressaltar que o segmento de pesados está sendo menos afetado pela falta de semicondutores.
Se as locadoras de leves tem sofrido, o mesmo não pode ser dito para a locação de máquinas e caminhões. Acreditamos que o destaque do trimestre deve ser Vamos. O setor de pesados segue em forte expansão e as vendas de máquinas e equipamentos agrícolas, bem como o nível de emplacamentos de caminhões nos dão uma boa proxy do que deve ser o trimestre em novos contratos.
Vamos (VAMO3)
Acreditamos que Vamos deve ser o grande destaque do setor de locação. No 1T22, a empresa já havia reportado que seu guidance para volume de investimentos já estaria 33% completo, esperamos um volume de investimentos próximo ao realizado no trimestre anterior. Já esperamos efeitos no EBITDA do incremento do Capex contratado no 1T22. A aceleração da velocidade de implantação dos novos contratos faz com que o Capex contratado se traduza em volume de negócio rapidamente (cerca de 90 dias). Nesse trimestre, mais um vez esperamos aumentos na receita futura contratada, no Capex contratado e nos níveis de rentabilidade dos contratos, o que reforça nossa visão otimista para a companhia. No segmento de locação, nossa expectativa é que o bom volume de novos contratos impulsione o Yield para cima em mais um trimestre, mostrando a resiliência do modelo de negócios da empresa.
Outro destaque positivo está na expectativa de desempenho das concessionárias, que já vinham em forte tendências de expansão. Os baixos níveis de estoques de pesados e a forte demanda do segmento devido ao bom momento vivido pelo agronegócio, impulsionaram as vendas de máquinas agrícolas e tratores. Esse cenário gera vendas com margens superelevadas. Confiamos que a empresa deverá trabalhar para reduzir seu custo de dívida, dado que está carregando em seu balanço ativos com desconto significativo e ainda segue recebendo veículos zero-km com preços de 2021, inferiores aos preços atuais dos veículos. Esse fator ainda possibilita um cenário de taxa de depreciação caindo.
Na nossa visão, mesmo em um cenário de taxas de juros elevadas e piora na perspectiva de crescimento global, os repasses de preços nos contratos, o aumento da força de vendas já endereçam um forte crescimento para Vamos (VAMO3) em 2023, que hoje negocia à 17,3x P/E 2023E. Nossa visão é atrativa para uma empresa que tem em seu backlog quase R$ 9 bilhões que entregou um crescimento composto de lucro de 50,8% entre 2016 e 2021. Seguimos otimistas e mantemos nossa recomendação de COMPRA.
Localiza (RENT3)
Nesse trimestre, nossa expectativa é que a Localiza continue seu processo de adição de frota, na tentativa de reduzir a idade média de sua frota.
No RAC, também esperamos um aumento no volume, mas com as tarifas estáveis. Somado a isso, a mobilização de novos carros e a frota mais envelhecida deve gerar queda nas margens devido ao aumento nos custos de manutenção.
No GTF, não esperamos muitas surpresas, os números devem ficar muito próximos aos do último trimestre, porém com os novos contratos já reprecificados devem gerar um aumento no Yield. No GTF, esperamos uma adição líquida de frota próxima a 5 mil carros, maior do que no 1T22, com Yield estável e manutenção de margens.
Na divisão de seminovos, nossas expectativas são de mais um trimestre com um nível de compra de carros melhorando, o que abre espaço para um volume de vendas ligeiramente superior ao visto no 1T22. Com a perspectiva de oferta de carros longe do ideal, a Localiza, que optou por não renovar a sua frota no ano passado, não deve observar uma queda tão significativa na margem bruta de seminovos. Isso porque o estoque de carros, comprados aos preços de 2019, ainda é grande. Por outro lado, o novo patamar de tarifas pode frear ainda mais o crescimento das tarifas no RAC.
Localiza hoje negocia a cerca de 16,6x P/E 2023E, enquanto sua média histórica gira em torno de 26,2x. Obviamente o múltiplo pós fusão deve ser penalizado, não apenas por Unidas negociar a um múltiplo inferior historicamente, mas também porque a fusão traz para o presente, de forma inorgânica, uma componente de crescimento que estava implícito nessa média histórica elevada da Localiza. A nova companhia passa a ter uma frota de 445 mil veículos. Considerando a captura e os ganhos de sinergias ainda mantemos nossa recomendação de COMPRA.
Movida (MOVI3):
No consolidado, nossas estimativas são de receita crescendo, EBITDA crescendo nominalmente, porém com compressão de margens.
Apesar de uma sazonalidade, o destaque deve ser o bom desempenho no RAC. Esperamos um volume crescente, com tarifas estáveis e aumento nas taxas de ocupação. Por outro lado, com uma pressão maior nos custos, devido ao mix mais premium quando comparada às outras locadoras o que deverá segurar um pouco as margens.
No GTF esperamos ver uma adição líquida de frota maior do que no 1T22, com esse volume maior já começando a se traduzir em receita, com boas perspectivas para os semestres seguintes. Lembrando que no 1T22 a empresa possuía uma receita contratada no segmento de gestão e terceirização de frotas de R$ 2,1 bilhões, que deve se transformar em novos contratos já com tarifas mais elevadas.
Para o segmento de seminovos, esperamos um volume maior de vendas, porém prejudicado pela tendência de normalização nos preços de automóveis usados. No final do dia, isso deve se traduzir em pressão nas margens, que vinham sendo beneficiadas pelo aumento do preço dos veículos usados, o que gerou uma rentabilidade atípica no segmento de seminovos. A estabilização dos preços dos veículos tende a trazer as margens para patamares inferiores ao longo dos próximos anos.
Movida atualmente negocia em cerca de 4,4x P/E 2023E. Embora mais alavancada (3,1x Div. Líq./EBITDA 12M), consideramos o desconto em relação Localiza excessivo. O nível de alavancagem não nos traz tanta preocupação nesse momento, onde ainda observamos crescimento operacional. É natural que em algum momento a Movida opte por acelerar a venda de carros a fim de capturar o ganho líquido da valorização de seu ativo e assim reduzir sua alavancagem. Mantemos nossa recomendação de COMPRA.