Em julho de 2025, os dados divulgados pelo Banco Central do Brasil (Bacen) apontaram para uma manutenção do ritmo de crescimento anual do crédito, ainda em patamar elevado, mas acompanhado sinais de piora na qualidade dos ativos. O saldo total de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu +0,4% m/m e +10,7% a/a, praticamente estável em relação ao crescimento de junho (+10,75% a/a). Por segmento, observaram-se dinâmicas opostas: enquanto o crédito para empresas acelerou de +8,9% para +9,5% a/a, o crédito para famílias desacelerou de +11,9% para +11,5% a/a.
As concessões de crédito somaram R$ 701,3 bilhões em julho, apresentando leve alta de +1,5% m/m e expansão de +4,8% a/a, seguindo em trajetória de desaceleração (vs. +7,5% em junho e +11,6% em maio).
Após breve estabilidade em junho, a inadimplência voltou a subir neste mês, encerrando em 3,8% (+0,2 pp m/m; +0,6 pp a/a). No crédito livre, o movimento de deterioração persiste: a inadimplência atingiu 5,2% (+0,2 pp m/m; +0,8 pp a/a), puxada principalmente pela carteira de pessoas físicas, que alcançou 6,6% (+0,2 pp m/m; +1,1 pp a/a) — maior nível desde 2013. O movimento reforça nossa tese de piora na qualidade dos ativos com o ciclo de alta de juros iniciado em set/24, e deve seguir como vetor de deterioração nos próximos meses.
O crédito rural permanece como principal destaque negativo. A inadimplência na linha subiu pelo quarto mês consecutivo, chegando a 4,4% em julho (+0,9 pp m/m; +2,5 pp a/a). Também observamos um aumento relevante da inadimplência curta (15 a 90 dias) no segmento rural, que subiu +0,4 pp m/m e +1,7 pp a/a, para 3,3%. Essa dinâmica deve seguir pressionando os índices acima de 90 dias nos próximos meses, mantendo a qualidade da carteira rural como um ponto de atenção. O cenário é especialmente desafiador para o Banco do Brasil, cuja carteira tem cerca de um terço de exposição ao setor (cerca de R$ 405 bilhões).
Nossa tese de que a inadimplência aumentaria cerca de nove meses após o início do ciclo de alta da Selic — que começou em setembro de 2024 — acabou se concretizando um pouco mais antecipada. Esse movimento foi acelerado pela piora no ciclo agrícola, em especial nas lavouras de soja e milho no Centro-Oeste, onde a combinação de queda nos preços das commodities e endividamento excessivo de determinados clientes do agronegócio, elevou as dificuldades financeiras dos produtores. O impacto foi suficiente para antecipar a deterioração da carteira rural e puxar para cima os índices de inadimplência do sistema.
O spread bancário recuou marginalmente para 20,3% (-0,13 pp m/m; +1,7 pp a/a), refletindo a combinação entre a redução da taxa de empréstimo e a estabilidade no custo de captação.
Já o endividamento das famílias recuou para 48,7% (-0,2 pp m/m; +1,0 pp a/a), enquanto o comprometimento de renda diminuiu para 27,6% (-0,1 pp m/m; +1,3 pp a/a), ambos ainda em patamares historicamente elevados.
Em julho, as instituições privadas registraram uma leve queda de -0,05 pp m/m, atingindo 44,3% do crédito total. Ainda assim, seguem ganhando espaço na comparação anual, com alta de +1,35 pp a/a. Já as instituições públicas (ex-BNDES) também perderam participação, com recuo de -0,04 pp m/m e -0,64 pp a/a, totalizando 34,3% do mercado.
Crédito: Ritmo de Crescimento Estável
O saldo total de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu +0,4% m/m em julho, totalizando R$ 6,7 trilhões, com expansão de +10,7% a/a, praticamente estável em relação ao observado em junho (+10,8% a/a).
O avanço no mês foi sustentado pelas operações com pessoas físicas (PF), que somaram R$ 4,2 trilhões (+0,6% m/m), enquanto o saldo de crédito às pessoas jurídicas (PJ) recuou -0,1% m/m, para R$ 2,5 trilhões. Na comparação anual, o crédito às famílias manteve a trajetória de desaceleração, com alta de +11,5% a/a (vs. +11,9% em junho), enquanto o crédito às empresas acelerou, com crescimento de +9,5% a/a (vs. +8,9% em junho).
O estoque de crédito com recursos livres totalizou R$ 3,9 trilhões, com crescimento de +0,2% m/m e +9,4% a/a. O desempenho mensal foi sustentado pelo segmento de Pessoas Físicas, enquanto as operações com Pessoas Jurídicas recuaram na visão sequencial.
O crédito livre para PF somou R$ 2,3 trilhões, com avanço de +1,0% m/m e +12,1% a/a. O crescimento no mês foi impulsionado pelas modalidades de cartão de crédito à vista (+1,5% m/m) e crédito pessoal não consignado (+1,6% m/m). Destacamos também o forte avanço do crédito consignado privado (+6,9% m/m), produto relançado neste ano, que já atingiu uma carteira de R$ 46,7 bilhões (+23,1% a/a).
Por outro lado, o crédito livre para PJ registrou queda de -1,0% m/m, totalizando R$ 1,6 trilhão, embora mantenha crescimento de +5,8% a/a. O recuo mensal foi puxado pelas quedas nas carteiras de desconto de duplicatas e outros recebíveis (-9,3% m/m), capital de giro total (-0,6% m/m) e adiantamento sobre contratos de câmbio (-0,6% m/m).

Inadimplência: Volta a Subir Após Mês de Estabilidade; Agro é Destaque Negativo
A inadimplência total do Sistema Financeiro Nacional (SFN), considerando os atrasos superiores a 90 dias, atingiu 3,8% em julho, com alta de +0,2 pp m/m, voltando a apresentar sinais de deterioração após um mês de relativa estabilidade. Na comparação anual, o indicador segue em trajetória negativa, com elevação de +0,6 pp a/a.
No crédito livre, o índice de inadimplência avançou para 5,22% (+0,22 pp m/m; +0,80 pp a/a), refletindo a piora tanto nas operações com pessoas físicas quanto com pessoas jurídicas. Na carteira de PF, o indicador subiu +0,2 pp m/m e +1,1 pp a/a, alcançando 6,6% — maior nível desde 2013. Já nas operações com PJ, a inadimplência atingiu 3,3%, com alta de +0,2 pp m/m e +0,4 pp a/a.
No crédito direcionado, a inadimplência aumentou +0,18 pp m/m e +0,38 pp a/a, alcançando 1,81%. Destacamos a trajetória de forte deterioração no crédito rural para pessoas físicas (PF), cuja inadimplência avançou +0,9 pp m/m e +2,5 pp a/a, atingindo 4,37% — o maior nível da série histórica (desde 2011).
Também observamos um aumento relevante da inadimplência curta (15 a 90 dias) no segmento rural, que subiu +0,4 pp m/m e +1,7 pp a/a, para 3,3%. Essa dinâmica deve seguir pressionando os índices acima de 90 dias nos próximos meses, mantendo a qualidade da carteira rural como um ponto de atenção.
O cenário é especialmente negativo para o Banco do Brasil, cuja carteira de crédito possui cerca de 1/3 de exposição ao setor rural — fragilidade já evidenciada nos resultados do 2T25.


Inadimplência por Modalidade
Observamos em julho uma deterioração disseminada da inadimplência entre as principais modalidades de crédito livre, com destaque para produtos de maior risco. No cartão de crédito total com recursos livres — que inclui o parcelado sem juros — a inadimplência atingiu 8,8% em junho, com alta de +0,27 pp m/m e +1,47 pp a/a.
O cartão rotativo apresentou deterioração relevante, com avanço de +3,03 pp m/m e +5,75 pp a/a, alcançando 60,5% — um nível historicamente elevado. O cartão parcelado também registrou piora, atingindo 13,3% (+0,26 pp m/m; +1,94 pp a/a).
No crédito para aquisição de veículos por pessoas físicas, a inadimplência subiu para 5,3% (+0,14 pp m/m; +0,67 pp a/a). Já no crédito pessoal não consignado, o indicador avançou para 7,9% (+0,35 pp m/m; +1,86 pp a/a), enquanto no cheque especial atingiu 14,95%, com alta expressiva de +0,99 pp m/m e +2,82 pp a/a.
Cobertura
O índice de cobertura — que mede a relação entre o saldo de provisões e os créditos vencidos há mais de 90 dias — recuou -8,2 pp m/m em julho, atingindo 196,3%. Apesar da queda na margem, o indicador ainda acumula alta de +7,0 pp a/a.

Endividamento/Comprometimento de Renda: Recuo no Mês, Mas Ainda em Níveis Elevados
Em junho (último dado disponível), o endividamento das famílias brasileiras recuou para 48,7% da renda, com queda de -0,2 pp m/m, após três meses consecutivos de alta. Apesar do alívio marginal, o indicador permanece em patamares historicamente elevados, acumulando avanço de +1,0 pp a/a.
O comprometimento de renda também apresentou leve queda, recuando -0,1 pp m/m, para 27,6%, embora ainda registre uma alta de +1,3 pp a/a.
Spread: Queda Mensal
A taxa média de juros das concessões de crédito do SFN alcançou 31,4% a.a. em julho, com queda de -0,13 pp m/m, embora ainda registre uma alta expressiva de +3,6 pp a/a. A retração mensal foi puxada pelas operações com pessoas físicas (PF), cuja taxa média caiu para 35,9% a.a. (-0,4 pp m/m; +3,5 pp a/a). Já nas concessões a pessoas jurídicas (PJ), a taxa apresentou alta de +0,3 pp m/m e +3,2 pp a/a, atingindo 21,6% a.a.A taxa de captação permaneceu estável em 11,1%, mas ainda acumula alta de +1,90 pp a/a
Como resultado, o spread bancário médio recuou -0,13 pp m/m, para 20,3%, permanecendo +1,7 pp acima do patamar observado há um ano. O movimento reflete a combinação entre a redução das taxas finais ao tomador e a estabilidade no custo de captação. No segmento de pessoas físicas, o spread recuou para 25,3% (-0,42 pp m/m; +1,66 pp a/a), enquanto nas operações com empresas o indicador avançou para 9,4% (+0,37 pp m/m; +1,10 pp a/a).

Market Share de Crédito: Leve Perda de Share das Instituições Privadas em Julho
Em julho, as instituições privadas registraram uma leve queda de -0,05 pp m/m na participação de mercado, atingindo 44,3% de market share. Ainda assim, seguem ganhando espaço na comparação anual, com alta de +1,35 pp a/a.
As instituições públicas (ex-BNDES) também reduziram sua participação na margem, com recuo de -0,04 pp m/m e -0,64 pp a/a, totalizando 34,3% do mercado.

Concessão de Crédito: Desaceleração do Crescimento Anual
As concessões de crédito totalizaram R$ 701 bilhões em julho, com alta de +1,5% m/m e +4,8% a/a, marcando um ritmo de crescimento mais fraco em relação ao mês anterior (+7,5% a/a em junho).
As concessões com recursos livres somaram R$ 628 bilhões, com avanço de +0,8% m/m e +4,1% a/a. O desempenho no mês foi impulsionado pelas operações com pessoas físicas (PF), que cresceram +5,2% m/m, compensando a retração de -4,9% m/m nas concessões a pessoas jurídicas (PJ).
Na base anual, o volume concedido segue em trajetória de desaceleração, com alta de +4,8% a/a (vs. +7,5% em junho e +11,6% em maio). O principal vetor desse movimento foi a redução do ritmo de crescimento das concessões às famílias, que cresceram apenas +5,9% a/a (vs. +11,2% em junho). O segmento de empresas também desacelerou, com avanço de +1,7% a/a (vs. +3,1% em junho).
As concessões com recursos direcionados totalizaram R$ 72,7 bilhões em julho, com alta de +7,3% m/m e +11,5% a/a. O desempenho positivo no mês foi puxado tanto pelas operações com empresas (+11,4% m/m) quanto com famílias (+4,8% m/m). Na comparação anual, o destaque foi o forte crescimento nas concessões para empresas, que avançaram +52,2% a/a, atingindo R$ 28,9 bilhões. Em contrapartida, as concessões para famílias recuaram -5,3% a/a, somando R$ 43,7 bilhões.
