De maneira geral, o resultado veio em linha com nossas expectativas. Embora historicamente observemos uma redução das tarifas no 1T vs. 4T, essa dinâmica não se confirmou no 1T23. O cenário favorável para repasse de preço ajudou os segmentos de RAC e GTF no que diz respeito a precificação. Por outro lado, segue a contínua piora no segmento de seminovos devido ao mix mais atrapalhado comprado durante a pandemia e uma queda constante da FIPE em níveis mais rápidos que o antecipado. Com isso, ainda vemos um aumento relativo na depreciação, mas que por sua vez já começa a apresentar sinais de estabilização.
O resultado do 1T23 da Movida apresentou alguns pontos positivos. Não fossem as recompras de dívida e antecipação do pagamento de algumas obrigações a Movida teria gerado caixa no trimestre. É importante destacar que a companhia conseguiu reduzir sua dívida em R$2,4 bilhões em relação ao trimestre anterior, principalmente após as recompras de bonds, que somaram R$2,2 bilhões em ações de gestão de passivos. Esse movimento também impactou positivamente o resultado financeiro da empresa (estimamos um impacto positivo de aproximadamente R$ 100 milhões).
Do lado negativo, tivemos a diminuição de aproximadamente 2.2 p.p na margem bruta de seminovos, além de uma diminuição no spread entre o ROIC e o custo da dívida da empresa, que passou de 5,9 p.p no 4T22 para 4,9% no 1T23. Além disso, tivemos um aumento mínimo na alavancagem, que atingiu 2,9x devido a uma diminuição no caixa após o pagamento dos veículos comprados no ano de 2022.
Por outro lado, embora o menor Capex para compra de veículos também pudesse sugerir uma maior geração de caixa, houve uma redução de R$1,2 bilhões na conta de fornecedores no trimestre, o que impediu esse resultado. Para manter a alavancagem estável e honrar os pagamentos de investimentos feitos ao longo de 2022, a Movida teve de intensificar seu processo de redução de frota.
Outro destaque positivo foi a melhor na margem EBITDA de seminovos. Com um maior volume de carros vendidos, houve maior diluição de custos com vendas e despesas administrativas.
Em termos de frota total, vemos que a estratégia adotada para o trimestre foi uma redução de cerca de 11 mil veículos. O ticket médio de venda semelhante ao que vimos no 4T22 nos mostra que a companhia segue priorizando a venda dos veículos mais caros adquiridos durante a pandemia, visando normalizar seus níveis de depreciação, além de equalizar sua frota com veículos mais populares.
RAC
No RAC, apesar de inferior ao 4º trimestre, a sazonalidade ainda favorável corroborou para uma manutenção nos níveis de diária. Isso aliado a um aumento de aproximadamente 1,8 p.p na taxa de ocupação fez com que a receita do segmento ainda se mantivesse em níveis altos, mesmo com uma diminuição significativa de aproximadamente 12 mil veículos na frota.
A diária média do trimestre foi de R$ 126, abaixo dos R$ 145 estimados por nós. Mas ressaltamos que essa queda se deu em virtude de uma mudança na forma de reconhecimento de cobrança de multas e avarias. Se considerarmos a variação percentual, vemos que nossa diária estimada ficou direccionalmente em linha com o reportado.
O segmento finalizou o primeiro trimestre de 2023 com 98 mil veículos (-11,9% t/t e +1,9% a/a), enquanto a diária média reportada foi de R$ 126 (-1% t/t e +6,2% a/a). A receita líquida totalizou R$ 701 milhões (-3,5% t/t e +26,9% a/a) enquanto o EBITDA somou R$ 427,4 milhões (+2,6% t/t e +14,5% a/a).
GTF
Já em GTF, destacamos o contínuo aumento da receita futura contratada (backlog) e do ticket médio do trimestre, que por sua vez não só nos mostram uma demanda ainda elevada no segmento de terceirização de frota, como também a capacidade da empresa em reprecificar seus novos contratos.
O segmento finalizou o 1T23 com 115 mil veículos (+2% t/t e +20,2% a/a), enquanto a ticket médio trimestral reportado foi de R$ 6,2 mil (+8,6% t/t e +26,1% a/a). A receita líquida totalizou R$ 539 milhões (+8,8% t/t e +42,1% a/a) enquanto o EBITDA somou R$ 362 milhões (+7,6% t/t e +26,7% a/a).
Seminovos
Sem muitas surpresas, o segmento de seminovos continua sendo o destaque negativo do resultado. O mix de frota mais premium da companhia aliado a uma queda mais acentuada da FIPE segue prejudicando os níveis de depreciação e comprimindo ainda mais as margens do segmento.
Ao todo, a divisão vendeu 19,6 mil veículos a um ticket médio de R$ 75,1 mil. Com isso, foi reportada uma receita líquida de R$ 1,5 bilhões (+4,2% t/t e +50,3% a/a), além de uma margem bruta de 11,4% (-2,2pp t/t e -15,2pp a/a).
Análise Quantitativa
A receita líquida reportada no 1T23 foi de R$ 2,7 bilhões, um aumento de 2,9% em relação ao trimestre passado e 41,9% em relação ao 1T22, ficando 3,2% abaixo de nossas estimativas e em linha com o consenso de mercado. O EBITDA totalizou R$ 875 milhões, subindo 2% t/t e 1,4% a/a, superando nossas expectativas em 5% e ficando em linha com as do mercado. Por fim, o lucro líquido do trimestre nos surpreendeu positivamente, totalizando R$ 21 milhões (+18% t/t e -91,8% a/a). Esperávamos um prejuízo de cerca de R$ 4 milhões por conta de uma maior pressão na linha de despesas financeiras.