Nossa avaliação é negativa para os resultados divulgados pela Movida no 3T22. Embora em termos operacionais a maioria dos dados divulgados tenham vindo em linha com as nossas expectativas e com as do mercado, tivemos uma surpresa negativa do ponto de vista de lucratividade. É importante destacar que o resultado foi penalizado em R$ 179 milhões por efeitos de operações com derivativos e variações cambiais.
Também marcaram negativamente o resultado: i) compressão do ROIC-Spread; ii) despesa financeira elevada devido à alta alavancagem em um patamar de juros elevados e iii) queda expressiva na margem bruta de seminovos devido à necessidade de maior volume de vendas no atacado.
A adição de frota reportada superou nossas expectativas, o que consideramos como sendo o grande ponto positivo do trimestre. Esperávamos que a empresa fosse desacelerar seu crescimento e focar na geração de caixa, mas para nossa surpresa, a empresa optou por seguir crescendo sua frota. Acreditamos que o bom volume de carros que entraram no 2T e no 3T22 servirão para suprir o aumento na demanda de locação nos próximos meses.
A Movida vem adotando a estratégia de trocar ocupação por tarifa. Isso significa que, para a companhia, é mais interessante repassar preço do que manter mais carros locados ao longo do trimestre. A grande aposta está nos períodos sazonalmente mais fortes para locação (1T e 4T), a empresa acredita que conseguirá atingir um nível de tarifa média acima dos R$ 150 diários. Na nossa visão, os 77% de taxa de ocupação reportados podem prejudicar a estratégia de precificação dos próximos trimestres.
Entendemos que ao longo dos últimos dois anos, o perfil dos ativos da Movida mudou, o que necessariamente precisaria se refletir em um novo patamar de tarifas. A grande questão é se o consumidor estará disposto a buscar o perfil de ativo que a Movida tem a oferecer, o que na nossa visão coloca a empresa entre a cruz e a espada.
Além disso, o enfraquecimento da demanda no varejo tem pressionado a margem bruta de seminovos, com isso, um possível movimento de aceleração na venda dos ativos pressionaria ainda mais os resultados da divisão.
RAC
No RAC, tivemos uma taxa de ocupação relativamente menor devido ao trimestre sazonalmente mais fraco. Entretanto, a demanda fraca foi balanceada por tarifas elevadas, beirando os R$ 140. Tivemos uma adição de 4,6 mil veículos, totalizando 104 mil na frota da divisão no final do período, um crescimento de 2,8% em relação ao trimestre passado. O segmento apresentou uma receita de R$ 732 milhões, uma alta de 14,8% em relação ao 2T22 e 65,1% quando comparado ao 3T21.
GTF
O segmento de terceirização de frotas finalizou o 3T22 com uma receita de R$ 473 milhões, +7,3% t/t e +64,7% a/a. A adição de frota totalizou 1,2 mil veículos no 3T22, o que nos deixa com uma frota de 108 mil no GTF.
Destacamos também o maior volume de carros de entrada disponíveis, que, consequentemente levaram a um acréscimo de 0,8% no ticket médio. Assim como no RAC, a divisão também apresentou uma manutenção de ticket médio, esse que finalizou o trimestre em R$ 1.898 (+22% a/a e +1% t/t).
Seminovos
Do lado positivo, tivemos uma maior aceleração na compra de novos veículos, o que permitiu que a empresa acelerasse ainda mais suas vendas de veículos. Porém, do lado negativo, tivemos uma diminuição da margem bruta, por conta da queda de preços na tabela FIPE e do maior volume de vendas no atacado.
Acreditávamos que o principal detrator do resultado seria a divisão de seminovos. Olhando para a margem bruta, esperávamos uma queda de 4,5 bps em relação ao 2T22, chegando a 17%. Contudo, a queda veio ainda mais acentuada, chegando aos 14,7%, representando uma queda de 6,8bps em relação ao trimestre passado.
No trimestre, a receita líquida da divisão totalizou R$ 1,4 bilhões, um aumento de 14,8% na comparação trimestral e 67% quando comparado ao mesmo período do ano passado. Ao todo, foram vendidos 20 mil veículos a um ticket médio de R$ 70,7 mil.
Análise Quantitativa
No consolidado, a Movida terminou o trimestre com 212,7 mil carros em sua frota, um aumento de 2,8% com relação ao trimestre passado. A diária média do RAC segue em patamares relativamente elevados, terminando o 3T22 em R$ 139,2, nos mostrando que ainda existe demanda para o serviço oferecido mesmo com tarifas mais altas.
A receita líquida reportada no 3T22 foi de R$ 2,62 bilhões, um aumento de 13,4% em relação ao trimestre passado e 66,1% em relação ao mesmo período no ano passado, ficando 10,1% acima de nossas estimativas e em linha com o consenso de mercado. O EBITDA totalizou R$ 925 milhões, crescendo 50,8% a/a e 2,2% t/t, ficando em linha com as nossas expectativas e surpreendendo as do mercado em -4,6%. Por fim, o lucro líquido do trimestre caiu 49,8% em relação ao 2T22 e 63,9% quando comparado ao 3T21, somando R$ 93,7 milhões, frustrando nossas estimativas e as do mercado em 46,2% e 54%, respectivamente.