A Movida realizou hoje o seu Investor Day. O evento não trouxe tantas novidades, mas reforçou a nossa visão de que o mercado está exageradamente pessimista em relação à Movida. Embora o cenário esteja desafiador, com perspectiva de depreciação subindo, margem bruta de seminovos caindo e juros pressionando o lucro, seguimos confiantes com a tese de Movida. Na nossa visão, o operacional segue sólido e agora estamos municiados por um valuation muito atrativo, com um desconto muito acima da média histórica.
Estamos mantendo nossa recomendação de COMPRA para Movida, porém dado o cenário de juros mais altos ao longo de 2023, enxergamos uma maior compressão nos lucros, resultando em uma redução do preço alvo de R$ 21,00 para R$ 14,00.
Melhora no mix na compra
A boa notícia é que a oferta de carros de entrada melhorou, observamos que o percentual de carros básicos comprados cresceu do fim do 3T22 até o fim de novembro. Com o enfraquecimento da demanda no varejo e melhora na produção, nossa expectativa é que 2023 seja um bom ano em termos de oferta de carros para as locadoras. Esperamos que a companhia seja mais seletiva em relação ao mix na compra a partir de agora.
Lembramos que o retorno obtido através dos carros de entrada é o mais alto, principalmente devido ao menor custo de manutenção. Agora no 4T22, o estoque de carros mais velhos deve chegar próximo a zero, o que deve fazer a idade média da frota cair rápido, ou seja, voltam a vender os carros mais novos. Na visão da Movida, não vale a pena envelhecer a frota para penetrar no Uber, preferem mantê-la nova e gastar menos com manutenção.
A Movida mencionou que algumas montadoras já sinalizaram um aumento nos preços dos veículos novos no início de 2023, expectativa de uma inflação de aproximadamente 7% nos veículos 0 km. Contudo, o mix deverá ser composto de mais carros de entrada.
Renovação de Frota vs. Alavancagem
Existe muita preocupação, por parte do mercado, em torno do processo de renovação de frota da Companhia devido ao seu nível atual de alavancagem. Na nossa visão, o efeito de queda no preço médio de compra e aumento do preço médio dos carros vendidos possibilita à Movida, crescer e renovar a sua frota sem precisar mexer no seu grau de alavancagem. Olhando para a dinâmica de preços, vemos uma tarifa que segue crescendo e nossa expectativa é de que em 2023 serão vendidos mais carros, algo ente 70 e 80 mil unidades, com o preço médio de venda subindo, isso se concretizando melhora a dinâmica de caixa.
Conseguimos observar, através dos novos dados divulgados, que o número de SUVs na base de ativos ainda é representativo na frota total, o que significa que em 2023, acelerando a compra de carros básicos, a empresa deve voltar ao patamar de 12% de SUVs na base de 2021 vs. 39% hoje (~85 mil carros), ou seja, para voltar para os 12% a empresa poderia vender cerca de 50 mil carros SUVs.
Se consideramos que o spread atual entre o ticket médio de venda e compra (~R$ 5 mil) permanecerá em 2023, abre-se uma oportunidade para a Movida atingir seu guidance de 260 – 340 mil carros até 2025 sem precisar aumentar seu nível de endividamento, ou então, manter o tamanho de sua frota atual, gerando caixa devido ao giro e mudança do perfil de sua base de ativos.
Próximos ao piso do Guidance para 2025
Apesar do cenário macro mais desafiador, a Movida manteve os números do seu guidance, afirmando que o fundamento de sua operação está pautado em cenários mais complexos. Dado a restrição de crédito, além de taxas de juros e inflação altas, a empresa acredita que a demanda pelo seu serviço de RAC deverá crescer nos próximos meses. A ABLA (associação brasileira de locação de automóveis) estima que a demanda para o setor no ano de 2023 seja aproximadamente 23% maior do que a do ano corrente.
Ainda há espaço no mercado de locação?
Outro ponto que cabe ressaltar é a baixa penetração do RAC no Brasil (7%) se comparado a países como Canadá (9,7%) e EUA (12%). Se considerarmos a penetração dos EUA, o Brasil passaria dos atuais 545 mil veículos locados para aproximadamente 934 mil. Atualmente, a Movida possui cerca de 17% do market-share do mercado de RAC.
Já no GTF, a empresa estima uma penetração de aproximadamente 6% em um mercado de 8 milhões de veículos em frota corporativa.
Também ressaltamos algumas informações divulgadas referentes ao segmento de seminovos. A empresa destacou que sua participação no mercado, que passou de 3,5% no fim de 2021, deverá terminar o ano de 2022 em aproximadamente 6,4%. Segundo as estimativas da Movida, o mercado de Seminovos deverá apresentar leve queda no ano, passando de 1,3 milhões em 2021 para 1,2 milhões.