Movida reportou resultados mistos relacionados ao 3T23, confirmando nossas expectativas. As melhorias operacionais continuam aparecendo, porém, mais uma vez sendo ofuscadas pelo alto grau de alavancagem. Apesar de não parecer bom, devido ao prejuízo reportado, a arrumação interna continua!
Esperávamos que a empresa revertesse a tendência de números pequenos em compras de veículos dos últimos trimestres, acelerando as aquisições em preparação para a alta temporada. De fato, isso ocorreu, e a companhia superou em +3,5% essa expectativa, comprando 29,8 mil veículos, um significativo aumento de 149% em relação ao 2T23.
No RAC, a empresa superou as expectativas de receita devido à melhoria na taxa de ocupação e redução de carros improdutivos, além de registrar queda na depreciação por carro e melhoria no mix de frota. A sazonalidade do trimestre auxiliou na manutenção dos preços de diárias, além de impulsionar o volume de diárias.
Em contrapartida, o destaque negativo continua sendo o segmento de seminovos, com os preços dos veículos novos ainda em ascensão, enquanto a FIPE continua sua trajetória de queda. Esse cenário gerou pressão na margem bruta de seminovos, agravado por condições de mercado desafiadoras e vendas de um mix pior de carros. Além disso, destacamos a depreciação crescente no GTF com um ponto negativo.
Assim como no 2T23, as melhoras operacionais são evidentes. Em nossa última atualização, revisitamos o nosso custo da dívida de longo prazo para CDI + 2,5%, nesse trimestre o spred médio reportado de 2,4%. Nas nossas contas, a redução de 0,8p.p ao ano no custo da dívida, deve trazer uma redução de pelo menos R$100 milhões de despesa financeiras.
Mantemos nossa recomendação de COMPRA para Movida, com preço alvo de R$ 21,00
Principais Destaques
Como dissemos, os resultados da Movida apresentam aspectos mistos, com traços positivos e alguns desafios. No segmento de GTF, observamos um crescimento na margem EBITDA, mesmo durante um trimestre marcado por fortes aquisições de veículos, totalizando 17.091 unidades, superando as expectativas de 14.039 em 21,7%. No RAC, apesar da frota e tarifa estarem alinhadas com as nossas projeções, a receita superou as expectativas. Essa surpresa positiva é reflexo principalmente da melhoria contínua na produtividade, impulsionada por uma taxa de ocupação mais alta (72,2% no 3T23 vs 70,7% no 2T23) favorecida pela diminuição na quantidade de carros improdutivos.
Adicionalmente, no RAC, observamos uma redução de R$ 709 no valor de depreciação anualizada por carro, que finalizou o trimestre em R$ 9.513, queda de 6,3% em relação ao trimestre anterior. Essa melhora reflete não só a estratégia de extensão de vida útil do ativos, mas também um melhor cenário de aquisição de veículos. A estratégia de ajuste do mix da frota contribuiu para nova melhora do yield no segmento, menor depreciação por carro e custos de manutenção menores. No longo prazo, a compra adequada ajuda a otimizar as condições de venda de seminovos.
Além disso, observamos a continuidade da gestão de passivos, agora focada na reestruturação de bonds internacionais e redução dos custos de swap. Observamos uma melhora no custo médio ponderado da dívida CDI + 3,2% em 2022 para CDI + 2,4% no 3T23.
Do lado dos desafios, o preço médio de compra de veículos, que está acima do esperado, embora venha apresentando queda desde o 2T23. No GTF, a depreciação segue em ascensão. Como antecipamos na nossa prévia, as montadoras não estão dando desconto, nesse caso, a empresa se beneficiou de termos de pagamento mais favoráveis junto às montadoras, resultando mais prazo e, portanto, em uma melhoria no capital de giro. Outro destaque negativo foi a margem bruta dos seminovos, que apresentou uma queda significativa de 7,6 pontos percentuais em comparação com o trimestre anterior. Essa queda, reflete o ambiente difícil para vendas de carros e uma maior proporção de veículos da “pior safra” sendo vendidos. Outro agravante, foi a intensificação das quedas na tabela FIPE após o programa de desconto do governo. Adicionalmente, a alavancagem está marginalmente maior, com um aumento na dívida bruta e uma piora no resultado financeiro. Contrariando nossas expectativas de benefícios oriundos da gestão de passivos e de um CDI médio mais baixo.
RAC
Conforme mencionamos, o RAC foi impactado positivamente pela sazonalidade. Se compararmos com o trimestre imediatamente anterior, é possível verificar que a companhia apresentou uma queda de aproximadamente 4% em sua frota operacional, mas ainda assim a ocupação subiu quase 3pp, passando de 78,3% no 2T23 para 81,1% no 3T23. Além disso, a tarifa média também apresentou ligeira melhora, aumentando em 1% na comparação trimestral, passando de R$ 123,4 para R$ 124,5.
No entanto, na comparação anual, vemos que a demanda apresentou ligeiro arrefecimento, dado que tivemos uma queda de tarifa de aproximadamente 3%. Essa queda é explicada justamente pela transformação do mix, que saiu de um valor médio de R$ 85 mil para algo próximo a R$ 80 mil no 3T23. A redução da frota no segmento ao longo do ano, ocorre principalmente pelo maior foco da companhia em contratos de longo prazo, focando suas compras no GTF.
Sendo assim, o segmento finalizou o 3T23 com uma receita de R$ 716 milhões (+6,1% a/a e +6% t/t) e um EBITDA de R$ 396 milhões. Apesar da surpresa positiva na receita, e no EBITDA, a margem reportada ficaram em linha com nossas estimativas, finalizando o trimestre em 55,2%.
GTF
Já o segmento de GTF apresentou surpresas positivas no que diz respeito à margem EBITDA, que por sua vez finalizou o trimestre em 74%, pouco mais de 2pp acima de nossas estimativas. Assim como no RAC, a divisão também apresentou efeitos positivos no que diz respeito à sazonalidade, além da boa demanda para o segmento. A mensalidade média reportada no 3º trimestre foi de R$ 2,2 mil, um aumento de 3,8% em relação ao 2T23 e 21% em relação ao 3T22.
Em termos de frota, a companhia continua mostrando seu maior enfoque na divisão de terceirização. No trimestre foram adicionados cerca de 8,3 mil veículos, o que resultou em uma frota de quase 120 mil veículos. No entanto, devido ao maior volume de compras, houve uma queda na taxa de operacionalização do segmento, que caiu 3,5pp em relação ao 2T23. Contudo, esperamos que os carros adquiridos iniciem a ativação e normalizem essa taxa no próximo trimestre.
A receita líquida do segmento totalizou R$ 581 milhões (+28,9% a/a e +4,1% t/t), enquanto seu EBITDA foi de R$ 430 milhões (+30,7% a/a e +4,6% t/t).
Seminovos
Conforme esperávamos, seminovos permanece como o destaque negativo do trimestre. A margem bruta do segmento de seminovos sofreu uma expressiva redução, caindo 7,6pp em relação ao trimestre anterior. Esse declínio substancial pode ser atribuído a um conjunto de fatores desfavoráveis no mercado de vendas de veículos. Primeiramente, houve um aumento na proporção de veículos de mix pior no inventário de vendas, o que geralmente acarreta preços de venda mais baixos.
Além disso, esse cenário já complicado foi agravado pela queda acentuada na tabela FIPE em agosto e setembro. Essa queda foi intensificada em decorrência das políticas de invetivos à indústria automobilística recentes, que incluíram um programa de descontos para novos veículos, impactando negativamente a competitividade e o valor de revenda dos seminovos.
A companhia reportou um volume de 20,5 mil veículos vendidos a um ticket médio de R$ 67,7 mil, o que resultou em uma receita líquida de aproximadamente R$ 1,4 bilhões (-2,9% a/a e +9,9% t/t). A margem bruta, por sua vez, finalizou o 3T23 em 9,1%, em linha com nossas estimativas.
Análise Quantitativa
A receita consolidada do 3T23 totalizou R$ 2,7 bilhões (+5,1% a/a e +7,5% t/t), ficando em linha com nossas estimativas e com as do mercado. O EBITDA somou R$ 867 milhões (-6,1% a/a e -2,5% t/t), também em linha com as expectativas. Por fim, a companhia reportou um prejuízo líquido de R$ 66 milhões, inferior às nossas estimativas de R$ R$ 82 milhões, mas acima do consenso de mercado, que apontava para R$ 32 milhões de prejuízo.