Encerrado o pregão da quarta-feira (14/ago), o Grupo Panvel reportou as cifras referentes ao 2º trimestre de 2024. Foi um resultado pontualmente fraco, não acreditamos que a dinâmica vista no período se perpetue para o 3º trimestre.
A desalavancagem operacional e baixa de ativos não é uma surpresa para nós – assim como também não deve espantar o mercado. Se você nos acompanha aqui, pode ter notado que no início de jun/24 escrevemos um relatório temático chamado “As três varejistas mais expostas à catástrofe climática do Rio Grande do Sul“, onde já circulávamos exatamente as quatro principais dinâmicas consolidadas nesse trimestre: (i) forte redução do faturamento de Atacado; (ii) itens de Higiene impulsionando a categoria HB e elevando a rentabilidade do grupo; (iii) impacto das despesas com vendas, dado a menor diluição no período; e (iv) baixa de ativos.
🎯 A direção é essa! Como o Rio Grande do Sul representa cerca de 67% das vendas do grupo, fizemos um exercício preliminar onde sensibilizamos duas variáveis: dias de lojas fechadas e aumento/redução no fluxo para outras lojas. O nosso cenário-base (aumento de fluxo em 50% nas outras lojas não atingidas e fechamento por 21 dias) sinalizava que as vendas no varejo poderiam subir 12,8% a/a, o qual se mostrou muito próximo do crescimento consolidado pela companhia no período (+11,5% a/a).
Com o 2º trimestre já precificado no mercado é hora de ajustar as velas aos novos ventos para o 2º semestre. Acreditamos que esses tópicos devem ganhar evidência a partir daqui: (i) o redesenho da vertical do Atacado deve beneficiar menos o faturamento e mais a rentabilidade do grupo; (ii) a marca própria pode apresentar alguma ruptura até o 4º trimestre, dado a paralisação do laboratório Lifar; e (iii) o fechamento de estruturas não rentáveis, atingidas pelas enchentes, deve separar o joio do trigo, com a companhia consolidando faturamento de loja acima de R$ 700 mil/mês – acima da média histórica de R$ 630 mil/mês nos últimos 12 meses.
Considerando o impacto pontual no trimestre e entendendo que todo montante não-recorrente já foi reconhecido no período (inc. baixa de ativos), acreditamos que esse 2º semestre deva trazer uma aceleração em receita e normalização de margem. Vale lembrar que a companhia reiterou o guidance de abertura de 60 lojas para 2024 e, portanto, devemos ver alguma aceleração ao longo dos próximos meses (40 lojas a serem abertas).
Apesar de, naturalmente, a abertura de novas lojas trazerem uma certa pressão sobre rentabilidade, acreditamos que o maior patamar de faturamento deve aliviar as pontas para o consolidado da companhia.
Negociando a 14,0x P/E 25E, estamos movendo Panvel para top pick do setor farmacêutico, com recomendação de COMPRA e preço-alvo 12m de R$ 14,50 – o que implica em um potencial upside de 33% em relação ao fechamento do último pregão.
🚨 Apesar dos fundamentos parecerem interessantes, principalmente ao considerarmos o maior potencial de expansão de lojas em 2025, devemos frisar que a liquidez diária (ADTV últimos 10 pregões) é um risco considerável para o papel no curto prazo. Negociando a R$ 320 mil/dia, PNVL3 negocia com um volume bem inferior aos seus pares (R$ 1,2 milhão/dia para PGMN3 e R$ 8,3 milhões/dia para RADL3).
Vendas impactadas pelas chuvas no RS
Na unidade de Varejo, as vendas foram impactadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, tanto via redução de fluxo, quanto pelo fechamento temporário de lojas – a companhia estima uma perda de faturamento de R$ 37m no período.
Ainda assim, a forte performance de vendas em abril (+18,6% a/a) e a gradual retomada em junho (+11,0% a/a ) compensaram o desempenho do mês de maio (+5,4% a/a) – permitindo a entrega de um crescimento de vendas de +11,5% em relação ao 2T23.
A falta de acesso ao centro de distribuição de Eldorado do Sul (RS) impediu o funcionamento da unidade de Atacado por dois meses do trimestre. Em função disso, o faturamento da vertical reduziu em 59,6% a/a – a companhia estima uma perda total de R$ 77m em vendas no período.
No consolidado, a performance do Varejo compensou a queda de faturamento do Atacado. A Panvel reportou uma receita bruta consolidada de R$ 1,2b (+4,9% a/a), em linha com nossas estimativas (+0,4% vs. Est. Genial).
Margem bruta beneficiada por mix de vendas
A margem bruta consolidada foi beneficiada pela redução da participação do Atacado no mix de vendas, mais do que compensando a pressão de um menor reajuste no preço dos medicamentos sobre a margem de Varejo. O lucro bruto totalizou R$ 363m (+5,7% a/a), com uma margem de 29,7% (+24bps a/a).
EBITDA pressionado por efeitos indiretos das enchentes
Em relação às enchentes, a companhia reportou um montante de R$ 15m em despesas extraordinárias – relativas à baixa de ativos e estoques, gastos com colaboradores, doações etc.
Ajustando por estes efeitos, o EBITDA totalizou R$ 49m (-14,1% a/a; +0,4% vs. Est. Genial), com uma margem de 4,0% (-88bps a/a; +0bps vs. Est. Genial). Entendemos que, com perdas de faturamento estimadas em R$ 113m, os efeitos indiretos da enchente (redução da alavancagem operacional) tiveram impacto relevante sobre a rentabilidade – gerando uma pressão sobre o resultado operacional, mesmo quando ajustado por despesas não recorrentes.
Lucro em linha com as projeções
Com vendas reduzidas e um resultado operacional pressionado pelos efeitos das chuvas no RS, a última linha apresentou uma retração de -23% a/a. O lucro líquido ajustado veio em linha com nossas projeções, em R$ 20m (-23,1% a/a; vs. R$ 21m Est. Genial), com uma margem líquida de 1,6% (-60bps a/a).
Tabela 1: Resultado consolidado pela Panvel vs. Expectativa Genial (IAS 17; R$ milhões).