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    Publicado em 28 de Fevereiro às 02:22:39

    GPA (PCAR3) | Resultado 4T22: Cuidado, frágil!

    Após o encerramento do pregão da segunda-feira (27/fev), o Grupo Pão de Açúcar reportou os dados referentes ao 4º trimestre de 2022. Em uma visão sequencial (t/t), o operacional da varejista mostra uma leve recuperação, com uma margem EBITDA ajustada de 7,1% no período. Será que é o suficiente?

    Apesar do tímido (e importante avanço) do GPA Brasil, o desempenho operacional do grupo se consolida abaixo de nossas expectativas (EBITDA aj. -15% C/E), com o Grupo Éxito “patinando” nas margens nesse trimestre, diante do maior nível de inflação nos 3 países de atuação (Colômbia, Uruguai e Argentina) e desvalorização das respectivas moedas ante o real.

    O curto prazo ainda parece desafiador para o grupo. Nem mesmo a forte sazonalidade do 4º trimestre salvou o caixa operacional do GPA, o qual consumiu R$ 216m no período. Como resultado, a alavancagem financeira sobe de 1,8x para 2,4x (pós IFRS 16).

    O spin-off do Éxito promete aliviar essa alavancagem financeira para o grupo, contudo, esperamos ver uma melhora mais significativa do operacional do GPA Brasil, caso contrário ligaremos uma luz vermelha para a qualidade dos resultados da companhia a partir daqui.

    Avaliamos o resultado do 4T22 como estruturalmente frágil. A nossa recomendação para as ações PCAR3 é de MANTER. O Preço-Alvo 2023E está sob revisão.

    GPA Brasil

    Com crescimento impulsionado por uma abertura agressiva de 39 lojas no trimestre, além do efeito das conversões ocorridas ao longo do ano, o GPA Brasil reportou um faturamento bruto de R$ 5,27b em linha com nossas expectativas (+0,7% Est. Genial), crescendo 12,3% a/a e uma receita líquida de R$ 4,88b (+10,9% a/a). Excluindo postos de gasolina, o indicador de vendas em mesmas lojas (SSS) foi de 7,3% a/a (+5,0p.p a/a).

    Neste 4T22, todas as bandeiras apresentaram crescimento, porém, o destaque foi das lojas de proximidade. Impulsionado por um alto fluxo nas lojas, o segmento apresentou um crescimento de 23,5% a/a. O formato apresentou um indicador SSS de 17,3% a/a, uma retração de -2,9 p.p em relação ao número reportado no 4T21 (+20,2% a/a), evidenciando a contribuição das novas inaugurações nos últimos 12M para o crescimento reportado.

    Já em relação aos Postos de Gasolina, observamos uma retração de -28,8% a/a, com um SSS de -28,4% a/a, continuando a tendência observada nos últimos períodos. Em 2023 o segmento deve continuar tendo impacto negativo sobre o SSS do GPA Brasil. Porém, com o retorno do fluxo de clientes, prejudicado no ano passado pelo período de reformas em que as lojas estiveram fechadas, esperamos ver essa dinâmica em uma intensidade menor do que a observada ao longo de 2022.

    O lucro bruto atingiu R$ 1,09b, contraindo -7,5% a/a, implicando em uma margem bruta de 22,3%. Na comparação anual, observamos uma pressão de -4,5p.p. a/a na margem bruta, explicada principalmente por duas dinâmicas:

    (I) Aceleração da inflação, pressionando o custo das mercadorias, o custo de mão de obra e o custo logístico de transporte da companhia;

    (II) Impacto de ações promocionais realizadas na tentativa de competir com preços dos concorrentes, principalmente de Atacarejo.

    A linha de despesas SG&A foi de -R$830m (-1,8% a/a), impactada por uma reestruturação realizada pela companhia visando maior eficiência nas despesas após a transação dos hipermercados. Observamos uma diluição de -2,2p.p na representatividade dessa linha em relação à receita líquida (17,0% vs 19,2% no 4T21), impulsionada também pela performance de vendas, com SSS positivo em todos os formatos: 6,7% (Pão de Açúcar), 4,1% (Mercado Extra/Compre Bem) e 17,3% (Proximidade).

    Entretanto, essa diluição foi neutralizada pelo aumento de custos observado no período, resultando em uma contração de -19,4% a/a do EBITDA aj., reportado em R$297m, vindo em linha com nossas estimativas (+0,68% Est. Genial). A margem se manteve estável em relação ao 3T22, reportada em 6,1%, porém, apresentou uma compressão de -2,3p.p em comparação com o 4T21.

    Grupo Éxito

    O Grupo Éxito apresentou uma receita bruta de R$ 7,8b (-6,8% a/a; -18,1% vs. Est. Genial). O pior desempenho em reais é justificado pela forte depreciação do peso colombiano, que recuou cerca de -22% vs. o BRL no período.

    Em câmbio BRL, o SSS se consolidou em 16,3% (+100 bps a/a) no 4T21. Ao analisarmos o grupo em moeda constante, essa vendas de mesma lojas cresce um pouco mais, a 17,9% a/a, emplacando o sexto trimestre consecutivo de SSS de duplo dígito.

    No desempenho por país, conseguimos ver a operação da Colômbia beneficiada por um non-VAT days­ a mais e uma inclinação positiva da categoria de alimentos, mostrando um crescimento acima da inflação puxado pelo segmento de Cash and Carry. Já na Argentina, as vendas acima da inflação foram explicadas pelo aumento do tráfego nas lojas e um bom momento das galerias comerciais e o negócio de Real Estate.

    O Grupo Éxito reportou um lucro bruto de R$ 1,7b (-11,6% a/a), abaixo de nossas projeções (R$ 2,1B). Tal fato é devido a um aumento no COGS em detrimento de um ajuste nos estoques da companhia. Em termos de despesas, a companhia reportou uma queda de SG&A de -2,3% a/a para -R$ 1,2b. Entretanto, quando colocamos isso como % da receita, observamos uma pressão de 100 bps, aumentando a participação de 16% (vs. 17% Rec. Líquida Est. Genial).

    Somando a dinâmica de fraca alavancagem operacional, junto ao aumento de custos e pressão de despesas, o Grupo Éxito apresentou um forte recuo em seu lucro operacional. A companhia reportou um EBITDA aj. de R$ 599m (-25,3% a/a; -20,5% vs. Est. Genial), com uma margem de 8,6% (-200 bps a/a; -20 bps Est. Genial).

    GPA Consolidado

    Faturamento

    Consolidando o grupo, GPA encerrou o 4T22 com um faturamento bruto de R$ 13,14 bilhões, estável em uma comparação a/a, mas 11% abaixo de nossa estimativa, impactado pela menor receita do Grupo Éxito. A receita líquida do período foi de R$ 11,8b (-0,8% a/a).

    Margem bruta e operacional

    Diante da alta inflação na América Latina, a margem bruta continua sendo o grande desafio para o GPA, principalmente para o GPA Brasil. Em uma visão do grupo, o GPA recua -248 bps a/a em sua margem bruta, a 24,2%, consolidando um lucro bruto de R$ 2,86 b (-10,1% a/a; -11,7% Est. Genial).

    Resultado financeiro: jogando um “bote salva-vidas”

    Diante de uma Selic a 13,75% (1,7x CDI 4T21) e com uma alavancagem financeira de 2,4x (pós-IFRS 16, exc. carteira de recebíveis não antecipados), é natural pensar que as despesas financeiras pressionariam a última linha do resultado do GPA nesse trimestre. A dinâmica não foi diferente. O custo da dívida subiu quase 19%, consolidando uma cifra negativa em R$ 202m no período.

    Com o maior patamar de juros brasileiros e também tendo em mente o seu maior parque de lojas, na visão a/a, os juros de leasing também abocanhou boa parte do lucro, saltando 30% a/a e atingindo um resultado negativo em R$ 109m.

    Contudo, uma dinâmica não recorrente logou um bote salva-vidas para o lucro nesse trimestre (e sim, ele podia ter uma cifra excepcionalmente ainda mais fraco). O GPA reconheceu um montante de R$ 201 dentro da receita financeira nesse 4T22. A linha de “atualização monetária ativa” diz respeito a um ressarcimento de ICMS-ST (sigla para Substituição Tributária do ICMS).

    Esse efeito excepcional fez com que o resultado financeiro líquido encerrasse o período negativo em R$ 72m (-63,1% a/a), bem acima de nossa expectativa (-R$ 387m). Ao excluirmos esse reconhecimento, a cifra seria mais próxima ao resultado estimado, negativo em R$ 258m.

    O grande impacto no lucro

    Como já comentado em nossa newsletter Bom Dia Genial do dia 9/fev (“No Brasil até o passado é incerto”), uma potencial provisão milionária, referente a decisão do julgado sobre CSLL, poderia acometer os resultados do 4T22, contudo, a nossa projeção de resultados para o trimestre não levaria em consideração esses números.

    O GPA reconheceu um montante negativo em R$ 956m nesse último trimestre, impactando fortemente o lucro líquido do período. A cifra quase bilionária reúne contingências trabalhistas, fiscais, tributárias e operacionais. Reunimos esses valores em um gráfico de cascata de forma a normalizar esse lucro ante elementos excepcionais.

    Vale destacar que o gráfico abaixo carrega o efeito de operações relativas a projetos descontinuados.

    Ao analisarmos apenas o lucro líquido referente a operações em continuidade, o GPA reportou um prejuízo líquido de R$ 579m, revertendo o lucro líquido de R$ 435m relativo ao 4T21.

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