Murro em Ponta de Faca
Estamos alterando a nossa recomendação para MANTER. Nossa recomendação está pautada no aumento da percepção do risco político em relação a empresa. Essencialmente, o fluxo de notícias do governo eleito traça uma orientação de negócios que julgamos negativo para tese da empresa. Nada que não já esperávamos no que diz respeito a nova orientação dos negócios da empresa… mas que ainda tinhamos dúvida em relação a intensidade da nova orientação. Ou seja, o quão rapido seria a migração de um ponto ao outro. Em nossa leitura, a alteração da lei das estatais significa a queda do que chamávamos de “linha de defesa” dos interesses dos acionistas minoritários em relação ao que julgamos positivo do ponto de vista da orientação dos negócios da empresa. E por último: não adianta dar murro de em ponta de faca e insistir em um case que corre o risco de passar a não se apropriar do atual ciclo dos preços do petróleo, principalmente tendo opções que julgamos mais interessantes (como PRIO3/RRRP3).
Dentre os pontos relacionados a possivel alteração do rumo estratégico da empresa (pontos estes amplamente divulgados no plano de governo do PT e por diversos membros do partido), citamos: a política de paridade aos preços internacionais da empresa, suspensão do processo de desinvestimentos, alteração de política de dividendos e, finalmente, o fim do foco no segmento de Exploração & Produção em relação ao de outros negócios que a empresa detém um track record catastrófico (investimento em novas refinarias, por exemplo). Ou seja, pontos estes que caso aplicados – e o atual governo está demonstrando disposição máxima nesse quesito – a deterioração dos fundamentos da empresa seria inevitável.
Foi aprovada uma alteração na lei das estatais que a desconfigura em relação a maneira como a lei foi concebida. A alteração fez com que a quarentena de indicados a cargos em estatais em relação com partidos políticos seja de apenas 1 mês versus 3 anos na versão original. Ou seja: o partido de ocasião terá poder de sobra para colocar nomes das suas fileiras em posições executivas que eram consideradas eminentemente técnicas.
Por quê não VENDER? Aos atuais níveis de preço, vemos a empresa negociando a apenas 2x EV/EBITDA 23E e com uma geração de caixa/valor de mercado de aproximadamente 38% (brent 23E US$85 e US$1=R$5,24). Supondo o dividendo mínimo de 25% do lucro esperado para 2023, o rendimento em dividendos seria de 9,0%. Ou seja, é um case que ainda aguenta muito desaforo/erros por parte do controlador. Nos sentiriamos confortáveis em manter uma recomendação mais otimista na empresa, mas vale lembrar que o ciclo que a empresa está exposto deve durar até pelo menos 2026… momento este que as demais petroleiras sob nossa cobertura já vão ter multiplicado a sua produção em múltiplas vezes caso os seus respectivos planos de redesenvolvimento sejam bem sucedidos.