De acordo com nosso rastreador de preços versus Preços de Paridade de Importação (PPI), o preço médio praticado pelas refinarias da Petrobras foi de R$ 3,05/litro para gasolina e R$ 3,68/litro para diesel, sem alterações desde Julho/2024. Conforme nossas estimativas, para que os preços estejam alinhados à paridade internacional, a gasolina e o diesel deveriam custar, no mínimo, R$ 3,19/litro e R$ 4,37/litro, respectivamente. Como podemos perceber, não enxergamos espaços para qualquer corte no preço dos combustíveis. Acreditamos que o reajuste no diesel deveria ser de pelo menos 10-15% em relação aos preços atuais. Vale lembrar que o segmento de RTC (Refino, Transporte e Comercialização) responde historicamente por c. 10-14% do EBITDA da empresa. Sendo assim, esse deságio deve pressionar os resultados da empresa, ainda que o segmento de Exploração & Produção deve mais do que compensar os impactos negativos do segmento RTC devido aos baixos custos de produção e altos preços do brent. Se por um lado os resultados não devem ser tão prejudicados como no passado, por outro, impede a empresa negociar a um patamar de avaliação mais interessante.
Com base nisso, concluímos que, considerando nossas estimativas para o PPI, os preços praticados pelas refinarias da Petrobras apresentam um deságio de -4% na gasolina (-R$ 0,13/litro) e um deságio de -18,8% no diesel (-R$ 0,69/litro) em relação à paridade internacional. Ou seja, os preços praticados no Brasil atualmente bem desalinhados em relação ao mercado externo.
De acordo com a Abicom, o preço da gasolina nas refinarias brasileiras está -23,7% abaixo da referência calculada pela própria associação, refletindo não apenas a evolução do preço do brent e a recente desvalorização do real.
Qual o objetivo deste “rastreador de preços”?
Este documento, publicado todas as segundas-feiras, tem como objetivo acompanhar os preços dos combustíveis vendidos pelas refinarias da Petrobras em comparação com o “preço justo” estimado por nossa metodologia. Como já mencionamos, não pretendemos alcançar exatidão ou precisão absoluta, uma vez que a Petrobras não divulga abertamente os detalhes por trás de sua fórmula de precificação.
Diversas instituições também publicam seus próprios cálculos, frequentemente chegando a conclusões divergentes, como é o caso das estimativas da Abicom e da ANP. Esperamos que este documento funcione como um “termômetro” para a percepção de risco de ingerência política na definição dos preços dos combustíveis comercializados pela Petrobras.
Como calculamos o Preço de Paridade de Importação?
O PPI é o resultado de um cálculo que estima o custo de internalização dos derivados de petróleo no Brasil. Em linhas gerais, ele considera o preço do barril no mercado externo, custos de transporte, taxas portuárias e a flutuação do câmbio.
Esses fatores são variáveis no tempo, e nem todas as informações necessárias estão sempre disponíveis, dificultando um cálculo absolutamente preciso. Desde novembro de 2018, a ANP divulga semanalmente uma referência de formação de preços no país, utilizando dados da S&P Global Platts. A Abicom também publica diariamente o PPI, com base em suas próprias fontes. No entanto, devido à diversidade de variáveis e metodologias, os cálculos dessas instituições frequentemente divergem.
Com isso em mente, criamos nosso próprio rastreador de preços para gasolina e diesel, utilizando a seguinte metodologia:
- Custo de aquisição do barril:
Utilizamos, inicialmente, o preço de referência de comercialização da Costa do Golfo, devido à proximidade geográfica e à relevância dessa região como principal fonte de derivados para as empresas importadoras brasileiras. Com a descontinuidade dessa fonte, passamos a utilizar o preço médio dos Estados Unidos, ajustado para se aproximar do indicador antigo, já que os preços da Costa do Golfo eram mais baixos do que a média nacional. Esses dados são obtidos via Bloomberg. - Ajustes relacionados ao RVO (Renewable Volume Obligations):
Nos Estados Unidos, as refinarias são responsáveis por incluir biocombustíveis no combustível final, como parte da política de redução de emissões de gases de efeito estufa. No entanto, esse custo não é aplicado aos derivados destinados à exportação. Assim, ajustamos o preço do barril para excluir o custo associado ao RVO, com base nas proporções obrigatórias de biocombustíveis definidas pela EPA (Environmental Protection Agency) e nos preços desses combustíveis. - Qualidade do combustível:
A gasolina comercializada na Costa do Golfo possui maior octanagem do que a brasileira. Por isso, aplicamos um desconto ao preço do barril para torná-lo compatível com os padrões nacionais. - Custos logísticos:
Incluímos os custos de transporte marítimo, impostos, taxas portuárias, transporte rodoviário e outros fatores. Devido às dimensões continentais do Brasil, esses custos variam entre regiões, o que cria diferentes PPIs dentro do país. Como esses custos não são públicos, estimamos seu impacto a partir do PPI divulgado pela ANP, retrocalculando os custos logísticos necessários para compor o preço final. - Defasagem temporal:
Consideramos um intervalo de 2 a 3 semanas entre a aquisição do derivado no exterior e sua comercialização no Brasil. Assim, ajustamos os valores de comparação para refletir essa defasagem temporal.
Com essa metodologia, buscamos oferecer uma estimativa confiável do PPI, mesmo diante das limitações impostas pela falta de informações públicas e pela complexidade dos fatores envolvidos.