PORTO SEGURO

    Ações > Seguradoras > PORTO SEGURO > Relatório > Porto (PSSA3): Depois da tempestade vem a calmaria. Conversa com o CEO da Vertical Seguros  

    Publicado em 13 de Junho às 18:04:38

    Porto (PSSA3): Depois da tempestade vem a calmaria. Conversa com o CEO da Vertical Seguros  

    “… Já chegamos no alto da colina (de sinistralidade), vai melhorar daqui para frente, as novas safras já estão vindo muito melhores …”

    Tivemos uma reunião com Marcelo Picanço, CEO da vertical de Seguros, e alguns investidores. Na nossa visão, as sinalizações foram encorajadoras. A sinistralidade com a qual a companhia vem sofrendo deve seguir se normalizando como efeito da reprecificação das apólices.  

    Mesmo com o aumento dos preços, a taxa de renovação segue alta, talvez beneficiada pela elevação do preço dos bens segurados, que ao menos no curto prazo favorece o interesse em manter o seguro. Com isso as receitas de seguro auto devem continuar a crescer robustamente esse ano. No 1T22, prêmios de seguro automóvel cresceu 16,5% a/a. 

    As novas safras de clientes e apólices renovadas possuem uma margem elevada, que deve beneficiar a rentabilidade da companhia com a gradativa normalização da inflação de veículos, que já temos observado através da queda m/m da tabela FIPE. A melhora da sinistralidade, junto a expectativa de resultado financeiro robusto com a alta da Selic, deve refletir em bons resultados no 2S e em 2023. 

    Ao valuation atrativo de 8,5x P/L 2022 reiteramos a recomendação de COMPRAR. Dentre os fatores favoráveis que podemos destacar estão: (i) a expectativa de melhora da sinistralidade; (ii) melhores resultados financeiros com a Selic média saltando de 4,4% em 2021 para 12,8% em 2022; (iii) ambiente competitivo mais favorável, e; (iv) iniciativas de crescimento nas 4 verticais da companhia (seguros, saúde, serviços financeiros e serviços). Apesar de estamos otimistas, os resultados do 2T devem seguir mais pressionados, apresentando uma gradativa melhora em relação ao 1T. 

    Sinistralidade: rumo a normalização 

    O discurso da Porto é de que estamos caminhando para a normalização da sinistralidade, assim como já esperávamos. A reprecificação das apólices deve continuar surtindo efeito na redução da sinistralidade. Após atingir o pico de 69,5% em janeiro, já vimos uma queda na sinistralidade para 67,4% em fevereiro, fechando o trimestre com uma sinistralidade reportada de 65,2% (68,7% excluindo a reversão de provisões realizada no 1T). 

    No 2T a sinistralidade deve continuar em tendência de queda, mas deverá ser marginalmente prejudicada pelo ajuste contábil que a Porto fez no 1T (veja o tópico de mudanças contábeis abaixo). Além disso, em maio houve 5 segundas feiras no mês, que geralmente acumulam os avisos de sinistros do final de semana.   

    Reprecificação: deve impulsionar resultado no 2S e 2023 

    A Porto vem reprecificando as apólices para fazer frente ao aumento do preço de carros e peças. Dentre as marcas, a companhia está sinalizando uma redução mais forte da sinistralidade na marca Porto em comparação com a marca Azul da mesma companhia, por exemplo. Por ter um ticket mais elevado e menor concorrência, a marca Porto tem mais pricing power, ou seja, capacidade de repassar preços sem comprometer a sua posição no mercado. 

    Após meses de elevação no preço de veículos novos e usados, a FIPE de veículos leves caiu 0,8% m/m em junho. No acumulado dos últimos 12 meses, o preço de veículos novos subiu 22%. Apesar de branda, a redução mensal sinaliza o que pode ser o início de uma normalização. A Porto esperava a queda na tabela a partir de agosto. 

    Os impactos da menor inflação de veículos não são imediatos, mas devem contribuir para a rentabilidade da companhia mais a frente, principalmente em 2023. As renovações das apólices da Porto e novas vendas possuem uma margem bem mais elevada para fazer frente a pressão de custos. Portanto, a gradativa melhora da inflação de veículos em conjunto com a melhora da receita e margens das novas safras devem impulsionar a lucratividade.   

    Mudanças contábeis: 2T ainda deve ter impactos 

    A fim de refletir melhor a estrutura operacional à partir de março, a Porto passou a reverter as reservas de provisões constituídas que não se materializaram em sinistros dentro de 90d. Anteriormente o prazo para a reversão era de 150d. Segundo a Porto, a mudança foi feita, pois estavam conseguindo finalizar as solicitações de sinistros antes dos 150d, principalmente em um período inflacionário em que se torna mais atrativo para a Porto solucionar o sinistro o quanto antes evitando o aumento dos custos com o encarecimento de carros e peças ao longo do tempo.  

    No 1T havia um estoque de provisões constituídas entre 90d e 150d, fazendo com que fosse necessário reverter as provisões para se adequar a mudança contábil. A reversão reduziu a sinistralidade em 3,5 p.p no 1T. Mas dado que uma parte dos sinistros relativos as provisões revertidas no 1T se materializará no 2T, ultrapassando os 90 dias, serão constituídas novas provisões para cobrir essas partes excedentes. A constituição de novas provisões, elevará a sinistralidade nos próximos dois meses (abril e maio). Em tese, o 2T será o último trimestre com impactos do ajuste contábil. Ou seja, na realidade, a sinistralidade do 1T22 deveria ser maior que a sinistralidade reportada com esse ajuste e a sinistralidade (sem esse ajuste contábil) do 2T22 deveria ser menor do que o contábil a ser reportado.   

    Crescimento: o mote não é crescimento a qualquer preço 

    A reprecificação que a Porto vem fazendo invariavelmente terá impacto no crescimento. Entretanto, a companhia sinalizou estar mantendo bons patamares de renovação das apólices. Os bons patamares de renovação somados a reprecificação devem gerar robusto crescimento dos prêmios no ano.  

    A companhia entende que a reprecificação também deve gerar uma perda de itens, limitada a um dígito percentual de queda (entre -2% e -5%). Mesmo com queda de itens, a Porto avalia que é mais importante fazer a reprecificação para sustentar a rentabilidade.  

    Seguro por assinatura: ainda tímido, mas com potencial 

    Em seu rebranding (reformulação da marca), a Porto colocou o seguro por assinatura dentro da Azul e permitindo a contratação nas praças que a Porto já atua. Antes o produto estava disponível somente no Rio de Janeiro e Minas Gerais. O seguro por assinatura visa atender parte dos 60% da frota brasileira que ainda não são segurados e capturar market share dos 8% da frota atendidos por APV (associações de proteção veicular), empresas não-seguradoras. O modelo possibilita ao cliente rescindir o contrato a qualquer momento. Além disso, a cobertura é menos completa, permitindo a utilização de peças não originais em reparos, por exemplo.  

    A Porto se mostra cautelosa ao falar do produto, pois sua distribuição e sinistralidade seguem sendo testados pela companhia. O produto ainda é pequeno, com cerca de 10k veículos. Entretanto, vemos potencial na oferta do produto.  

    O seguro por assinatura possibilita à Porto competir com as APVs, que hoje oferecem produtos alternativos ao seguro para uma frota não atendida pelas seguradoras. A cooperativas se tornaram relevantes e já contam com uma frota equivalente a uma Porto Seguro de veículos atendidos (~5,8m). A Porto também está testando novos formatos de distribuição, como a venda via canais digitais. Contudo, a conversão via corretores segue 10x maior do que nos canais digitais.  

    Competição: ambiente deve arrefecer 

    Desde 2020 vimos alguns players mais agressivos no seguro auto, com destaque para a Tokio Marine. De acordo com os dados da Susep, a Tokio Marine cresceu prêmios 49,3% a/a em março, em comparação a 19,8% da Porto. A Tokio adotou estratégias de precificação mais branda, mas com aumento ganho relevante de frota. Uma das estratégias de precificação da Tokio foi firmar contratos com parcelas mais baratas, mas com franquias mais altas. A maior pressão de custos deve gerar um ambiente competitivo distinto, com todas as companhias precisando repassar o aumento de custos para os seus preços.

    Mesmo já tendo reprecificado grande parte das apólices, ainda há seguradoras agressivas em preço segundo a Porto. A companhia acredita que invariavelmente a conta deverá vir para quem está agressivo em preços, mantendo a sinistralidade de concorrentes elevada. Parte do impacto já pode ser observado, dado que a sinistralidade do mercado está em 80,4%, em comparação a 65,2% da Porto.           

    A Porto estruturalmente tem uma sinistralidade mais baixa, beneficiada pela escala e pricing-power. Entretanto, o repasse mais rápido da elevação dos preços deve beneficiar a rentabilidade da Porto mais à frente. 

    Acesse o disclaimer.

    Leitura Dinâmica

    Recomendações

      Vale a pena conferir