No 2T24, a Porto Seguro reportou um lucro líquido recorrente de R$ 584 milhões, refletindo uma redução de -10,3% t/t e de -12,8% a/a. A queda no lucro era esperada devido aos sinistros climáticos na região Sul do país. No entanto, o impacto negativo das enchentes no Sul no segmento Auto foi parcialmente compensado pela sólida dinâmica em outras linhas de negócios e regiões, fazendo com que o lucro superasse nossas expectativas em +11,9% e o consenso de mercado em +8,8%. A rentabilidade (ROE) foi de 18,6%, apresentando uma queda de -2,5 pp t/t e -5,3 pp a/a, mas ainda assim permaneceu em níveis robustos, especialmente considerando o excesso de capital da companhia.
Com o desempenho acima do esperado, o primeiro semestre de 2024 já apresenta um crescimento acumulado de lucro de +23,2%, impulsionado principalmente pelo robusto resultado do 1T24. Apesar de um segundo semestre com comparáveis mais desafiadores, acreditamos que o consenso de mercado deverá ajustar suas projeções de crescimento para 2024. Estamos revisando nossa estimativa de lucro de R$ 2,42 bilhões para R$ 2,5 bilhões, elevando nossa expectativa de crescimento de +4,7% para +8% com base nas novas previsões.
O resultado do trimestre foi negativamente impactado por dois fatores principais: uma perda de R$ 87,2 milhões relacionada ao Rio Grande do Sul e um efeito de rolagem de títulos de renda fixa no montante de R$ 19,4 milhões, representando uma antecipação de perdas neste trimestre que devem reverter em uma dinâmica mais favorável no segundo semestre. Ajustando esses efeitos, o lucro teria sido de R$ 691 milhões, refletindo um crescimento de +2,1% a/a e +6,1% t/t. No segmento Auto, a sinistralidade foi de 59,0%, um aumento de +4,7 pp a/a, mas -2,5 pp melhor do que nossas estimativas. Excluindo o impacto do Rio Grande do Sul, a sinistralidade do Auto teria sido de 54,6%, permanecendo praticamente estável em relação ao trimestre anterior (+0,3 pp).
Do lado positivo, a unidade de saúde e odontologia apresentou um robusto crescimento nos prêmios emitidos, com um aumento de +53% a/a. O crescimento robusto reflete a expansão significativa no número de beneficiários, que alcançou 606 mil vidas no segmento de saúde (+31,3% a/a) e 879 mil vidas no segmento odontológico (+27,5% a/a). Além disso, a sinistralidade se manteve relativamente controlada em 79,4% (-3,2 pp a/a), embora tenha registrado um aumento significativo t/t devido ao crescimento de casos de doenças respiratórias e dengue.
O Porto Bank continuou a apresentar um forte crescimento, com aumento de receitas de +23,5% a/a e lucro de +36,3% a/a. Além disso, houve uma melhora na qualidade de crédito, evidenciada pela redução do índice de inadimplência em -1,1 pp a/a.
Durante a conferência de resultados, a administração ressaltou que os segmentos mais rentáveis continuam a crescer de forma mais acelerada, o que deve impulsionar o ROE da Porto nos próximos trimestres. Além disso, a gestão espera uma dinâmica favorável dos resultados financeiros, com perdas antecipadas já absorvidas neste primeiro semestre. A sinistralidade do Auto deve melhor sem os efeitos negativos das enchentes, e a empresa está conseguindo diversificar suas receitas na vertical de Seguros e no conglomerado como um todo. Isso está ajudando a reduzir a dependência do seguro Auto, mostrando uma evolução positiva na estratégia da companhia. No 2T24, o segmento Auto representou 63% do resultado de subscrição de Seguros, em comparação com 72% no 2T23. Por fim, a companhia reiterou o guidance publicado no 1T24.
Após atualizar nossas estimativas de lucro, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR e ajustamos nosso preço-alvo de R$ 35,00 (para o final de 2024) para R$ 39,20 (para o final de 2025), o que representa um potencial de valorização de +20,6%. Nosso preço-alvo é baseado em um ROE sustentável de 18,5%, um custo de capital (Ke) de 14,0% e uma taxa de crescimento (g) de 8,0%. Na nossa visão, as ações continuam sendo negociadas a múltiplos atrativos: 8,7x P/L para 2024, 7,4x P/L para 2025 e 1,6x P/VP para 2024.
Porto (PSSA3) | Resultado 2T24: Lucro resiliente mesmo com Rio Grande do Sul
Prêmios e Sinistralidade: Saúde com crescimento acima de 50%
Prêmios (Consolidado): Expansão anual de dois dígitos
Os prêmios emitidos totalizaram R$ 7,04 bilhões, com uma expansão de +12,3% a/a e +3,0% t/t. Esse crescimento anual foi impulsionado principalmente pelos segmentos de saúde e odontologia, que avançaram +53,2% a/a, e pelo segmento Patrimonial, que cresceu +12,5% a/a.
Os prêmios ganhos somaram R$ 7,02 bilhões, apresentando um aumento de +3,4% t/t e +17,1% a/a, beneficiados pelo robusto volume de vendas nos últimos trimestres.
Sinistralidade (Consolidado): Impactado pelos efeitos climáticos no Sul
O índice de sinistralidade aumentou para 58,1%, com uma elevação de +2,9 pp t/t e +3,2 pp a/a. Esse aumento foi parcialmente atribuído à catástrofe no Rio Grande do Sul, que resultou em despesas com sinistros de R$ 145,3 milhões durante o trimestre. Segundo nossas estimativas, excluindo esse evento, o índice de sinistralidade normalizado teria sido de 56,0%, implicando uma expansão menor de +0,8 pp t/t e +1,1 pp a/a. A administração acredita que a maior parte desse impacto já foi absorvida no 2T24.
Impacto da Catástrofe do RS: Enchentes causam aumento de +2,1pp na sinistralidade consolidada do trimestre
Vertical Porto Seguro (Auto, Patrimonial e Vida): Auto, o mais afetado
A unidade de Auto apresentou um lucro relativamente mais fraco de R$ 373 milhões no trimestre, refletindo uma redução de -6,5% t/t e -27% a/a, e um ROE de 24,9%, com uma queda de -2 pp t/t e -8,4 pp a/a. O impacto do evento climático no Sul foi estimado em R$ 87 milhões. Excluindo a sinistralidade relacionada à catástrofe, o lucro líquido teria sido de R$ 461 milhões, com um aumento de +15,5% t/t e uma redução de -18,5% a/a, e o ROE teria alcançado 30,7% (+3,8 pp t/t e -9,7 pp a/a).
Do lado positivo, o resultado do 2T24 foi influenciado principalmente pelo aumento dos prêmios ganhos no segmento Patrimonial, que cresceram +17,7% a/a e +4,0% t/t.
O índice combinado da vertical atingiu 90,5%, impactado pela elevação da sinistralidade, que subiu +1 pp t/t e +5,4 pp a/a, alcançando 52,5%.
Principais pontos da Vertical Seguros
Auto:
- Prêmios Emitidos: Expandiram +0,7% a/a, mas retraíram -0,4% t/t. A expansão anual foi impulsionada pelo aumento dos prêmios da Azul (+3,1% a/a). O baixo crescimento dos prêmios foi resultado de um ambiente mais competitivo no 2T24, com concorrentes ajustando seus preços em resposta à queda da Tabela FIPE nas novas apólices e a Porto priorizando a rentabilidade da carteira.
- Sinistralidade: Cresceu +4,65 pp a/a e +2,75 pp t/t, atingindo 58,9%, principalmente devido ao desastre no Rio Grande do Sul. Excluindo o efeito do evento, a sinistralidade do Auto teria sido aproximadamente 54,6%, com um aumento de +0,3 pp a/a e uma redução de -1,6 pp t/t.
Patrimonial:
- Prêmios Emitidos: Cresceram +5,8% t/t e +12,5% a/a. A melhoria anual foi impulsionada pelo seguro Empresarial, que registrou um aumento de +16,7% a/a nos prêmios emitidos, beneficiado pela recuperação da atividade econômica e ajustes na precificação.
- Índice de Sinistralidade: Melhorou, com uma redução de -6,85 pp t/t e -4,52 pp a/a, alcançando 30,9%. Essa melhoria reflete o aprimoramento na subscrição de riscos.
Vida:
- Prêmios Emitidos: Cresceram +7,0% a/a e +11,2% t/t, impulsionados pelo aumento nas vendas da nova parceria com a Porto Saúde, que oferece uma solução combinada de seguro Saúde e Vida para empresas.
- Quantidade de Vidas Seguradas: Aumento robusto de 16,1% a/a.
- Sinistralidade: Ficou em 36,2%, com um aumento de +2,58 pp t/t e +5,41 pp a/a, que apesar da piora, manteve-se em níveis controlados.
Vertical Porto Saúde (Saúde + Odonto): Forte expansão de prêmios continua surpreendendo
A vertical continuou a expandir de forma acelerada no trimestre, alcançando um total de prêmios ganhos (receita) de R$ 1,56 bilhões, crescimento robusto de +58,0% a/a e +8,1% t/t. Esse desempenho foi impulsionado pelo segmento Saúde, que registrou um crescimento de +54,8% a/a e +8,7% t/t, totalizando R$ 1,46 bilhões.
O índice de sinistralidade da unidade de saúde e odonto alcançou 78,6%, registrando um aumento significativo de +9,13 pp t/t, mas uma redução de -3,91 pp a/a. O crescimento trimestral acentuado foi impulsionado pelo aumento de incidências de doenças respiratórias e dengue. No entanto, o índice agora está próximo dos níveis observados no período pré-pandêmico.
O lucro líquido atingiu R$ 72,7 milhões, refletindo uma expressiva expansão de +35,0% a/a, embora tenha apresentado uma retração de -30,9% t/t por conta do aumento de sinistralidade. A rentabilidade permaneceu em níveis atrativos, com um ROE de 22,2%, o que representa um aumento de +2,5 pp a/a, apesar de uma queda de -11 pp t/t.
Vertical Porto Bank: Melhora na qualidade de crédito impulsiona lucro
A vertical Porto Bank apresentou um lucro líquido de R$ 155,6 milhões no 2T24, crescimento de +4,6% t/t e +36,3% a/a, com uma melhora expressiva de rentabilidade (ROAE) para 28,3% (+1,6 pp t/t e +5,6 pp a/a).
A carteira de crédito teve um crescimento moderado, atingindo R$ 17,8 bilhões (+1,2% t/t e +3,7% a/a), impulsionada principalmente pela carteira de cartões de crédito, que alcançou R$ 15,2 bilhões (+7,4% a/a).
O destaque fico com a melhora da qualidade da carteira de crédito. O índice de inadimplência acima de 90 dias ficou em 6,4%, melhora de -0,1pp t/t e -1,1pp a/a, abaixo da média de mercado de 7,4% (+0,4pp t/t e -0,8pp a/a). As novas safras têm apresentado boa performance, reflexo da abordagem cautelosa das políticas de concessão, priorizando o crédito para clientes de baixo risco. Segundo a empresa, as novas safras vêm demonstrando bom desempenho, reflexo das políticas implementadas nos últimos meses. As perdas de crédito (PDD) totalizaram R$ 434,5 milhões no 2T24, com uma queda de -2,5% t/t e um leve aumento de +2,9% a/a. O custo de crédito ficou em 8,2%, apresentando uma melhora de -0,1 pp t/t e -0,7 pp a/a. Por fim, o índice de cobertura atingiu 133%, com uma melhora de +5 pp t/t e +14 pp a/a.
Outros Destaques: Crescimento de Consórcio, Locação e Garantia. Além dos resultados do crédito, o Porto Bank também apresentou crescimento significativo em outras áreas. As receitas de Consórcio atingiram R$ 291 milhões, registrando um aumento expressivo de 39% a/a. As receitas de Soluções Financeiras de Locação e Garantia também cresceram, com um avanço de 19% a/a, refletindo a expansão contínua e a diversificação das operações da unidade.
Vertical Porto Serviço: Margem EBITDA em expansão
A nova vertical, que começou a reportar seus dados no 1T24, apresentou uma receita de R$ 635,9 milhões no 2T24, registrando um aumento de +3,8% t/t. O EBITDA alcançou R$ 125,2 milhões, com um crescimento de +11,3% t/t, com uma margem EBITDA de 19,7%, expandindo +1,3pp t/t. O lucro líquido da unidade foi de R$ 48 milhões, representando um aumento de +7,4% t/t, enquanto a rentabilidade (ROE) se manteve em níveis atrativos, chegando a 22% (+1pp t/t).
A vertical inclui um amplo portfólio que abrange assistências, como residencial, auto, geral e outros, além de serviços, incluindo gás e conveniência. A receita é composta por 76,5% via parceria Porto Seguro; 23,1% via parcerias estratégicas; e 0,4% B2C.
Outros Negócios: Continuam sendo detratores
Com a adoção da vertical Porto Serviços, a companhia direcionou os outros negócios para a linha de “demais negócios e outros”. Esta linha, que inclui negócios como o carro por assinatura, continuou apresentando prejuízo, com um valor negativo (ex-IFRS17) de -R$ 65,6m. O trimestre apresentou uma forte piora em relação ao lucro de R$ 42,7m no 2T23 e em relação ao prejuízo de -R$ 39,7m no 1T24.
Resultado Financeiro: Rentabilidade de apenas 69,3% CDI
No 2T24, o resultado financeiro alcançou R$ 224,7 milhões (excluindo Previdência e rolagem de títulos), refletindo uma rentabilidade de apenas 69,3% do CDI e apresentando uma queda significativa de -28,9% t/t e -31,2% a/a. No consolidado, o resultado financeiro totalizou R$ 144 milhões, com uma redução acentuada de -44,0% t/t e -47,8% a/a. Esse desempenho negativo foi impulsionado por alocações em renda fixa indexada à inflação e pré-fixada (marcadas a mercado), além de investimentos em renda variável e multimercados.
A deterioração também foi exacerbada pela rolagem de carteira e pelo reconhecimento de marcação de títulos na curva. Durante a conferência de resultados, a seguradora admitiu ter antecipado prejuízos em alguns papéis neste primeiro semestre, o que deve contribuir para uma melhoria nos resultados nos próximos trimestres.
Imposto: Beneficiado pelo JCP
A alíquota de imposto ficou em 32,9% no trimestre, beneficiada pelo pagamento de R$ 205m de Juros Sobre o Capital Próprio (JCP) no período.