Efeito preço deve ser retardado
O resultado do 3T21 da Porto veio fraco. O lucro de R$ 206,5m veio 25% aquém das nossas expectativas de R$ 276m e 36% abaixo do consenso de mercado de R$ 324m. O ROE da seguradora despencou de 17% no 2T21 para 9,0% nesse trimestre. Conforme havíamos antecipado na prévia, o resultado fraco decorre da acelerada retomada dos sinistros, que cresceram 36,6% a/a e 20,3% t/t, por conta da inflação de auto-partes causada pela disfunção na cadeia de produção de veículos novos. A surpresa adicional ficou para o fraco desempenho do resultado financeiro, prejudicado pela maior exposição a ações. Apesar do trimestre ruim que deve se estender até o 4T21, acreditamos que o aumento de preço da seguradora iniciada em abril desse ano venha a melhorar as margens da empresa no 1T22. A melhora do preço já pode ser evidenciada nos prêmios emitidos que crescem 15% a/a. Como existe uma defasagem temporal até virarem receita (prêmio ganho cresce apenas 8% a/a) e impactarem a lucratividade, acreditamos que eventualmente essa melhora esteja contratada. Por isso e pelas diversas iniciativas para expandir e diversificar receita, temos uma visão positiva de PSSA3 e reiteramos nossa recomendação de COMPRAR.
Recentes iniciativas incluem: (i) a restruturação em 4 verticais de negócio dando mais autonomia para os respectivos CEOs; (ii) JV com Cosan para expandir o negócio de veículos por assinatura; (iii) fusão do seguro para pets com o Petlove; (iv) lançamento do seguro auto Bllu para segmento de preço mais acessíveis para competir com as cooperativas; (v) aquisição de 75% da Atar, fintech de soluções de Banking as a Service (BaaS); e, (vi) aquisição de 50% da ConectCar, tag e soluções de mobilidade eletrônica. Apesar da nossa visão otimista dessas iniciativas, não podemos esquecer que a empresa chegou a perder dinheiro em várias outras que não vingaram como a Conecta (empresa de MVNO de celular), private equity e clínicas médicas. Apesar de fazer muito sentido, existe um certo risco de execução nessas diversas frentes.
Em linha com a tese de maior crescimento da Porto no longo prazo, já vimos neste 3T21 uma melhor performance em termos de receita e vendas em todas as verticais de negócio. As receitas totais vêm se expandindo 15,4% a/a, com destaque para saúde e negócios financeiros, que avançaram 20% e 28,8%, respectivamente. Do lado de seguros, houve um crescimento de aproximadamente 12%, e mesmo com maior pressão dos sinistros, a Porto vem ganhando market share em seguro auto, sua principal linha de negócio.
Pontos Positivos:
- Crescimento. Em seguros, os prêmios emitidos cresceram 11,9% a/a, com destaque para auto que teve prêmio emitido crescendo 14,8% a/a e um incremento na frota segurada de 7,8% a/a (5,8m vs. 5,4m). As receitas de saúde cresceram 20% a/a com o número de beneficiários ultrapassando 1,1m, aumento de 11,2% a/a. Em serviços financeiros, a carteira de crédito atingiu R$ 12,5b, um avanço de 41,4%, que refletiu em um aumento das receitas de 28,8% nesta linha. Bons resultados reforçam tese de maior crescimento para a empresa.
- Novas parcerias. No trimestre foi adquirida uma participação majoritária da Atar, fintech de soluções de banking-as-aService, e anunciada uma parceria com a Cosan para explorar o negócio de aluguel de veículos. Na nossa visão tais iniciativas podem contribuir para crescimento das verticais de negócio de serviços financeiros e carro fácil, apesar do risco de perda de foco com grande número de projetos tocados simultaneamente.
Pontos Negativos:
- Sinistralidade. Dada a inflação de veículos, a sinistralidade retomou patamares normalizados mais rápido do que esperávamos, podendo manter-se elevada no 4T21. Como consequência a sinistralidade total atingiu 55,3% no 3T21, um crescimento de 8,4 p.p a/a.
- Resultado financeiro. O resultado financeiro caiu 56,2% a/a mesmo com alta da selic, que em tese ajuda receitas financeiras de seguradoras. Resultado foi impactado pela maior exposição em renda variável da Porto ante outros players e pela adesão à transação tributária.
- Não Recorrente. A empresa teve um não recorrente que impactou negativamente o lucro contábil em R$ 146,4m em agosto referente a adesão à uma transação tributária de desconto de uma disputa em relação ao INSS sobre a participação nos lucros de administradores, eliminando um potencial passivo de R$ 400m. Esse impacto levou o lucro contábil para R$ 60m no 3T21 (lucro ajustado recorrente de R$ 206,5m). As linhas impactadas foram de despesas administrativas, em R$ 126m, e resultado financeiro em R$ 91m, ambas antes de impostos.