A Porto Seguro apresentou um lucro líquido recorrente de R$ 296m no 4T21, uma queda de 27,2% a/a e crescimento de 43,4% t/t. O resultado veio 17,2% acima das nossas expectativas e em linha com expectativas do mercado. Contudo, como já esperávamos, na nossa avaliação o desempenho de forma geral não foi forte, tendo em vista que crescimento t/t se deve principalmente a redução da alíquota efetiva de imposto para 2% (28,6% no 4T20 e 39,7% no 3T21). O lucro antes do imposto caiu 47% a/a e 12% t/t. Mas a surpresa positiva veio de uma reversão favorável de IR e CS constituídos sobre as receitas de atualizações de depósitos judiciais tributários no valor líquido de R$ 241m, fazendo com que o lucro reportado contábil saltasse para R$ 532,8m, gerando um crescimento de 31% a/a e 787% t/t. Para 2022, estamos otimistas com a teses de investimento, acreditando em uma recuperação gradual das linhas de seguro (vida e auto) e de uma melhora substancial do resultado financeiro.
O resultado operacional do 4T21 caiu 43,3% a/a e 39,7% t/t com o aumento de 7,75 pp a/a e de 1,95 pp t/t do índice de sinistralidade, puxado principalmente pela forte inflação de carros e autopeças. O resultado financeiro também foi detrator do resultado, tendo caído 54% a/a. No entanto, na comparação t/t o resultado financeiro já cresceu 158,5% t/t.
A Porto tem uma exposição a renda variável. No 4T21, o índice Ibovespa caiu 5,5%, impactando negativamente o resultado financeiro no comparativo anual. A base fraca de comparação do 3T21 contribuiu para o crescimento t/t, já que o 3T21 também foi impactado pelo desempenho fraco de renda variável.
Mesmo com resultado fraco no trimestre seguimos otimistas com Porto. A expectativa por um resultado fraco do 4T21, parcialmente reportada pela Susep (órgão regulador) fez com que a ação ficasse descontada. Dentre as razões para estarmos otimistas com a performance da ação estão: (i) melhores receitas financeiras com elevação substancial da Selic média (11,23% em 2022e vs. 4,29% em 2021); (ii) reprecificação da carteira, que deverá reduzir a sinistralidade em 2022; (iii) crescimento de receitas, tanto em seguro auto, como em outras linhas de negócios. Os fatores elencados contribuem para a nossa expectativa de crescimento de lucro para 2022 e 2023, o que historicamente contribui com a valorização da ação. Dado cenário positivo para 2022, ao valuation de 8,2 x P/L 22, reiteramos a recomendação de COMPRAR para Porto, como Escolha Genial do setor de seguros.
Crescimento
As receitas da Porto cresceram 14,2% a/a e 7,8% t/t. O crescimento foi impulsionado pelos desempenhos positivos em todas as verticais.
Vertical Seguros (ex saúde)
Em seguros os prêmios emitidos cresceram 9,3% a/a e 7,2% t/t. O índice combinado piorou ao longo do ano, terminando em 96% no 4T21, 6,2pp acima do 4T20. A deterioração veio em grande parte por uma piora no índice de sinistralidade que saltou de 45,2% no 4T20 para 54,5% no 4T21, impactado principalmente pelo aumento da sinistralidade do segmento auto, em razão da inflação de carros e autopeças.
O segmento auto apresentou um crescimento de 9,5% a/a e 8,6% t/t nos prêmios emitidos, continuando com o bom desempenho comercial que observamos ao longo do ano. Nos últimos 12 meses a frota segurada cresceu 5,7%, atingindo 5,8m de veículos. A sinistralidade piorou substancialmente batendo 61,6% (48,1% no 4T20), por conta da inflação acima mencionada e volta da mobilidade. Esperamos uma melhora gradual da sinistralidade ao longo de 2022, já que a empresa começou a ajustar preços desde maio de 2021.
Em seguro patrimonial, o avanço nos prêmios emitidos foi de 12,7% a/a e 9,7% t/t com incremento de 5,2% na quantidade de itens segurados. O desempenho foi puxado pelos seguros empresarial e transporte, cujos prêmios emitidos cresceram 24,6% e 18,2% a/a, respectivamente. O índice de sinistralidade continua saudável em 32,6% no 4T21, 4,8 pp menor a/a.
O seguro de vida teve crescimento de 12,8% a/a e queda de 5,4% t/t nos prêmios emitidos com crescimento de 4,7% a/a do número de segurados. O destaque foi a normalização do índice de sinistralidade para 31% após o pico de 75,4% no 2T21 decorrente do impacto da segunda onda do Covid-19.
Vertical Seguro Saúde
Um dos destaques do trimestre em termos de receita foi o acelerado crescimento de saúde. Os prêmios ganhos cresceram 29,4% a/a e 12,7% t/t. O número de beneficiários em saúde cresceu 28,8% a/a e 10,2% t/t atingindo 349k pessoas. Outro destaque foi a queda da sinistralidade para níveis pré-Covid em 78,1% no 4T21, queda de 8 pp a/a, devido à queda de internações de Covid e reajustes de preços.
A Porto segmentou sua vertical de saúde dos demais seguros, estabelecendo um CEO somente para definir e executar uma estratégia de crescimento para esta vertical. O objetivo era dar mais foco a outras linhas de negócios. A estratégia se repetiu com as demais verticais da empresa: seguros, saúde, serviços, financeiro. O forte avanço em saúde pode ser consequência da nova estratégia.
Vertical Negócios Financeiros
A vertical teve um crescimento das receitas de 25,2% a/a e 6,65% t/t. O desempenho se deve ao aumento do número de contratos de 14% a/a com destaque para o avanço do número de cartões de crédito, cuja quantidade emitida no ano cresceu 31% a/a (727k vs. 555k em 2020). A unidade terminou 2021 com um lucro de R$ 431m e ROE de 30,9%.
A carteira de crédito da Porto atingiu 13,3b (+32,9% a/a), dos quais R$ 10,7b referem-se a cartão de crédito. Do lado negativo, a Porto consumiu cobertura de sua carteira de crédito no trimestre. O índice de cobertura (90d) saiu de 140% no 3T21 para 126% nesse trimestre. Ademais o índice de inadimplência aumentou de 4,4% no 3T21 para 5,3% nesse 4T21.
Vertical de Serviços
Apresar de menos representativa em valores absolutos, em serviços o avanço das receitas foi de impressionantes 42% a/a e 3,6% t/t. No Carro Fácil a Porto atingiu 49,9k contratos de carro por assinatura (+69,9% a/a) com crescimento das receitas de 91,5% a/a e 20,1% t/t. Mesmo pouco relevante ante o total a vertical de serviços já é rentável desde 2020, tendo tido crescimento de lucro de 3x a/a.