Nessa semana, as empresas de varejo farmacêutico começam a reportar seus resultados do 4º trimestre de 2022. As farmácias são fundamentadas por sua resiliência frente outros segmentos do varejo, diante de sua dinâmica menos elástica. Ou seja, que os itens sempre estão em uma das últimas posições a serem descartados da cesta de consumo das famílias.
Considerando um cenário macroeconômico desafiador, com escalada de inflação, mudança de governo, alta na taxa de juros e ainda com alguns eventos extraordinários no ano, como a Copa do Mundo e um fim de ano mais frio, o setor seguiu performando bem.
A dinâmica de vendas do trimestre, no geral, foi positiva, com destaques para o mês de outubro e novembro, que tiveram boa performance de vendas nas três empresas. Já dezembro foi impactado de duas formas, sendo a primeira quinzena pela Copa do Mundo, que trouxe consigo diversos jogos durante a semana (incluindo da seleção brasileira), gerando um menor fluxo e queda no apetite de consumo dos produtos farmacêuticos. Enquanto a segunda, nos últimos quinze dias do ano, observamos uma forte base comparativa em 2021, mediante a escalada da Ômicron, provocando maior demanda por produtos do “kit covid”, impulsionando as vendas – algo que não aconteceu nesse trimestre.
De modo que a Covid-19 perdeu ímpeto após janeiro/22 em termos de propagação e mortalidade, esperamos que haja algumas ligeiras mudanças no mix de vendas das companhias. Acreditamos que esse espaço será tomado por duas categorias principais: Higiene & Beleza/Perfumaria e Genéricos.
Pudemos perceber a retomada da categoria de Higiene & Beleza/Perfumaria com a volta do convívio social, onde as pessoas retornaram ao trabalho presencial (ao menos em alguns dias na semana). No outro lado, a demanda por genéricos vem ganhando espaço vs. medicamentos de referência e similares.
Observamos isso quando olhamos para a Pague Menos, onde a companhia ainda é undershare na categoria e tem dedicado esforços tanto da área comercial como do promocional para aumentar participação dentro do mix. O foco das expansões tem sido direcionado ao novo modelo de loja, a Pague Menos Discount, que segue uma proposta mais focada em preços, por consequência, em medicamentos genéricos.
Acreditamos que as expansões de receita bruta ano contra ano virão, principalmente, de dois fatores:
I) Expansão do parque de lojas;
II) Reajuste do preço de medicamento em um contexto de inflação alta (definido pela CMED).
Dentro do segundo tópico, já temos dados suficientes para estimar a CMED 2023, que deve trazer um reajuste de ~6%, cerca de 5 p.p. abaixo do CMED 2022, de 10,89%. O indicador é impactado por um conjunto de fatores, como inflação, câmbio, custo de energia elétrica e outros fatores externos, sinalizando que, para 2023, as companhias irão apresentar esse diferencial como pressão no crescimento de top line.
O que esperar da RD (Raia Drogasil) no 4T22?
A Raia Drogasil, companhia nacional líder do setor, divulgará seu resultado após o fechamento do mercado dessa terça-feira, dia 7 de março.
Projetamos uma receita bruta de R$ 8,3b (+20,6% a/a). A expansão, como comentamos acima, vem de novas aberturas, que incrementaram mais 260 lojas ao portfólio vs. 2021, fazendo a companhia bater o guidance robusto de expansão orgânica. Esse crescimento trouxe para a RD mais 32,2 mil m² em área de venda, originando um Same Store Sales de 15%.
O bom desempenho de vendas foi impactado, principalmente, pelo desempenho das lojas maduras, que corresponde a cerca de 80% do parque de lojas, crescerem acima do ritmo de inflação.
Em mix, não devemos ter grandes novidades, com a participação bem equilibrada entre os nichos. Como dito, a categoria de Perfumaria apresentou um bom desempenho. O fato curioso do Brasil ter experimentado um final de ano mais frio, esperamos que a categoria de OTC traga um ligeiro avanço de participação a/a.
Estimamos um lucro bruto de R$ 2,3b (+19% a/a) e uma margem de 28%, neutro a/a, seguindo em linha com o histórico da companhia (~28%).
Podemos considerar também que o digital, onde há um ambiente mais promocional, acabou não fazendo pressão na rentabilidade da RD, dado que esperamos que a penetração de ~12% tenha se mantido. O canal digital segue sendo um dos pilares de crescimento de top line, tanto que em outubro, a rede realizou uma migração de sistemas dentro do e-commerce da Drogasil (da Raia já havia sido feito), impactando, pontualmente, a dinâmica do digital no trimestre.
Dentro de despesas operacionais, não esperamos nenhuma mudança relevante de participação na receita vs. 3T22. Em despesas gerais e administrativas, esperamos algo próximo de R$ 297m, correspondendo por 3,6% da receita, enquanto em vendas projetamos R$ 1,2b, sendo 14,8% do faturamento bruto. Ambas as despesas podem ter surpresas positivas mediante a alavancagem operacional a/a, onde 2021 o cenário inflacionário estava causando maior pressão.
No EBITDA aj, projetamos R$ 830mm (+20,3% a/a) e uma margem operacional de 10,1% (+30 bps a/).
Na última linha do resultado, esperamos um lucro líquido de R$ 245m (+27,0% a/a), com margem líquida de 3,0% (+20 bps a/a). O resultado sofreu o impacto da alta a/a da taxa de juros, pressionando o resultado financeiro.
O que esperar de Pague Menos no 4T22?
A Pague Menos, companhia que tem grande atuação nas regiões Norte/Nordeste do país, divulgará seu resultado nessa segunda-feira, após o fechamento de mercado, no dia 06 de março.
No 3T22 já conseguimos notar, ainda que tenham tido ~2 meses de vendas, o início da operação da Extrafarma dentro do portfólio da PGMN3. Nesse trimestre, já teremos os 3 meses completos, porém ainda muito pautado na integração e na captura de sinergias. Os grandes efeitos da aquisição, no entanto, devem ser percebidos ao longo de 2023 e 2024.
No consolidado, esperamos uma receita bruta de R$ 2,5b (+22,5% a/a), com a maior parte do crescimento vindo de lojas novas (orgânicas + aquisição) dos últimos 12 meses. Estimamos um SSS de 12% a/a.
O aumento de faturamento também se deu pela expansão do parque de lojas, abrindo no ano cerca de 118 novas unidades, levemente abaixo do guidance de 120 lojas (as duas remanescentes foram abertas em janeiro/23). Essa expansão incrementou 12,6 mil m² de área de vendas (+6,2% a/a) ao parque de lojas.
A dinâmica de mix da Pague Menos deve ser influenciada pelas novas aberturas, conforme dito na introdução. A companhia tem se proposto abrir mais lojas no modelo Discount focado nas regiões do Norte/Nordeste, em cidades um pouco menores, com intuito de entrar/adensar essas praças com um modelo que exige um capex menor, dado o atual custo do dinheiro.
O modelo Discount é focado em preço, sendo grande parte da loja destinada a medicamentos genéricos. O efeito disso será repercutido na participação da categoria de genéricos dentro do mix, impactando positivamente a margem, dado a rentabilidade de genéricos.
O que devemos notar também no mix é o comportamento da categoria de marcas próprias. O efeito da Ômicron no 4T21, fez com que o “kit covid” desse folego para máscaras, álcool em gel, etc. representasse cerca de ~4% das vendas no período. Agora o foco de marcas próprias, tem sido direcionado para produtos como poli-vitamínicos, mundo infantil e Higiene & Beleza.
Devemos ficar de olho no índice de ruptura reportado nesse último trimestre. A companhia que vinha sofrendo com a falta de abastecimento da indústria global mediante a política de covid zero na China, fez com que pedidos colocados pela Pague Menos não fossem atendidos. O contexto de aquisição mais robusta de estoque provém, tanto para evitar ruptura, como para o alto nível de volumes necessitados para calibrar os estoques da Extrafarma.
O digital deve ter um ligeiro ganho ante aos 11% reportados no 3T22.
Estimamos um lucro bruto de R$ 760m (+23,1% a/a) e uma margem de 29,3% (-40 bps a/a). Pague Menos Stand Alone já atingiu um patamar bom de margem bruta, devemos observar agora em 2023 os ganhos vindos da operação da Extrafarma.
Na linha de despesas operacionais, a companhia deve reportar R$ 552 (+18,6% a/a). O crescimento do parque de lojas é o grande responsável pelo aumento ano contra ano, porém, devemos perceber a diluição de despesas provocadas pelo programa de eficiência de despesas instaurado pela Pague Menos surtindo efeito, como a redução do número de funcionário/loja. Há de se considerar alavancagem operacional provocada pela dinâmica inflacionária positiva, onde a inflação de top line é superior à inflação de despesas, trazendo um efeito net positivo.
Colhendo o fruto da diluição de despesas, a Pague Menos deve reportar um EBITDA consolidado de R$ 199m (+31,4% a/a) e uma margem de 7,8% (+50 bps a/a). A Extrafarma ainda provocará pressão na rentabilidade operacional por conta de seu EBITDA negativo, contudo, esperamos um breakeven da operação aconteça ao longo do primeiro semestre de 2023.
Por fim, devemos ter um impacto positivo no lucro líquido por conta do pagamento de JCP anunciando. Em contrapartida, também temos o efeito da escalada da taxa de juros incorrendo sobre as despesas financeiras. Dito isso, projetamos um lucro líquido de R$ 28m (+52,4% a/a) e uma margem de 1,1% (+20 bps a/a).
O que esperar da Panvel no 4T22?
A Panvel, companhia com forte presença na região Sul do país, reportará seus resultados em uma quinta-feira, após o fechamento do mercado, no dia 23 de março.
Esperamos que a Panvel reporte uma receita bruta consolidada de R$ 1,2b (+21,7% a/a), registrando o terceiro período acima de R$ 1b. A expansão orgânica é o principal impulsionador de receita na ótica anual. A companhia entregou o guidance estipulado de 60 aberturas no ano e já sinalizaram que para 2023, o mesmo se mantém. O aumento no parque de lojas trouxe 11,1 mil m² de área de vendas, mostrando um Same Store Sales de 12%.
Dentro das categorias do mix, como falado na introdução, destaques foram para HB e para genéricos. Dentro de Higiene & Beleza, o digital trouxe uma participação relevante para incremento de venda, sendo a Panvel a líder em participação de vendas digitais (~16%). Hoje, cerca de 70% das vendas, são direcionadas a categoria HB, que possuem melhores margens. Já no lado dos genéricos, o cenário macro impactando em uma maior seletividade nos bolsos das famílias fez com que ganhassem maior tração.
Projetamos um lucro bruto de R$ 314m (+26,6% a/a) e uma margem de 28,8% (+40 bps a/a). O ganho de margem vem da maior participação das categorias acima, que possuem uma melhor rentabilidade e devem mostrar um crescimento de double digit (~30%), dentro do mix de produtos.
Para o EBITDA, estimamos uma cifra de R$ 89, com uma margem de 7,6%. A pressão na margem no t/t se dá pelo maior nível de despesas com vendas que a companhia deverá reportar.
As despesas financeiras junto com a alta da Selic irão impactar diretamente no lucro líquido reportado, onde esperamos um resultado líquido de R$ 39m (+66,1% a/a) e uma margem de 3,3% (+90 bps a/a).