Foi um trimestre difícil. A Raia Drogasil, assim como os outros players do varejo farmacêutico, teve que lidar com defasagem inflacionária que acometeu o setor nesse período. Vale lembrar que essa é uma defasagem temporal, onde esperamos um alívio a partir desse 2º trimestre com o reajuste dos medicamentos autorizado pela Cmed.
Sazonalmente, é um trimestre desafiador, com maior consumo de capital de giro, e menor geração de caixa. Em linhas gerais, o crescimento de receita veio dentro do esperado. A maior divergência ficou para a margem EBITDA, impactada por gastos mais elevados do que o estimado pelo nosso modelo.
Apesar de um trimestre turvo, estamos confortáveis em manter a RADL3 como top pick do varejo farmacêutico. Em teleconferência, a Raia deixou uma mensagem claro: “não seremos reféns de efeitos da margem de curto prazo. O foco está na criação de valor no longo prazo“. Esse é o espírito!
Vai crescer até quando?
Sem dúvidas, este trimestre consolida uma nota etapa de crescimento da Raia Drogasil, e este é crescimento completamente diferente do que já aconteceu no passado.
A Raia Drogasil nunca havia entrado em tantas cidades em tão pouco tempo. Em nossa visão, existe uma clara mudança de eixo acontecendo aqui, e você precisa estar atento a isso. A varejista estendeu sua presença nacional para 501 cidades, isso significa que ela adentrou a 83 novos municípios em relação ao 1º trimestre de 2021.
Foram 83 novas lojas, divididas entre cidades interioranas e capitais, entre formato popular e híbrido. Líder do setor, a Raia vem empilhando escala e mostrando que opera confortavelmente em cidades menores e em mercados populares.
Precisamos falar também sobre a meta agressiva de crescimento para 2022. Ao todo, é esperada a abertura de 260 lojas neste ano. Olhando para um número tão alto, é normal que o primeiro pensamento seja: “como a Raia pretende crescer tanto em um cenário onde todos os outros avançam com certa cautela sobre o cenário econômico?“.
Nesta semana, vimos o player concorrente, Pague Menos (PGMN3), aumentar sua projeção de capex médio por loja para R$ 1,35 m, em função do alto custos de materiais de construção. Vale lembrar que a companhia tem uma meta de abertura de 120 unidades.
Como a Raia consegue conforto em abrir mais que o dobro em 2021? A resposta para essa reflexão está na “escala”. E é exatamente por isso que a RADL3 continua como nosso “top pick” do varejo farmacêutico para 2022.
Em um business de margens apertadas, a escala é fundamental para dar saúde financeira aos negócios. Está claro: se loja do concorrente A custa de investimento R$ 1,35 m e te retorna R$ 603 mil por mês, enquanto a loja do concorrente B vende R$ 900 mil ao mês e traz uma TIR (Taxa Interna de Retorno) de 24%, líquida de inflação, sem pensar duas vezes, escolhemos o player B.
Retorno, escala e consistência. Sabemos que as despesas G&A serão pressionadas no curto prazo, mas estamos otimistas com a criação de valor no longo prazo da Raia Drogasil.
Receita bruta
A primeira linha do balanço da Raia Drogasil veio exatamente conforme o esperado. Em nosso modelo, projetávamos um crescimento de 16,3% em relação ao 1T21, atingindo R$ 6,9 b de faturamento. Nessa terça-feira, após o fechamento do pregão, a Raia reportou uma alta de 16,6% em seu “top line”, encerrando o período com uma receita bruta consolidada de R$ 6,97 b.
Indo um pouco mais a fundo, “desmontamos” a receita bruta em seus dois grandes faturamentos: venda de medicamentos e serviços prestados.
Observe o forte crescimento de sua linha de serviços, responsável pelo faturamento de R$ 25 m nesse tri, alta de 52% ano a ano. Apesar de ainda ser uma linha ainda pouco representativa (olhando como um todo), ela carrega um importante métrica para qual a Raia Drogasil está olhando: ser um hub de saúde integral. A maior varejista farmacêutica do Brasil viu o número de atendimentos aumentar 17% a/a, atingindo quase 77 milhões no período.
Podemos ser um pouco mais detalhistas? E se abríssemos a receita bruta de venda da mercadoria pelos seus respectivos segmentos de medicamentos? Bom, talvez esse insight possa nos oferecer uma visão mais clara da dinâmica do trimestre, dá só uma olhada:
Sem dúvidas, medicamentos de marcas segue sendo o “camisa 10” do grupo, adicionando 1,1 pp no mix de vendas na comparação anual e espremendo a participação dos outros grupos. Quem mais perdeu participação nesse trimestre foram os medicamentos OTC (aqueles isentos de prescrição). Se você lembrar que os testes de Covid-19 estão inclusos nessa categoria fica mais fácil raciocinar que a perda de 0,5 pp no mix de vendas aconteceu graças a sua elevada base de comparação, o 1º trimestre de 2021.
Atendendo próximo a sua casa e em seu sofá. A Raia Drogasil conseguiu crescer sua penetração digital para 10% nesse trimestre, atingindo R% 656 m de receita bruta no trimestre. A companhia tem conseguido aumentar a sua eficiência de digitalização, o que é positivo principalmente para a futura diluição das despesas com vendas.
Como ficaram as margens?
Margem Bruta
A margem bruta travou um embate nesse trimestre. De um lado, tivemos a linha de “devoluções e promoções” subindo 97% ano a ano e pressionando negativamente a margem, do outro vimos o Ajuste a Valor Presente (AVP) – resultante de uma taxa de juros mais altas – beneficiar a margem bruta em 0,2 pp.
Margem EBITDA
A margem EBITDA, definitivamente, foi uma das mais afetadas no balanço desse trimestre, fruto de maiores pressões das linhas de despesas operacionais. Esperamos que, a partir do 2º trimestre, esse efeito seja atenuado pelo reajuste dos preços de medicamentos, autorizado em 10,9% para 2022.
De cara, a grande preocupação do mercado se concentrou na linha de despesas Gerais e Administrativas (G&A), que atingiu 3,5% da receita bruta da Raia. Esperamos que essa pressão se mantenha para 2022, pois ela é a responsável por suportar o crescimento da plataforma de saúde e marketplace da companhia.
Com forte impacto de despesas acima do que estimávamos, a margem EBITDA ficou em 5,6% nesse trimestre – bem abaixo do estimado de 8,6%.
Margem Líquida
Fruto de maiores despesas financeiras no período, a margem líquida veio em linha do esperado, em 2,1%, nesse trimestre – uma contração de 0,9 pp em comparação ao 1T21.