Confirmando nossa expectativa, a Randoncorp divulgou resultados negativos referentes ao 3T23. Os números também vieram em linha com as expectativas do consenso de mercado. Tivemos duas divisões que contribuíram negativamente para o resultado, o que por sua vez provocou quedas das margens consolidadas, apesar do bom nível de receita. Essa contração, foi puxada por uma rentabilidade menor na divisão de implementos (Montadora) que acabou renunciando a preço em troca de volume.
Por mais um trimestre, os volumes na divisão de autopeças para montadoras foram fracos, algo que já vinha ocorrendo por conta da queda nos níveis de produção de caminhões em 2023. Outro agravante, foi a queda de lucro tanto na comparação trimestral, quanto na comparação anual.
Do lado positivo, Frasle se destacou com margens robustas e um EBITDA que acima das nossas estimativas. O volume de vendas de implementos no mercado local também foi positivo, impulsionado pela retomada de no market-share.
A estratégia de diversificar o modelo de negócios entre segmentos segue sendo crucial para a Randon, ajudando a empresa a manter-se resiliente em momentos desafiadores. Mesmo após uma valorização de 47% no acumulado do ano, ainda achamos barata em termos relativos. Antecipamos que, mesmo se houver uma desaceleração nos mercados de implementos e peças de reposição em 2024, a empresa poderá se beneficiar da captura de sinergias das aquisições, da retomada da produção de caminhões e das novas parcerias comerciais anunciadas.
Atualmente, RAPT4 é negociada a 4x EBITDA ou 6,7x lucro, muito abaixo da média histórica. Com isso, mantemos nossa recomendação de COMPRA com um preço alvo de R$ 15,00.
Montadora: garantindo volume, mas abrindo mão de margem
A montadora apresentou um resultado misto, com bons volumes de vendas, mas com uma significativa redução nas margens. O crescimento no Brasil foi notável, resultando em ganho de market share, que passou de 27% no 2T23 para 32% no 3T23, indicando uma estratégia de sacrificar preço por volume.
Contratos de grande volume foram fechados e a Companhia optou por ceder em preço para assegurar a carteira de pedidos, o que impactou negativamente a margem. O segmento agro, forte na vertical, parece estar redirecionando recursos para a compra de implementos ao invés de caminhões devido ao novo patamar de preços. Vemos um reflexo positivo, refletido no fato de que o agronegócio representou 64% da receita da vertical, com aumento de 7pp frente a trimestre anterior.
Do lado de internacionalização, a Hercules teve volumes mais fracos, com redução nas receitas devido à desaceleração da demanda nos EUA. Essa desaceleração também prejudicou as margens devido à menor diluição de custos fixos. Adicionalmente, a implementação de um imposto de importação pelo governo argentino impactou negativamente a Randon Argentina, influenciando as margens.
O segmento apresentou receita líquida de R$ 1,25 bilhões (-1,4% a/a e +11,3% t/t) e um EBITDA de 56 milhões (-36,7% a/a e -43,6% t/t)
Autopeças: no fluxo ruim do mercado de caminhões no Brasil
A dinâmica da divisão de autopeças foi bastante parecida com o que já vinhamos observando nos últimos trimestres, sendo novamente o destaque negativo dos resultados. A implementação do Proconve P8 e a entrada da motorização Euro 6 no ano de 2023 segue afetando drasticamente a produção de caminhões no cenário doméstico. O efeito de pre-buy em 2022 criou uma base de comparação alta para 2023, e a desaceleração das vendas de caminhões produzidos neste ano agravou ainda mais a situação.
Dentro desse contexto desafiador, a divisão reportou aumento marginal de receita na comparação trimestral, além de um pequeno ganho de margem – que por sua vez pode ser explicada por conta da manutenção dos preços de venda em um momento de queda de matéria-prima. Outro fator que contribui positivamente é uma ligeira melhora nos volumes produzido, que gera uma maior diluição de custos fixos.
Com isso, a divisão apresentou receita líquida de R$ 847 milhões (-24,3% a/a e +3,7% t/t) e um EBITDA de R$ 139 milhões (-27,2% a/a e +6,3% t/t).
Sinais de melhora
Já observamos uma melhora gradual nos números de fabricação se compararmos os números do trimestre com aqueles divulgados no 2T23. Houve um avanço tímido nos volumes trimestre contra trimestre, e outubro trouxe sinais de melhora com um crescimento de vendas de 7,7%, embora ainda 14,9% abaixo no acumulado do ano.
Olhando para 2024, nossa expectativa aponta para uma melhora significativa. Lembramos que em meados de outubro, a Randoncorp anunciou um novo contrato celebrado pela subsidiária Suspensys juntamente com uma das maiores montadoras de caminhões e ônibus no Brasil. O acordo contempla a fabricação e fornecimento de eixos dianteiros para a linha de veículos comerciais.
Segundo a companhia, espera-se que o contrato firmado gere cerca de R$ 7 bilhões de receita durante os próximos 10 anos (aproximadamente R$ 700 milhões por ano). Apesar de não estar explícito, acreditamos que a parceria tenha sido firmada com a Mercedes. Observando os números de market share de caminhões e ônibus, vemos que ela é a líder isolada em ambos os segmentos, possuindo quase 25% de participação no mercado de caminhões, e mais de 60% em ônibus.
Controle de Movimentos: o melhor aluno da sala
No mercado interno, temos que demanda no mercado de reposição, especialmente para veículos leves, está em ascensão devido ao envelhecimento da frota. No entanto, a companhia reportou uma redução nas receitas e volumes de discos de freio em comparação com o segundo trimestre de 2023, devido à dinâmica do mercado.
O ambiente de negócios na linha comercial tornou-se mais competitivo devido a um maior nível de estoques nos distribuidores. No entanto, apesar do cenário desafiador, a Nakata continua a registrar recordes de margens e receitas devido à expansão da fábrica de amortecedores realizada neste ano, além da diminuição dos custos de importação de produtos para revenda e às sinergias alcançadas com as outras empresas desta vertical.
Já no mercado externo, temos uma demanda estável no continente norte-americano, tanto na reposição quanto nas OEMs (Fabricantes Originais de Equipamentos). No trimestre em questão, a Juratek contribuiu com um aumento significativo de R$ 51,1 milhões em receita, impulsionando seus resultados por meio de ganhos de sinergia. Por outro lado, as controladas na Argentina enfrentam um cenário instável por conta de barreiras à importação e uma alta taxa de inflação.
Além disso, a Fras-le reportou uma intensificação da concorrência dos produtos chineses em diversos países, atribuída à redução de custos logísticos internacionais e à retomada dos níveis produtivos na China.
O segmento reportou receita líquida de R$ 889 milhões (+7,9% a/a e -3,3% t/t), além de um EBITDA de R$ 190 milhões (+37,9% a/a e +1,8% t/t).
Análise Quantitativa
No 3T23, a receita líquida consolidada totalizou R$ 2,9 bilhões de (-5,2% a/a e +4,3% t/t), ficando em linha com nossas expectativas e com as do mercado. O EBITDA somou R$ 396 milhões (-5,5% a/a e -10,8% t/t), também em linha com nossas estimativas e o consenso de mercado. Por fim, a companhia reportou um lucro líquido consolidado de R$ 87 milhões (-40,6% a/a e -25,2% t/t), em linha com nossas estimativas com as do mercado.