A Randoncorp divulgou resultados em linha com as nossas estimativas no 4T23. Assim como esperávamos, o trimestre foi negativo para a empresa. Os números apresentaram uma desaceleração na comparação anual e na comparação trimestral, mesmo desconsiderando os efeitos não recorrentes oriundos das plantas na Argentina. A alta desvalorização do peso argentino e inflação do período, impactaram negativamente receita e margem EBITDA.
Em 2023, o ambiente desafiador levou as receitas ao limite inferior do guidance, ainda que observamos um EBITDA e Margem EBITDA dentro da faixa intermediária das expectativas.
Do lado negativo, observamos uma tendência de normalização nas margens do segmento de reposição e uma desaceleração da receita líquida, puxada por mais um trimestre de fracos volumes na divisão de autopeças para montadoras. Do lado positivo, apesar de termos visto mais um trimestre de queda de lucro, observamos uma forte de geração de caixa, impulsionado por uma redução relevante do nível de estoques de semirreboques que beneficiou a necessidade de capital de giro.
A Randoncorp ainda se mantém com uma avaliação atrativa em termos relativos. Antecipamos que, mesmo se houver uma desaceleração nos mercados de implementos e peças de reposição em 2024, a empresa poderá se beneficiar da retomada da produção de caminhões.
Atualmente, RAPT4 é negociada a 3,3x EBITDA 2024E ou 7,9x P/L, muito abaixo da média histórica. Mantemos nossa recomendação de COMPRA com um preço alvo de R$ 15,00.
Montadora: exatamente o oposto do 3T23
No 3T23 havíamos observado a divisão da montadora, com bons volumes de vendas, mas com uma significativa redução nas margens. No 4T23, observamos praticamente o inverso, com volumes piores, porém com margem melhorando. A recuperação nas margens foi impulsionada principalmente pelo mix de produtos vendidos e pela redução de custo de matéria-prima.
A Randon viu sua participação no mercado diminuir, caindo de 32% no 3T23, para 29% no 4T23. No trimestre anterior, a companhia havia adotado uma postura agressiva para assegurar bons volumes, fechando contratos volumosos, mas concedendo em preço. Concluímos que no 4T23, a Randon pode ter sido mais prudente ao repassar as reduções nos custos de matérias-primas, perdendo vendas em um mercado doméstico competitivo.
No cenário internacional, os volumes menores da Hercules nos EUA foram contrabalançados por bons volumes de exportação de semirreboques para a mesma região. Como previsto em nossas análises anteriores, notou-se uma desaceleração na demanda do mercado de implementos nos EUA.
A divisão da montadora teve receita líquida de R$ 1.058 milhões (-15,3% t/t e -12,0% a/a), muito em linha com nossa expectativa de R$ 1.097 milhões (-3,6%). O EBITDA foi de R$ 63 milhões (+13,2% t/t e +11,8% a/a), com margem de 6,0% (+1,5pp t/t e +1,3pp a/a). Ambos também ficaram em linha com nossas projeções. Por mais um trimestre consecutivo, a divisão foi negativamente impactada por um efeito não recorrente. Dessa vez, um impairment afetou a margem EBITDA, considerando esse efeito a margem teria sido de 5,5%.
Autopeças: enfrentando a queda do mercado de caminhões no Brasil
No 4T23, a vertical de Autopeças enfrentou mais um trimestre de desaceleração, refletindo os desafios contínuos da indústria e o impacto de fatores externos no desempenho. Mas uma destaque importante deve ser feito, enquanto a produção de caminhões caiu 38% frente a 2022, a receita líquida da vertical caiu 21%, sinal que a diversificação de portfólio tem ajudado. Com a queda de volumes, observamos mais um trimestre de compressão nas margens operacionais.
O números da divisão de autopeças para OEMs também se mantiveram em linha com nossas expectativas. A receita líquida foi de R$ 789 milhões (-6,8% t/t e -24,6% a/a), com nossa expectativa sendo de R$ 802 milhões (-1,5%). O EBITDA foi de R$ 107 milhões (-23,4% t/t e -28,9% a/a), com margem de 13,5% (-2,9pp t/t e -0,8pp a/a).
Controle de Movimentos: prejudicado por Argentina
Na divisão de controle de movimento (Fras-le) apresentou bons números no mercado interno, mas com redução significativa na receita proveniente do mercado externo. Os números foram negativamente impactados por efeitos contábeis relacionados à desvalorização do peso argentino. A margem EBITDA finalizou o trimestre em 13,2%, Excluindo os efeitos não recorrentes a margem EBITDA teria sido de 18,6% (vs. os fortes níveis do 3T23 (-2,8pp t/t). Outro efeito que impactou as margens, foi a normalização gradual nos preços por conta das pressões baixistas nos custos de matéria-prima.)
A receita total foi de R$ 741 milhões (-16,6% t/t), EBITDA de R$ 113 milhões (-40,5% t/t) e margem EBITDA de 15,3% (-6,1pp t/t).
Guidance para 2024
A Randoncorp encerrou 2023 próxima ao piso do guidance em termos de receita líquida, com R$ 10,9 bilhões vs uma faixa de 10,5 a 12 bilhões projetados para o ano. Esse resultado pode ser atribuído a uma série de fatores desafiadores, incluindo questões políticas e econômicas que influenciaram os mercados nos quais a empresa atua, especialmente nas exportações para a América Latina.
Apesar desses desafios, a companhia conseguiu manter o EBITDA e a margem EBITDA dentro da faixa intermediária do guidance em 14,4% enquanto a faixa indicava 13 e 16%, o que sugere uma gestão de custos eficaz e uma capacidade de preservar a rentabilidade em tempos adversos.
A empresa ainda divulgou seu guidance para 2024, com a expectativa de uma receita líquida consolidada entre R$ 11,5 e R$ 12,5 bilhões e a margem EBITDA projetada para ficar entre 14% e 16%. As estimativas sugerem um cenário mais positivo, em linha com as nossas estimativas. Nossas estimativas apontam para um crescimento de receita, 10,9% em relação a 2023, atingindo R$ 12,1 bilhões em 2024E e uma margem EBITDA expandido para 15,6% em 2024E, próximo ao topo do guidance. Essa melhora de margens deve vir principalmente da recuperação do mercado de veículos comerciais e perspectivas de recuperação nas vendas de semirreboques nos EUA.
A subsidiária Fras-le também divulgou seu guidance para 2024. A empresa projeta uma receita líquida em torno de R$ 3,7 bilhões a R$ 4,0 bilhões e margem EBITDA ligeiramente abaixo da previsão do ano passado, entre 17 e 21%
Análise Quantitativa
No 4T23, a receita líquida consolidada totalizou R$ 2,56 bilhões de (-10,2% a/a e -11,8% t/t), ficando em linha com nossas expectativas e com as do mercado. O EBITDA somou R$ 287 milhões (-10,9% a/a e -27,5% t/t), superando nossas estimativas em 3,2%. Por fim, a companhia reportou um lucro líquido consolidado de R$ 55 milhões (-38,1,7% a/a e -36,7% t/t), em linha com nossas estimativas.
Importante ressaltar que no 4T23, os resultados foram impactados por eventos na na Argentina. Na última linha, o impacto positivo no resultado financeiro decorrente da hiperinflação e atualização monetária da mais valia negativo acabaram contrabalanceando a desvalorizção câmbial que reduziu a receita. Houve portanto uma redução na receita líquida consolidada em R$ 156,5 milhões no 4T23. A receita líquida ajustada, excluindo os impactos da hiperinflação e da desvalorização monetária, teria sido de R$ 2,7 bilhões no trimestre e R$ 11 bilhões no ano. O EBITDA também foi impactado negativamente em R$49 milhões.