A fusão entre Rede D’Or (RDOR) e SulAmérica (SULA) tem sido muito comentada desde que foi anunciada no início do ano. A maior rede de hospitais está se juntando a uma das maiores operadoras de saúde do Brasil, e a empresa combinada terá grande papel no desenrolar do setor de saúde nos próximos anos. O mercado tem se perguntado como funcionaria a combinação de negócios entre as duas, se existe a possibilidade de uma verticalização de operações entre as empresas ou se os business se manterão apartados. Ainda não há direcionamento definitivo das companhias, a aprovação dos reguladores pode vir até o final do ano, mas conversando com as envolvidas e com personalidades do setor, acreditamos que a verticalização não seja a via mais vantajosa para ambos os players.
A relação simbiótica entre um prestador de serviços hospitalares e uma operadora de saúde é pautada na troca de serviços, no qual os beneficiários de uma operadora utilizam os serviços médicos de um hospital e a operadora arca com os custos deste beneficiário, até certo ponto. No Brasil, a maior parte dos procedimentos médicos em âmbito privado é demandada por beneficiários de planos privados de saúde, ou seja, um hospital precisa de uma relação com as operadoras tanto quanto as operadoras precisam de uma relação com o hospital.
A Rede D’Or possui relacionamento simbiótico com diversas operadoras de saúde no país, como a SULA e a Bradesco Saúde, e a priorização de uma poderia causar danos a relação de outra, o que seria prejudicial para o grupo como um todo. Ainda, existem benefícios para ambas de continuarem com operações separadas, mesmo em um mesmo grupo. O credenciamento rápido de hospitais e clínicas, a exploração de bases de beneficiários em diferentes regiões e o fortalecimento das marcas são alguns desses. Esses e outros fatores nos motivam a acreditar em um grupo RDOR + SULA que colha sinergias, mas sem uma verticalização das operações.
Mesmo nesse cenário, continuamos positivos com a tese de longo prazo de ambas. A capacidade de expansão orgânica apresentada pela rede hospitalar poderá ser respaldada no alcance regional da operadora de saúde, com sinergias de custos e despesas a serem coletadas que podem impulsionar os resultados de ambas as empresas. Agora, o mais curto prazo ainda posa ambiente incerto.
Para o 2T22 estamos mais positivos com RDOR pela sazonalidade do segundo trimestre, com mais doenças respiratórias e cirurgias eletivas que podem manter o volume de pacientes-dia e a taxa de ocupação elevadas. Esses fatores são os pontos de atenção para SULA, que mesmo com crescimento esperado de beneficiários, ainda pode sofrer com a sinistralidade alta.
Como já citamos acima, o setor hospitalar costuma apresentar uma sazonalidade no segundo trimestre por conta do avanço do síndromes respiratórias decorrentes da mudança de estações. Dito isto, esperamos um crescimento de 9,6% na receita líquida da Rede D’Or na comparação trimestral e 12,9% a/a, relacionado a uma taxa de ocupação de ~81% no trimestre e aumento do número de leitos com a integração dos leitos do São Luiz Osasco, mas ainda sem crescimento do ticket médio. O efeito do Covid já não é tem sido mais tão impactante; em abril e maio as contaminações caíram forte e mesmo o pico em junho foi equivalente a menos da metade das internações do pico de fevereiro.
Acreditamos que o aumento da receita deva levar a uma expansão da margem bruta t/t, chegando a 24% neste 2T, ainda com poucos impactos do aumento de ~10% dos medicamentos. O poder de barganha somado ao estoque de medicamentos deve permitir que este aumento na linha de Matmed seja suavizado ao longo dos próximos trimestres, subindo 2,5% neste tri. As despesas administrativas devem sofrer uma diluição, se mantendo nominalmente flat t/t.
Já olhando para o resultado financeiro, esperamos um aumento na despesa financeira relacionado ao aumento da Selic, enquanto a receita financeira deve ser menor por uma posição de caixa mais fraca devido à aquisição de ações da Sulamérica. Mesmo assim, esperamos um crescimento no lucro t/t, chegando a R$ 335, um aumento de 49%.