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    Publicado em 03 de Junho às 19:15:51

    As três varejistas mais expostas à catástrofe climática do Rio Grande do Sul

    Uma rede de farmácias, um grupo de supermercado e uma loja de departamentos. Em um espaço amostral que contempla as treze varejistas atualmente cobertas pela Genial, a Panvel (PNVL3), o Grupo Carrefour (CRFB3) e a Lojas Renner (LREN3) compõe o conjunto de empresas mais expostas ao estado do Rio Grande do Sul (RS).

    Apesar de as três empresas estarem sob o mesmo guarda-chuva, o setor de varejo, a dinâmica e a intensidade do impacto financeiro causado pela crise sanitária no Rio Grande do Sul são completamente diferentes – uma vez que duas dessas três empresas comercializam produtos de primeira necessidade e, de forma análoga ao que aconteceu durante o início da pandemia, acreditamos que apesar de uma perda de inclinação na variável “rentabilidade”, o topline destas companhias podem se beneficiar do aumento de volume de compras, em um primeiro momento.

    Na física, a Lei de Hooke estabelece que a força exercida por uma mola é diretamente proporcional à sua deformação, representado pela equação F = -k*x, onde k é a constante elástica da mola e representa a sua rigidez. Ou seja, quanto maior for a constante, maior será a sua resistência à deformação (guarde essa informação).

    Traçando um paralelo entre a Lei de Hooke e a resistência da demanda à compressão durante um período de crise, para cada uma dessas três companhias expostas à crise sanitária, existe uma força oposta, cujo efeito se assemelha ao efeito de mola comprimida.

    Seguindo o raciocínio, empresas voltadas para o consumo não discricionário, como o varejo alimentar e o farmacêutico, possuem um k elevado (i.e. menos elásticas) e sofre menor deformação, neste momento. Por outro lado, companhias de consumo discricionário, como a Renner, são mais elásticas e, portanto, a compressão da demanda deve ser mantida por muito mais tempo antes de voltar à posição inicial.

    Acreditamos que, neste primeiro momento, o bolso do consumidor estará comprometido com as compras de produtos de primeira necessidade – o que deve suavizar o impacto em empresas como a Panvel e o Carrefour.

    Panvel (PNVL3)

    Com 606 lojas espalhadas entre os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, a Panvel é, de longe, a empresa com maior exposição ao estado gaúcho. Em nossas estimativas, cerca de 67% das vendas da companhia vêm do RS.

    Atualmente, a companhia possui dois centros de distribuição, sendo um localizado na cidade de Eldorado do Sul (RS) – região vizinha a capital do estado e bastante afetada pelas enchentes das últimas semanas.

    Impacto esperado para a Panvel

    Apesar da forte concentração de receita no Rio Grande do Sul, acreditamos que, por estar em um setor de primeira necessidade, comercializando medicamentos e serviços farmacêuticos, o impacto que a Panvel pode sentir ao longo do 2º trimestre de 2024 deve vir mais na linha de margem operacional do que o faturamento bruto em si.

    Em dados não auditados apresentados em teleconferência, a companhia já havia sinalizado um crescimento de vendas acima de 18% a/a em abril deste ano (ainda não afetada pela crise sanitária no RS). Não acreditamos que a Panvel mantenha esse patamar para o mês de maio!

    Com 18 lojas ainda fechadas (3,0% do parque total da companhia), sendo a maior parte localizada em rua, sensibilizamos a quantidade de dias que essas lojas permaneçam fechadas vs. o aumento de fluxo para as outras 390 lojas abertas no Rio Grande do Sul.

    O nosso cenário-base é que as lojas permaneçam fechadas entre 21 dias e 28 dias e se beneficiem com um aumento de fluxo de 50% para as outras lojas no estado – o qual deve ser positivamente impactado pelo (i) fechamento temporário (e em alguns casos até permanente) de lojas de independentes em bairros mais populares (mais afetados pelo alagamento) e, também, (ii) pelo fechamento de cerca de 100 lojas de sua maior concorrente, rede São João.

    Na hipótese onde o Volume Bruto de Vendas dos outros três estados permaneça inalterado, em termos financeiros, isso poderia implicar em um crescimento de ~ 12,8% a/a no faturamento da Panvel ao longo do 2T24. O número consolidaria um trimestre com um crescimento abaixo do histórico registrado pelo grupo – CAGR de +14,3% a/a nos últimos 10 anos e de 17,5% a/a nos últimos 5 anos – e uma desaceleração sequencial.

    Acreditamos que quatro pontos devem impactar o lucro operacional da companhia nesse trimestre:

    (i) Faturamento do Atacado deve reduzir drasticamente: historicamente, essa linha adicionava cerca de R$ 100 milhões/trimestre ao topline e representava cerca de 8,5% do faturamento total do grupo. Com a paralização da operação de atacado, acreditamos que a margem bruta consolidada do grupo deve sofrer um impulso positivo, uma vez que a rentabilidade desse canal girava em um patamar inferior ao consolidado pelo grupo (~12,0% Atacado vs. ~29,0% Grupo);

    (ii) Higiene deve ajudar a defender a margem bruta: dentro do grupo de HB (Higiene e Beleza), acreditamos que o crescimento de venda dos itens de higiene de primeira necessidade (sabonete, pasta de dente, etc.) devem trazer um efeito positivo para a rentabilidade bruta nesse trimestre;

    (iii) Maiores despesas com vendas: com a antecipação do 13º salário para colaboradores (despesa que costuma afetar o 4º trimestre) e maiores gastos com logística, dado que o centro de distribuição de Eldorado ficou sem operação por alguns dias (e atualmente opera abaixo da média de capacidade), esperamos um aumento das despesas com vendas. Somando a isso a menor alavancagem operacional, entendemos que este fator deve pressionar a margem EBITDA nesse trimestre, tanto na visão sequencial, quanto na visão anual;

    (iv) Baixa de ativos: apesar da maior parte das lojas possuírem apólice de seguro, o que ajuda a mitigar os danos, acreditamos que a Panvel deva apresentar uma baixa de ativos relacionado à perda de estoque nas 18 lojas temporariamente fechadas nesse trimestre.

    Apesar de impactar financeiramente a companhia no curto prazo – com menor crescimento de receita e pressão na margem operacional durante o 2º trimestre – entendemos que se abre uma considerável “janela de oportunidade” para maior consolidação do setor no estado, dado o fechamento de lojas de independentes/associados, devolvendo pontos comerciais ‘interessantes’ para a Panvel aumentar a sua expansão nos próximos anos. 

    Figura 1: Estimativa Genial para o impacto financeiro na Panvel – visão lojas totais (fechadas e abertas) e sensibilidade entre aumento de fluxo e quantidade de dias com as unidades temporariamente fechadas.

    Carrefour (CRFB3)

    Com 1.074 lojas espalhadas ao longo do Brasil, o Grupo Carrefour Brasil possui uma das maiores exposições ao estado gaúcho (dentro de nossa atual amostra de 13 coberturas do varejo), com 99 lojas no estado. Em nossas estimativas, cerca de 9,0% das vendas brutas da companhia vêm do RS.

    Atualmente, a companhia possui 26 centros de distribuição, sendo dois localizados no Rio Grande do Sul, nas cidades Esteio e Porto Alegre − ambos sem apresentar danos materiais.

    Impacto esperado para o Carrefour

    Das 99 unidades localizadas no Rio Grande do Sul, cerca de 7 lojas precisaram ser temporariamente fechadas (aprox. 7,0% de todas as lojas do estado). Analisando o impacto para o topline, essas lojas fechadas representam 1,0% das vendas brutas totais do grupo.

    Vale destacar que todas as 99 lojas do RS possuem apólices de seguro que cobrem danos materiais e lucro cessantes.

    Assim como o setor farmacêutico, o impacto do varejo alimentar acaba sendo menor do que o visto em empresas de consumo discricionário, uma vez que o segmento comercializa produtos de primeira necessidade (alimentos e bebidas).

    Realizamos o mesmo trabalho de sensibilidade entre quantidade de dias em que as 7 lojas do Carrefour permanecem fechadas vs. o aumento de fluxo em outras lojas do estado. Contudo, diferente da situação anterior da Panvel, acreditamos que o Carrefour deve apresentar um trimestre de maior alavancagem operacional, com destaque para o aumento de volume bruto de mercadorias (mais do que compensando a variável preço, que deve ser impactada pelo congelamento de preços realizado pela companhia no estado do RS).

    O nosso cenário-base é que as lojas permaneçam fechadas por 21 dias, implicando um aumento de 25% no fluxo para as outras lojas do RS. Isso implicaria em um crescimento de 4,2% na receita bruta do grupo, em relação ao mesmo período de 2023.

    Em termos financeiros, o crescimento de 4,2% a/a de receita bruta traria uma aceleração sequencial de vendas – uma vez que o 1º trimestre consolidou um crescimento de +2,5% a/a na mesma linha.

    Entendemos que o movimento de doação, visto em todos os estados brasileiros, deve trazer benefícios, principalmente, para a bandeira de Cash-and-Carry do grupo (Atacadão) – dando um boost no volume de vendas para o grupo e diluindo as despesas com vendas da vertical nesse trimestre.

    Figura 2: Estimativa Genial para o impacto financeiro no Grupo Carrefour – visão lojas totais (fechadas e abertas) e sensibilidade entre aumento de fluxo e quantidade de dias com as unidades temporariamente fechadas.

    Renner (LREN3)

    Com 654 lojas espalhadas ao longo do Brasil e 15 lojas no exterior (11 Uruguai e 4 Argentina), a Renner é a segunda companhia mais exposta ao estado do Rio Grande do Sul, dentro de nossa cobertura.

    Nascida no estado gaúcho, a Renner possui 75 lojas no RS – sendo 57 da bandeira Renner, 7 Camicado e 11 Youcom. Em nossas estimativas, cerca de 13,0% da receita líquida do varejo da companhia vêm do estado – ficando atrás da exposição à São Paulo (28,5% da RL) e na frente do Rio de Janeiro (10,0% da RL).

    Atualmente, a companhia possui quatro centros de distribuição, porém nenhum deles está localizado no estado do Rio Grande do Sul.

    Impacto esperado para a Lojas Renner

    Diferente da dinâmica acometida à Panvel e ao Carrefour, neste primeiro momento, a natureza não essencial de consumo do setor de vestuário deve trazer o maior impacto financeiro de nossa cobertura de varejo no trimestre.

    Entendemos que o impacto não deve vir tanto de baixa de ativos (relativo às perdas de estoques) e/ou maior Capex de reforma de lojas, mas sim de uma desaceleração de vendas e maiores despesas operacionais (antecipação de férias, 13º e depósito emergencial), o qual poderá dar um duplo golpe na margem EBITDA (visão não ajustada) e lucro nesse trimestre – mesmo diante de uma fraca base de comparação, dado que o 2º trimestre de 2023 foi um período atípico tanto em termos de vendas quanto em rentabilidade.

    No momento mais crítico da situação, cerca de 27 lojas (4% do parque total) chegaram a ficar fechadas, dado a falta de acessibilidade até o local. Atualmente, cerca de 7 unidades (1% do parque total) ainda continuam fechadas.

    Ao levarmos em consideração (i) o funcionamento em horários restritos em parte das lojas, (ii) ruptura causada pelo atraso na reposição de mercadoria e (iii) a não essencialidade de consumo do setor, adotamos como cenário-base uma redução de 40% no fluxo às outras lojas do Rio Grande do Sul. Com um fechamento das unidades por 21 dias, isso poderia implicar em uma redução de 4,9% a/a na Receita Líquida Total do Varejo neste trimestre.

    Figura 3: Estimativa Genial para o impacto financeiro na Lojas Renner – visão lojas totais (fechadas e abertas) e sensibilidade entre aumento de fluxo e quantidade de dias com as unidades temporariamente fechadas.

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