A Renner irá reportar seu resultado do 4º trimestre de 2023 no dia 14/mar. Acreditamos em um crescimento impulsionado por maiores volumes de venda e níveis de rentabilidade estáveis em comparação anual.
Em relação ao ano de 2024, seguimos com perspectivas positivas para a companhia, uma vez que acreditamos que a combinação entre (i) uma melhora no cenário macroeconômico com gradual recomposição da demanda aliado (ii) ao redirecionamento da estratégia de sortimento (iniciado no 3º trimestre de 2023) e (iii) a redução de gastos com o novo Centro de Distribuição (Cabreúva/SP) deve guiar a Renner a uma trajetória de crescimento de vendas e recomposição de rentabilidade.
Apesar de entendermos que Renner não deve voltar a ser negociada próximo de múltiplos históricos, dado o cenário altamente competitivo/disruptivo que passa o setor de vestuário de baixa renda, acreditamos que o deságio atual criou uma bela oportunidade de carrego do papel à médio prazo. Em nossas projeções, a Renner negocia a 15,0x P/E 2024E (cerca de 53% abaixo da média histórica dos últimos 5 anos).
Frente a recente desvalorização do papel (LREN3 -11,2% YTD vs. ICON -6,98% YTD), acreditamos que a reação do mercado em relação aos cross-borders subprecifica o potencial de recuperação da Renner ao longo de 2024.
Em nossa visão, a Renner está bem-posicionada para lidar com a competição e continuar consolidando um mercado que é altamente fragmentado. Com perspectivas positivas para o ano de 2024, tanto em termos de crescimento, quanto de rentabilidade, vemos a precificação atual como um bom ponto de entrada. Reiteramos a nossa recomendação de COMPRA, com preço-alvo de R$ 18,00 – upside de 18% em relação ao fechamento dessa segunda-feira (26/fev).
Prévia 4T23: O que esperar da Renner?
Crescimento guiado por volume
Para a vertical de varejo, esperamos uma performance de crescimento guiada por maiores volumes de venda, impulsionada adicionalmente por uma base mais fraca de comparação, dado que o evento de Copa do Mundo atrapalhou as vendas do trimestre no mesmo período de 2022.
Frente às condições macroeconômicas e a mudança no hábito de consumo dos clientes, a Renner passou a realizar um trabalho de ajuste de sortimento, aumentando a oferta de itens a preço de entrada – buscando se adequar ao que o consumidor está demandando. Entendemos que isso tem levado a companhia a uma boa performance de vendas, ainda que o ticket médio seja menor em comparação com 2022.
Acreditamos que os ganhos de volume devem impulsionar o crescimento do topline no 4T23. Estimamos um faturamento líquido de varejo de R$ 3,8b (+6,1% a/a), com um Same Store Sales (SSS) de +6,6% a/a.
Em relação às bandeiras, acreditamos que a dinâmica acima impacte tanto a Renner, quanto a Youcom. Estimamos um crescimento de +6,7% a/a do faturamento líquido da Renner e de 9,0% a/a para Youcom. Considerando o fechamento de ~16 lojas nos últimos 12M, a Camicado deve continuar sendo a maior detratora de crescimento neste trimestre. Projetamos que o faturamento líquido de Casa&Decoração retraia -6,5% a/a.
Quanto à Realize, projetamos um crescimento sequencial da carteira de crédito, considerando a sazonalidade positiva de vendas do 4º trimestre. Ainda assim, entendemos que a companhia deve continuar com uma política mais conservadora no fornecimento de crédito – postura essa que deve impedir maiores ganhos em termos de faturamento. Estimamos uma receita de serviços financeiros acelerando +10,4% a/a.
Consolidando a dinâmica do Varejo e da Realize, projetamos um faturamento líquido consolidado de R$ 4,3b – uma aceleração de +6,6% a/a.
Alívio de custos deve ser investido em preço
Frente a desinflação das matérias-primas (algodão e celulose), acreditamos em um cenário mais favorável em termos de custos. Entendemos que a Renner deve continuar a investir este excedente em preço – em linha com a estratégia da empresa comentada acima.
Desse modo, não acreditamos que esse alívio de custos será totalmente traduzido em margem bruta neste momento. Estimamos uma margem bruta de varejo estável em 55,8% (+0bps a/a).
Não esperamos ganhos de alavancagem operacional neste trimestre
Acreditamos que, frente as despesas relacionadas ao ramp-up do novo CD de Cabreúva, o crescimento do topline não deve gerar uma maior alavancagem operacional neste trimestre. Em nossa visão, o cenário deve ser de equilíbrio – esperamos um nível de despesas SG&A crescendo em linha com o faturamento.
Vale ressaltar que, no 4º trimestre de 2022, a Renner teve um efeito não-recorrente positivo da reversão de uma provisão relacionada ao Programa de Participação nos Resultados (PPR). Entendemos que isso deve gerar uma base de comparação mais forte, de modo que, na visão não ajustada, esperamos uma pressão de -50bps a/a de margem EBITDA.
Excluindo efeitos não-recorrentes, acreditamos em um resultado operacional estável na comparação anual. Projetamos um EBITDA Aj. de R$ 975m (+6,1% a/a), com uma margem EBITDA Aj. de 22,8% (-10bps a/a).
Lucro deve crescer +4,3% a/a
Dentro do resultado financeiro, esperamos uma leve deterioração sequencial em função do cenário de hiperinflação na Argentina – afetando o resultado de variação monetária.
Entendemos que, com a constante aceleração da inflação – taxa acumulada 12M indo de 142,7% em out/23 para 211,4% em dez/23 – as vendas da operação no país perdem o valor, gerando um efeito de correção monetária negativo no resultado da companhia.
Ainda assim, com uma posição de caixa líquido (Div. Líq./EBITDA LTM pós IFRS16 de -0,55x), a companhia não deve ter impactos de altas despesas financeiras sobre a última linha do resultado.
Estimamos um crescimento de +4,3% a/a do lucro líquido, totalizando R$ 504m (+4,3% a/a) – com uma margem líquida de 11,8% (-26bps a/a).
Tabela 1: Estimativas Genial para Lojas Renner no 4T23 (R$ milhões; IFRS 16).
Visão 2024: o que esperar?
Mapeamos os principais pontos que vão nortear o ano de 2024 da Lojas Renner, sendo eles:
(I) Cenário competitivo. A concorrência com plataformas cross-borders continuará sendo um ponto de atenção ao longo do ano, porém, com um tom diferente. Dados do governo têm demonstrado que a taxação de 17% (ICMS) e o aumento da fiscalização de remessas importadas (imposto de 60% para compras > US$50) tem impactado os volumes de importação, além do ticket e a recorrência de compra em players cross-border.
Desse modo, acreditamos que a concorrência com essas plataformas será menos agressiva neste ano. Em nossa visão, com um menor incentivo de preço, os consumidores devem passar a tratar players como a Shein como um destino de compra complementar, assim como outras varejistas de vestuário nacionais.
Vale ressaltar que, ainda assim, as plataformas cross-border possuem vantagens em termos de variedade e velocidade de produção – de modo que acreditamos que essa concorrência ainda será um ponto de atenção.
(II) Crescimento guiado por volumes. Dado o acirramento da competição no segmento de Vestuário, não acreditamos em grandes repasses de preço neste ano. Em nossa visão, o crescimento deve ser guiado por uma recuperação dos volumes de venda, a medida em que a demanda se recupera gradualmente, acompanhando uma melhora das condições macroeconômicas.
Entendemos que a recomposição da demanda deve ser gradual, com consumidores ainda buscando reduzir gastos com itens discricionários no curto prazo. Desse modo, acreditamos que o trabalho realizado pela Renner na pirâmide mercadológica deve beneficiar as vendas ao longo deste ano. Com uma participação maior de itens de ticket mais baixo, entendemos que o crescimento do topline virá de um aumento do volume de vendas.
(III) Perspectiva para Realize. Para o braço financeiro da Renner, esperamos que 2024 seja um ano de transição. Acreditamos em uma geração de receita ainda modesta, principalmente em função de: (i) cenário setorial ainda em recuperação, sem grandes evoluções; (ii) questão do teto do rotativo e (iii) uma carteira de maior qualidade, reduzindo a geração de receita por atraso (ainda que isso seja positivo em termos de inadimplência, além de necessário para garantir um crescimento saudável no futuro).
Entendemos que (ii) a questão do teto do rotativo pode ser um vento contrário a recuperação da Realize no curto prazo, uma vez que acreditamos que as dinâmicas ao longo do ano não divergirão tanto daquelas vistas em 2023. Ainda assim, não esperamos um impacto significativo sobre a operação, uma vez que a representatividade do rotativo no resultado não é alta e o número de usuários em atraso que atingem o “teto” estabelecido é baixo.
Assim, acreditamos que ainda existam alguns desafios a serem enfrentados na vertical financeira – de modo que não esperamos um ano de crescimento ainda, mas sim um período de transição e estabilização. Em contrapartida, acreditamos que a vertical de varejo já tenha atingido um ponto de inflexão, tal que esperamos uma dinâmica positiva de crescimento de vendas ao longo do ano, conforme comentamos acima.
(IV) Ganhos de rentabilidade. Esperamos ganhos moderados de margem bruta em 2024. Acreditamos que com a maturação da operação do novo CD, um abastecimento mais eficiente das lojas deve reduzir o nível de sobras e remarcações, beneficiando a rentabilidade da companhia. Projetamos uma evolução de cerca de +40bps a/a (Est. Genial).
Quanto à margem operacional, acreditamos que os ganhos serão mais expressivos. Entendemos que a redução dos custos adicionais relativos ao ramp-up do novo CD ao longo do ano devem levar a relevantes ganhos de alavancagem operacional. Adicionalmente, em 2023 a companhia também teve o impacto de custos relativos a ajustes de estrutura – algo que não esperamos para este ano.
Somando essas dinâmicas ao carrego positivo da margem bruta, acreditamos que a Renner deve entregar uma relevante expansão da margem EBITDA em 2024 – estimamos um ganho de cerca de +140bps a/a (Est. Genial).
(V) Geração de caixa. Acreditamos que 2024 deve ser um ano de boa geração de caixa para Renner. Em nossa visão, os principais drivers serão: (I) gestão do capital de giro, via otimização do nível de estoques a medida em que a operação do novo CD matura; (II) maior resultado operacional; (III) redução do nível de Capex anual (~R$800m (-20% a/a) Est. Genial).
(VI) Fim da subvenção para investimentos. Entendemos que a mudança regulatória relacionada ao reconhecimento de benefícios fiscais deve gerar algum impacto negativo no lucro da companhia. A partir de 2024 devemos observar o fim do benefício de subvenções para investimento na linha de IR/CSLL passando a afetar o resultado das empresas. Para efeitos de comparação, em 2022 o reconhecimento de subvenções respondeu por cerca de 10% do lucro anual da Renner.
Com relação a este ponto, entendemos que a judicialização é um provável caminho para a Renner. Por enquanto, não estamos considerando esse benefício em nossas projeções.
Tabela 2: Estimativas Genial para Lojas Renner em 2024 (IFRS 16; R$ milhões).