A Renner divulgará o seu resultado do 2T23 na quinta-feira (03/ago), após o encerramento do pregão. Nossa expectativa é que o resultado demonstre o momento desafiador que a companhia vem enfrentando, sofrendo com uma demanda desaquecida, maiores níveis de remarcação e com efeito ainda de uma forte base de comparação.
Acreditamos que a partir do 2S23 devemos começar a ver sinais mais positivos para a indústria. Frente a bases comparativas mais fracas, o setor de vestuário deve passar a se beneficiar de (I) uma desaceleração da inflação de custos de matérias-primas e (II) uma perspectiva de uma demanda mais aquecida. Em específico, a Renner também deve gradualmente se beneficiar da finalização da fase de ramp-up do novo CD.
Ainda assim, a melhora dos resultados é algo a ser trabalhado ao longo dos próximos trimestres. Os sinais tendem a ser mais positivos, mas a volta de demanda não deve ser imediata e a recomposição de margens deve ser algo gradual.
Ao mesmo tempo, a companhia terá que lidar com um ambiente competitivo cada vez mais acirrado, a medida em que as plataformas de e-commerce estrangeiras crescem no país, beneficiadas por condições tributárias mais favoráveis (ver tópico Risco dos cross-borders).
Desse modo, acreditamos que ainda devemos ver a Renner pressionada no curto prazo, enfrentando margens comprimidas frente a uma menor alavancagem operacional. Seguimos com nossa recomendação de MANTER com target price 2023E de R$ 20,50, implicando em um upside de 4,5% em relação ao valor de fechamento de hoje (24/jul).
Revisão do parque de lojas
Diante de um contexto macroeconômico desafiador para o setor de varejo, a Renner passou a reavaliar sua estratégia e portfólio de lojas, fechando 20 unidades no 1T23. Neste trimestre, ainda observamos alguns movimentos nesse sentido, com 7 fechamentos – sendo 6 de Renner e 1 de Camicado. Ainda assim, diferente do 1T23, neste trimestre voltamos a ter aberturas – tivemos um total de 6 aberturas de Renner e 4 de Youcom.
A baixa evolução do parque de lojas (+0,9% a/a), aliada a um cenário macroeconômico desafiador para o consumo, deve se posicionar como um entrave para o crescimento da receita da companhia.
O varejo deve recuar e você precisa entender o porquê
Em nossa visão, a Renner deve apresentar uma retração de faturamento a/a. Três principais pontos devem contribuir para esse cenário:
(i) Demanda desaquecida. Apesar de começarmos a ver sinais de desaceleração inflacionária, ainda não esperamos uma recomposição imediata de volume de vendas. O cenário de inflação e juros elevados ao longo dos últimos períodos ainda pressiona a renda disponível dos consumidores e o endividamento das famílias, levando a um menor apetite pelo consumo, principalmente por itens discricionários.
(ii) Inverno atrasado. A antecipação da coleção de inverno no 1T23 atrapalhou as vendas do período, levando a maiores níveis de remarcação neste trimestre. Acreditamos que o registro de temperaturas médias ainda elevadas ao longo do 2T23 também teve efeito sobre o volume de vendas, a medida em que os itens de frio aumentam a participação nas lojas.
(iii) Base de comparação desafiadora. Ano passado, além da volta de uma demanda que estava reprimida ao longo de diversas ondas de COVID-19, tivemos um inverno antecipado e temperaturas mais baixas ao longo de todo 2º trimestre, levando a uma maior venda de itens de inverno a preço cheio, consolidando uma base comparativa difícil de ser batida.
Consolidando esses efeitos, frente a uma forte base de comparação, esperamos que a vertical de varejo da Renner apresente uma contração de -8,5% a/a do faturamento líquido, estimado em R$ 2,9b (-8,5% a/a; +27,6% t/t).
Quanto às marcas, esperamos que a Youcom seja a única a apresentar crescimento neste 2T23. Estimamos um crescimento de +11,5% a/a do faturamento líquido da bandeira. Em nossas projeções, a Renner deve apresentar a pior performance individual, com uma queda estimada de -9,3% a/a da receita líquida no trimestre. Camicado deve continuar retraindo, porém, a um patamar menor do que observado nos últimos períodos pelo efeito de uma base mais fraca de comparação (-6,9% a/a).
Acreditamos que a adoção de uma política mais conservadora no fornecimento de crédito deve impedir grandes crescimentos de receita para a Realize. Esperamos uma desaceleração do crescimento da financeira da Renner em comparação com o visto em trimestres anteriores.
Com um volume de vendas enfraquecido e menores crescimentos na Realize, acreditamos que a Renner irá reportar um faturamento líquido consolidado de R$ 3,4b – uma retração de -5,4% a/a.
Rentabilidade pressionada
Errou a mão! Neste ano, a antecipação de coleção de inverno deve impactar duas vezes. Em meados de março, a Renner entrou com a coleção de inverno. Sem apetite para vendas, a companhia viu o seu faturamento do 1T23 cair a/a e o estoque aumentar.
Durante um outono mais quente, essa dinâmica de antecipação traz um carrego negativo para o 2T23, gerando um estoque maior a se desfazer e antecipando remarcações para girar os itens não vendidos no 1T23.
Diante de uma base de comparação forte, estimamos que a Renner reporte uma pressão de -145bps a/a na margem bruta de varejo, em 54,7% (-145bps a/a; +51bps t/t). Estimamos uma margem bruta consolidada de 60,4% (-36bps a/a; -90bps t/t).
Assim como no último período, ainda devemos observar um impacto no resultado operacional de maiores despesas relativas à revisão da estrutura da operação e ao processo de ramp-up do novo CD de Cabreúva – essa fase deve ser finalizada ainda este ano.
Frente a um volume de vendas desafiador, a baixa alavancagem operacional, somada ao carrego da retração de margem bruta, deve gerar uma pressão relevante sobre a margem EBITDA da companhia. Estimamos uma margem de 12,8% (-653bps a/a; +415bps t/t).
Custos maiores, despesas maiores e vendas menores…
A fórmula é quase perfeita para uma forte retração de lucro líquido. Nossa expectativa é que a Renner reporte uma redução de -60,4% a/a da última linha. Estimamos um lucro líquido de R$143m (-60,4% a/a; +205,3% t/t) e uma margem líquida de 4,2% (-579bps a/a; +249bps t/t).
Risco dos cross-borders
Isenção de taxas de importação. As novas regras tributárias publicadas sobre a taxação de cross-borders trazem a isenção de impostos sobre todos os valores abaixo de US$ 50 para as companhias que adotarem o programa “Remessa Conforme”.
Anteriormente, todas as compras importadas estavam sujeitas a um imposto de 60%, apenas remessas (de até US$ 50) entre pessoas físicas estavam isentas. Como contrapartida à isenção, a portaria publicada pelo governo impõe o pagamento de um ICMS de 17% sobre as vendas.
Em nossa visão, as novas regras devem oficializar o cenário atual. Acreditamos que a nova regulamentação fiscal de cross-borders não deve evitar um ambiente tributário assimétrico, colocando os itens da Renner em desvantagem em relação à precificação agressiva das plataformas estrangeiras.
Acreditamos que a manutenção da diferença expressiva entre os preços nacionais e dos cross-borders deve resultar em perda de share dos principais players locais. Essa dinâmica deve ser enfatizada pela entrada de novos players no país, estimulada pela oficialização da isenção de taxação para remessas de importação de até US$ 50. Para o próximo semestre, já esperamos a chegada da gigante chinesa Pin Duo Duo ao mercado brasileiro, por meio da plataforma de e-commerce Temu.
Com consumidores extremamente sensíveis a preço, as companhias locais vêm perdendo parte da demanda por itens de vestuário para as grandes plataformas cross-borders, que atuam com preços mais agressivos do que players como a Renner conseguem praticar. Acreditamos que mercado de vestuário está em um momento altamente disruptivo e, mesmo sendo líder do setor, a Renner precisará se adaptar ao novo jogo dentro do varejo.
A concorrência com as plataformas cross-borders deve ser mais um desafio a ser enfrentado pela Renner. Mesmo com sinais mais positivos para retomada de um melhor volume de vendas, acreditamos que uma demanda mais aquecida terá de ser dividida com grandes empresas como a Shein, que vem ganhando cada vez mais participação no mercado local.