Após o fechamento do pregão da quinta (16/fev), a Lojas Renner divulgou os seus resultados referentes ao 4º trimestre de 2022 e ao ano consolidado em questão.
Em linhas gerais, o resultado veio de acordo com as nossas projeções, sem efeito surpresa. Como comentamos em nossa prévia de resultados para a Renner, tivemos três dinâmicas específicas durante o trimestre que desaceleram o ritmo das vendas. Contudo, a companhia conseguiu se sair bem e entregou um EBITDA e margem acima de nossas estimativas.
Mantemos nossa recomendação de COMPRA para LREN3, com Preço-Alvo 2023E de R$ 36,25, que implica em um upside de 91%. Abaixo consolidamos nossa estimativa vs. realizado.
A Lojas Renner reportou uma receita líquida de R$ 4b (+3,7% a/a; +26,3% vs. 4T19; -2% vs. Est. Genial). Com os meses de outubro e novembro enfraquecendo o crescimento do faturamento, as duas últimas semanas do ano, sazonalmente fortes devido à dinâmica de Natal e Ano Novo, precisaram “segurar” o crescimento a/a.
Carrego de abertura de lojas. Esse efeito de crescimento de quase 4% teve um efeito positivo de abertura de 40 pontos de vendas nos últimos 12 meses. Ao olharmos para o índice de “vendas de mesmas lojas” (SSS), as unidades maduras impactaram as vendas em -2,5% a/a.
Antes do início do trimestre, esperávamos um crescimento na ordem de 35% vs. 4T19, contudo, como mencionado na prévia, fatores climáticos e macroeconômicos nos levaram a uma revisão da projeção para um crescimento de ~29% em relação à 2019 (-6 p.p. Est. inicialmente), resultando em faturamento estimado R$ 4,1b.
Quando abrimos o resultado por bandeira, as lojas desempenharam ligeiramente abaixo da nossa estimativa.
(I) Renner (inclui Ashua), apresentou uma receita líquida de R$ 3,2b (+0,9% a/a; -2,3% vs. Est. Genial);
(II) Camicado, com receita líquida de R$ 171m (-22,7% a/a; -5,6% vs. Est. Genial)
(III) Youcom, crescendo menos que nossa projeção, anunciando uma receita líquida de R$ 143m (+11,9% a/a; -8,8% vs. Est. Genial)
O cenário macroeconômico, além de influenciar negativamente o desempenho das vendas, trouxe uma repercussão negativa na qualidade de crédito da carteira da Realize, a financeira da Renner.
Com um enredo onde ~78% das famílias estão endividadas, de acordo com o indicador da Confederação Nacional do Comércio (CNC), somados a proporção de dívidas atrasadas em seu maior nível na década, era de ser esperar um efeito negativo na carteira de crédito da companhia.
Observando esse contexto, a Realize começou a segurar um pouco mais a disponibilidade de crédito, apesar de ser um trimestre favorável dado a sazonalidade de vendas, começando tal movimento por volta do 2T22.
Contudo, o business de concessão de crédito funciona com um certo delay, onde o empréstimo contraído há 8 meses, por exemplo, gera o efeito de inadimplência hoje para o portfólio, com a mudança do aging.
Tendo um maior índice de inadimplência, esperávamos que a companhia praticasse maiores renegociações, que acarretou em maiores descontos que os vistos no 3T22, gerando um resultado negativo para a Realize de -R$ 34,6m.
Com isso, a Renner reportou um lucro bruto de R$ 2,4b (+6,5% a/a; -2,5% vs. Est. Genial). Quando olhamos para a operação de varejo, o lucro bruto foi de R$ 2b e uma margem bruta de varejo de 55,7%, crescendo +70 bps ano contra ano.
Devido à perda de inclinação no crescimento da receita, esperávamos certa pressão nas despesas (R$ 1,2b Est. Genial vs. R$1b reportado). Tal pressão foi amenizada por conta da linha de “Outros resultados operacionais”, que adicionou +R$102,9m, correspondentes pela reversão no PPR, recuperação de créditos fiscais, entre outros.
Com isso, a companhia reportou um EBITDA Ajustado consolidado de R$ 919m (+18,4% a/a; +5,6% vs. Est. Genial) e uma margem EBITDA ajust. 22,9%, crescendo 278 bps ano contra ano e +158 bps vs. nossa estimativa.
Por fim, a Lojas Renner reportou um lucro líquido de R$ 482m (+15,5% a/a; -5,2% vs. Est. Genial) e uma margem líquida de 12%, expandindo +30 bps a/a.
Efeito escala? A companhia mostrou uma dinâmica positiva em seu ciclo de conversão de caixa (CCC). Com uma melhor negociação de prazos com fornecedores, a Renner viu o seu CCC melhorar em 20 dias a/a, que passou de 85 dias (4T21) para 65 no último trimestre de 2022.
O efeito positivo de um maior lucro operacional e uma menor necessidade de capital de giro fez com que a companhia apresentasse um fluxo de caixa livre mais de 2x superior ao mesmo período de 2021. A Renner reportou uma cifra de R$ 310m (vs. R$ 132 no 4T21).