Como ficou o setor de varejo de vestuário no último trimestre?
A perspectiva setorial é que o 4T21 tenha uma dinâmica parecida com o 3T21: apesar da recuperação gradativa dos mercados com ausência de restrições ao horário de funcionamento, temos um cenário macro ainda deteriorado, marcado pela alta da inflação e da taxa de juros; fatores que acabam impactando negativamente o fluxo de pessoas em lojas sobretudo em parques voltados para atender a necessidade de consumo de público das classes C e D.
A alta da inflação retirou o fôlego do crescimento de setor de varejo, sobretudo o de vestuário que ficou abaixo do índice do varejo restrito, conforme consta o gráfico 3.
Black Friday Fraca
Apesar da Black Friday deste ano ter apresentado um crescimento em relação a 2020, com alta de 16,4% no e-commerce e 4,0% nas lojas físicas, apresentou uma queda de 3,8% o faturamento nominal quando comparado com 2019 (pré-pandemia)
Nesta edição ainda, tivemos o destaque de categorias até então fora do usual:
- Turismo e Transporte (+46,0%)
- Cosmético e higiene pessoal (+15,3%)
- Drogarias e farmácias (+7,2%)
- Supermercado e hipermercado (+5,6%)
- Móveis, Eletro e Lojas de Departamento (+5,2%)
- Vestuário (+4,2%)
- Livrarias, papelarias e afins (+0,5%)
O segmento do vestuário é uma das últimas categorias que tiveram algum crescimento de faturamento nominal, ficando atrás de categorias como cosmético, higiene pessoal, farmácia e supermercados, itens de consumo básico e recorrente na carteira do consumidor.
Assim, apesar do quarto trimestre ter um importante evento do varejo que é a Black Friday, podemos esperar uma queda de desempenho em relação a 2019, dado justamente à deterioração do cenário macroeconômico.
Lojas Marisa (AMAR3): data da divulgação 16/03, após fechamento do mercado.
As lojas Marisa é aquela mais fragilizada do setor de vestuário, não só por conta da maior exposição à volatilidade econômica do seu público-alvo mas também pela carência de investimento em suas operações. Estamos estimamos uma receita líquida de R$ 812,8 milhões no trimestre, com crescimento de 5,45% em relação ao mesmo período do ano passado, mas abaixo em 9,95% do 4T19, puxada pelo impacto do fluxo de pessoas em lojas de rua e pelo processo de recomposição de carteiras.
O crescimento da receita frente ao mesmo período do ano passado pode ser atribuído à melhora gradativa das operações de varejo frente ao maior arrefecimento da pandemia (carrego de mercado) e também dos investimentos pontuais que a companhia tem feito em algumas lojas do varejo, além da própria melhoria nas operações financeiras impulsionada (i) pela retomada do fluxo de pessoas em loja, e (ii) pela reestruturação e digitalização da marca MBank.
Em termos de margem, estimamos uma margem bruta consolidada de 41,26% impactada pelo maior nível de remarcação da companhia, dado a elevação do estoque no 3T21 e uma Black Friday fraca. Em relação ao EBITDA, as nossas estimativas é que ele fique em torno de R$ 82,8 milhões, abaixo do 4T20 e 4T19, em razão da alta da inflação, do IGP-M e dos investimentos em iniciativas digitais e da fragilidade operacional. A expectativa é que a companhia feche o trimestre com uma margem EBITDA de 10,20% e um lucro líquido de R$ -9,4 milhões, um aumento de 71% em relação ao ano passado, mas ainda uma queda em relação ao 4T19.
Quando comparado ao 4T19, a compressão de margem bruta e margem ebitda é de 6,9 p.p. e 8,8 p.p. respectivamente. Sendo que o grande ponto de risco é o endividamento que deve se manter nos mesmo patamares elevados, com a dívida bruta representando cerca de 47% do total da estrutura de capital da empresa. A maior participação de empréstimos e financiamento bem como a expectativa da rolagem de dívida encarem o custo do capital, o que faz a lucratividade cair frente ao aumento da despesa financeira.
Guararapes (GUAR3): data da divulgação 09/03, após o fechamento do mercado.
Assim como as Lojas Marisa, a Guararapes também tem foco na classe C e D e portanto também foi impactada pela escalada da inflação mas em menor grau, pois a companhia tem conseguido trabalhar bem diferentes estratégias para diferentes endereços de loja, através da proposta de uma coleção e de uma precificação assertiva nas marcas Riachuelo e Carter’s. É por isso que a expectativa é que a receita líquida seja R$ 2,65 bi, um crescimento de 8,9% em relação ao 4T19, com a categoria de mercadorias apresentando um crescimento de 12,7%. Vale ressaltar que esse crescimento poderia ser ainda maior se a companhia não tivesse os impactos da queda de consumo de eletrônicos em suas lojas, categoria esta que tem sofrido com a falta de insumos no mercado.
Em termos de margem, podemos esperar uma margem bruta de 56,6% e EBITDA de 17,7%, uma compressão de -4,7 p.p. e -5,4 p.p. em relação ao 4T19, por conta da alta do dólar, inflação, IGP-M e dos investimentos nas novas iniciativas digitais. Cabe destacar dois pontos: (i) a importância da indústria Guararapes para assegurar uma eventual queda maior na margem bruta, fazendo com que a companhia fique menos exposta às oscilações do dólar e ao aumento de preço de fornecedores; (ii) aos investimentos em iniciativas digitais, não só no que tange à implementação das novas tendência dentro de lojas físicas (Ship from Store, Retire Rápido…), mas também à digitalização da operação, com implementação de algoritmos, o que gera uma compressão natural de margens.
A expectativa é que o EBITDA atinja R$ 471,4 milhões, e o lucro líquido feche em R$ 221 milhões, uma queda de 39% em relação ao mesmo período do ano passado, e uma queda de 36% em relação ao 4T19.
Lojas Renner (LREN3): divulgação no dia 17/03 após fechamento do mercado.
Dentre as 3 varejistas, a Renner é a mais consolidada e a menos exposta à inflação, uma vez que o foco do seu público é o B e C, que possui maior poder de compra. Estimamos uma receita líquida de mercadoria de R$ 3,5 bi no trimestre, com crescimento de 21,9% (vs. 4T19), em consequência do (i) arrefecimento da pandemia, (ii) da assertividade na coleção de fim de ano, da eficiência operacional e (iii) do aumento de market share da companhia, diante da deterioração do varejo de vestuário no Brasil, com pequenas marcas tendo uma dificuldade de reestruturar suas operações frente aos impactos negativos deixados pelas duas ondas sucessivas de pandemia. Vale destacar que dentre as 3 empresas de vestuário fast fashion da nossa cobertura, as Lojas Renner é a única que apresenta dívida líquida negativa.
Considerando as operações financeiras, a estimativa é que a receita líquida da companhia cresça 20,12%, um crescimento um pouco abaixo da receita líquida de mercadoria, frente à tendência de recuperação dos serviços financeiros, que foram prejudicados pela queda do fluxo de pessoas em loja durante a pandemia, mas que está em tendência de recuperação visto nos resultados dos últimos trimestres.
Em termos de margem, podemos esperar uma margem bruta de 55,6% e EBITDA de 20,1%, uma compressão de -6,3p.p. e -6,0p.p. em relação ao 4T19, por conta da alta do dólar, do IGP-M, da inflação, e dos investimentos nas novas iniciativas digitais da companhia, além de outros efeitos não recorrentes, como PPR. Quando comparados ao 4T20, essa queda fica de -0,4 p.p. para a margem bruta e 0,0p.p, para a margem EBITDA, portanto um resultado relativamente estável em relação ao 4T20.
Cabe destacar que a nova estratégia de negócios da companhia é criar uma plataforma digital referência no segmento de moda e lifestyle. Para isso, a Renner tem (i) trabalhado com dados, para gerar propagandas de marketing mais conversíveis e operações mais assertiva no varejo e no marketplace, (ii) digitalizado o ecossistema financeiro para acoplar a plataforma, e (iii) investido no CD para gerar eficiência às operações digitais. Na nossa perspectiva, acreditamos que os investimentos feitos trarão ganhos futuros, dado a confiança na execução da companhia, portanto esperamos neste trimestre um aumento do GMV, da base ativa de clientes, sobretudo os do omnichannel que tem maior recorrência de compra a um ticket médio maior.
A expectativa é que o EBITDA atinja R$ 781,8 milhões, e o lucro líquido feche em R$ 407,6 milhões, uma alta de 15,4% em relação ao mesmo período do ano passado, e uma queda de 20,5% em relação ao 4T19.