Durante 2021, a Renner recuperou (e até mesmo ultrapassou) o faturamento líquido dos níveis pré-pandêmicos. O chamado “consumo de vingança” deu um boost importante para a maior loja de departamento vestuário do Brasil.
Mas espera aí, você sabe o que significa esse termo “consumo de vingança”?
Este é um fenômeno que descreve perfeitamente o comportamento dos consumidores que saíram do isolamento social. Como a pandemia prolongada restringiu a vida cotidiana das pessoas por mais de um ano, desprovidos de atividades sociais e viagens recreativas, acabamos buscando o conforto no que muitos rotularam de “gastos de vingança”.
Mas esse é um fenômeno temporário. A alta inflação e elevado nível de desemprego são dois fatores que pressionam (e muito) o setor de varejo vestuário, principalmente quando olhamos para empresas que tem como cliente alvo o brasileiro médio (A-, B e C+).
Em uma situação como essa, de cenário macroeconômico deteriorado, as companhias maiores se encontram em posições “mais confortáveis”, afinal a sua escala lhe permite maior eficiência operacional, preservando a sua saúde financeira por mais tempo que uma empresa de menor porte poderia aguentar.
A Lojas Renner, maior player do varejo vestuário brasileiro, divulgou os números referentes ao 1º trimestre de 2022. E bom, as suas cifras mostraram que as vendas das “brusinhas” aconteceram à todo gás no período – consumo de vingança ainda vinga? (perdão pelo trocadilho).
Avaliamos o resultado da varejista de forma bem positiva, com todas as linhas performando acima de nossa estimativa. Mantemos a varejista como nosso top pick do setor, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 35. Abaixo, reunimos a tabela com os números consolidados. Que tal abrirmos um pouco mais a discussão sobre essas linhas? Vem com a gente!
Receita líquida
O fluxo de receitas da lojas Renner foi semelhante ao que vimos acontecer com outras varejistas (até agora): um janeiro fraco, mas com recuperação a partir de meados de fevereiro e aceleração em março.
A Renner tem mostrado eficiência digital, trimestre após trimestre. O GMV digital atingiu R$ 434 m nesse 1º trimestre de 2022, com uma penetração digital de 15,1%. Ao compararmos com o 1T21, é importante destacar que a penetração digital caiu 2,7 pp, justificada em razão do fluxo de fechamento das lojas no ano passado devido à disseminação da variante Delta, o que acabou impulsionando a demanda online no período.
Antes de seguirmos a fundo em nossa análise, queremos que você saiba que usamos 2019 como nossa principal base de comparação. Entendemos que a comparação entre 2021 e 2020 podem trazer distorções devido ao fluxo e demanda prejudicada pela pandemia.
As vendas do varejo são divididas entre três canais: Renner (inclui Ashua e Repassa), Camicado e Youcom. Todas as operações observaram as suas vendas performarem acima do nível visto no 1º trimestre de 2019. A forte alta é fruto de maiores volumes de peças e, também, maiores tickets médios.
Estimávamos um faturamento líquido de R$ 2,5 b. A Renner reportou uma receita 2,5% acima de nossa expectativa.
A Youcom brilhou nesse trimestre. Apesar de a receita ser pouco representativa no total (3,2% de vendas do varejo), o canal de moda jovem da Renner apresentou um crescimento de 81% em relação ao mesmo período de 2019, faturando R$ 71 m. O resultado é fruto de um posicionamento de produto e comunicação digital (parceria com influencers) mais assertivas.
A Camicado, que vem mostrando um importante crescimento no mix de produtos através de seu marketplace, também mostrou força no período, com um crescimento de 22,2% ante 1T19, faturando R$ 139 m.
O aumento de vendas da Rennre foi suportado por um maior sprending nos cartões, tanto “private label” quanto o “co-branded”.
E as margens?
Margem Bruta
A margem bruta do varejo ainda segue 20 pontos-base (bps) abaixo do nível visto em 1T19. No entanto, vemos uma forte diminuição do gap deixado pela pandemia, com um forte avanço de 300 bps ano contra ano.
A maior produtividade da companhia quase que compensou os desafios de câmbio e maiores custos de matérias-primas do período. O investimento em tecnologia tem começado a surtir efeitos positivos no operacional da Renner, gerando uma maior otimização de estoques e remarcações de roupas em menor nível histórico.
A Camicado jogou contra a recuperação de margem ante 2019, o que é explicado pela exposição de seu mix de produtos, impactado diretamente por efeitos cambiais. No consolidado, a Renner teve uma margem de 55,1% no 1T22.
Margem EBITDA
Líder do mercado vestuário, a Renner mostrou que escala importa (e muito) aqui. A companhia conseguiu diminuir expressivamente o gap deixado pela pandemia. As despesas com SG&A cresceram menos do que o “top line”, o que demonstra uma maior eficiência operacional da varejista.
No 1T22, as despesas SG&A foi de 41,6% da receita líquida, muito abaixo do patamar visto no 1T21 (54,9%), mas ainda acima do nível de 2019 (36,9%).
Com uma maior eficiência operacional, a companhia conseguiu elevar sua margem EBITDA para 17,2%, acima da média histórica dos últimos 5 anos.
Lembra que falamos sobre desconsiderar o período de pandemia em nossa análise? Aqui ele poderia causar uma distorção, uma vez que a Renner ainda tem um forte gap a preencher. No 1T19 a margem EBITDA foi de 25%. Enxergamos uma normalização ao longo do ano, se aproximando mais das margens vistas em 2019.