Em geral, os resultados do 4T21 ficaram em linha com as nossas estimativas, mas abaixo das expectativas de mercado que superestimava um EBITDA de R$ 1.056,4 milhões acima em 36% do reportado (R$ 776,1 milhões). O principal motivo deste descasamento foi o impacto relevante e negativo do provisionamento do Programa de Participação de Resultado (PPR) que ficou acima do usual, tratando-se de um efeito temporário e não recorrente. Por conta desse provisionamento, mesmo com os incentivos fiscais, a companhia encerrou o trimestre com R$ 415,8 milhões de lucro líquido, relativamente abaixo das estimativas de R$ 458 milhões.
Apesar dos resultados abaixo do consenso, a companhia apresentou neste 4T21 uma melhora dos fundamentos operacionais. Os investimentos nas novas iniciativas digitais já tem apresentando uma melhora nos economics, visto por exemplo na redução em 18% do custo de entrega, na eficiência da gestão de estoques, e na diluição das despesas com vendas frente ao crescimento de receita. Diante de tais melhorias e por acreditarmos que a Renner ainda está em uma ótima posição para abocanhar parte do mercado num cenário pós-pandemia, pela situação confortável de caixa e dívida, ainda continuamos com a recomendação de COMPRA da ação, estipulando um preço-alvo de R$ 35,00.
Varejo: Resultados sólidos mostram a liderança da companhia e uma boa execução
A receita líquida de mercadoria ficou dentro das nossas estimativas de R$ 3,5 bi, representando um crescimento de 22% (vs. 4T20) e 23,8% (vs.4T19); e um SSS de 18,9% (vs. 4T20) e 17,7% (vs. 4T19). A boa performance das vendas é reflexo não só do arrefecimento da pandemia, mas também da sólida posição de liderança da companhia e da assertividade na execução das operações que culminaram em ganhos consistentes no market share.
O quarto trimestre é o período mais forte do varejo por conter datas importantes como Dia das Crianças, Black Friday e as festas de Natal e Ano Novo. No entanto, por conta da deterioração do ambiente macroeconômico, a performance de vendas do quarto trimestre deste ano ficou abaixo do potencial visto no ano de 2019, impactando varejistas como Marisa e Guararapes. No entanto, a Lojas Renner foi um ponto fora da curva e conseguiu ter um bom desempenho em todas essas datas, com aumento da conversão e do ticket médio.
Das 3 principais marcas da companhia, o destaque fica para a YouCom, que apresentou um crescimento de 39,9% vs. 4T20, seguindo da própria marca Renner com um crescimento robusto de 22,4%. Em relação aos canais digitais, o GMV totalizou R$ 514,4 milhões, um crescimento de 36,3% vs. 3T21, mostrando a constante evolução da companhia neste novo segmento de negócios. O marketplace segue em evolução com +119 sellers e o dobro de SKUs.
A margem bruta de 55,0% representou uma compressão de 3,0 p.p. (vs.4T19) dado aos já esperados efeitos da alta da inflação e da desvalorização do real. Entretanto, quando comparado ao 4T20, a margem aumentou em 1,2 p.p. em razão (i) dos repasses parciais dos custos, frente a assertividade da coleção e integração eficiente dos diversos canais de venda, e (ii) dos níveis saudáveis de remarcações, com uma gestão de estoque cada vez automatizada, pautada em uso de dados e Inteligência Artificial.
O EBITDA do varejo de R$ 724,5 milhões cresceu 7,0% em relação ao 4T20, mas ainda ficou abaixo em 16,3% do 4T19, frente aos maiores gastos com o desenvolvimento do ecossistema de moda e lifestyle, alta da inflação, investimentos nos canais digitais e efeito não recorrente do PPR.
A expectativa é que os gastos no canal digital se mantenham relativamente altos em relação ao pré-pandemia, mas sejam compensados pela diluição do crescimento de receitas e ganho de know-how em marketing e logística, o que já foi verificado neste trimestre, constituindo algo de extrema importância para a companhia.
Realize: Meu Cartão é destaque no resultado
A receita líquida de serviços financeiros foi acima das nossas projeções e atingiu R$ 301,6 milhões (+98% vs. 4T20 e -3,1% vs.4T19), impulsionada pela retomada do fluxo de pessoas em lojas e pela boa performance do produto Meu Cartão, que atingiu uma receita líquida de R$ 259,8 milhões (+112% vs. 4T20 e + 33% vs. 4T19), com a carteira atingindo R$ 3.679,3 milhões e já superando os níveis pré-pandemia. O EBITDA encerrou o trimestre em R$ 51,6 milhões, abaixo em 13,8% no contra-ano, em razão da perda líquida positiva do 4T20. Os níveis de perda sobre carteira tem ficado em linha com os níveis históricos e a qualidade de crédito ainda é verificada.
Deu no que deu
Considerando os resultados das operações de varejo e da financeira tivemos um EBITDA consolidado de R$ 776,1 milhões abaixo das expectativas do mercado principalmente por conta dos impactos relevantes e não recorrentes do PPR. Como consequência, o lucro líquido fechou o trimestre em R$ 415,8 milhões, um crescimento de 17,5% maior que o 4T20, mas relativamente abaixo das expectativas do mercado.
O que esperar daqui para frente?
Acreditamos que a Renner ainda está em uma ótima posição para abocanhar parte do mercado num cenário pós-pandemia e marcado por incertezas econômicas. A companhia possui uma operação sólida e está com um endividamento e uma posição de caixa muito saudável, especialmente após o aumento de capital de R$ 4 bilhões anunciado em abril de 2021. Com mais recursos disponíveis tem folga para expandir suas operações de forma orgânica e inorgânica, fazendo frente à concorrência e mantendo sua posição de liderança no segmento de fast fashion ao aumentar a eficiência do e-commerce, do marketplace; e investir na remodelagem e expansão de novas lojas.
Fato que os investimentos em novas iniciativas digitais tem trazido no curto prazo uma compressão de margens mas, cabe destacar que esses investimentos já têm apresentado melhorias operacionais vistos na redução do custo de entrega, eficiência na gestão de estoques e incremento da receita proveniente da expansão de clientes omni, por exemplo. É diante deste cenário, que ainda continuamos com a nossa recomendação de COMPRA estipulando um preço-alvo de R$ 35,00.