Com a inadimplência ainda em alta, tesouraria com resultados negativos por conta da Selic elevada e a margem com clientes (NIM clientes) sob pressão por conta de um mix mais cauteloso, esperamos mais um ano de lucros decrescentes. Em 2022, o lucro do banco de R$ 12,9b caiu -21% a/a. Para esse ano de 2023, esperamos uma queda mais suave de -10% a/a, chegando a R$ 11,65b e um ROE ainda pressionado de 13,7%. Desta forma, esperamos que o lucro e rentabilidade do Santander Brasil voltem apenas em 2024.
Esperamos que a mesma dinâmica negativa permaneça nesses primeiros trimestres do ano e vá melhorando mais para o segundo semestre. Dessa forma, esperamos um lucro líquido (ajustado por ágio) recorrente de R$ 2,4b (R$ 2,3b BRGAAP) para o 1T23, queda de -40% a/a, mas com uma melhora em relação ao 4T22 dos R$ 1,7b. Com isso, estimamos uma rentabilidade fraca, com um ROE de apenas 12%, ainda bem abaixo dos 18-21% que costumava rodar. Projetamos o lucro e rentabilidade melhorando ao longo do ano, mas dependente dos impactos adicionais de Americanas (30% apenas provisionados) e melhora na frente de tesouraria.
Continuamos com uma visão mais negativa para Santander em relação ao Itaú e Banco do Brasil, assim reiteramos nossa recomendação de VENDER com preço alvo de R$ 27,0. Por mais que entendemos que os múltiplos de 8,41x P/L 23E e 1,12x P/VP 23E sejam historicamente baixos, não vemos gatilhos para valorização das ações no curto prazo e encontramos outras opções no setor com valuation mais interessantes.
O cenário de juros elevados no Brasil deve continuar e não vemos perspectivas de queda no curto prazo, com um potencial arrefecimento nas taxas mais para o final do ano, caso aconteça, mas ainda terminando 2023 em patamares elevados. Apesar da expectativa de aumento de juros ser praticamente rechaçada, o cenário de Selic elevada deve continuar a pressionar o resultado de tesouraria (NII Mercado) do Santander em 2023, que não deve ser muito diferente do reportado em 2022, mas com uma evolução contraria: pior no 1º semestre, melhorando no 2º semestre.
O custo de crédito deve continuar pressionado, mas deve ter uma evolução bem melhor que em 2022, quando a PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) expandindo em vultuosos 80% a/a. Para 2023 esperamos uma PDD crescendo mais ou menos em linha com o crescimento de crédito (um pouco menos de 10%) a depender do provisionamento de Americanas que até agora foi de apenas 30% dos créditos tóxicos, diferentemente dos bancos que provisionaram 100%.
Carteira de Crédito: Em linha com o mercado
Esperamos que a carteira de crédito do Santander tenha um crescimento em linha com as estimativas da FEBRABAN para o ano de 2023, desacelerando devido a maior seletividade na composição do mix do portfólio, sendo esperado um aumento de +8,6% a/a 2023E. Já para o 1T23, acreditamos que seguirá o movimento projetado para o ano, com um aumento de +1,7% t/t e +9,4% a/a.
Receita de Juros (NII): Marcado pela tesouraria
Esperamos que o NII do 1T23 fique em R$ 12,55b no trimestre (-9,4% a/a e +5,3% t/t). Para 2023, esperamos um crescimento de 4,3% a/a, um pouco abaixo do crescimento da carteira de crédito (+8,6% a/a). Estimamos que o NII mercado (tesouraria) continuará pressionado devido aos juros altos, com um saldo negativo de -R$ 3,95b para o ano de 2023 e -R$ 1,25b para o 1T23. Já a margem com clientes, estimamos um menor spread devido a recomposição do mix, crescendo 7% a/a em 2023 e 6% a/a no 1T23, um pouco abaixo do saldo da carteira de crédito.
Tarifas
Esperamos que a receita de tarifas cresce algo em torno de 5% em 2023 após um 2022 sem crescimento. Para o 1T23, estimamos um total de R$ 4,79b (-5,6% t/t e +3,7% a/a), devido fraca atividade no banco de investimento (atacado) e conta corrente, mas com melhorias na frente de consórcio e seguros.
Provisão: Sofrendo com safras antigas
Esperamos que para o ano de 2023, a provisão para crédito duvidoso cresça 8,6%, em linha com o crescimento da carteira. O Santander sofreu mais que outros bancos por ter uma participação de 58% em crédito pessoal física, bem acima de seus pares incumbentes (Itaú com 35% e Banco do Brasil com 32%). Para o 1T23, esperamos que a PDD continue alta, pressionada pelas safras antigas e pelo cenário macroeconômico desafiador, mas estimamos que caia nos próximos trimestres ao longo do ano. Portanto, estimamos que as provisões continuem altas em R$ 6,3b para o 1T23 (-5% t/t e +50% a/a), similar ao 4T22 (excluindo o efeito de Americanas).
- Americanas
Acreditamos que o Santander possa realizar novas provisões durante o ano, conforme o desdobramento da recuperação judicial. No 4T22, o banco provisionou 30% da carteira total, assim, ainda possui espaço para novas provisões, que impactaria os resultados.
Em conversa com o Santander, a companhia acredita que não será necessário fazer uma provisão de 100% dos créditos tóxicos de Americanas, mas que pode ter algumas provisões ao longo do ano. Assim, ficamos ainda cautelosos com as ações do banco, já que a agenda não deve ser de crescimento para este ano.
Despesas Administrativas
Estimamos que as despesas administrativas cresçam em linha com a inflação em 2023 em torno de 5%-6%. As despesas no 1T23 esperamos o montante de R$ 7b queda -1% a/a e -5,3% t/t devido a sazonalidade no t/t e outras despesas administrativas no comparativo anual.
Imposto
Esperamos uma alíquota de imposto de 22,8% para o 1T23 e 26% para 2023, sendo beneficiada, principalmente, pelo pagamento de JCP (Juros sobre Capital Próprio).