Nossa leitura dos resultados do Santander foi positiva, com o banco entregando uma continuidade na melhora de ROE e crescimento de lucro em sua trajetória de recuperação de rentabilidade e diversificação. No 2T24, o Santander reportou um lucro de R$ 3,3 bilhões (+10% t/t e +44% a/a), alinhado com nossas estimativas (+2,6%) e 4% acima do consenso de mercado. A rentabilidade (ROE) continuou a melhorar, atingindo 15,2% (+1,3pp t/t e +4,2pp a/a), embora ainda esteja aquém de outros pares como Itaú e Banco do Brasil, que operam acima de 20% de ROE.
Durante a conferência de resultados, o CEO Mario Leão reafirmou o compromisso do banco em alcançar novos patamares de ROE, com a próxima meta de atingir níveis entre 17% e 19% (high-teens) em alguns trimestres, visando eventualmente alcançar ROEs de 20%. Para 2025, estimamos um ROE de 16,7% para o Santander.
Neste trimestre, o desempenho do banco foi impulsionado pelos seguintes fatores:
- Crescimento da receita total: A receita aumentou 1,5% t/t e 14,5% a/a, destacando-se pelo forte crescimento das comissões, que subiram 6,1% t/t e 17,5% a/a. Do lado negativo, o NII clientes sofreu pressão neste trimestre devido à queda dos níveis de spread, impactado pela queda da Selic no período.
- Redução das provisões para devedores duvidosos (PDD): As provisões diminuíram 2,4% t/t e 1,4% a/a, enquanto a inadimplência acima de 90 dias permaneceu estável t/t e caiu 0,2 pp a/a, para 3,2%.
- Controle de despesas administrativas: As despesas administrativas totais cresceram apenas 0,7% t/t e 5,6% a/a, permanecendo sob controle.
Além disso, a carteira de crédito do banco acelerou em relação ao 1T24, com uma expansão de 7,8% a/a.
Lucro, Custo de Crédito e ROE: Melhora de rentabilidade e queda no custo de crédito
No 2T24, o banco também reconheceu um ganho da capital referente a JV (joint-venture) entre Ben, companhia de benefícios corporativos do Santander, com a Sodexo/Pluxee, no valor de R$ 1,93 bilhões. Esse valor, reconhecido como não-recorrente na DRE, foi convertido completamente em um reforço de balanço, através da realização de provisões adicionais, que permitiram a expansão do índice de cobertura.
Apesar da contínua melhora na rentabilidade, acreditamos que o valuation do banco está negociando a um prêmio em relação a rivais com rentabilidade superior. Negociando a 7,6x P/L 2024e, 6,5x P/L 2025e e 1,1x P/VP 2024e, acreditamos que existem melhores opções de investimento. Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de MANTER com preço-alvo de R$ 31,80, representando um potencial de valorização de 12%.
Santander (SANB11) | Resultado 2T24: ROE chega a 15,2%
Carteira de Crédito: Expandindo t/t e a/a
A carteira de crédito chegou a R$ 538,7b no 2T24, apresentando uma expansão de +2,5% t/t e +7,8% a/a. No trimestre, a carteira foi beneficiada pelo aumento da carteira de financiamento ao consumo que cresceu +4,5% t/t (+11,8% a/a) e grandes empresas que aumentou +4,1% t/t (+1,9% a/a), beneficiada pela variação cambial. Na visão anual, a pessoa física segue com boa expansão (+8,7% a/a), assim como as Pequenas e Médias Empresas (PMEs), que cresceram +14% a/a. Após a revisão da política e modelo de crédito, o banco tem priorizado o crescimento em segmentos específicos de maior margem líquida de provisões. Destaque para veículos (+34% a/a), cartões (+11% a/a), alta renda Select (+15% a/a) e crédito consignado (+17% a/a), evidenciando um foco estratégico na melhoria sustentável da rentabilidade.
A carteira renegociada atingiu R$ 30,3 bilhões, mostrando uma redução de -4,4% t/t e -14,9% a/a, representando 5,6% do total da carteira (-0,4 pp t/t e -1,5 pp a/a). Acreditamos que a continuidade da redução na proporção da carteira renegociada em relação a carteira total, o que tem acontecido desde o 4T22, terá um impacto positivo nas despesas com PDD nos próximos trimestres.
Receita Líquida de juros (NII): Impactado pelos spreads e tesouraria
A receita líquida de juros (NII) apresentou uma piora t/t de -0,3%, mas com expansão de +10,6% a/a, totalizando R$ 14,75b.
- Margem com clientes (NII Clientes): A linha apresentou aumento de apenas +0,2% t/t e +3,0% a/a, ficando em R$ 14,49b. Apesar da melhora no volume (+2,6% t/t e +6,8% a/a), a queda nos spreads (-0,2pp t/t e -0,2pp a/a) pressionou a evolução da linha. O menor nível de spread ocorreu em especial pela queda da Selic no período, que impactou a margem de captação.
- Margem com Mercado (NII Mercado): A linha apresentou uma piora t/t de -22,6% devido a volatilidade do mercado que reduziu o resultado de tesouraria, fechando em R$ 258m. Apesar da piora trimestral, o montante do 2T24 reflete uma melhora significativa na visão anual, quando a linha chegou ao valor negativo de -R$ 736m mesmo período do ano passado.
NII e Spreads: Leve piora t/t no NII, mas tesouraria continua positiva
Receita de Tarifas: Destaque nas receitas, com forte crescimento
A receita de tarifas ou comissões apresentaram uma expansão robusta de +6,1% t/t e +17,5% a/a, totalizando R$ 5,2b. No trimestre, a linha foi beneficiada pelo desempenho de cartões (+7,2% t/t e +13,4% a/a), corretagem e colocação de títulos (+11,8% t/t e +9,0% a/a) e seguros (+4,3% t/t e +24,9% a/a). Já na visão anual, as linhas que mais beneficiaram foram Seguros (+24,9% a/a), Cartões (+13,4% a/a) e Operações de Crédito (+21,1% a/a).
Outras receitas/despesas: Relativamente estável t/t e a/a
No trimestre, as outras receitas e despesas se mantiveram relativamente estáveis na comparação trimestral (+0,1% t/t) e anual (-0,8% a/a), totalizando R$ 2,5b. No trimestre, o forte aumento de provisões para contingências (+21,8% t/t) foi compensado pela retração nas linhas de resultado de cartões (-17,5% t/t) e outras (-9,1% t/t).
Inadimplência: Estável, mesmo com forte aumento em PME
A inadimplência acima de 90 dias ficou em 3,2%, estável t/t e com leve melhora de -0,1pp a/a. No trimestre, houve uma melhora na inadimplência pessoa física que atingiu 4,2% (-0,1pp t/t e -0,6pp a/a), por outro lado a pessoa jurídica piorou +0,1pp t/t e +0,2pp a/a, chegando a 1,6%.
A piora da inadimplência no segmento de pessoa jurídica foi impulsionada principalmente pelas Pequenas e Médias Empresas (PMEs), que atingiram 4,7% (+0,3pp t/t e +0,5pp a/a). Esse aumento é atribuído a efeitos pontuais da alteração do modelo de cobrança e da estratégia de renegociação no início do ano. O banco tem evitado a renegociação (rolagem) de certas dívidas, o que elevou o índice de inadimplência. No entanto, as novas safras estão apresentando uma qualidade significativamente melhor.
Inadimplência (+90): Estável t/t
Despesas com Provisão de Crédito (PDD): Melhor e com reforço
A provisão para devedores duvidosos (PDD) ficou em R$ 5,9b no 2T24, apresentando uma melhora de -2,4% t/t e -1,4% a/a. A queda da PDD é reflexo da melhora da qualidade das novas safras, em especial no segmento de varejo.
A redução da PDD somado a expansão da carteira de crédito, resultou na melhora do custo de crédito que chegou a 3,7% (-0,1pp t/t e -0,8pp a/a).
Neste trimestre, o banco realizou uma provisão adicional de R$ 1,9b, aproveitando a entrada de uma receita no mesmo montante referente a joint venture com a Pluxee (ex Sodexo) no 2T24 e a venda de participação da Webmotors no 2T23. Com isso, o índice de cobertura melhorou, chegando a 215%, aumento de 5,7pp t/t e 1,4pp a/a.
Por fim, o NPL formation ex-renegociação ficou em R$ 6,3b (-7,4% t/t e -25,7%), influenciado principalmente pela melhor qualidade da carteira. Já o NPL formation líquido de recuperação ficou em R$ 5,6b (-7,1% t/t e -39,3% a/a).
PDD e Custo de Crédito: Melhora t/t e a/a
Despesas Administrativas: Controladas
As despesas administrativas permanecem sob controle, alcançando R$ 7,68 bilhões, marcando um aumento de +0,7% t/t e +5,6% a/a. O leve aumento trimestral ocorreu em especial pela expansão de +3,6% t/t nas despesas gerais, por outro lado, o aumento anual foi impulsionado principalmente pela despesa de pessoal (+7,8% a/a).
Como as despesas cresceram em um ritmo menor que as receitas, o índice de eficiência operacional chegou a 38,8% (melhora de -0,4pp t/t e -3,6pp a/a).
No 2T24, o banco registrou uma modesta redução no número de funcionários, com uma queda de -0,2% t/t e -0,1% a/a, mas uma acentuada redução nos pontos de atendimento, que diminuíram -3% t/t e -13% a/a. Esperamos que essa tendência de queda, tanto no número de funcionários quanto em pontos de atendimento, continue nos próximos trimestres, alinhada com a estratégia de melhora de eficiência do banco.
Colaboradores e Pontos de Atendimento: Continuidade na redução de agências
Imposto: Ainda em patamares baixos
A alíquota de imposto ainda continua baixa, fechando o trimestre em 13,6%, beneficiada em parte pelo pagamento de Juros sobre Capital Próprio (JCP) sobre uma base de lucro antes de imposto ainda sobre pressão.
Capital: Menor t/t
O índice de Basiléia ficou em 14,4%, leve queda de -0,1pp t/t em função do aumento do ativo ponderado pelo risco (+2,4% t/t). Na visão anual, o índice de Basiléia aumentou em de +0,9pp a/a, puxado pelo crescimento do patrimônio de referência (+7,3% a/a). Já o capital principal (CET1) chegou a 11,2%, com uma pequena queda de -0,2pp t/t, mas registrando um aumento de +0,6pp a/a.