O Santander Brasil iniciou hoje a temporada de resultados do 4T23. Na nossa análise, embora o resultado não tenha sido satisfatório, alguns pontos positivos podem ser observados para 2024. O lucro líquido de R$ 2,2 bilhões sofreu uma queda significativa de 19% em relação ao trimestre anterior, ficando cerca de 24% abaixo das nossas estimativas e das expectativas do mercado. A rentabilidade (ROE) de apenas 10,3% permanece em níveis baixos em comparação com o histórico do banco e de alguns concorrentes, e está abaixo dos 12,4% reportados pelo Grupo Santander no mesmo trimestre. Com isso, o banco que vinha numa crescente de rentabilidade, teve uma piora nesse trimestre, parte disso, acreditamos para reforçar 2024.
Apesar do resultado aparentemente fraco, identificamos alguns aspectos positivos que podem contribuir para a reversão dos resultados fracos de 2023 ao longo de 2024. O banco fortaleceu seu balanço neste trimestre com provisões de crédito, o que pode ajudar a mitigar a necessidade de provisões futuras. Além disso, espera-se que as linhas de receita comecem a se recuperar devido ao crescimento em segmentos com spreads maiores e receitas de serviços. Embora não consideremos o resultado como positivo, é possível que não seja tão ruim quanto aparenta ser. No meio do pregão, as ações SANB11 caem 2,5%, enquanto BBDC4 e ITUB4 apresentaram alta próxima a 1,5%.
O trimestre foi impactado principalmente pelo aumento nas provisões para devedores duvidosos (+22% t/t), puxado pela provisão de 20% dos créditos tóxicos de Americanas no valor de R$ 730m (agora 70% provisionados) e outros casos menores do segmento atacado que estimamos somar perto de R$ 490m (dos quais R$ 400m ainda adimplentes), totalizando R$ 1.220m de provisões especificas no atacado. Por outro lado, no segmento de varejo, o banco reverteu provisões adicionais no valor de aproximadamente R$ 392m, contribuindo parcialmente para a redução das provisões totais. A inadimplência de curto prazo (15-90 dias) melhorou para 3,8% (-0,2pp t/t) devido a melhor performance das novas safras, com destaque para pessoa física (-0,4pp t/t). Já a inadimplência acima de 90 dias apresentou um leve aumento de 0,1pp t/t devido ao portfólio renegociado. Por fim, a carteira de crédito (visão BACEN) cresceu +2,8% t/t e +5,5% a/a (carteira ampliada cresce 9% a/a), com foco no crescimento em segmentos estratégicos como agronegócio (+42% a/a), consignado (+13% a/a), veículos (+11% a/a) e pequenas e médias empresas (+8,9% a/a).
Apesar do trimestre fraco, esperamos uma melhor rentabilidade e eficiência operacional em 2024, com provisões mais normalizadas (custo de crédito cadente) devido à carteira de crédito saudável, volta ao crescimento de carteira e linha de serviços e melhores indicadores de inadimplência, em especial nas novas safras.
Reiteramos nossa recomendação de MANTER, com um preço-alvo de R$ 31,8. As ações do banco estão sendo negociadas a 7,7x P/L 2024E e 1,2x P/VP 2023, refletindo um prêmio ou paridade em relação a outros bancos com melhor desempenho neste ciclo de crédito. Em nossa análise, parte da melhoria dos resultados parece já estar precificada. Entre os grandes bancos, nossa preferência está pelo Itaú, seguido pelo Banco do Brasil, Bradesco e, por último, o Santander.
Santander 4T23: Fraco, mas nem tanto. Preparando terreno para 2024
Lucro, Custo de Crédito e ROE: Quebra da sequência de melhora de rentabilidade
Crédito: Acelerando em linhas de mais risco
A carteira de crédito visão BACEN (Banco Central) ficou em R$ 516,6b, crescimento ainda tímido de apenas 2,8% t/t e 5,5% a/a. Desconsiderando o efeito cambial, o crescimento trimestral seria de 3,1%, mas com aumento de 6,2% a/a. Considerando a carteira de avais e fianças também, a carteira ampliada cresceu 2,8% t/t e 9,0% a/a.
No trimestre, os destaques positivos foram o segmento de pessoa física (R$ 240b, +3,1% t/t e +6,0% a/a), financiamento ao consumo (R$ 70b, +5,5% t/t e +2,6% a/a) e Pequenas e Médias empresas (R$68b, +5,2% t/t e +8,9% a/a). Já do lado negativo, a linha de grandes empresas (Corporate R$ 139b) retraiu 0,1% t/t e com leve expansão de +4,5% a/a.
As novas safras originadas a partir de jan/22, que tem apresentado um nível de risco mais adequado, já representam 67% de participação da carteira total.
Receita com Juros (NII): Crescendo mais que a carteira de crédito
A receita com juros do banco apresentou aumento de 4,8% t/t e alta de 12,3% a/a.
- Margem com clientes (NII Clientes): A linha apresentou aumento de 1,1% t/t, beneficiado por um maior volume (+1,1% t/t) e spread levemente maior (+0,04pp t/t).
- Margem com mercado (NII Mercado): A linha ficou em -R$ 263m, uma boa melhora em relação ao 3T23 (-R$827m), seguindo o processo de melhora gradual, mas ainda em patamares negativos.
NII mercado em melhora gradual e leve aumento do spread t/t
Receita de Serviços: Receitando acima da inflação
A linha de receita de serviços apresentou uma expansão trimestral de +7,0% t/t, mas com aumento de 8% a/a.
O trimestre foi impulsionado pelas receitas de seguros (+8,1% t/t e -8,7% a/a), corretagem e colocação de títulos (+21,1% t/t e +34,7%) e cartões (+10,2% t/t e +8,5%) – sazonalmente mais forte. Do lado negativo, as receitas com fundos de investimentos caíram -10,2% t/t e -13,0% a/a e cobrança e arrecadações contraíram -5,1% t/t e -4,0% a/a.
Outras receitas/despesas: Melhor t/t, mas ainda pesadas
As outras receitas/despesas (-R$ 2,9b) de apresentaram queda de 3,0% t/t beneficiadas por uma melhora de 30% na linha outras, já no a/a teve uma piora de 107,4%, por conta de maiores despesas com provisões para contingências e outras.
Inadimplência: Melhora na inadimplência de curto prazo
A inadimplência acima de 90 dias (visão gerencial) apresentou aumento de 0,1pp t/t e ficou estável a/a em 3,1%. O trimestre foi marcado por uma estabilidade no segmento de pessoas físicas t/t, porém com aumento de 0,1pp t/t em grandes empresas e pequenas e médias empresas.
A inadimplência de curto prazo (15-90 dias) apresentou melhora de 0,2pp t/t devido ao melhor desempenho das novas safras, com destaque para pessoa física (-0,4pp t/t).
Inadimplência acima de 90 dias apresenta leve aumento t/t
Despesa com Provisão de Crédito: Confusão, mas dá para explicar
As despesas líquidas com provisão (PDD) ficaram em R$ 6,8b (+21,7% t/t e -7,2% a/a). O trimestre foi impactado negativamente por:
- R$ 732m vindos de 20% de provisão de Americanas, totalizando 70% já provisionados
- R$ 400m de provisão para um cliente específico de atacado adimplente
- R$ 90m de um caso em recuperação judicial no setor de bebidas
Do lado positivo (redução da provisão):
- Reversão de provisão de R$ 392m do segmento de varejo
Ademais, o banco realizou a venda de R$ 1,2b de portfólio que já estava fora do balanço (written-off) resultando em um ganho de aproximadamente R$ 49m.
O índice de cobertura ficou em 222%, queda de 7pp t/t e 8pp a/a.
Despesas administrativas: Outro ponto negativo
As despesas administrativas totais ficaram em R$ 7,9b (+8,4% t/t e +7,6% a/a). O 4T23 foi impactado pelo dissídio realizado em set/23 que afeta o 4T como um todo e (i) maiores gastos com serviços técnicos especializados e de terceiros, (ii) processamento de dados para desenvolvimento e manutenção de projetos estratégicos e (iii) gastos com propaganda.
Observamos que o banco está implementando algumas melhorias para tentar reduzir as despesas, evidenciadas pela diminuição dos pontos de atendimento desde o 4T22, ao passo que o número de colaboradores permanece relativamente estável desde o 2T23, depois de ter internalizado terceirizados, investido em assessoria financeira (AAA) e adquirido algumas empresas (Toro).
Colaboradores e Pontos de Atendimento: Redução de agências
Clientes: Centralidade
Apesar do foco de todos os bancos em centrar-se no cliente após o surgimento das fintechs, que representam uma ameaça ao lucro do setor bancário (profit pool), percebemos melhorias significativas no atendimento e na experiência oferecidos pelos bancos.
O Santander, por exemplo, viu seu NPS (Net Promoter Score) subir 4 pontos a/a, atingindo 58 pontos no segmento PF (Pessoa Física) e 13 pontos a/a, alcançando 41 na PJ (Pessoa Jurídica). No segmento de alta renda, uma área altamente disputada entre os bancos tradicionais e as plataformas de investimento, o programa Select registrou um crescimento de 51% ao ano, atingindo 1,2 milhão de clientes, superando sua meta de 1 milhão de clientes. A carteira de crédito dos clientes Select (alta renda) cresceu 32%, alcançando R$ 63,9 bilhões. No entanto, é importante notar que parte desse crescimento provém de upgrades dentro da própria base de clientes do Santander.
No segmento de varejo massificado, onde os bancos diminuíram exposição, o Santander está buscando reposicionar-se, com o objetivo de tornar esse segmento rentável através de uma redução substancial no custo de servir. No varejo massificado, segmento onde os bancos pisaram no freio, o Santander busca um reposicionamento com o objetivo de tornar segmento rentável através da redução substancial do custo de servir.
Impostos: Ajudinha do JCP continuou
O imposto ficou positivo no trimestre, contribuindo positivamente em R$ 334m para o lucro líquido. A linha foi beneficiada em parte pelo pagamento de Juros sobre Capital Próprio (JCP) sobre uma base de lucro antes de imposto ainda sobre pressão.
Capital: Melhora no capital
O índice de Basiléia ficou em 14,5% (+0,2pp t/t e +0,6pp a/a), já o capital principal chegou a 11,5% (0,3pp t/t e +0,6pp a/a). O aumento trimestral na Basiléia ocorreu principalmente pelo aumento do patrimônio de referência.