A SLC reportou os números do 2T24 ontem, dia 14 de agosto, depois do fechamento do mercado. Julgamos os resultados como mais enfraquecidos, diante da queda dos preços dos grãos (soja e milho), apesar de bom despenho em algodão. A companhia reportou uma receita líquida de R$1,35b (-1,1% vs. Genial Est), representando uma queda de -6,4% a/a e -30,9% t/t. O EBITDA ajustado alcançou R$258,1m (+1,2% vs. Genial Est.), uma redução de -53,4% a/a e -63,3% t/t, resultando em uma margem EBITDA de 19,1%, o que significa uma contração de -19,2p.p a/a. O lucro líquido foi de R$321,4m (-3,2% vs. Genial Est.), uma redução de -7,8% a/a apesar da alta de +40,4% t/t, atingindo uma margem líquida de 23,8% (+12,08p.p t/t; -0,36p.p a/a).
Pontos de destaque:
(i) Receita líquida de R$1,35b (-1,1% vs. Genial Est.), queda -6,4% a/a e -30,9% t/t; (ii) EBITDA de R$258,1m; (+1,2% vs. Genial Est.), forte contração de -53,4% a/a e -63,3% t/t; (iii) Lucro líquido de R$321,4m (-3,2% vs. Genial Est.), desacelerando -7,8% a/a; mas subindo +40,4% t/t; (iv) El Niño trouxe impactos indesejáveis na soja; (v) Milho apresentou números um pouco mais resilientes, diante da adversidade climática; (vi) Algodão sustentando resultado; (vii) Relatório USDA de agosto: redução na oferta de algodão; (viii) Mesmo assim, acreditamos que no médio prazo o preço do algodão vá desacelerar; (ix) Relatório USDA de agosto: produção de soja aumenta; (x) Cenário aponta para aquisição de terras? A SLC possui estratégia diferente (arrendamento). Alguns investidores questionam a postura; (xi) La Niña, se ocorrer de forma suave, deverá acarretar melhores resultados; (xii) Acreditamos que as sinalizações positivas tragam um ganho para as ações através de safras mais favoráveis à frente. Além disso, damos atenção a outros drivers atrelados à redução de custo e aumento de eficiência que a companhia vem implementando. Portanto, negociando um EV/EBITDA 25E de 5,7x (vs. uma média histórica de 6,7x), transparecendo um desconto, reiteramos nossa recomendação de COMPRA com Target Price 12M de R$23,50 e um upside de +29,12%.
SLCE3 Resultado 2T24
El Niño trouxe impactos indesejáveis na soja.
O fenômeno El Niño acarretou desafios significativos e impactos na produção e comercialização de soja e milho. A produção de soja sofreu uma queda expressiva na produtividade, atingindo apenas 3.276kg/ha, uma redução de -15% vs. Genial Est. Inicial e –17% vs. Orçamento da SLC, decaindo -16,1% vs. safra 22/23. Essa redução na produtividade resultou em uma queda de -27,4% a/a no volume de soja faturado, totalizando 259Kt, e um recuo de -43,2% a/a na receita líquida da cultura, que foi fortemente impactada pelos preços mais baixos e pelo aumento dos custos unitários. Como consequência, o resultado bruto unitário da soja caiu drasticamente, com uma redução de -94,6% a/a.
A variação do valor justo dos ativos biológicos da soja foi impactada pelas condições climáticas adversas, resultando em uma marcação negativa. A soja apresentou uma variação negativa de -R$156,2m no 1S24, em contraste com uma variação positiva de +R$813,9m no 1S23.
Milho apresentou números mais resilientes, diante da adversidade climática.
No caso do milho, embora a produtividade tenha sido mais resiliente, atingindo 7.046kg/ha, ainda registrou -7% vs. orçamento da SLC para a safra 23/24, vindo em linha com as nossas estimativas, devido à distribuição irregular das chuvas e ondas de calor, especialmente no estado do Maranhão. O volume faturado de milho apresentou um aumento marginal de +2,7% a/a, totalizando 32,3Kt. No entanto, a receita líquida do milho caiu -8,5% a/a, refletindo a queda nos preços da commodity e o aumento dos custos unitários, o que resultou em uma retração de -67,1% a/a no resultado bruto unitário.
Algodão sustentando resultado.
No 2T24, a SLC apresentou um desempenho positivo na produção e comercialização do algodão. Houve um aumento significativo de +58,9% a/a no volume de algodão faturado, totalizando 81,4Kt. Além disso, o resultado bruto unitário do algodão em pluma foi +15,4% a/a, impulsionado por uma queda de -12,0% a/a no custo unitário devido à alta produtividade alcançada na safra 22/23. Esses resultados conseguiram compensar, em parte, as perdas observadas nas outras culturas, como a soja.
A companhia também realizou ajustes no seu hedge – commodity para o algodão, com 58,8% da produção protegida até o momento. Embora mantenhamos uma perspectiva baixista para a soja e o milho, continuamos otimistas em relação ao algodão no curto prazo, devido a (i) oferta limitada no Texas (TX-EUA), que pode ainda dar suporte mesmo se a demanda por produtos têxtis desacelerar nos EUA; (ii) uma taxa de operação da indústria asiática superior à média histórica; (iii) um nível ainda elevado importações de algodão pela China, embora os últimos dados demostrem uma leve desaceleração para o 3T24. Já comentamos previamente que acreditávamos em uma tendência de manutenção dos preços do algodão nesses patamares mais atrativos no curto prazo em caso de perdas na produção no Texas, derivadas de impactos do La Niña. O último relatório do USDA já refletiu essa tendência.
Nossa visão e recomendação
Relatório USDA de agosto: redução na oferta de algodão.
O USDA revisou para baixo as estimativas de algodão para 24/25 nos EUA, destacando uma redução significativa na área plantada, produção, exportações e estoques finais vs. junho. A produção foi reduzida para 15,1m de fardos, devido à menor área plantada e a um aumento na taxa de abandono. Globalmente, a produção e o consumo também foram reduzidos, com destaque para as quedas na Índia e na China. Como resultado, os estoques finais globais foram revisados para baixo, e o índice “A”, que reflete os preços mundiais, foi ajustado para US$0,81/libra. Essas revisões indicam um cenário de oferta mais restrita e um possível suporte aos preços do algodão ainda no curto prazo.
Mesmo assim, acreditamos que no médio prazo o preço do algodão vá desacelerar.
Embora a SLC destine a maior parte de sua produção de algodão à China, o destino final de alocação de demanda costuma ser os EUA, pois a China o utiliza para fabricar roupas que são exportadas para o mercado norte americano. Com uma desaceleração econômica nos EUA já em curso, há um risco de que a demanda por produtos têxteis diminua 2S24 ou 2025. Dado o tempo necessário para que esses efeitos se propaguem ao longo da cadeia de produção, pode levar algum tempo até que o preço do algodão, atualmente em patamares atrativos, comece a cair. Em nossa visão, esse movimento de queda nos preços do algodão tem maior chance de se concretizar no 2S25.
Relatório USDA de agosto: produção de soja aumenta.
A produção global de soja foi revisada para cima, com aumentos nos EUA, Ucrânia, Rússia, Índia e Benim. Já as importações foram direcionadas para países na Europa, Irã e Turquia. Os estoques finais globais de soja subiram para 134,3Mt, principalmente devido ao aumento das reservas nos EUA, China e Argentina, apesar da redução nos estoques do Brasil. Além disso, as revisões nos números de China e Brasil decorrem de mudanças no comércio durante o ano 23/24, com importações mais altas pela China e um ritmo forte de exportações do Brasil. Com maior oferta de soja no mercado mundial, o impacto no preço deve ser de pressão baixista.
Cenário aponta para aquisição de terras? A SLC possui estratégia diferente.
O atual momento indica que, com margens de produtores ainda apertadas diante de um ciclo negativos das commodities (milho e soja), seria ideal para produtores grandes como a SLC, adquirir terras dos menores. Produtores médios e pequenos costumam atravessar períodos de ciclos negativos com mais dificuldade, com capital de giro pressionado ao prorrogarem o headge da safra na expectativa de que o preço melhore. Diante desse cenário, a maior urgência para fazer fluxo de caixa acaba levando os esses produtores de menor porte a colocarem uma parcela de seus ativos a venda, negociando-as por um preço mais baixo do que o usual.
No entanto, a SLC tem acreditado cada vez mais no crescimento asset light e priorizado o arrendamento de terras, reiterando que precisa focar na operação (e não no braço imobiliário) e que conta com um ciclo financeiro de 260 dias no capital de giro. Isso vai na direção contrária de aproveitar o momento para comprar terras produtivas com preços mais baixos. Dessa forma, alguns investidores levantam questionamentos se estratégia seria, de fato, a melhor.
La Niña deverá acarretar melhores resultados.
Acreditamos em um La Niña de leve intensidade figurará na safra 24/25. Se de fato a intensidade for branda, entendemos que o cenário será favorável. No Farm Day, a SLC demonstrou uma linha de tendência da produtividade de sacas de soja, que aponta para 64,68 sacas/ha, podendo ter um acréscimo, advindo do La Niña, de +3,05 sacas/ha.
Estancando a ferida com algodão.
Mesmo com preços baixos de soja e milho, esperamos uma produção relevante na safra 24/25, dadas as condições favoráveis potencialmente trazidas pelo La Niña. Acreditamos que a dinâmica favorável do algodão persista ao longo dos próximos meses e siga ajudando a compensar parcialmente os números desanimadores da soja e do milho. Embora, também vemos como provável uma tendência de reversão de preços em 2025, à medida que as altas taxas de juros nos EUA reduzirem o ímpeto pelo consumo no varejo discricionário e essa situação chegar na ponta para a cadeia produtiva, fazendo a demanda decair e arrefecendo o preço do algodão no médio prazo.
Todavia, acreditamos que as sinalizações positivas tragam um ganho para as ações através de safras mais favoráveis à frente. Além disso, damos atenção a outros drivers atrelados à redução de custo e aumento de eficiência que a companhia vem implementando. Portanto, negociando um EV/EBITDA 25E de 5,7x (vs. uma média histórica de 6,7x), transparecendo um desconto, reiteramos nossa recomendação de COMPRA com Target Price 12M de R$23,50 e um upside de 29,12%.