No dia 13 de novembro, quarta-feira, após o fechamento do mercado, a Tupy divulgará seus números referentes ao 3T24. Nossas expectativas são de um trimestre ruim, impactado negativamente pelo desempenho mais fraco nos EUA, Europa e nos segmentos ligados ao agro no Brasil. Apesar de um câmbio mais favorável, a menor diluição de custos fixos em decorrência dos menores volumes deve prejudicar a percepção das melhorias operacionais dos últimos 12 meses, resultando em uma margem EBITDA ajustada próxima ao nível do ano anterior.
No trimestre, observamos vários sinais de desaceleração nos principais mercados de atuação, que nos indicam uma queda nos volumes da Tupy no 3T24. No Brasil, apesar da recuperação do crescimento no segmento de veículos leves e caminhões, o setor agrícola permanece fraco. Nos Estados Unidos e na Europa, o cenário é desaceleração na demanda no segmento Off-Road, com volumes em queda. Além disso, alguns clientes importantes da Tupy já divulgaram seus resultados e o cenário apresentado foi de retração nas indústrias de construção e mineração, especialmente nos mercados europeu e norte-americano.
Projetamos uma receita líquida de R$ 2,78 bilhões (-1,1% t/t e -6,7% a/a), EBITDA ajustado de R$ 336 milhões (-14,9% t/t e -8,4% a/a), resultando em uma margem EBITDA ajustada de 12,1% (-2,0pp t/t e -0,2pp a/a). Por fim, o lucro líquido deve ser impactado pelos mesmos efeitos cambiais observados no 2T24, o que penaliza a figura contábil. Assim como no trimestre passado, a alta do dólar influencia negativamente o lucro devido à marcação a mercado de instrumentos de proteção cambial e aos efeitos sobre a base tributária. Dessa forma, esperamos um lucro líquido de R$ 53 milhões (+193,6% t/t e -64,8% a/a), refletindo a em uma margem líquida de 1,9% (+1,3pp t/t e -3,1pp a/a).
Apesar do valuation descontado, negociando a EV/EBITDA 4,1x 2025E, a falta de gatilhos no curto prazo nos faz reiterar a nossa recomendação de MANTER para as ações da Tupy, com um preço-alvo de R$ 27,00.
Mercado Externo: Off Roads devem ser a âncora
No mercado externo, o cenário é de demanda em desaceleração, especialmente nos Estados Unidos e na Europa. Os dados do setor nos indicam que a produção e as vendas de caminhões nos EUA apresentaram sinais de retração. A produção de caminhões nos EUA caiu 2,7% em relação ao trimestre anterior e 27,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto as vendas se mantiveram estáveis em torno de 13 mil unidades mensais, mas sem crescimento significativo.
Essa queda reflete uma saturação do mercado norte-americano, com uma frota relativamente nova, consequência das grandes vendas nos últimos anos. Durante a pandemia, os preços do frete dispararam, o que incentivou muitas transportadoras a entrar no mercado. Contudo, com o arrefecimento da demanda e a estabilização dos preços de frete, muitas dessas empresas agora enfrentam dificuldades, reduzindo a demanda por novos veículos.
Os resultados da Caterpillar no 3T24 reforçam essa tendência de desaceleração. A empresa registrou uma queda de 4% em suas vendas e receitas, com desempenhos negativos nos segmentos de construção civil (-4,4%) e indústria extrativista (-7%). Esses setores são fundamentais para a Caterpillar e, por consequência, afetam diretamente a Tupy, que fornece componentes para esses tipos de equipamentos. A redução na demanda por equipamentos de construção e mineração, especialmente na América do Norte e na Europa, sugere um trimestre de baixa demanda de seus clientes nesses setores.
Na Europa, o cenário permanece desafiador, refletindo um ambiente de demanda enfraquecida e instabilidades macroeconômicas que afetam diversos setores-chave. A região enfrenta pressões devido a altos custos de energia, resultado de uma transição energética complexa que levou à dependência de fontes renováveis, as quais ainda carecem de um suporte eficiente. Esse cenário de altos custos energéticos eleva as despesas operacionais das indústrias, dificultando investimentos e expansão. Além disso, a desaceleração econômica geral na Europa afeta os setores de construção e veículos comerciais, que são mercados relevantes para a Tupy. A demanda segue sendo impactada pela retração nos investimentos em infraestrutura e construção, bem como pela queda na compra de equipamentos industriais e veículos pesados.
Mercado Interno: Recuperação em caminhões, ainda prejudicado pelo agro
No mercado interno, a Tupy encontra um cenário um pouco mais favorável, principalmente no segmento de caminhões. Os gráficos mostram uma recuperação na produção de caminhões no Brasil, com aumento de 9% t/t e um expressivo crescimento de 55,4% a/a, atingindo 38 mil unidades no 3T24. Esse crescimento ocorre após uma base de comparação fraca em 2023 e reflete uma retomada gradual no setor de veículos comerciais. Essa dinâmica positiva na produção de caminhões pode beneficiar a Tupy, dada sua exposição ao mercado de componentes para esse segmento, e ajudar a compensar parcialmente os resultados mais fracos no mercado externo.
Apesar disso, o setor agrícola no Brasil ainda apresenta desafios, com menor demanda por equipamentos devido à queda nos preços das commodities agrícolas e à redução de margens para os produtores. Esse cenário de baixa no agronegócio afeta a venda de tratores e outros equipamentos agrícolas. Segundo nossas estimativas, no 3T24, as vendas totais de máquinas agrícolas caíram 6,7% em relação ao trimestre anterior, equivalente a uma queda de 33,4% em comparação ao mesmo período do ano passado. Essa redução significativa nas vendas indica uma demanda em baixa, reflexo das condições econômicas adversas enfrentadas pelo setor agrícola.
Cabo de guerra nas margens indica ligeira piora
Apesar das pressões geradas pela redução de volume, acreditamos que a margem bruta da Tupy no 3T24 deve permanecer estável na comparação anual. Nas nossas contas, a alta de 6% do dólar e as iniciativas de redução de custos implementadas pela empresa ajudam a compensar o impacto da queda de volume. No entanto, a menor diluição dos custos fixos, devido ao volume reduzido, representa uma pressão adicional sobre a margem EBITDA no trimestre. Ainda assim, na comparação ano contra ano, não enxergamos grandes reduções. A operação da MWM, sequencialmente tem contribuído positivamente para a geração de caixa, porém reforçamos que é uma operação de margens menores. Como boa parte dessas operações se beneficia da recuperação da produção de caminhões no mercado local, o ganho de representatividade da MWM nos resultados também contribui para margens operacionais mais tímidas no trimestre. A empresa expandiu seu serviço de montagem de motores para clientes existentes, aproveitando a expertise da MWM e fortalecendo sua presença no mercado de usinagem e montagem.
Em termos quantitativos, a expectativa é de uma receita líquida de R$ 2,78 bilhões (-1,1% t/t e -6,7% a/a), um EBITDA ajustado de R$ 336 milhões (-14,9% t/t e -8,4% a/a) com margem EBITDA ajustada de 12,1%, e um lucro líquido de R$ 53 milhões (+193,6% t/t e -64,8% a/a), impactado por efeitos cambiais. Dessa forma, a Tupy deve reportar um trimestre desafiador, com ganhos no mercado interno sendo limitados pelas dificuldades no mercado externo e pela fraqueza contínua no setor agrícola brasileiro.