Números levemente mais fracos, mas forte remuneração!
De forma geral, consideramos o resultado da Vale satisfatório, com números ligeiramente menores em termos de receita e EBITDA frente às nossas projeções e ao consenso no 1T22, mas fortemente compensado pelo retorno ao investidor via recompra de ações. Com isso, continuamos com nossa recomendação de COMPRA com preço-alvo de R$ 115,00.
Detalhamento operacional
A empresa registrou uma receita de US$ 10,8b (-17,5% t.t e -14,5% a.a), resultado de um menor volume de vendas de minério de ferro, que atingiu 53,6 Mton no 1T22 (-35,5% t.t e -9,6% a.a) e de pelotas, vendendo 7,0 Mton (-32,3% t.t e +11,8% a.a), sobretudo refletindo os impactos das fortes chuvas ao longo do primeiro trimestre do ano. Um ponto importante a ser mencionado é de que a empresa parou de considerar a contribuição do carvão no cálculo (+US$ 446m), o que resultaria em uma receita de US$ 11,2b, mais próxima ao consenso e às nossas estimativas.
Apesar do menor volume de vendas, isso foi parcialmente compensado pelo aumento do preço do minério, por exemplo, do índice Platts, indo dos US$ 109,5/t no 4T21 para cerca de US$ 141,6/t no 1T22 (+29,3% t.t). A parte dos metais ferrosos refletiu em grande parte tal movimento: menor volume de vendas, com maiores preços realizados, mas ainda ficando responsável por US$ 8,7b (-18,9% t.t e -16,1% a.a).
Já o lado de metais básicos teve um trimestre relativamente fraco, observado sobretudo com a pior performance do lado do cobre, que refletiu o tempo reduzido de operação em Sossego, o qual compôs apenas 24 dias do tri devido a manutenções programadas, gerando US$ 534m de receita (-28,7% t.t e -20,3% a.a). Apesar disso, foi parcialmente compensado pela melhor performance do níquel cuja receita foi de US$ 866m (+1,8% t.t e +2,4% a.a) aumentando sua representatividade dentro da receita total da companhia (indo de 6,5% no 4T21 para 8,0% no 1T22).
Em termos de custos, a empresa atingiu US$ 4,6b (-28,8% t.t e -0,1% a.a), reflexo de um volume produzido inferior impactando na menor diluição dos custos fixos, do efeito negativo do câmbio, maiores custos com arrendamentos portuários e aumento do preço do diesel. O custo C1, por sua vez, teve um aumento de US$ 2,2/t t.t.
A parte das despesas teve um impacto positivo devido à “impairment e alienação de ativos não circulantes”, vinculado às transações e reconhecimentos da venda do Sistema Centro-Oeste e do segmento de carvão, que adicionou US$ 1,0b à parte das despesas ajudando nos números de EBIT, que atingiu US$ 6,6b (+85,5% t.t e -10,6% a.a). Ao ajustarmos o cálculo removendo tais contribuições e as despesas com Brumadinho para uma comparação mais fidedigna para o EBITDA, obteve-se US$ 6,4b (-4,9% t.t e -24,0% a.a), com uma margem de 59,0% (+7,8 p.p t.t e -7,4 p.p a.a), sendo consequência de uma redução mais acentuada dos custos frente à receita na comparação trimestral. Por fim, a empresa conseguiu um lucro de US$ 4,5b (-17,2% t.t e -18,2% a.a), superando nossas estimativas e a do consenso.
O destaque do dia: Remuneração ao investidor
A empresa aprovou um novo programa de recompra de ações ordinárias da Vale, estando limitado a um máximo de 500 milhões de ações ordinárias e seus respectivos ADRs, representando cerca de 10% das ações em circulação (float), mais que o dobro do programa vigente no momento. O programa será implementado ao longo dos próximos 18 meses e após a conclusão do programa atual, que já realizou a recompra de 168 milhões das 200 milhões propostas.
Isso sinaliza aos investidores que a própria empresa se mostra confiante no cumprimento de suas metas, bem como nas perspectivas de seus negócios e capacidade de geração de valor.
Para fins comparativos, aos níveis de preço atuais, a recompra totalizaria cerca de US$ 8,2b (~R$ 40,7b), para uma companhia com caixa atual de US$ 14,3b.
Perspectiva Vale
Minério de Ferro
Mesmo com alguns pontos negativos, como a queda da produção de veículos na Europa e o modelo de produção intermitente em algumas siderúrgicas devido ao alto custo de energia, a empresa mantém sua visão positiva com relação ao minério de ferro por uma série de fatores, sendo alguns deles:
Uma expectativa, por parte da World Steel Association, de que a demanda por aço nas economias desenvolvidas aumente em 2022 e 2023, após uma recuperação no ano de 2021. Enquanto isso, as economias emergentes (exceto China) devem apresentar crescimentos mais modestos devido a certos desafios como a Guerra na Ucrânia e o aperto monetário nos EUA.
Nos EUA, mesmo com uma produção estável de aço na comparação anual, a demanda reprimida nos setores automotivos, de infraestrutura e do mercado imobiliário possuem o potencial de sustentar um aumento da produção. Isso é reforçado por fatores como: o excesso de poupança de 13% do PIB e os baixos níveis de desemprego. No JKT (Japão, Coreia do Sul e Taiwan), há a expectativa de aumento nos níveis produtivos, fomentando maiores consumos.
No Brasil, mesmo com uma alta da inflação e uma queda do setor automotivo em relação aos valores de 2021, a confiança industrial vem apresentando bons números nesses últimos meses, sendo esse um otimismo compartilhado pelo setor de construção civil e de infraestrutura, tendo em vista o avanço de importantes marcos regulatórios. Dessa forma, mesmo com as projeções de que 2022 seja um ano ruim para a atividade econômica, principalmente por fatores como a instabilidade política relacionada às eleições, as perspectivas ainda são boas para o aço, com uma expectativa de aumento da produção com uma forte demanda no setor de construção. Por fim, a Anfavea ainda acredita que o setor automotivo tenha o potencial de crescimento, mesmo que abaixo dos níveis apresentados antes da pandemia devido à escassez de insumos (tais como semicondutores para produção de chips).
Níquel
De fundamental importância para o setor de veículos elétricos, a visão em relação ao futuro desse produto se mantém positiva, enquanto fatores como a Guerra na Ucrânia e os recentes lockdowns na China ainda não se provaram capazes de mudar, fundamentalmente, a dinâmica dessa indústria. Assim, no longo prazo, as boas perspectivas possuem como base uma forte demanda por veículos elétricos e com prevalência de baterias ricas em níquel (de maior densidade energética), sendo essa uma das formas que os governos e indústrias vêm adotando para alcançar metas agressivas de descarbonização. Além disso, ainda há a perspectiva de que alguns mercados, como o aeroespacial, se recuperem de forma gradual após a pandemia do Covid-19 e, junto de uma certa escassez de energia na Europa e na China, impulsione ainda mais a busca por energias renováveis e, consequentemente, pelo níquel.
Cobre
A médio prazo, a expectativa é de que o mercado volte ao equilíbrio e a um eventual déficit. Isso ocorre, pois se espera que a necessidade intensiva de cobre, por consequência da acelerada transição para o uso de energias renováveis, compense os riscos associados à oferta como: um potencial aumento de impostos, exaustão e disrupção. Já em uma visão de longo prazo, as expectativas são positivas seguindo a mesma ideia de um fortalecimento do uso de energias renováveis acompanhado de metas ambiciosas impostas por governos ao redor do mundo em relação ao processo de descarbonização e estímulo a economia verde.
Guidance e Projeções
Além de manter o guidance de produção (como visto abaixo), a Vale ainda publicou uma projeção na qual estima um custo caixa C1 (excluindo compra de terceiros) de finos de minério de ferro entre US$18,5/t e US$19,0/t para o ano de 2022. Vale ressaltar que para isso, a empresa considera um câmbio médio de R$ 5,0/US$ e um petróleo brent de US$100/barril. Os números dados no guidance são:
- Minério de Ferro: 320 a 335 Mt (acreditamos que o limite inferior seja o mais provável)
- Pelotas: 34 a 38 Mt
- Níquel: 175 a 190 Kt
- Cobre: 330 a 355 Kt