A Cemig apresentou resultados acima das nossas estimativas e do consenso. Operacionalmente, a companhia cresceu através do (i) preço, via reajuste tarifário (em 4% a/a) e (ii) um volume maior de consumo, sobretudo no segmento residencial (em 3% a/a). Outro fator crucial para o desempenho foi a performance do uso do sistema de distribuição, onde a receita pelo uso da rede foi +13% a/a, indicando um mercado mais forte com (i) mais consumidores livres e (ii) mais energia transportada. Do lado de custos, apesar da compensação negativa parcial, dada a robusta alta de aumento de energia comprada para revenda, em +23% a/a, o EBITDA ajustado cresceu +15% a/a.
Outro fator importante divulga via fato relevante pela Cemig foi à despeito da ADI (ação direta de inconstitucionalidade) 7.324. Em termos gerais, o STF deu aval para a restituição dos créditos tributários sobre impostos cobrados para além da base justa aos consumidores. Parte desse crédito já foi devolvido aos consumidores via devolução tarifária. A outra parte restante do crédito foi decidida pelo STF que: (i) o montante pago poderá ser recuperado em até 10 anos passados (do momento que o imposto foi pago) e (ii) o montante mais antigo pode prescrever, podendo ficar com a companhia (distribuidoras). Ainda não há total clareza sobre os detalhes da decisão do STF, contudo,
A companhia negocia a uma TIR Real de 11%, um patamar razoável em termos de valuation quando comparada a alguns pares do setor. No entanto, entendemos que os gatilhos para destravamento de valor continuam com baixa visibilidade, como (i) a possibilidade de privatização/federalização e (ii) alternância de poder no estado de MG, que pode afetar a gestão da companhia e (iii) concessões curtas em geração. Além disso, do lado do valuation, como citamos, mesmo em um nível relativamente atrativo, entendemos que o setor apresenta cases mais robustos de geração de valor, especialmente ELET3, com TIR Real de 13% (vs. 7% das NTN-Bs 2060).
Detalhamento dos Resultados
A Cemig reportou uma receita líquida de R$10,8 bilhões, um crescimento de 14% a/a. O principal impulsionador desse desempenho foi na distribuição, o core business da companhia, onde o crescimento foi de 15% a/a, chegando a R$7,3 bilhões. Essas variações vieram de (i) um aumento de 4% a/a no preço médio por MWh, por conta de reajuste tarifário; (ii) crescimento de 3% no consumo de energia no segmento residencial, compensando a queda de -36% no segmento industrial, por conta da migração de consumidores cativos para o mercado livre. Além disso, (iii) a receita de uso da rede aumentou 13%, referente à TUSD (Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição), com encargos cobrados dos consumidores livres sobre a energia que foi distribuída – fator também impulsionado por reajuste tarifário.
Em custos e despesas, a companhia reportou um aumento de 24% a/a, chegando em R$9,2 bilhões. Os impactos estão principalmente relacionados a custos não gerenciáveis, mais especificamente o aumento de energia elétrica comprada para revenda (+23% a/a) em R$4,5 bilhões. Houve uma expressiva alta de +174% a/a nos custos de energia de curto prazo, dada a forte elevação do PLD do submercado Sudeste/Centroeste, não compensado pelo PLD do Nordeste/Norte. Na geração distribuída, o aumento dos custos foi de +21% A/A, decorrente do (i) número de instalações geradoras e (ii) quantidade de energia injetada. Apesar desse efeito, a Cemig reportou uma redução de 97% nas perdas de crédito esperadas, em uma alteração para reconhecimento de uma melhor estimativa de exposição ao risco. Por segmento, a Cemig D (distribuição) e a Cemig GT (geração) apresentaram um EBITDA ajustado de R$1,2 bilhão (+39% a/a) e R$544 milhões (+6% a/a).
Assim, o EBITDA ajustado foi de R$2,2 bilhões, uma alta de +15% a/a. Com os efeitos não recorrentes, como o reconhecimento de redução no ativo de contrato, o EBITDA teria sido de R$2,0 bilhões (-15% a/a). Retirado esses efeitos, a alta, citada anteriormente, seria sustentada com maiores receitas de subsídios tarifários e parcialmente reduzida pelos impactos da alta dos custos de energia para revenda.
O lucro líquido foi de R$1,2 bilhão no 2T25, uma queda anual de -30% a/a. Essa queda está relacionada ao (i) não recorrente já citado anteriormente, (ii) os custos advindo das diferenças entre PLDs e (iii) um menor volume de receitas financeiras, que não compensou a queda em despesas financeiras.