Nós comparecemos à edição Investor Tour da Vale realizada em Brucutu (MG), ocorrida hoje, dia 10 de Set., evento que figura entre os mais relevantes da agenda institucional da companhia. Nesta edição, o encontro reuniu o corpo diretivo com investidores e analistas em um formato clássico, composto por apresentações técnicas, sessão de Q&A e interação direta com o management. O time executivo presente incluiu o Sr. Rogério Nogueira (Vice-Presidente Comercial), o Sr. Carlos Medeiros (Vice-Presidente Executivo e Diretor de Operações), o Sr. Marcelo Bacci (CFO) e demais integrantes da alta gestão, reforçando a ênfase em integrar perspectivas comerciais, operacionais e financeiras.
Em linhas gerais, a gestão enfatizou três grandes pilares estratégicos: (i) reposicionamento do portfólio de minério de ferro, captura de prêmios (+US$600m/ano via BRBF) e flexibilidade para atender tanto rotas convencionais (BFs) quanto a siderurgia verde (EAFs); (ii) eficiência operacional e disciplina de execução, materializadas pela automação de frota (-US$0,30/t em C1), expansão de Brucutu e Capanema a custos competitivos (<US$20/t), e inovação replicável em Itabira (+19p.p. de DR pellet feed); e (iii) rigor financeiro e otimização do CAPEX, com guidance revisado de US$5,9b para um novo intervalo de US$5,4–5,7b em 2025E (-5,9% vs. anterior), sustentando FCF yield de ~13% em 2025E e ~15% em 2026E, 2x superior ao de pares globais.
Adicionalmente, reforçamos que a companhia segue se preparando para capturar valor na transição do aço rumo ao baixo carbono. A estratégia de Mega Hubs, já ancorada em MoUs cobrindo 35% das emissões de escopo 3 de clientes e demanda futura de ~30Mt de DR feed, reafirma a posição da companhia como fornecedor crítico da siderurgia verde, mesmo diante do atraso da China e da iminente entrada de Simandou — projeto que, segundo o management, dependerá de blends com BRBF e IOCJ, não configurando ameaça stand-alone. Em nossa visão, a mensagem central transmitida pela gestão foi inequívoca: a companhia está cumprindo o dever de casa em todas as frentes sob sua ingerência — custos, CAPEX, portfólio e inovação operacional — construindo uma plataforma de valor resiliente no curto prazo e preparada para liderar a transição estrutural da siderurgia no longo prazo.
Principais Destaques:
(i) Siderurgia verde e Simandou: China segue como late adopter (90% BF–BOF, meta 15% EAFs 25E), enquanto Europa, Japão e EUA puxam descarbonização; Simandou não deverá ser stand-alone: Blocos 1–2 (Baowu) e 3–4 (Rio Tinto) exigirão blends com BRBF/IOCJ; gargalo segue na oferta de minério premium, reforçando papel crítico da Vale; (ii) CAPEX e alocação: guidance 25E revisado para US$5,4–5,7b (-5,9% vs. anterior), devendo seguir <US$6b em 26E; ajustes refletem timing, não mudança estratégica; Target dívida líquida em US$15b, mas preços elevados podem abrir espaço para dividendos extras/recompras; (iii) Prêmios e flexibilidade: redução de penalidades adiciona +US$2–3/t em realized premium; gap produção/vendas (323–335Mt vs. ~310Mt) decorre de rejeitos, conversão em pellets e WC (~105 dias); Mid-grade 63% Fe (~25Mt 25E) é solução inerente à conjuntura; (iv) Portfólio e pellets: BRBF recupera prêmio (>US$3/t vs. <US$1/t), gerando +US$600m/ano em EBITDA; PFC evolui de Fe <55% (2022) para 62–63% em 25E e sílica cai de 24% para 5% (-19p.p.); meta de 20% aglomerados até 30E mantida, com retomada estrutural esperada em 27–29E; (v) Eficiência operacional: frota autônoma já 100% em Brucutu/Capanema, +130 caminhões, com ~54% em Serra Norte até 29E (+2,6x); ganhos de +4p.p. asset utilization, -15% combustível, -US$0,30/t em C1; em Itabira, DR pellet feed sobe de 56% (2023) para 75% 25E (+19p.p.), com +2Mtpa e prêmio +US$13/t; (vi) FCF e retornos: FCF 2T25 em US$1,0b (+39,1% t/t; ~4x a/a), com CAPEX de US$1,1b (-10,2% t/t), WC neutro e dividendos JVs de +US$248m; FCF yield ~13% 25E e ~15% 26E (+2x vs. peers); implicação de Dividend Yield ~8% 25E Genial Est. mantida, mesmocom foco em recompra da companhia; (vii) Reiteramos COMPRA, atualizando nosso Target Price 12M para US$12,20 ADRs–NYSE (vs. US$11,60 anterior) e R$65,80 VALE3–B3 (vs. R$64,50 anterior), implicando upside de +16,2%, refletindoa alteração de o guidance de CAPEX (-5,9% vs. anterior) e a captura financeira concreta de iniciativas como BRBF (+US$600m/ano), automação (-US$0,30/t em C1) e DR pellet feed (+19p.p.).
Vale Investor Tour 2025
Transição energética e reposicionamento do portfólio.
Na abertura de sua fala, o Sr. Rogério Nogueira enfatizou a assimetria temporal da transição energética. Hoje, ~70% da produção global e ~90% da chinesa ainda dependem das rotas convencionais de alto-forno (BF–BOF). A migração para tecnologias de redução direta movidas a gás natural e, posteriormente, a hidrogênio será inevitável, mas coexistirá com os processos tradicionais por décadas. Nesse contexto, a Vale se posiciona como a mineradora mais bem preparada para arbitrar a transição, calibrando investimentos que preservam retornos de curto prazo sem comprometer a capacidade de capturar valor no futuro verde do aço.
Esse pragmatismo é fruto do aprendizado pós-Brumadinho. À época, a perda de capacidade de concentração obrigou a companhia a comercializar volumes relevantes de minérios de alta sílica (>8%), o que deteriorou margens por penalidades crescentes e, paradoxalmente, fortaleceu concorrentes australianos, que utilizaram esse material em blends mais competitivos. Desde então, a companhia tem redesenhado o portfólio para reduzir exposição a descontos, recuperar pricing power e reposicionar-se como fornecedora de flexibilidade e qualidade. O efeito já é visível: o prêmio do BRBF, antes abaixo de US$1/t, hoje supera US$3/t (+2x), que deverá representar +US$600m em EBITDA anual sobre ~150Mt de vendas.
Qualidade como motor de captura de valor.
A parte central da apresentação concentrou-se nos drivers silenciosos de valor, sílica (SiO₂) e alumina (Al₂O₃), determinantes para o desempenho dos altos-fornos (BFs). Teores de sílica abaixo de 4,5% comprometem a resistência do sínter, enquanto acima de 6% reduzem a permeabilidade; já a relação alumina/sílica crítica de 0,4 define a viscosidade da escória e, portanto, o consumo de coque. Nenhum minério stand-alone se enquadra no “sweet spot”, o que obriga usinas a recorrer a blends complexos entre Austrália e Brasil. Nesse ponto, acreditamos que a companhia vislumbra sua vantagem: oferecer um portfólio mais próximo da zona ótima, reduzindo complexidade operacional dos clientes.
Dentro dessa lógica, a companhia lançou dois produtos estratégicos: o Pellet Feed China (PFC), cuja qualidade evoluiu de Fe <55% em 2022 para 62–63% em 2025E (+7,5p.p.), e cuja sílica caiu de 24% para 5% (-19p.p.), com volumes dobrando para ~24Mt em 2025E (+100% vs. 2022). Já o Mid-grade Carajás (~63% Fe) tem vendas projetadas em ~25Mt em 2025E, precificado próximo ao BRBF e sem necessidade de blends, bem recebido especialmente na Europa e Índia. Paralelamente, o IOCJ (65% Fe) passou por ajustes: a sílica caiu de 3% para 2,7% (-0,3p.p.), ampliando a flexibilidade do mine plan sem perda de prêmio, exemplificando a capacidade de arbitragem da companhia. Com esse conjunto, vmeos que o portfólio da companhia 25E se posiciona mais próximo da “ideal burden zone” que os concorrentes de Pilbara, oferecendo previsibilidade operacional superior.
Infraestrutura e Mega Hubs como alavancas de competitividade futura.
O Sr. Rogério também ressaltou a infraestrutura logística da Vale como verdadeiro moat competitivo. A companhia possui capacidade de concentração de ~165Mtpa, blending superior a 120Mtpa em 20 portos globais e capacidade de aglomerados (pelotas e briquetes) de ~50Mtpa. Essa rede permite customização de entregas por região, adaptando especificações às demandas locais, algo sem paralelo entre concorrentes. Além disso, a estratégia logística vem sendo redesenhada para mitigar a volatilidade da rota C3 Brasil–China, combinando frota própria com embarcações menores e preparadas para combustíveis alternativos, reduzindo exposição a choques de frete.
O vetor de longo prazo é ancorado nos Mega Hubs, concebidos como catalisadores da siderurgia verde. Destacamos que a companhia já possui MoUs cobrindo 35% das emissões de escopo 3 dos clientes, contratos de demanda futura de ~30Mt de DR feed e 15 testes industriais de briquetes concluídos com sucesso. Projetos como a planta Jinnan de DR na China (12Mtpa a partir de 2027) e o HBI em Omã, sustentado por fornecimento de gás, reforçam a capacidade da companhia de liderar a transição para o ferro verde. A fala do Sr. Rogério Nogueira, para nós, dessa forma, demonstrou como a companhia transformou fragilidades passadas em vantagem competitiva. O reposicionamento de portfólio não apenas recuperou margens (+US$600m/ano), como reforçou a percepção de qualidade. A diferenciação estrutural vs. Austrália, sustentada pela rede logística e pelos Mega Hubs, confere elasticidade e prepara a companhia para liderar a transição da siderurgia global rumo ao baixo carbono.
Autonomia, eficiência e retomada de capacidade.
O Sr. Carlos Medeiros iniciou destacando a virada da companhia em automação de frotas. De retardatária, a companhia tornou-se líder: Brucutu e Capanema já operam com 100% da frota autônoma, enquanto Serra Norte se prepara para atingir 130 caminhões até 2029 (~2,6x o nível atual, dos quais ~54% somente em Serra Norte). Ademia, destacamos que os ganhos frente à frota convencional já são tangíveis: +4p.p. em asset utilization, -15% no consumo de combustível, +10% na velocidade média, -US$0,30/t no C1 cash cost e menor desgaste de pneus. Além disso, a retirada de operadores da “linha de fogo” reforça a segurança laboral.
No eixo de capacidade, Brucutu foi reposicionado em três fases: a Phase 1 (2021) implantou planta de filtragem, elevando capacidade de ~11Mtpa para ~20Mtpa (+82%); a Phase 2 (2024) retomou a 4ª linha, levando a ~25Mtpa (+25% vs. Phase 1); e a Phase 3 (2028–29), com licenciamento antecipado do Tamanduá pile (2 anos antes do previsto) e construção da 5ª linha, elevará a ~30Mtpa (+20% vs. Phase 2). Além disso, o investimento da Phase 3 (~US$35/t) é competitivo e, qualitativamente, transforma o mix: de predominância de low-grade fines (Fe ~50%) em 2021 para sinter/pellet feed de Fe ~61% em 2029 (+11p.p.), eliminando os low-grade fines. Isso reduz penalidades, melhora preços realizados e assegura C1 <US$20/t no médio prazo.
Projetos de baixo custo e inovação escalável.
Outro ponto de destaque para nós foi Capanema, recém-inaugurado, que adicionará ~15Mtpa até atingir ~100Mt acumulados até 33E. O minério (Fe ~55%, sílica ~9% vs. ~14% dos high-silica) é extraído de waste piles, reforçando circularidade e sustentabilidade, com strip ratio mínimo (0,1x) e C1 <US$20/t. O produto servirá a blends, aumentando estabilidade de qualidade e reduzindo penalidades.
Em Itabira (Conceição II), destacamos que a Vale implementou automação em tempo real na flotação, com ajustes químicos baseados no ROM, levando a ganhos expressivos: o DR pellet feed saltou para 75% em 2025 (+19p.p. no acumulado de 2 anos), com meta de ~80% no médio prazo; o Fe nos rejeitos caiu para 16% em 2025 (-6p.p. no acumulado de 2 anos), com meta de ~14%; produção adicional de +2Mtpa de DR pellet feed, com prêmio de +US$13/t sobre BF pellet feed; investimento de US$28m, com payback de ~1 ano. Ou seja, nosso entendimento é de que estes projetos se trata de laboratórios de inovação escalável.
Pipeline e disciplina de execução.
Para o médio e longo prazo, o Sr. Carlos Medeiros listou o pipeline de flexibilidade: Vargem Grande I (~15Mtpa, Sep/24), Capanema (~15Mtpa, Nov/24), Serra Sul +20 (~20Mtpa, 2H26), Compact Crusher (~50Mtpa, 2H26) e Serra Leste (~4Mtpa, 26–30E). No horizonte mais distante, projetos como Apolo Itabiritos e Serra do Rabo. Segundo o executivo, vários ramp-ups já estão adiantados em relação ao cronograma, evidenciando disciplina de execução e confiabilidade.
A seção do Sr. Carlos Medeiros, para nós, portanto, consolidou o pilar operacional da estratégia da Vale. A automação já gera ganhos de eficiência (-US$0,30/t em C1) e segurança, enquanto Brucutu e Capanema recuperam capacidade e entregam volumes de baixo custo com mix de maior valor. Itabira desponta como núcleo de inovação escalável, e o pipeline robusto garante opcionalidade até 2030, com ramp-ups adiantados. A mensagem é de robustez operacional e disciplina, preparando a companhia para expansão flexível e sustentada, ancorando o guidance e reforçando resiliência no médio prazo.
Redução de custos abrangente e estrutural.
O Sr. Marcelo Bacci destacou a trajetória de custos como um dos pilares da estratégia financeira da companhia. No minério de ferro, pontuou que o all-in cost deve cair para US$53–57/t em 2025E (-1,6% a/a), sustentado por diluição de custos fixos com ramp-up de volumes e otimização de processos. Dentro desse total, o C1 cash cost deve recuar para US$20,5–22/t em 2025E (-2,5% a/a), reforçando o compromisso de longo prazo de manter o C1 estruturalmente <US$20/t até 2029.
Nos metais básicos, o movimento é igualmente relevante. Em cobre, os custos foram revisados para US$1,5–2,0K/t em 2025E (-32,7% a/a), reflexo de maiores rendimentos de subprodutos e da eficiência operacional já capturada nas plantas, elevando margens do segmento. Já em níquel, apesar do ambiente mais desafiador em termos de margem, o guidance foi reafirmado em US$14,0–15,5K/t em 2025E (-11,1% a/a), apoiado no ramp-up do VBME e na continuidade da otimização do portfólio. Para nós, esses avanços reforçam a prioridade absoluta da companhia em reduzir custos de forma sustentável, com espaço adicional ainda a ser capturado.
CAPEX em trajetória descendente.
No eixo de alocação de capital, o Sr. Bacci reiterou disciplina como norte estratégico. O guidance inicial de CAPEX para 2025E, de US$6,5b, foi revisado para US$5,9b e, mais recentemente, ajustado para US$5,4–5,7b em 2025E (-5,9% vs. anterior). Ressaltamos, também, que o recuo deve ocorrer sem perda de escopo, refletindo ganhos de eficiência na execução, maior rigor de priorização e foco em oportunidades asset-light. As despesas de sustaining permanecem em ~US$4,1b, enquanto projetos de crescimento somam ~US$1,5b.
O CFO ressaltou o engajamento interno como catalisador dessa disciplina, destacando que eficiência em CAPEX é tratada com a mesma prioridade que a eficiência operacional. Essa abordagem assegura a entrega de projetos dentro de prazos e orçamentos, liberando espaço para reinvestimentos de maior valor. Adicionalmente, a entrada iminente de +US$1,0b decorrente da venda de 70% da Aliança para a GIP reforçará a liquidez da companhia, ampliando flexibilidade para sustentar crescimento e retornos aos acionistas.
Geração de FCF e retornos aos acionistas.
Encerrando sua fala, o Sr. Bacci enfatizou a robustez financeira da companhia, que vem gerando ~2x mais FCF yield que pares globais (BHP e Rio Tinto). Esse diferencial, classificado como “impressionante”, sustenta a resiliência do balanço, a manutenção de baixo nível de alavancagem e a capacidade de retorno consistente aos acionistas. Para ele, a disciplina financeira, somada ao portfólio flexível e aos custos em trajetória descendente, cria uma combinação única que garante valor sustentável no curto, médio e longo prazo. Dessa forma, a seção do Sr. Marcelo Bacci consolidou a mensagem do Investor Tour sob a ótica financeira: (i) portfólio escalável e diversificado, com ramp-ups em minério de ferro e expansão relevante em cobre (Bacaba); (ii) redução estrutural de custos em ferro, cobre e níquel, com metas claras e sustentáveis; (iii) disciplina rigorosa de CAPEX, com revisões que reduziram o guidance para US$5,4–5,7b em 2025E (-5,9%); e (iv) fortaleza financeira, vis a vis geração de FCF ~2x peers, apoiando retornos consistentes aos acionistas.
Nossa visão e recomendação
Siderurgia verde, Simandou e arbitragem de portfólio.
Os executivos reforçaram que a China será late adopter na transição energética. Hoje, 90% da produção chinesa ainda depende de BF–BOF, com apenas 10% em EAFs — proporção que deve alcançar 15% em 2025E (+5p.p.), mas ainda distante da média global de ~30%. Europa, Japão, Coreia, EUA e Oriente Médio seguem como vetores iniciais, com planos robustos de descarbonização já anunciados por players como ThyssenKrupp, Nippon Steel e Hyundai. Na China, mesmo testes pilotos representam volumes relevantes (10–15Mt de DR feed), mas nossa visão converge com a do Sr. Rogério Nogueira, o gargalo não será de demanda, mas sim oferta de minério de alta qualidade, reforçando o papel crítico da companhia nesse processo. Quanto ao projeto Simandou (Nova Guiné), nossa avaliação é de ameaça, mas limitada. Os Blocos 1–2 (Baowu) devem ser usados em blends com Onslow (Austrália) e BRBF, enquanto os Blocos 3–4 (Rio Tinto) servirão para elevar a qualidade do SP10/Pilbara Blend, também com necessidade de complementar minério da Vale. Ou seja, Simandou não terá solução stand-alone. Ademais, pressões adicionais sobre frete podem ocorrer, mas a companhia já parece ter se antecipado com hedges físicos e financeiros.
Ademais, perguntado sobre a lógica de comprar minério de terceiros, o Sr. Rogério explicou que, embora a margem imediata seja baixa, o valor está em controlar o destino do produto. Sem a companhia, esses volumes entrariam no mercado de forma independente; ao comprar, a companhia direciona conforme sua estratégia (China, Europa, blends específicos), preservando equilíbrio e fortalecendo pricing power.
Disciplina de CAPEX e alocação de capital.
O CFO, Sr. Marcelo Bacci, foi questionado sobre se o patamar de US$5,4–5,7b em 2025E (-5,9% vs. anterior) representaria um “novo normal”. A resposta converge com nossa premissa inicial de que se trata apenas do guidance de 2025, com expectativa de manter 2026 abaixo de US$6b, mas com variações dependendo do ritmo de execução. Não existe “silver bullet”: os ganhos vêm de múltiplas frentes — ramp-ups de minas de menor custo, diluição de fixos, revisões contínuas de projetos e pequenas melhorias de eficiência. Questionado sobre drivers do CAPEX, explicou que o ajuste reflete mais timing de execução do que grandes mudanças estratégicas. Em cobre, o avanço depende de licenciamento, enquanto em níquel apenas Thompson segue como exceção com potencial expansão. Na frente de alocação de capital, reforçou nossa premissa de meta de dívida líquida de US$15b em 2025E. Contudo, destacamos que caso os preços permaneçam elevados até o fim do ano, a dívida deve ficar abaixo do guidance, abrindo espaço para dividendos extraordinários e/ou recompras de ações.
Penalidades, prêmios e flexibilidade operacional.
O Sr. Rogério destacou que, apesar de maiores custos de concentração, o efeito líquido da redução de penalidades deve ser positivo, adicionando +US$2–3/t em realized premium. Para nós, isso evidencia a eficácia da arbitragem de portfólio e da reconfiguração de produtos como Mid-grade e PFC. Ademais, sobre o gap entre produção e vendas, projetado em 323–335Mt de produção vs. ~310Mt de vendas em 2025E, a explicação se deu por três fatores: (i) maior concentração gera mais rejeitos; (ii) conversão de pellet feed em pellets; e (iii) build-up de WC, com ciclo de ~105 dias entre shipment e venda efetiva. Ainda assim, destacamos aquilo que já tínhamos comentado em relatório anteriores, de que a companhia mantém flexibilidade para monetizar volumes adicionais de high-silica em momentos de preços elevados. No caso do Mid-grade Carajás (~63% Fe), especificamente, o Sr. Carlos Medeiros explicou tratar-se de uma solução de transição ao reduzir frentes de lavra, cortar custos e gerar receita a partir de material que iria para waste piles, mas que não deve eliminar necessidade de novos licenciamentos no futuro.
Mercado de pellets e dinâmica competitiva com a Austrália.
Sobre a meta de atingir 20% de aglomerados até 2030, o Sr. Rogério afirmou que 2025 será desafiador, com exportações chinesas reduzindo a demanda por produtividade em BFs. Contudo, entre 2027–29E, assim como prevíamos, deve haver recuperação estrutural, impulsionando a demanda por pellets. A companhia avalia modelos mais simples de aglomeração, próximos aos clientes e menos intensivos em capital, preservando flexibilidade. Além disso, questionado sobre se o novo mix (Mid-grade, PFC etc.) seria reflexo de exaustão, o executivo negou, afirmando tratar-se de aproveitamento de oportunidades de mercado. O Mid-grade, por exemplo, embora de menor teor de Fe, tem baixo fósforo, tornando-o atrativo para Europa e Índia. Em 2025, por exemplo, a Índia deve importar ~10Mt, com expectativa de dobrar ou triplicar volumes nos próximos anos. Por fim, sobre a resposta australiana, o Sr. Rogério reconheceu que a Austrália pode reagir com cortes de CAPEX, redução de preços ou M&A/blending. Contudo, reforçou que a flexibilidade da supply chain da Vale deve criar oportunidades para capturar valor em cenários de disrupção competitiva.
A sessão de Q&A, portanto, consolidou três mensagens centrais para nós, de que a companhia (i) reforça sua posição como fornecedora crítica da transição energética, mesmo diante do atraso chinês e da entrada de Simandou; (ii) mantém disciplina de CAPEX e alocação de capital permanecem prioridades, com flexibilidade para retornos adicionais aos acionistas; e (iii) detém a possibilidade de arbitrar de portfólio vis a vis a flexibilidade logística que sustenta prêmios líquidos positivos, consolidando a resiliência competitiva vs. Austrália.
Nossa visão e recomendação
FCF em trajetória robusta e CAPEX eficiente.
Como dito anteriormente, a companhia entregou geração de FCF de US$1,0b (+12% vs. Genial Est.), reflexo de amplificação de +39,1% t/t e ~4x a/a, com vetores consistentes nas duas bases de comparação. No trimestre, o desempenho foi impulsionado por (i) redução do CAPEX para US$1,1b (-10,2% t/t), em linha com nossa estimativa; (ii) neutralidade do capital de giro, revertendo consumo de -US$252m no 1T25, favorecida pela postergação de pagamentos a fornecedores; e (iii) recebimento de dividendos de coligadas/JVs de +US$248m (+43,7% t/t).
O guidance de CAPEX reforça a disciplina estrutural, com a projeção inicial de US$6,5b que foi sucessivamente revisada para US$5,9b e, mais recentemente, para US$5,4–5,7b em 2025E (-14,6% vs. inicial). Assim como dito pelo CFO, Sr. Marcelo Bacci, e reforçado diversas vezes por nós, não há silver bullet. Os ganhos advêm de múltiplas frentes — diluição de fixos, ramp-ups de minas de menor custo, revisões contínuas de projetos e ganhos incrementais de eficiência. Para 2026E, acreditamos que o patamar permanecerá <US$6b, preservando flexibilidade. Esse desempenho consolida nossa visão de que a companhia deve entregar FCF yield de ~13% em 2025E (~2x vs. peers BHP e Rio Tinto), crescendo para ~15% em 2026E, suportado pela redução da saída de caixa com Mariana (-39% a/a Genial Est.). Para nós, trata-se de um diferencial absoluto e relativo, que sustenta a resiliência financeira e reforça a atratividade do equity story.
Dividendos, recompra e disciplina de capital.
Já como dito anteriormente, a companhia anunciou distribuição de JCP de R$1,89/ação (~US$0,34/ADR), o que implica Dividend Yield de ~7%, a par da nossa estimativa de 8% para 2025E, em função da priorização do programa de recompra. O management tem sinalizado preferência clara pela segunda via: o conselho aprovou o uso de instrumentos como TotalReturn Equity Swap (TSR), Enhanced Share Repurchase (ESR) e Accelerated Share Repurchase (ASR), com mandato de 120 milhões de ações em 18M. Porém, reforçamos que além disso, agora ficou explícito, também, que não só a meta de dívida líquida de US$15b em 2025E permanece inalterada, mas caso os preços do minério sustentem níveis elevados até o fim do ano, a alavancagem deverá ficar abaixo do guidance, abrindo espaço para dividendos extraordinários e/ou recompras adicionais. Em nossa visão, esse conjunto evidencia disciplina financeira e clareza na priorização de retorno ao acionista.
Minério de ferro: desbalanço estrutural, mas Vale como arbitro da transição.
O cenário para o minério de ferro segue desafiador: a produção de aço chinesa caiu para 83,2Mt (-9% a/a)em junhoe para 79,6Mt (-4% a/a) em julho, enquanto a iminente entrada de Simandou deverá adicionar +120Mtpa em ramp-up pleno até 2027. Apesar disso, o preço do 62% Fe mostra resiliência (~US$100/t), mas mantemos postura conservadora, projetando curva de referência de US$94/t em 2025E (US$95/t no 3T25E; US$89/t no 4T25E). Contudo, o Investor Tour reforçou a convicção de que a companhia transformou fragilidades passadas em vantagem competitiva. O reposicionamento do portfólio já gerou impacto financeiro tangível: o prêmio do BRBF saltou de <US$1/t para >US$3/t (+2x), podendo representar +US$600m/ano em EBITDA incremental sobre ~150Mt de vendas. Produtos como o Pellet Feed China (PFC), que evoluiu de Fe <55% (2022) para 62–63% em 2025E (+7,5p.p.) e reduziu sílica de 24% para 5% (-19p.p.), e o Mid-grade Carajás (~63% Fe, ~25Mt em 2025E) ampliam a flexibilidade do mix e aproximam a companhia da ideal burden zone, diferencial em relação aos concorrentes de Pilbara. Ademais, a sessão de Q&A ainda reforçou que Simandou não é ameaça stand-alone: os blocos 1–2 (Baowu) e 3–4 (Rio Tinto) dependerão de blends adicionais, incluindo BRBF e IOCJ. Nesse sentido, a flexibilidade da supply chain da Vale — com blending de >120Mtpa e frota já preparada para combustíveis alternativos — é elemento estrutural de resiliência.
Eficiência operacional: automação e inovação.
Sob a ótica operacional, o Sr. Carlos Medeiros detalhou avanços que consolidam eficiência estrutural. Em automação de frotas, Brucutu e Capanema já operam com 100% da frota autônoma, e Serra Norte atingirá 130 caminhões até 2029 (~2,6x o nível atual). Os ganhos frente à frota convencional já são claros: +4p.p. em asset utilization, -15% no consumo de combustível, +10% na velocidade média e -US$0,30/t no C1 cash cost. Em Brucutu, a capacidade evoluirá de ~11Mtpa (2021) para ~30Mtpa até 2029 (+1,7x), com transformação qualitativa do mix (de Fe ~50% para ~61% em 2029, +11p.p.), eliminando os low-grade fines e assegurando C1 <US$20/t. Em Capanema, os ~15Mtpa adicionais (Fe ~55%, sílica ~9% vs. ~14% high-silica) reforçam blends de baixo custo. Já em Itabira, a automação em flotação elevou o DR pellet feed de 56% em 2023 para 75% em 2025 (+19p.p.), com meta de ~80%, além de reduzir Fe nos rejeitos de 22% para 16% (-6p.p.) e adicionar +2Mtpa de produção a um prêmio de +US$13/t, com payback de ~1 ano. Esses exemplos evidenciam disciplina de execução e inovação replicável, consolidando o Southeastern System como núcleo de flexibilidade do portfólio.
Vale faz o dever de casa, mas segue negociando barata.
Apesar de um cenário macro ainda desfavorável para o minério de ferro, a companhia demonstra execução exemplar no que controla: redução de custos, disciplina de CAPEX, reposicionamento de portfólio e inovação operacional. O resultado é um ativo que gera ~2x mais FCF yield que peers, sustentando Dividend Yield de ~7–10% (mesmo com preferência por recompra) e negocia a 4,0x EV/EBITDA 2025E e 3,8x 2026E, bem abaixo da média histórica de 5,0x. Além disso, o revisionamento do guidance de CAPEX de US$5,9b para US$5,4–5,7b em 2025E (-5,9% vs. anterior), aliado às evidências de captura financeira concreta apresentadas no Investor Tour (+US$600m/ano via BRBF, -US$0,30/t via automação, +19p.p. em DR pellet feed), alteram premissas relevantes do nosso modelo. Como consequência, reiteramos nossa recomendação de COMPRA atualizando nosso Target Price 12M para US$12,20 ADRs – NYSE (vs.US$11,60 anteriormente), e para R$65,80 VALE3 – B3 (vs. R$64,50 anteriormente),o que implica em um upside de +16,2%.