Com a estrutura de capital mais equacionada, desinvestimento em operações não rentáveis e foco nas principais unidades de negócio, acreditamos que o novo time da Valid possa voltar seus olhos novamente para o crescimento de receitas. Com a restruturação praticamente terminada, a nossa tese de investimento para Valid passa de uma história de recuperação e expansão de margens para, a partir de agora, uma tese de crescimento de receitas com manutenção das margens saudáveis nas unidades que restaram. Essa próxima fase de expansão de receitas (volume e/ou preço) não vai ser fácil também, principalmente por conta do cenário econômico desafiador adiante, mas acreditamos que o pior já passou.
A empresa reporta amanhã (8/mar, quarta-feira despois do mercado) e esperamos um resultado mais em linha com a cara da nova empresa. Lembrando que nesse trimestre, a empresa não irá consolidar a unidade dos EUA que foi vendida e gerou algo em torno de R$ 19m de EBITDA e R$ 171m de receita no 3T22, mas com uma margem EBITDA de apenas 11%, abaixo dos 20% do conglomerado.
Ao longo de 2022 a Valid realizou movimentos importantes que agregarão de forma significativa para os resultados da companhia em 2023. O principal ponto a se destacar é o pré-pagamento da dívida que estava atrelada ao CDI, ou seja, uma dívida que estaria muito cara no cenário atual devido ao elevado patamar de taxa Selic. Ao final do ano, esperamos que a alavancagem caia para 0,75x dívida líquida/EBITDA de 3,77x dívida líquida/EBITDA há 2 anos atrás.
Dessa forma, com o operacional rodando em linha com 2022, mas com uma despesa financeira bem menor devido a redução da alavancagem e redução de impactos cambiais no resultado financeiro, esperamos que a companhia comece a reportar em 2023 uma melhora no lucro líquido, com menos volatilidade e melhoras na rentabilidade (ROE), consequentemente induzido o mercado a olhar a empresa por outras métricas de valuation, como o preço/lucro. Para 2023, estimamos um lucro de R$ 159m, aumento de +431% a/a.
Apesar da pouca liquidez, que aumenta muito a volatilidade do preço das ações, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com preço alvo de R$ 11,60. Entendemos que o valuation está atrativo negociando a 4,16x P/L 2023E vs 22,1x P/L 2022E e um EV/EBITDA de 2,79x 2023E, além de um P/VP de 0,49x 2022E. Nosso target é baseado no modelo de fluxo de caixa descontado para o acionista (FCFE), sendo utilizado um custo de capital (Ke) de 16,45% e crescimento (g) de 6%.
2023: Com lucro maior, mercado pode ver com bons olhos…
O ano de 2023 será beneficiado pela nova Carteira de Identidade Nacional (CIN) que deverá ser adotada por todos os estados à partir de março deste ano, fazendo com que as novas emissões já possam ocorrer nesse novo modelo de plástico. O documento atual (papel) tem validade até 2032, assim não há a necessidade de troca imediata, porém esperamos que os governos estaduais incentivem a troca por conta da maior receita e pela durabilidade do novo formato, beneficiando os resultados da Valid. Além disso, acreditamos em uma adoção mais rápida no novo documento pelo fato de apresentar alguns fatores de melhor segurança, além de dar ao usuário uma facilidade maior para viagens no Mercosul.
A nova CIN contará com a possibilidade de ser emitido em policarbonato, sendo que nessa modalidade o documento é de 2 a 3 vezes mais caro que o documento comum (papel), fazendo com que as receitas da companhia sejam beneficiadas pelo preço maior.
No 3T22, a Valid finalizou o processo de desinvestimento das suas unidades nos EUA, fazendo com que o resultado operacional tenha uma leve redução já que não terá mais entradas de resultados dessas frentes. Entendemos que a subsidiária americana não agregava tanto resultado para a companhia e aumentava a volatilidade nos resultados. Dessa forma, esperamos que os dados operacionais de EBITDA de 2023 sejam parecidos com 2022, ou até caiam a/a, como receita, por exemplo. No caso do EBITDA, esperamos que o crescimento das unidades principais que ficaram no portfólio mais que compensem a venda da unidade EUA, que em 2022 reportou R$ 41m de EBITDA (margem de apenas 9%) nos primeiros 9 meses que consolidavam a Valid.
Apesar de estimarmos um operacional “de lado” por conta da venda, esperamos um aumento significativo no lucro da Valid, sendo um dos pontos a redução de impairments e despesas de mútuos que estavam gerando volatilidade ao resultado da empresa. Como destacado anteriormente, acreditamos que a estratégia de pré-pagamento das dívidas foi muito assertiva por parte do management, fazendo uma recomposição de uma melhor estrutura de capital. A dívida em CDI que iria gerar um alto volume de despesa financeira será contida pela baixa alavancagem e beneficiará a composição do lucro. No fato relevante referente ao pré-pagamento a empresa comunicou que espera encerrar 2022 com uma Dívida Líquida/Ebitda inferior a 0,7x, sendo que no 4T20 o múltiplo era de 3,2x. Assim, esperamos que a empresa dê um tom mais positivo nos resultados do 4T22 que serão divulgados no dia 08/mar/2023.
Com base no ocorrido ao longo de 2022 e das expectativas para 2023, esperamos que a Valid apresente um lucro líquido de R$ 159m em 2023, aumento de 431% a/a. Já do lado operacional, esperamos um resultado similar ao de 2022 com um EBITDA de R$ 490m para 2023, parecido com 2022.
Recompra de ações: Em benefício dos investidores
No dia 30/dez/2022 a empresa soltou um fato relevante comunicando o cancelamento de 2 milhões de ações que estavam em tesouraria. Enxergamos o movimento como um ponto positivo, já que quanto menor o número de ações disponíveis, maior o lucro por ação e dividendo por ação. O movimento de recompra e cancelamento de ações é uma forma de retornar capital ao investidor. Ainda, no mesmo comunicado a empresa disse ter finalizado o novo programa de recompra de ações que havia sido aberto em abr/22, totalizando 1 milhão de ações para futuro cancelamento ou manutenção em tesouraria.
Suporte: Um ponto de sustentação para as ações VLID3
A Valid conta com alguns acionistas principais que ajudaram na sua reestruturação de capital, troca do time de gestão e de certa forma criaram um grupo de sustentação do preço de suas ações, apesar da performance fraca e volatilidade das ações. Acreditamos que muitos deles ainda estão carregando prejuízo de posições antigas.