Assim como vem ocorrendo desde o fim de 2020 e ocorreu no primeiro semestre de 2021, os volumes demandados seguem sendo muito fortes. Porém, esse bom momento só não é melhor por conta do cenário turbulento e desafiador que parece não ter um fim próximo. Se de um lado tivemos um certo alívio devido às quedas nos preços de matérias-primas correlacionadas ao minério de ferro, do outro tivemos uma forte pressão inflacionária relacionada ao aumento dos preços de frete, energia e pela falta de componentes eletrônicos.
Nesse momento, duas perguntas precisam ser respondidas:
- Será que a queda nos custos de matéria-prima foi grande o suficiente para equilibrar toda essa pressão externa sobre às margens das empresas?
- A demanda segue forte o suficiente para que o repasse de preços ocorra?
Tanto as empresas ligadas a indústria automobilística quanto as empresas ligadas a energias renováveis e máquinas industriais devem apresentar no 3T21 margens mais espremidas. Hoje o cenário precifica uma catástrofe, quando, na verdade, observamos um impacto bem menor que o esperado. Poderia ter sido bem pior, mas será que o mercado já sabe disso?
Auto peças e implementos:
Apesar da falta de semicondutores, as montadoras e as empresas fabricantes de autopeças operaram em plena produção. A atividade no Brasil segue aquecida devido à forte demanda dos segmentos ligados ao agronegócio, mineração e e-commerce. Tanto Randon como Tupy, já haviam garantido boas carteiras de pedidos para o segundo semestre, e as prévias do setor apontam para volumes altos.
Em termos de receita líquida, devemos observar crescimento em ambas as empresas por conta do aumento nos volumes e aumento dos preços dos produtos vendidos, a demanda alta ainda possibilita o repasse de preço.
É importante ressaltar que o segmento de pesados é menos afetado pela falta de semicondutores que o segmento de veículos leves, o motivo é simples: além de não competirem pelos mesmos tipos de semicondutores, as montadoras conseguem ter margens maiores nos de veículos pesados em comparação aos leves. Assim, os pesados acabam sendo priorizados pelas montadoras e os volumes de produção tendem a cair menos.
Máquinas e Equipamentos + Renováveis
Se por um lado a crise hídrica vivida no Brasil traz riscos, por outro lado, ela também traz oportunidades. Com o temor no setor industrial devido ao risco de racionamento e falta de energia elétrica, estamos observamos os investimentos em fontes alternativas de energia cresceram rapidamente no país. Além disso, de acordo com a ABIMAQ — Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, as vendas no mercado de geradores subiram 129,27% no segundo trimestre de 2021 em relação aos três primeiros meses do ano e 26,63% maiores do que nos mesmos meses de 2020.
Ao longo do trimestre, a intensificação das campanhas de vacinação no mundo e os de estímulo governamentais, permitiram uma recuperação consistente em diversas economias, propiciando o aumento das vendas de máquinas e equipamentos. No mês de agosto houve melhora tanto nas receitas internas como nas exportações. Mas o mercado externo exerceu a maior influência positiva nos resultados.
Randon (RAPT4)
Tudo se desenhando para ser mais um trimestre muito bom para a empresa, mesmo com as quedas no mês de setembro, esperamos que 3T21 seja marcado por volumes altos. O segmento de implementos rodoviários, seguiu o ritmo forte que já havíamos visto no trimestre anterior, cerca de 23.400 implementos emplacados entre julho e setembro vs. 23.600 no 2T21. Esses volumes altos podem se refletir em margens operacionais acima das que o mercado vinha precificando devido a todas as incertezas mencionadas anteriormente. A prévia de receita divulgada no dia 20/10/2021 indica uma receita líquida de no trimestre foi de R$ 2487 milhões, crescimento de 17,6% em relação ao trimestre passado e 64% maior que o 3T20.
Olhando para o próximo trimestre, por conta das paralizações de fim de ano e férias coletivas, devemos observar quedas nas entregas de produtos. Mesmo sabendo disso, não ficaríamos surpresos se a empresa superasse o guidance de R$ 8,5 bilhões de receita líquida em 2021 (crescimento de mais de 55% em relação a 2020).
Mesmo com um cenário político mais turbulento e incerto no curto prazo, a tese da empresa se mantém inalterada no longo prazo. As perspectivas para o ano de 2022 e 2023 são muito promissoras. Os novos investimentos em infraestrutura vêm ganhando tração no país e o agronegócio segue em expansão, não só de capacidade como também de produtividade. Outro fator que começa a se desenhar é a crescente terceirização de veículos de cargas e consolidação das empresas de transporte, uma boa alavanca para a produção de caminhões voltar a crescer de maneira robusta no país.
Um ponto que pode estar sendo deixado de lado pelo mercado, é a volta do crescimento da linha de vagões ferroviários da empresa. Temos boas perspectivas para o segmento, que também deve surfar a nova onda de investimentos no país por conta da aprovação do marco regulatório das ferrovias.
Hoje a Randon conta com sua linha de autopeças muito mais bem diversificada, a Fras-le demonstrou em sua prévia operacional que segue colhendo frutos da aquisição da Nakata. A empresa reportou uma receita líquida de R$ 657 milhões no 3T21, 9,7% maior que no trimestre anterior e 45% maior que no 2T21. É verdade que o câmbio favorável e o repasse de preço também ajudam o segmento de autopeças, já que a Fras-le representa cerca de 50% da receita do segmento de autopeças da Randon.
Hoje a Randon negocia a um múltiplo EV/EBITDA muito atrativo de 4,3x, considerando seu valor de mercado atual, sobre o EBITDA projetado para 2022. Nós projetamos um múltiplo justo de cerca de 6,0x no projetado para 2022.
Tupy (TUPY3)
Nesse trimestre devemos ver um movimento oposto ao que ocorreu no trimestre anterior, as margens das empresas devem ser impactadas positivamente. Com a queda nos preços dos insumos ao longo do 3T21 e o repasse defasado dos custos de matéria-prima do 2T21, o saldo acaba sendo positivo e compensa parte da margem perdida no trimestre anterior. Mesmo com todas as preocupações e problemas na cadeia de suprimentos, a demanda por bens industriais segue aquecida e esperamos volumes fortes também nos próximos 12 meses.
Quando olhamos para os indicadores de mercado vemos que Brasil, EUA e Europa sofreram menos do que o esperado. A produção e venda de veículos comerciais, veículos e máquinas off-road se manteve firme, diferentemente do que ocorreu com o segmento de carros de passeio.
Nossas projeções apontam para volumes próximos aos do trimestre anterior, ligeiramente acima dos 128 kton reportados no 2T21. Esperamos que a combinação repasse de preço x volume se refletida em receitas na casa dos R$ 1.8 bilhões.
No decorrer dos próximos anos, o pacote de infraestrutura aprovado nos EUA deve beneficiar a empresa líder no segmento de blocos e cabeçotes de ferro para veículos e máquinas off-road. Somado a isso, toda demanda que não está sendo atendida no momento por conta da falta de semicondutores pode ser compensada ao longo dos próximos anos. A alta capacidade de produção da Tupy e os custos de insumos protegidos por cláusulas de repasse, devem servir como uma forte vantagem competitiva para a empresa atender toda a demanda represada.
Os negócios adquiridos da Teksid, podem ser um gatilho importante para a empresa nos próximos meses e serão estrategicamente importantes fortalecer a posição da Tupy como principal fabricante de blocos e cabeçotes de ferro fundido no mundo. Vale lembrar que a empresa mudou seu direcionamento estratégico ao final da aquisição e focou no segmento de bens de capital. Na sua nova configuração aproximadamente de 85% da receita das empresas combinadas virá do segmento de comercias e off-road.
A empresa está sendo negociada a múltiplos atrativos, cerca de 4,3x EV/EBITDA considerando seu valor de mercado atual, sobre o EBITDA projetado para 2022. Nós projetamos um múltiplo justo de cerca de 5,2x no projetado para 2022.
WEG (WEGE3)
Esperamos resultados sólidos assim como vimos ao longo dos últimos 12 meses. No mercado interno, o tom é de continuidade, olhando para os indicadores econômicos, esperamos que a WEG siga surfando a retomada econômica e aceleração da produção industrial. A liderança no mercado interno ajuda no repasse de preços, porém segue o risco de uma compressão de margens no próximo trimestre.
No mercado externo, em termos de volume, esperamos que a empresa tenha ganhado mais tração, principalmente com os produtos de ciclo curto, responsáveis por receita imediata. Assim como no trimestre passado, esperamos que os produtos de ciclo longo sigam na o bom desempenho, puxados pelo bom momento do mercado de global de commodities. O câmbio estável, não deve repercutir muito. O desempenho no mercado externo, pode vir pior em termos de margem, muito por conta da maior pressão sobre o preço dos insumos como aço e cobre (20% e 10% do CPV respectivamente).
Olhando para o futuro da empresa, o segmento de mobilidade elétrica começa a materializar parte do potencial de crescimento exponencial da empresa. O lançamento do e-Delivery pela Volkswagen somado às boas parcerias firmadas para o fornecimento de estações de recarga, foram pontapés inciais importantes para a empresa nesse trimestre.
A Volkswagen já vendeu 200 unidades do modelo elétrico que possui motor elétrico síncrono de ímãs permanentes da WEG. A exceptiva da empresa é que 1% da frota de caminhões seja eletrificada até o fim de 2022. A empresa espera que pelo menos 15% das frotas urbanas de caminhões sejam elétricos em 2030, nossa expectativa é que no cenário base 7% da frota de comerciais leves seja elétrica.
O segmento voltado para energia deve seguir com um bom desempenho, puxado pelos produtos de ciclo longo e pelo segmento de renováveis. Vemos cada dia mais, o mercado brasileiro de energia solar crescendo e essa alta demanda com a novas carteiras de pedidos para projetos voltados para energia eólica devem impulsionar o segmento. A entrega de projetos de turbina eólica, que possuem um processo de fabricação menos verticalizado, também deve contribuir para uma redução nas margens operacionais da empresa. O cenário energético desafiador é de certa forma positivo para a WEG, que tem se fortalecido de maneira expressiva no mercado de energias renováveis, aumentando sua participação no mercado de energia solar no país.
Aeris (AERI3)
Esperamos um resultado operacional próximo ao reportado no 2T21. Devemos ver alguma melhora nas margens, principalmente por conta da maturação de algumas linhas de produção importantes, por exemplo, uma das linhas da Nordex.
Estamos projetando uma entrega de sets (grupos de 3 pás) 5% inferior ao 2T21, cerca de 180 sets no 3T21 vs. 191 no 2T21, porém com a mesma capacidade fornecida, 742 MW. Em termos de rentabilidade, esperamos uma queda relevante no ROIC, isso porque os fortes volumes do 3T20 resultantes de projetos descomissionados da GE e Vestas (V110) não são mais computados nos últimos 12 meses.
Com a amenização da pandemia, esperamos que a empresa apresente uma redução no absenteísmo e consequentemente demonstre um aumento de produtividade. Para o seguimento de serviços, devido ao fim das restrições do COVID nos EUA e por consequência uma menor dificuldade de prestação de serviços, esperamos um aumento na receita.
Não vimos o mesmo alívio nos preços de materiais compósitos que vimos nos materiais correlacionadas ao minério e o que deve por pressão nas margens operacionais da empresa. Além disso, devido à particularidade dos contratos, o repasse de preço pode demorar mais para ocorrer, portanto, deve comprimir ainda mais as margens nesse trimestre.
Após a captação da debenture no valor de R$ 700 milhões, a empresa tem uma posição de caixa mais confortável e com redução no custo de dívida de CDI + 4% para CDI + 2%.
De olho nos problemas decorrentes da crise hídrica, o foco segue sendo o longo prazo. O regime perturbado de chuvas explicitou toda a dependência da fonte hídrica na nossa matriz energética. Esse tipo de cenário favorece o fluxo de investimentos em fontes alternativas de energia e a energia eólica vem ganhando espaço devido ao potencial brasileira ainda sub explorado. A Aeris pode se beneficiar a medida que encerra seus investimentos em expansão fabril no fim 2021. Desse forma, entendemos que a empresa estará preparada para atender toda parte da demanda dos próximos anos.