Neste relatório, falaremos sobre nossas expectativas referentes aos resultados do 4T23 da WEG que serão divulgados no dia 21 de fevereiro. Além disso, traremos nossa visão para a empresa em 2024 com foco nas projeções de crescimento de receita e comportamento das margens operacionais ao longo do próximo ano. Para o 4T23, esperamos números mistos, com crescimento modesto de receita, porém com estabilidade nas margens, que devem permanecer relativamente altas, favorecidas pela maior concentração de produtos ciclo longo no mix. Algo positivo dentro da dinâmica atual de mercado.
Atualizaremos nossas estimativas para 2024, refletindo o cenário de mercado mais desafiadora e a expectativa de uma margem líquida menor, puxada pela normalização da margem bruta e por uma mudança na alíquota efetiva de impostos, que deve aumentar, por efeitos da legislação e práticas de Transfer Pricing.
Por fim, exploraremos mais afundo a integração da divisão de sistemas industriais da Regal e seus desdobramentos nas operações da WEG para entender seu impacto nas margens operacionais e nas expectativas de receita. Adicionalmente, falaremos sobres os negócios ligados à transição energética global e os possíveis impactos nas perspectivas de crescimento de longo prazo, dando ênfase no segmento de T&D e Mobilidade elétrica.
Para o 4T23, estimamos uma receita líquida de R$ 8,3 bilhões (+4,5% a/a e +3,3% t/t) e um EBITDA de R$ 1,8 bilhão (+13,4% a/a e +1,7% t/t), com um lucro líquido de R$ 1,3 bilhão (+12,0% a/a e +1,8% t/t).
Seguimos com recomendação de COMPRA para WEG, porém estamos reduzindo nossa preço alvo para R$ 45,00 vs R$ 47,50 anteriormente.
Expectativas para o 4T23
Para o 4T23, as expectativas são mistas. Esperamos um crescimento mais modesto de receita e com margens mais comportadas na comparação trimestral, um ponto positivo considerando a dinâmica atual do mercado. Lembrando que a sequência natural é de acomodação gradual das margens, mas segundo as nossas estimativas, a margem EBITDA ainda deve permanecer acima dos 20% no 4T23. Esse patamar, é beneficiado por uma menor concentração de receita em produtos menos verticalizados, como Solar, ajudando a amortecer a queda das margens em outro segmentos. Além disso, o backlog da WEG, mais concentrado em ciclo longo, também contribui para este patamar de rentabilidade.
O comportamento dos preços dos insumos, também sinaliza uma normalização gradual das margens. Após alguns trimestres de deflação no cobre e no aço, voltamos a observar variações altistas. Com os preços de matérias-primas subindo e uma demanda menos receptível a novos repasses de preço, teremos novos desafios na dinâmica de margens dos produtos seriados nos próximos trimestres.
A demanda e a atividade industrial mais fracas já começam a refletir numa desaceleração na entrada de novos pedidos, o que indica um 2024 mais fraco. Os resultados da ABB e Siemens do 4T23 (já divulgados) refletem esse cenário. A ABB reportou um crescimento de receita de 5% a/a no 4T23, porém com margens mais fracas e indícios de desaceleração para 2024. O guidance de crescimento de receita de 5% é inferior ao crescimento reportado em 2023 de ~14%. Já a Siemens enfrentou condições de mercado mais adversas, com uma queda significativa nos pedidos e receitas de automação, refletindo uma desaceleração.
Como reflexo, esperamos mais um trimestre fraco na Europa, prejudicado pela baixa demanda por produtos de ciclo curto. A China também apresenta uma perspectiva negativa, embora ensaie uma melhora. Por outro lado, a atividade industrial seguiu forte nos EUA durante 4T23, o que também deve ajudar no desempenho. Esperamos mais um trimestre forte no segmento de Transmissão e Distribuição (T&D) nos EUA, compensando a dinâmica pior na Europa. O mercado de T&D, segue com um grande gap entre demanda e oferta, o que favorece os players com capacidade de entrega como a WEG.
Paralelamente, o Brasil apresentou melhora na atividade industrial ao final do ano, dando os primeiros sinais positivos após o início do ciclo de corte de juros. Ainda falando do mercado local, vimos mais um trimestre tímido de importação brasileira de placas solares chinesas, com volumes bons, mas preços em queda, o que sugere mais um trimestre fraco para a divisão solar.
Nossas expectativas para a WEG indicam um aumento sequencial na receita líquida em dólar. Enquanto projetamos uma melhora na figura consolidada, esperamos que a divisão de motores comerciais enfrente mais um trimestre de queda de receita devido à dinâmica de mercado nas principais regiões de atuação. Contudo, esperamos que isso seja compensado pelo bom desempenho nos segmentos de Eletroeletrônicos Industriais e Energia (GDT), sustentado por uma demanda resiliente por equipamentos eficientes e infraestrutura de energia, como destacado nas regiões de USMCA. Recentemente vimos uma das concorrentes da WEG, anunciando um investimento em uma nova fábrica na Carolina do Norte, reflexo da perspectiva positiva para o mercado de Transmissão e Distribuição nos EUA.
Nosso monitoramento dos dados de exportações de motores industriais indica volumes mais baixos no 4T23 compensado por um preço médio maior. Somando as exportações de Equipamentos Eletroeletrônicos Industriais e Motores Comerciais e Appliance (~30% da receita no mercado externo) esperamos um crescimento anual da receita em dólares estável no 4T23.
Perspectivas para 2024
Para 2024 esperamos margens menores, efeitos causados por uma alíquota efetiva de imposto 2% maior e como consequência da inclusão dos números de divisão de sistemas industriais da Regal no segundo semestre. Estendemos a recomposição de margens dessas operações para um período de 3 anos, atingindo patamar próximo à figura consolidada da WEG de 18,5%. Adicionalmente, estamos revisando nossas premissas de crescimento de receita para 2024, impulsionado pela aquisição, porém com um crescimento orgânico mais modesto. Para 2024, estimamos uma receita líquida de R$ 36,2 bilhões (+12,1% a/a ), um EBITDA de R$ 7 bilhões (+0,4% a/a), refletindo em uma margem EBITDA de 19,3% (-2,4pp a/a) e um lucro líquido de R$ 5 bilhões (-5,9% a/a).
Consolidação da aquisição em 2024 prejudica a margem EBITDA
Em setembro de 2023, a WEG fez a maior transação de M&A da sua história, comprando a divisão de Motores Industriais e Geradores da Regal Rexnord. Com uma baixa sobreposição de clientes entre as empresas, a transação dará acesso a novos clientes e a novos mercados, ajudando a suportar o crescimento da Companhia nos próximos anos. Estimamos um ganho de participação de mercado entre 2,2 e 3,1 p.p com a aquisição, fazendo com que a WEG atinja mais de 13% de participação no segmento. Já no que diz respeito a geradores, o foco maior está no ganho de participação fora do Brasil, principalmente no mercado chinês.
Essa divisão operava com margens muito mais baixas que as da WEG, portanto existe a possibilidade de ganhos relevantes de margem no longo prazo. Como as fábricas adquiridas contam com bons níveis de capacidade ociosa, isso reduz substancialmente a necessidade de novos investimentos para sustentar o crescimento orgânico da WEG no curto/médio prazo. Nossa expectativa é que o closing ocorra apenas no 2T24, uma antecipação também seria uma surpresa positiva. A expectativa inicial era de que a recomposição de margens ocorresse em 5 anos. Depois de conversar com CFO Andre Rodrigueis e com o futuro CEO Alberto Kuba, agora trabalhamos com 3 anos, o que é uma surpresa positiva. Existe um potencial para a empresas surpreender o mercado, caso consiga uma recomposição das margens ainda mais rápida.
Para 2024, projetamos um crescimento de receita, orgânico mais inorgânico de 13%. Destacamos também o potencial de ganhos relevantes de margem, saindo de algo inferior a 7% da Regal para se aproximar dos níveis históricos da WEG no segmento, próximo a 18% de margem EBITDA. Nas nossas premissas, incorporamos uma contribuição de -0,7pp de margem EBITDA em 2024.
Temos motivos para acreditar que a WEG conseguirá extrair mais valor dos ativos da Regal. No passado, a Regal foi muito agressiva nas aquisições, comprando fábricas muito caras e se alavancaram para isso. Consequentemente, a Companhia criou unidades de produção ineficientes. Após alguns anos sem extrair o total valor dos ativos, se perderam em termos de Supply Chain, que só piorou durante a pandemia. Vemos na WEG a verticalização como uma fortaleza importante para retomar a rentabilidade das atividades. Uma recomposição de margem em 3 a 4 anos parece confortável, começando por uma fundição verticalizada, com ganhos nos custos de materiais por conta de maior escala. As fábricas de fundição da WEG no México possuem capacidade de ampliar seus níveis de produção sem grandes investimentos.
Dinâmica de Mercado implica em normalização das margens
A desaceleração nas entradas de novos pedidos, é um indicador negativo para as condições de precificação. Nesse cenário, usualmente as empresas começam a ajustar os preços segundo a queda nos custos de matérias-primas. No passado, a precificação com insumos nas máximas seguida da redução de custos contribuiu para efeito temporário de aumento na margem Bruta. A desaceleração na entrada de novos pedidos e queda nos custos de matéria prima, indicam de que os preços devem voltar a cair e gerar uma acomodação gradual da Margem Bruta.
Somando consolidação da aquisição e normalização da margem bruta, projetamos margens caindo para um patamar abaixo de 20%, no 2T24.
Mudanças tributárias também prejudicam o lucro
Além dos efeitos de consolidação das aquisições e normalização nas margens devido às dinâmicas de mercado, em 2024 entrou em vigor uma nova regulamentação referente ao Transfer Pricing. A Medida Provisória (MP 1152), publicada pelo governo Bolsonaro no final de 2022, obrigando que os preços de transações entre empresas e suas subsidiárias estrangeiras reflitam os preços de mercado de transações similares entre partes independentes.
A WEG, se beneficiava de regimes fiscais mais favoráveis em países como Suíça e Áustria, vendendo produtos a suas subsidiárias a preços reduzidos para minimizar a carga tributária. A implementação da MP 1152 deve aumentar a alíquota efetiva de impostos da empresa. Nas nossas contas, a alíquota efetiva sobe de 17 para 20%, ou seja, tira cerca de 3 pp da margem líquida em 2024.
Além dessa mudança, após a transição de governo, estamos monitorando alguns outros riscos que também podem prejudicar ainda mais a margem da empresa. Existe uma pressão do governo para um aumento de tributação do governo, seja via desoneração da Folha, subvenção do ICMS ou mudança nas regras do JCP, todos impactariam as margens no médio prazo. Projetamos uma margem líquida de 14% para o ano.
Transição Energética: crescimento sustentável e de longo prazo
Seguimos otimistas com o futuro, especialmente no que tange o mercado de transformadores e no potencial de crescimento do segmento de mobilidade elétrica. Embora as duas unidades de negócio estejam em momentos distintos e em mercados de atuação divergentes, elas acabando convergindo sobre um ponto comum: a transição energética global. Estes dois segmentos, apesar de suas diferenças intrínsecas, se apropriarão de uma tendência secular: a busca por soluções energéticas mais limpas, eficientes e sustentáveis.
De um lado, temos a divisão de Transmissão e Distribuição, que se beneficia da necessidade de modernização e expansão das infraestruturas de energia. Para suportar o crescimento da demanda por energia e principalmente por uma geração mais verde, precisaremos de uma expansão no mercado global Transformadores. Do outro lado, a Mobilidade Elétrica capitaliza sobre a demanda crescente por veículos menos poluentes e mais econômicos. A unidade, opera em sincronia com a forma de consumir energia, impulsionada pela mudança de direcionamento estratégico da indústria automobilística
T&D nos EUA segue com ventos favoráveis
Recentemente vimos uma das concorrentes da WEG, a Siemens Energy, anunciando um investimento de US$150 milhões em uma nova fábrica na Carolina do Norte, visando reduzir a escassez de transformadores de grande porte nos EUA. A perspectiva para o mercado de Transmissão e Distribuição nos EUA segue positiva, impulsionada por planos substanciais de desenvolvimento de infraestrutura energética.
A demanda crescente por esses transformadores é impulsionada pela necessidade de renovar a rede elétrica envelhecida e por projetos de infraestrutura para o transporte elétrico e novas fontes de energia. Este cenário nos faz acreditar que 2024 deve ser mais um ano forte para a divisão. A demanda robusta por equipamentos de T&D, especialmente relacionados a energias renováveis e eficiência energética, pode facilitar o fortalecimento da presença da WEG no mercado americano, contribuindo para o crescimento de suas receitas e backlogs de pedidos.
Considerando a escassez doméstica de transformadores nos EUA e a alta demanda, a WEG, com sua forte presença no mercado de transformadores, pode se beneficiar. A cautela dos fabricantes americanos em investir em novas instalações, apesar da demanda crescente, tem gerado uma janela de oportunidade para a WEG ganhar participação no mercado americano, explorando tanto a substituição de equipamentos em redes antigas quanto novos projetos de infraestrutura de energia.
Mobilidade Elétrica
De alguns anos para cá, a WEG tem ampliado seu portfólio voltado para mobilidade elétrica, visando capturar o máximo de valor da crescente demanda por veículos elétricos e consequentemente em componentes de infraestrutura de recarga. A empresa tem mais de duas décadas de experiência inovadora em sistemas de tração e anunciou recentemente anunciou novos investimentos na produção de baterias, visando oferecer uma solução completa aos seus clientes. No âmbito de infraestrutura de recarga, a WEG está exposta às soluções tanto para uso doméstico quanto para estações de recarga rápida. Hoje, a empresa fornece suas estações para 24 montadoras de veículos elétricos, sendo as concessionárias um importante canal de distribuição.
Este movimento cria um leque de oportunidades e estabelece uma plataforma para crescimento sustentável no longo prazo, posicionando a empresa de maneira a capturar uma parcela relevante do mercado de mobilidade elétrica no Brasil, tanto na produção de sistema de propulsão para os veículos quanto na infraestrutura de recarga necessária.
Share de Vendas de Elétricos subindo…
O Brasil ainda apresenta uma penetração baixa, mas em ascensão, de eletrificados na frota. Veículos leves lideram essa transformação, mas representam menos de 1% das vendas de carros no país. Dos 1,5 milhões de veículos emplacados até novembro de 2023, apenas 17,7 mil eram elétricos a bateria ou híbrido Plugin. Contudo, algo que chama nossa atenção é a velocidade de mudança cenário para leves. Em agosto de 2023, o share de elétricos nas vendas atingiu o recorde de 4,75% do total de emplacamentos no mercado doméstico. Esse movimento está sendo impulsionado pelas marcas chinesas que têm feito investimentos agressivos no Brasil. No mercado de ônibus, a fase inicial de adoção da tecnologia elétrica no transporte público brasileiro, abre espaço para crescimento robusto ao longo dos próximos anos.
No caso dos ônibus, dos 385,5 mil em serviço nas cidades brasileiras, menos de 500 são elétricos. Porém, com a nova agenda de compromisso com a sustentabilidade, é provável que o Brasil veja um aumento na adoção de ônibus elétricos nos próximos anos. A cidade de São Paulo, contudo, está liderando a transição para a mobilidade elétrica. A prefeitura se comprometeu a contar com, no mínimo, 2.600 veículos elétricos até o fim de 2024. Até agora, são 220 ônibus elétricos, dos quais 19 são 100% movidos a bateria e 201 são trólebus. Há pedidos em andamento para a produção de 2.292 ônibus elétricos que devem ser entregues entre 2023 e 2024, sendo 1.624 unidades previstas para 2023 e 668 para 2024. Outra cidade que está se movimentando nessa direção é Porto Alegre, que será a operar o ônibus elétrico Attivi da Marcopolo, a partir de abril de 2024.
Para caminhões e implementos, os números são ainda mais tímidos. A Volskwagen, pioneira na categoria no Brasil, projetava entregar entre 2021 e 2024 cerca de 8 mil unidades, porém, até novembro de 2023, apenas 450 unidades foram entregues, o que sugere uma adoção mais tímida à tecnologia. No caso de implementos, as vendas do e-Sys também não engrenaram. A nível global, vans e caminhões representam apenas 3% das vendas dos veículos eletrificados, enquanto ônibus constituem 38% do total, segundo o Electric Vehicle Outlook 2023 da BloombergNEF. Isso sugere que ônibus elétricos têm uma adoção mais ampla em comparação com caminhões elétricos, que avançam mais lentamente.
No fundo, isso representa uma oportunidade significativa para empresas como a WEG, que podem fornecer não apenas os sistemas de propulsão elétrica necessários, mas também a infraestrutura de recarga essencial.
Planejamento Sucessório: 2024 será marcado pela troca do CEO
O ano também será marcado pela troca de CEO na Companhia. Ao assumir o papel de CEO, Kuba sucederá a Harry Schmelzer Jr. e será a terceira pessoa a comandar a WEG desde sua fundação. O antigo CEO deixa um legado de 16 anos de um crescimento médio anual de receita de 15%, um testemunho do crescimento estratégico e da força da WEG no mercado global.
O novo CEO é engenheiro eletricista com uma especialização em gestão empresarial, e começou sua carreira na área da venda de motores industriais no Brasil de 2004 a 2009. Posteriormente, assumiu desafios internacionais, passando 10 anos na China, liderando a área comercial entre 2010 e 2015. Após o período, Kuba retornou ao Brasil em 2020, com experiência global e assumiu como Diretor Superintendente da divisão de Motores Elétricos Industriais.
Kuba, aos 44 anos, tem mais de duas décadas dedicadas à WEG, participando do crescimento e da expansão da empresa em diferentes geografias. Como atual Diretor Superintendente da divisão de Motores Elétricos Industriais, ele traz um legado de bons resultados, ganho de market-share e um profundo conhecimento na divisão que é o core business da Companhia e por isso o consideramos uma ótima escolha.
Adicionalmente, consideramos que a chegada de Alberto Kuba ao posto de CEO da WEG reforça a cultura da empresa. A promoção de mais um líder que começou sua jornada na própria organização, é uma mensagem importante para todos os colaboradores, demonstrando que a WEG é um lugar onde se pode construir uma carreira. Consideramos isso umas das fortalezas da empresa no longo prazo, um catalisador de motivação e um fator importante na retenção de talentos.