Ao longo da temporada de balanços do 4TRI22, os resultados financeiros das empresas continuaram a se deteriorar. Embora as receitas tenham crescido, impulsionadas pelo efeito inflacionário, o EBITDA e o LPA apresentaram queda tanto na comparação trimestral quanto anual. A alavancagem também aumentou, devido à elevada taxa de juros, pressionando as margens de lucro em todos os setores da bolsa.
Expectativa vs Realizado
No quarto trimestre de 2022, os resultados de EBITDA que superaram as estimativas foram de apenas 21%. Embora seja maior que o terceiro trimestre, ainda é o menor patamar desde o segundo trimestre de 2021. Por outro lado, os resultados que ficaram abaixo das estimativas foram de 49%, o que representa um aumento significativo em relação ao último trimestre, que foi de 39%.
No que se refere à receita líquida, os resultados que superaram as estimativas tiveram mais uma queda, passando de 28% no terceiro trimestre de 2022 para 25% neste trimestre. Enquanto isso, as receitas líquidas que ficaram abaixo das expectativas aumentaram significativamente de 37% para 38%.
Esses resultados refletem fatores que marcaram o ano de 2022, como a inflação crescente, levando os bancos centrais a apertar suas políticas monetárias, resultando em desaceleração e temores crescentes de uma recessão econômica.
Em resumo, há uma continuidade da deterioração dos resultados corporativos. Desde o segundo trimestre do ano passado, a maioria dos balanços divulgados apresenta receitas e EBITDA abaixo das expectativas. No último trimestre, o lucro líquido abaixo do esperado também se tornou majoritário.
Trimestre desafiador para as empresas listadas
As receitas se mostraram estáveis, com um aumento de 0,71% em relação ao último trimestre e 6,52% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior por conta do efeito inflacionário. No entanto, o EBITDA (Lucro antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) diminuiu 9,05% QoQ, e 11,59% YoY.
Desde o final de 2021, o aumento da Selic levou a um aumento das despesas e custos financeiros, afetando a rentabilidade e as margens das empresas. Embora as receitas tenham crescido, impactadas positivamente pela inflação, as empresas não conseguiram repassar integralmente o aumento de seus custos para o consumidor final. Nesse ponto, podemos observar que as exportadoras apresentaram menor capacidade que as empresas ligadas ao consumo doméstico no repasse de custos para o consumidor final.
O nível de alavancagem do Ibovespa apresentou crescimento significativo tantos nas variações trimestre (QoQ) quanto anuais (YoY). Por conta disso, houve uma queda significativa nos lucros das empresas. O LPA (Lucro por Ação) do Ibovespa recuou 9,49% em comparação com o terceiro trimestre de 2022 e 13,3% em relação ao mesmo período do ano anterior (4T21), devido à piora do cenário doméstico, diante de um cenário de taxas de juros elevadas e redução da atividade econômica global.
Destaques Setoriais
A temporada de balanços referente ao 4T22 trouxe resultados mistos para os diferentes setores da economia. Abaixo estão os principais destaques, um positivo e outro negativo, separados por setor:
Alimentos e Bebidas: as empresas sofreram com a virada do ciclo do gado no mercado americano e a rígida política de Covid zero na China. As margens foram bastante pressionadas nos frigoríficos com operações relevantes nos EUA, como JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3), e Minerva (BEEF3) sofreu com uma menor demanda ao fim do ano passado. As companhias apresentaram resultados abaixo do esperado em termos de margens, com Marfrig vindo em linha e Ambev (ABEV3) com margens ligeiramente melhores. JBS foi a empresa que mais sofreu com a virada de ciclo, enquanto BRF foi prejudicada por grãos ainda em patamares elevados e quedas no preço médio da venda de frango. Minerva teve seu bottom-line bastante afetado por um resultado de hedge cambial consideravelmente negativo.
No entanto, para 2023, espera-se melhorias nos resultados de Minerva, dado o ciclo positivo do gado no Brasil e Paraguai, suspensão do lockdown na China e suspensão da barreira de exportações de carne bovina brasileira à China. Para JBS, embora a companhia deva enfrentar dificuldades nos EUA, enxerga-se uma melhoria sequencial para demais segmentos da empresa, e vê-se ações em um patamar que consideramos descontados.
Agronegócio: A Boa Safra (SOJA3) apresentou números bem acima da expectativa do mercado, com um crescimento de 71,1% a/a de sua receita e um aumento de 170,1% no EBITDA. Esse crescimento se deve, em grande parte, a uma maior concentração da receita no 4T22, decorrente de um atraso na plantação, e ao programa de expansão da empresa, com as novas UBS e CDs. Já a BrasilAgro (AGRO3) teve um resultado fraco, afetado principalmente por sua operação de cana-de-açúcar, com queda de receita e rentabilidade. Apesar desse desempenho ruim no trimestre, entende-se que os impactos são por eventos não recorrentes e externos.
Bancos: O Itaú (ITUB4) teve um 4T22 sólido, embora um pouco abaixo das expectativas, com um ROE de 19,3% e um lucro de R$ 7,7 bilhões. O banco provisionou 100% de sua exposição aos créditos tóxicos de Americanas, deixando o balanço limpo para uma agenda de crescimento em 2023. Já o Santander (SANB11) apresentou um 4T22 muito abaixo das estimativas, com um lucro líquido recorrente de apenas R$ 1,6 bilhão, queda de -47% t/t e -58% a/a, devido a três fatores no custo de crédito: a deterioração no ciclo de crédito, eventos subsequentes no segmento de atacado (com Americanas) e empréstimos mais seletivos.
Construção Civil: A Cury (CURY3) apresentou uma operação muito forte, com uma margem bruta em patamar mais alto que as outras construtoras listadas e uma geração de caixa muito forte. Já a Eztec (EZTC3) enfrentou atrasos nas obras do parque da cidade, impactando severamente as margens, e uma queima de caixa forte no trimestre.
Elétrico: Alupar (ALUP11) apresentou um resultado operacional em linha com as expectativas do mercado, destacando-se a entrada em operação de mais uma linha de desenvolvimento, o impacto dos reajustes inflacionários das RAPs e o anúncio do pagamento de dividendos e da proposta de bonificação de novas ações. Por outro lado, a Ligth (LIGT3) registrou efeitos negativos não recorrentes no EBITDA, endividamento elevado e disponibilidades limitadas, o que pode prejudicar a renovação da sua concessão.
Financeiras A Cielo (CIEL3) mostrou uma melhora sequencial de rentabilidade em seu 4T22, expandindo suas receitas acima dos volumes financeiros (TPV) e aumentando o lucro recorrente em 16,2% t/t e 63,2% a/a. Já a B3 (B3SA3) reportou um lucro contábil de R$ 1,0 bilhão no trimestre, em linha com nossas expectativas, mas 13% menor que o consenso do mercado, devido às despesas que tiraram um pouco do brilho operacional do trimestre.
Petróleo: Prio (PRIO3) enfrentou alguns eventos pontuais que afetaram seu resultado, mas vem executando seu plano de negócios com sucesso, destacando-se a aquisição do Campo de Albacora Leste e a campanha de redesenvolvimento de Frade. Já a 3R (RRRP3) apresentou números operacionais abaixo das expectativas devido à demora na consolidação dos ativos adquiridos.
Mineração e Siderurgia: As mineradoras se saíram melhor do que as siderúrgicas neste trimestre. Entre as mineradoras, a CSN Mineração (CMIN3) teve uma melhoria incremental na geração de caixa, algo que não observamos na Vale (VALE3), embora a Vale tenha tido o segundo maior lucro líquido da história. CMIN superou a Vale em desempenho no 4T22. CSN holding sofreu mais com a siderurgia e uma alavancagem mais alta, resultando em um resultado negativo. Gerdau (GGBR4) decepcionou um pouco com relação às projeções, mas ainda há otimismo em relação à tese no médio prazo. A siderurgia da Usiminas (USIM5) foi acima das expectativas e acima do consenso, porém, teve um impairment que atrapalhou o resultado, mas é não recorrente.
Saúde: a Fleury (FLRY3) apresentou um resultado em linha com as expectativas, mostrando mais um trimestre forte em termos operacionais, apesar da sazonalidade e da Copa do Mundo que pressionaram as margens. Já a Hapvida (HAPV3), apesar de ter apresentado crescimento na receita, registrou piora no índice de sinistralidade e continua sendo impactada pelas despesas administrativas.
Seguradoras: A Porto (PSSA3) teve um ótimo 4T22, com um lucro líquido recorrente de R$ 556 milhões, acima das expectativas do mercado em +46% e das nossas em +31,5%, consolidando a melhora nos resultados e mostrando uma melhora substancial para 2023. Já o IRB (IRBR3) reportou uma geração de caixa, mas apresentou um prejuízo de R$ 38,7 milhões no trimestre, acumulando um resultado negativo de R$ 631 milhões em 2022.
Telecom: Vivo (VIVT3) gerou mais caixa que a TIM (TIMS3) e continua sendo operacionalmente melhor que a concorrente. TIM desligou a base inativa da Oi móvel no 4T22, mas ainda sofre mais com a i systems. Vivo continua com um ARPU mais alto e com mais capacidade de fazer upsell dos clientes que vieram da Oi, no plano pré-pago para o pós-pago, com ticket médio mais alto. A TIM tem mais dificuldade nesse sentido e sofre mais com as despesas mais altas deteriorando margem.
Transportes: As aéreas Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) apresentaram Yields muito bons, margens operacionais fortes (EBITDA e EBIT) e renegociação de dívida. Sobre as locadoras, Movida (MOVI3) trouxe desalavancagem, mas as margens foram ruins. Já a Localiza (RENT3) também veio com margens mais fracas e alavancagem subiu, deixando o mercado atento. No setor industrial, a WEG (WEGE3) segue muito resiliente, destaque para boa geração de caixa e aumento do ROIC. Já a Tupy (TUPY3) reportou um mês de MWM (última aquisição) com margens horríveis.
Varejo: O 4º trimestre do ano é sazonalmente favorável para o setor de varejo. Apesar de margens sequencialmente mais baixas, o faturamento do período foi impulsionado por datas comemorativas como Black Friday e Natal. O varejo alimentar, com nomes como Assaí (ASAI3) e Carrefour (CRFB3), consolidou-se como destaque de crescimento no período. Magazine Luiza (MGLU3) foi a grande surpresa positiva no varejo e-commerce. No varejo farmacêutico, houve uma maior penetração das categorias de Genéricos e Higiene & Beleza, o que foi positivo para margem bruta da Panvel (PNVL3).