Escolha Genial
A Nova Lei Geral das Telecomunicações aprovada em 2019 deu maior flexibilidade para que as operadores investissem em novas tecnologias de mercado, e agora o Brasil se prepara para expandir as redes de fibra óptica e implementar o 5G. Além disso, as próprias operadoras se reinventaram e estão criando fontes de receita. Todas essas mudanças estão sendo acompanhadas por um aumento da competitividade no setor de telecom.
Por isso, nossa Escolha Genial de compra para o setor de telecom são Tim (TIMS3) e Vivo (VIVT3), pois são empresas que estão bem posicionadas diante dessas novas inovações de mercado e já são empresas em um nível de maturidade mais alto, que conseguem proporcionar ainda um bom pagamento de dividendos. Em relação a Oi (OIBR3) manteremos a recomendação de manter porque acreditamos que as outras opções também possuem um potencial de gerar um alto retorno para o investidor, sem correrem tanto risco. Não é que não exista upside em Oi, mas ponderando risco e retorno, preferimos recomendar compra em Vivo e Tim.
Visão Geral do Setor de telecom
O grande boom do setor de telecom ocorreu quando as linhas de telefonia deixaram de ser elitizadas para se tornarem universais. Essa expansão de DDD/habitante permitiu que as operadoras gerassem bons lucros.
Entretanto, com a internet, algumas coisas mudaram, pois, ao mesmo tempo em que as operadoras ganhavam uma nova linha de receita, também perdiam, porque os usuários migravam da telefonia para a banda larga. Isso destruía o valor da empresa que não podia simplesmente focar em apenas um negócio, visto que o setor de telecom é também um setor público e as empresas desse mercado estão sujeitas às regulamentações do governo. Durante muito tempo uma das regras eram as metas de investimento em telefonia fixa. Por exemplo, se hoje a companhia A investe X, amanhã terá que investir mais 2X, depois de amanhã 3X e por aí adiante.
Hoje, as coisas estão diferentes. Em 2019, o governo aprovou a Nova Lei Geral das Telecomunicações, e agora as operadoras deixam de ter aquelas metas de investimentos em telefonia fixa, mas, em contrapartida, devem direcionar os investimentos obrigatoriamente para a expansão e universalização da fibra ótica. Isso dinamizou muito o setor porque o valor agregado da tecnologia de fibra é muito maior. Inclusive, agora, as operadoras além de prestarem o serviço de fibra, também estão criando a sua própria subsidiária de fibra, que irá prover toda a infraestrutura necessária para a empresa e para outras empresas que precisarem dos serviços (ISPs).
A mudança regulatória da Nova Lei Geral de Telecomunicações foi um dos principais marcos para a dinamização do setor, mas junto a isso também ocorrem outras mudanças significativas:
- Leilão do 5G. Com data marcada para o meio do ano, o leilão do 5G também tem altas expectativas de mercado. Segundo o ministro da comunicação Fábio Faria, se o 4G impulsionou a conectividade entre as pessoas com a expansão do WhatsApp, o 5G irá impulsionar a conectividade das coisas (Internet of Things – IoT), e representará um ganho muito grande de produtividade nos setores, como telemedicina e agricultura.
- Inovações do negócio. Diante da expansão do hábito de consumir online, as operadoras estão criando seus próprios marketplaces de dispositivos eletrônicos, e integrando a plataforma com outros serviços, como o financeiro e o de marketing. Além disso, as operadores tem feito parcerias com empresas que, a depender das metas atingidas, conseguem ter o direito de uma pequena participação societária.
E é diante dessas inovações e mudanças que afirmamos que o setor de telecom está dinâmico e terá boas perspectivas de crescimento. Mas, vale lembrar que se trata de um setor regulado e que, para ir para frente dependerá de muitas aprovações na Câmara. Assim, o crescimento demora um pouco mais para acontecer se comparado a setores não regulados.
Dica do analista: se você quer começar a investir em empresas neste setor, fique de olho nas regulamentações de telecomunicações, porque são elas que ditam o ritmo e a regra do jogo.
Concorrência
Podemos separar o setor em dois grandes blocos: fixo e móvel. No primeiro, temos a banda larga fixa, telefonia fixa e tv por assinatura. No segundo, temos todo tipo de serviço móvel (como telefonia e banda larga).
O grande negócio do setor se concentra na banda larga fixa e no serviço móvel. Vemos um claro declínio no uso de telefones fixos e também na TV por assinatura, facilmente substituída por serviços de streaming.
- Mercado de Telefonia Móvel Concentrado. – a tendência é que essa competição aumente, ainda mais se o CADE aprovar a venda dos seus ativos móveis para Claro, Vivo e Tim.
- Mercado de Banda Larga Fixa Pulverizado – a Nova Lei Geral das Telecomunicações dinamizou o segmento e acirrou a competição: as grandes operadoras estão criando suas próprias subsidiárias neutras de fibra, enquanto as pequenas empresas estão recebendo aportes de fundos de investimentos.
Análise inicial TIM [TIMS3]
Recomendação: COMPRAR
Preço alvo: R$ 19,50
A maior parte da receita da TIM vem da receita de serviços móveis (cerca de 90% da receita total em 2020). Nossa visão é que o foco da empresa ainda continuará sendo na melhoria dos serviços móveis, direcionando esforços para aumentar a base de clientes e, principalmente, o ARPU (quanto cada cliente paga em média por mês). A empresa desenvolve uma estratégia de volume para valor e em 2020, já reportou uma receita móvel de R$ 15,6 bilhões – praticamente igual à de 2019, ano esse sem os impactos da pandemia. Isso foi possível graças ao aumento no ARPU móvel, que cresceu 4,9% em comparação a 2019, atingindo a casa dos R$ 25. Estimamos que nos próximos 5 anos, a empresa consiga atingir um ARPU de R$ 35, um aumento de 44,1%.
Mesmo assim, é importante ressaltar que a companhia também se mexe em direção à fibra ótica. Em 2020, a Tim Live estava presente em 27 municípios e 7 regiões do DF e ainda pretende continuar expandindo sua cobertura. A receita fixa aumentou 11% em comparação a 2019, puxada pelo aumento de 27,9% na receita de Tim Live. Importante ressaltar que o crescimento do ARPU também é uma estratégia para crescimento de receitas e a TIM vem trabalhando isso com excelência, focando no upsell para planos com velocidades maiores. Em 2020, o ARPU da Tim Live ultrapassou a casa dos R$ 87, um crescimento de 7,8% em relação a 2019.
Pontos positivos e oportunidades
- O serviço fixo é basicamente inteiro voltado para a banda larga de ultra-velocidade. Isso possibilita que a companhia foque esforços maiores nesse ponta, ao contrário de sua concorrente Vivo, que ainda sofre com a redução da base legada.
- A TIM é líder em cobertura 4G no Brasil e foi a ganhadora no leilão da UPI móvel da Oi. Isso irá possibilitar o aumento a sua base de clientes (dado a aquisição de espectro) mantendo a qualidade da velocidade.
- Uma das pioneiras do segmento de IoT, liderando a vertical de agronegócio, mas também priorizando outros setores, como: Smart Cities, Indústria 4.0, utilities e carros conectados.
- Consideramos a empresa mais relevante no oferecimento de outros serviços (ex. Tim Ads) e ao firmar parcerias com outras empresas (como Netflix, Rappi Prime, Deezer, YouTube Premium etc). Essas parcerias geram valor ao cliente e estão de acordo com a estratégia “from volume to value” da companhia. Além disso, em casos como C6, a TIM também cria uma nova linha de receita, vinda da participação nos lucros do parceiro.
Riscos
- A empresa ainda mantém um nível de endividamento maior que sua concorrente. A dívida bruta aumentou em 2020 cerca de R$ 646 milhões. É importante acompanhar o nível de endividamento da companhia nos próximos anos, ainda mais com o pagamento da UPI móvel da Oi e o leilão de espectro para 5G.
Análise inicial VIVO [VIVT3]
Recomendação: COMPRAR
Preço alvo: R$ 60,00
A Vivo é a maior empresa no setor de telecom, tanto em número de clientes quanto em volume de receita gerada pelos serviços. Nosso otimismo em relação à companhia é referente a expansão de fibra ótica. Em 2020, mesmo em um cenário de pandemia, a companhia cresceu +36% a.a o número de acessos FTTH (Fiber to the Home), a melhor qualidade de fibra ótica para o cliente final – e, consequentemente, reportou um aumento de mais de 50% na receita de fibra.
No serviço móvel, que também é um pilar para continuar a geração de valor para o consumidor e uma fonte relevante de receita, o acesso cresceu 5,3% comparado a 2019. O churn (taxa de perda de cliente) também caiu (-0,2 p.p), mostrando a força da companhia em fidelizar o cliente – algo extremamente relevante em um setor onde a “briga” por consumidor é alta entre as companhias.
Nós projetamos um investimento para os próximos anos na casa dos 18% a.a da receita líquida. Grande parte desse investimento será direcionado à expansão da estrutura de FTTH e à melhoria da qualidade de serviços de 4G (e 5G, no futuro). Importante lembrar que esse direcionamento maior de investimentos para o core-business só é possível graças, também, a mudança na Lei Geral de Telecomunicações.
Pontos positivos e oportunidades
- Previsibilidade de receita: o pós-pago representa cerca de 70% da receita de serviços móveis e, como este negócio é baseado em contratos, a instabilidade de geração de receita em tempos de crise econômica é menor.
- Indicadores financeiros saudáveis: a empresa tem forte geração de caixa, com baixa necessidade de emissão de novas dívidas. E a dívida propriamente dita é baixa para um setor de capital intensivo, sendo que, nenhuma parte dela está atrelada em moeda estrangeira e, portanto, não está sujeita as oscilações cambiais.
- Boa pagadora de dividendos! Boa opção para investidores que procuram renda passiva.
- É a empresa que possui maior ARPU fixo e móvel. Um indicativo de que o cliente realmente gosta do serviço e está disposto a pagar mais por ele.
Riscos
- A maior parte da receita do serviço fixo ainda se concentra na infraestrutura “legada”, ou seja, voz fixa, DTH (tv via satélite) e banda larga xDSL (internet via linha telefônica). Como isso vem caindo em desuso, a receita total ainda é prejudicada (apresentando queda de 5,7% comparado a 2019).
- A TIM tem uma estratégia muito forte na expansão do serviço móvel. Alguns clientes da Vivo podem ser atraídos pela proposta da TIM e migrarem seus planos.
Análise inicial OI [OIBR3]
Recomendação: MANTER
Preço alvo: R$ 1,70
Falar de Oi é sempre uma aventura. Essa é a empresa mais arriscada do setor de telecom porque entrou em Recuperação Judicial (RJ) em 2016 em um dos maiores pedidos da história com R$ 65,4 bi de dívida, resultado de uma instabilidade de governança e de uma série de Fusões e Aquisições (F&A) mal sucedidas.
A Oi foi fundada em 2002 para ser o braço móvel da Telemar. No ano de 2009 no movimento de se criar a super tele brasileira, a Oi adquiriu a Brasil Telecom. Durante o processo de incorporação surgiu uma dívida inesperada de R$ 1,29 bi. No ano 2013, a empresa fundiu com a Portugal Telecom, que havia adquirido R$ 2,7 bi de dívida da Rio Forte, empresa a qual era acionista, e isso não informado a Oi no momento da aquisição. O resultado foi o aumento da dívida da companhia para R$ 41 bi em 2013, e o pedido de RJ em 2016.
A companhia sofrerá uma grande transformação estrutural após o término do plano de RJ. A Oi deixará de ser como era antes, virando uma companhia com 2 pilares centrais: participará como sócia de uma nova empresa de infraestrutura neutra de fibra ótica – InfraCo – e focará na marca Oi para o consumidor, vendendo produtos e serviços de fibra para seus clientes. Assim, deixará de possuir receitas de telefonia móvel – se tudo der certo, essa UPI será incorporada pelas concorrentes do setor de telecom, TIM, Vivo e Claro.
Gostamos bastante do plano estratégico apresentado pela companhia. Direcionar o foco para fibra ótica, que é uma tendência para o setor, é uma boa decisão. Entretanto, os riscos de execução do negócio e de consolidação (ainda mais pela concorrência pesada com as outras empresas do setor) ainda não foram mitigados e são altos. Nossa recomendação para o papel é neutra, mantendo preço alvo de R$1,70. Entendemos que, dado as oportunidades em TIM e VIVO, o investidor deve priorizar as empresas mais sólidas e que também apresentam potencial de ganho de capital.
Pontos positivos e oportunidades
- Focar em fibra ótica é uma decisão inteligente, dentro das tendências atuais. A demanda por uma conectividade de alta velocidade está cada vez maior e há mercado potencial enorme.
- Fazer da nova Oi uma empresa mais enxuta, direcionando esforços para a venda de produtos, serviços e fibra participando apenas como sócia de uma empresa de infraestrutura de fibra, também para promissor. A empresa incorrerá em menores custos e uma necessidade menor de capital para investimento.
Riscos
- Grande parte da sua dívida está atrelada a moedas estrangeiras, e portanto estão sujeitas à oscilação das moedas no mercado internacional.
- Há o risco de “implementação”. O que sabemos é sobre a nova estrutura proposta pela Oi, de manter participação na futura InfraCo, mas não houve comprovação prática que os resultados virão de acordo com o esperado pela companhia.
- A demanda pela InfraCo foi abaixo das expectativas da Oi, tendo apenas a Digitalcolony e o fundo BTG Pactual como interessados.
- Plano muito otimista que busca abranger várias regiões e localidades, num momento em que TIM e VIVO também criaram um mesmo plano e possuem uma vantagem de time-to-market por não estarem expostas aos trâmites de um processo de RJ.
- Risco do CADE não aprovar a venda do UPI móvel para o consórcio da Tim, Vivo e Claro, o que impediria a entrada de R$ 16,5 bi no caixa da companhia.
- Se o plano de RJ não acabar no prazo estipulado, a Oi teria que negociar novamente seus credores, e a depender das negociações, poderia afetar seus ativos que lhe darão sustentabilidade de longo prazo.
Gostou do relatório sobre o setor de telecom? Confira outras iniciações de cobertura: